domingo, 19 de outubro de 2025

Planeta James Glam


"E... corta! Querida, mais uma vez. Um pouco mais caliente, ok?"

O mal de James Gunn é a fanboyzice. Não importa o quão anacrônicos, coloridos e espalhafatosos os personagens sejam – quanto mais ridículo melhor, segundo minhas pesquisas de campo. Independente de serem propriedades Marvel ou DC, Gunn os trata como filhos. O probleminha para o espectador (este, pelo menos) e para o leitor de quadrinhos (este, pelo menos²) é que esse fascínio quase obsessivo engessa perigosamente a evolução da história, aquele espaço entre o ponto A e o ponto B.

Na 2ª temporada de Pacificador nem sequer existe um ponto B. Ao menos, não um satisfatório. Aquele da entrega, do clímax, do auge. Do Petkovic cobrando aquela falta na final do Cariocão 2001.

Sim, sim, foi lindo. Vai lá rever pela milionésima vez. Eu aguardo.

Então, é o tipo de coisa que Gunn fez com desenvoltura e certa propriedade – mas não plena – na divertida 1ª temporada, em 2022. O que acontece desta vez é um exercício de inércia narrativa, um pacote de 8 episódios que passam a sensação de não terem saído do lugar, embora efetivamente tenham saído, e amarrados com sequências musicais de glam metal e a sitcom nonsense que é marca registrada do cineasta – que nem sempre funciona, mas a piada da equipe embolsando dinheiro sujo pelas costas do Vigilante é ótima.

De porradaria redentora no final, que costura até Falha de San Andreas, nada. Para John Cena, acostumado à rotina punk do Wrestling, foi uma colônia de férias. Até aquela Stargirl do Geoff Johns na CW (boazinha) tinha mais delivery.

Como se não bastasse, Gunn ainda despeja dois elementos graúdos do Universo DC como se fosse uma terça-feira. Cygnus 4019 ou Planeta Salvação e a agência Xeque-Mate fazem aqui suas estreias nas adaptações de quadrinhos. E já no finalzinho do frustrante último episódio.


Gibi ruim que eu gosto: "Planeta Salvação" no fandom é o "Planeta Infernal" na edição da Panini

Como reviravolta foi interessante, mas é aquele tudo ao mesmo tempo agora que Zack Snyder adorava fazer recheando com ação e quebra-quebra. Paradoxalmente, Gunn recheou a coisa com longas declarações de amizade verdadeira, família verdadeira e amor verdadeiro. Que, claro, resvala num verdadeiro melodrama. Se me dissessem que ele mandou repetir a cena do beijo ao som do Nelson umas 46 vezes até ficar perfeito, acreditaria. Doa a testa de quem doer.

Considerando que o 7º episódio parece um perfeito cliffhanger de vingança, o end season funciona mais como um final de novela prólogo para a próxima temporada. Quiçá para um filme, não dá pra saber. O Lex Luthor de Nicholas Hoult, fundamental na temporada, chega até a aparecer em uma cena (ah, esses contratos). Aliás, quem não lê gibis da DC ou não assistiu O Esquadrão Suicida ou à série animada Comando das Criaturas pode ficar boiando e se desinteressar rápido. Por mais que (ainda) curta universos compartilhados, isso é ruim para Gunn e seu projeto de dominação mundial.

Fora isso, para mim é um mistério o desperdício da sequência de exploração dos portais dimensionais. Não precisava envolver as marcas da 1ª divisão, tipo Superman, Batman & Mulher-Maravilha. Há um universo de possibilidades ali. Gunn, uma traça de Arquivos DC, sabe disso mais do que ninguém. Com certeza, já deve ter respondido algum tweet por aí a respeito – e ele responde mesmo.

Entre poucos mortos e feridos e a esperança de que há um grande plano em curso, são sete horinhas e pouco de entretenimento que ainda valem. Mas que já foram melhores.

Na última cena, quem lembrou do "Now what?!" do final de Tentáculos (1998), ganha um cupom de desconto em locadora de vídeo.

5 comentários:

  1. Eu tava levando de boa esse final xarope, mas confesso que levei pro pessoal a piadoca com o Xeque-Mate. Espero que acabe virando um conflito de naming rights c/o legítimo, pq, caso contrário, ñ dá p/ imaginar a hierarquia de tabuleiro (fodástica!) do original sendo ocupada por aqueles personagens. É nível Shane Black de desserviço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara, esse método de adaptação DC/Marvel é muito relapso. Os caras só pegam o blueprint da coisa e jogam lá, comprimido entre uma cena e outra. Quando você curte a tal saga ou arco, então, ferrou. No meu caso, conheço pouco do Xeque-Mate, então saí relativamento ileso da galhofa. Mas foi visível a correria daquilo.

      Pergunta, chefe: aqueles 2 volumes com o run do XM na Eaglemoss rendem um bom caldo ou antes é preciso ler tudo que saiu na DC desde a Action Comics #1?

      Excluir
    2. Você se refere ao Xeque-Mate do Rucka, né?! Dá pra chegar de paraquedas, com pouco conhecimento prévio. Porém, não deixa de ser um desenvolvimento avançado da Sasha Bordeaux; que começa lá atrás como guarda-costas de Bruce em Detective Comics (New Gotham = Pós-Terra de Ninguém) e rola aquele enrosco com o Irmão Olho que a transforma numa "ciborgue" em Projeto Omac (em Crise Infinita). Pensando bem, é uma construção muito similar à guinada de Montoya da normalidade mundana ao insólito do UDC. Abração.

      Excluir
  2. Salve Dogma! O arco Nazi foi bem puxado dos HQs, pois nem lembrava desse arco mas o final ficou estranho...parecia que o Gun esqceu q era 8 e n 7 episodios. Bem o problema e ainda ter q esperar. Bom final de semana!

    ResponderExcluir
  3. Luwigly, valeu! 🦅

    Esses aí estou vendo que saíram em Contagem Regressiva para Crise Infinita e Crise Infinita Especial. Só mensais e nunca compilados (quiçá esquecidos) pela Panini. Vai ser os dois da Eaglemoss + "importadas", portanto.

    Abração.

    🦅 🦅 🦅 🦅 🦅

    Marcelo, é um arco sem conclusão. Devia ter finalizado isso no 8 (com o irmão partindo pra vingança) e deixado Salvação e Xeque-Mate para trabalhar na próxima.

    Outra coisa... O Gunn é parça do David Denman (o Keith), inclusive já o dirigiu em Brightburn, e tive a nítida impressão que ele quis reaproveitá-lo mais pra frente. Todo mundo sabe que o cabide de empregos do Gunn é gigante, rs...

    Abraços.

    ResponderExcluir