domingo, 12 de outubro de 2025
Saudades do espaço
Já no título, Alien: Earth prometia realizar um velho sonho dos fãs: trazer os ETs babões para uma turnê solo na Terra e, quem sabe, até fixar residência por aqui. Alien: A Ressurreição bateu na trave e a dobradinha Aliens vs. Predador/Aliens vs. Predator: Requiem são praticamente contos apócrifos. A coisa parecia promissora, com trailer instigante e Ridley Scott na produção. Bastava botar os Xenomorfos em solo terráqueo com mariners e hospedeiros à disposição. Era jogo ganho. Mas o showrunner Noah Hawley tinha outros planos.
A trama é situada dois anos antes do Alien original. Na história, uma missão espacial da famigerada Weyland-Yutani cai na Terra com um carregamento de espécimes alienígenas – entre eles, um Xeno com instinto assassino vazando pelo ladrão. Em paralelo, cinco crianças em estado terminal aceitam ter a consciência transferida para poderosos corpos sintéticos. É a primeira geração de híbridos criados pela Corporação Prodigy – que também toma posse da preciosa carga biológica da nave que caiu em seu território. O embate burocrático e paramilitar entre as duas megacorporações é inevitável, assim como a instabilidade dos híbridos e, mais ainda, dos espécimes Aliens e alienígenas*.
* o mais legal é que esse trocadilho não funciona em inglês.
O primeiro banho de ácido frio é o redirecionamento do tom. Terror inexiste. Nada de "obra-prima do suspense", da atmosfera de pesadelo Gigeriano, do "no espaço ninguém pode ouvir você gritar", do cagaço a cada esquina enfumaçada e estroboscópica. Apenas flashs de gore comprimidos sob muita D.R. Nos oito episódios desta 1ª temporada, o que menos importa são os Aliens. São meros coadjuvantes.
Em termos gerais, Alien: Earth tem a estrutura de um coming-of-age futurista, mostrando a adaptação dos cinco guris à sua complicada nova realidade num mundo de adultos. As referências aos Garotos Perdidos e à Peter Pan – na figura de Boy Kavalier (Samuel Blenkin), CEO da Prodigy – não são nada sutis. Na conclusão, fica evidente que o grande objetivo era a desconstrução do mito da juventude eterna.
Até entreteve, mas é outra viagem. Para outro veículo, de preferência.
O elenco é competente e engajado. Sydney Chandler lidera como Wendy (pois é), a 1ª híbrida. Os demais híbridos também brilham como pré-adolescentes em corpos adultos – Erana James no papel da caxias Curly, Lily Newmark como a perturbada Nibs e, em particular, a sensacional dupla Adarsh Gourav/Slightly e Jonathan Ajayi/Smee, que chegam a ser desconcertantes neste sentido. Já o personagem Joe (Alex Lawther), socorrista da Prodigy e o irmão humano de Wendy, sempre introvertido e deprê é o tédio encarnado. E uma anomalia da probabilidade de sobrevivência maior do que o gato Jonesy.
A construção daquele mundo de 2120 é pragmática e aterradora. A Terra é controlada por cinco companhias que também dividem e disputam a colonização do sistema solar. Também é interessante a tensão entre as castas pós-humanas, simbolizada na rivalidade entre o sintético Kirsh e o ciborgue Morrow, dos ótimos Timothy Olyphant e Babou Ceesay, respectivamente. Tensão que é elevada exponencialmente com o surgimento dos híbridos, um novo e ameaçador player.
Há um pano de fundo rico e virtualmente inesgotável para ser explorado aí, mas o roteiro não vai muito mais longe. Um bom exemplo é a discussão sobre a real natureza dos híbridos resumida a uma frase solta lá pelas tantas – são mesmo consciências humanas transferidas ou IAs que pensam que são humanas?
Incomoda o modo como Boy Kavalier, o "Garoto Gênio", deixa o circo pegar fogo até perder totalmente o controle das situações em que se envolveu. Tanto da fauna de alienígenas mortais (entre eles, olha só, um Alien), quanto do perímetro de segurança de seu QG, que é invadido duas vezes por forças da Weyland-Yutani. Pior ainda foi ignorar a crescente imprevisibilidade dos híbridos, apesar dos vários alertas dos chefes cientistas Dame (Essie Davis) e seu marido Arthur (David Rysdahl) e dos garotos desenvolvendo mais habilidades durante a série – que são sumariamente subestimadas pelo Gênio, claro.
Então é isso. Uma temporada de Alien com pouco Alien. E nem sei se isso é necessariamente ruim, porque a dinâmica nunca é fiel ao mythos da franquia. Basta lembrar da quantidade de Aliens exterminados à bala pelos mariners coloniais de Aliens, o Resgate. Eles não são invulneráveis e nem ninjas, como acontece na série. Não é assim que funciona.
Fora que a produção visual do bicho beira o relapso. Já vi cosplays melhores. Chega a ser vergonhoso para qualquer padrão Disney+. No final, fiquei com mais interesse no futuro do alienígena olhudo do que do alienígena cabeçudo.
Próxima temporada, Alien: Híbridos. Que falta faz uma Diretiva 4, hum?


Decepção do ano. O primeiro episódio é promissor, e o 5 é de longe o melhor, mas o resto... Torraram 15 milhões por episódio e reproduziram fielmente o universo da franquia, tudo isso pra contar uma história capenga que não aprofunda nenhum dos temas propostos, e o pior, não tem um pingo de suspense, que dirá terror (exceção feito ao tal episódio 5). Sinceramente, chegou na metade do episódio 7 e não consegui continuar mais, tamanha a humilhação que estavam fazendo a franquia passar. E pelo que andei ouvindo não perdi nada.
ResponderExcluirTambém me decepcionei bastante. É tudo muito bem feito, dá pra ver que tem dinheiro ali, mas a história é muito fraquinha, cheia de absurdos. O começo do fim pra mim foi a capacidade de Wendy sentir e se comunicar com os xenomorfos/ovos. Dali já deu pra ver que a coisa iria rumar para o monstro se tornar um cão de guarda dela. Só falta na segunda temporada ela montar nele igual o gato guerreiro. Cheguei a um ponto que até torcia contra os Garotos Perdidos, tão ruim que o roteiro se tornou. E toda a burrice do Musk deles, não criando nenhum tipo de freio ou trava nesses super híbridos foi demais pra mim. Único acerto deles foi fazer o olho ser inimigo dos xenomorfos, pq por um momento temi pelo velho clichê de aliens unidos.
ResponderExcluirBernardo, foram 15 pilas/ep.? Deve ser lavagem de dinheiro, só pode. Tem momentos em que dá pra ver as dobras da roupa do Alien. Parece até monstro do Spectroman.
ResponderExcluirE, bom, se viu até metade do ep. 7, finaliza esse 1 ½ que falta aí logo. :)
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Raid, achei a produção bem irregular. O interior da Maginot, com aquela recriação toda do filme original, é espetacular e a zona do acidente ficou impressionante. Mas todas as demais locações, como a ilha da Prodigy, são qualquer nota. E o visual dos aliens (todos eles) são pouco criativos e até desleixados.
Entendi que o lance da Wendy se comunicar com o Alien prova que os híbridos são IAs mesmo, com capacidade de processamento absurda (no filme original, a IA Mãe conseguiu traduzir a mensagem dos Engenheiros em relativamente pouco tempo). Mas daí a se comunicar com ele em qualquer canto da ilha através de um sussurro foi foda... Ela desenvolveu telepatia também?
"Só falta na segunda temporada ela montar nele igual o gato guerreiro"
Não dá ideia, PelamordeDeus...
Estou curioso pra saber o que o Olho terá a dizer, mesmo que as cenas dele até aqui tenham sido comédia pastelão. E que rapidez pra chegar até o cadáver do Arthur na praia, hein. Slightly e Smee ficaram horas o carregando até ali...
Salve Dogma! Dessa serie o que realmente entreteve foi as outras especies...aqle alien olhando pelo carneiro foi surreal...
ResponderExcluirPois é, cara... e deu a impressão que o olho já conhecia a fama dos demais. E é visível (ops, hehe) que é dotado de inteligência complexa.
ExcluirMas ainda desceu estranho ele controlando um cadáver.
O garoto-gênio é muito o L do Death Note chupinhado... me tirava da imersão toda vez que aparecia essa cópia...
ResponderExcluirMais essa.
ExcluirOs tiques e os trejeitos dele me lembravam era do LeLex Luthor (MoS), só que mais calminho.