domingo, 5 de setembro de 2004

AvP: LUTA ARRANJADA


Há um tempinho atrás eu escrevi um texto sobre o filme Predador 2, de 1990, em que listei o vasto arsenal do personagem. No mesmo texto, me referi à uma cena em particular, na qual foi mostrado o crânio de um Alien dentro da nave do Predador. O filme foi lançado há 14 anos atrás, e desde então, esse aguardado crossover foi explorado em HQs (a maioria bem fracas) e em uma franquia espetacular de games. Agora, finalmente os dois ícones do cinema de ficção/aventura se (re)encontram na telona. E Aliens vs. Predador já emana clima de guerra desde antes de sua estréia.

Quem acompanhou as últimas notícias sobre a fase de pós-produção de AvP, sabe que o diretor Paul W. Anderson teve de matar dois leões (ou aliens) por dia. Devido ao enorme atraso na finalização (na semana da estréia o filme ainda não estava pronto!), vários efeitos especiais - os melhores, segundo o diretor – e story-boards não concluídos de cenas cruciais ficaram de fora. Pra ajudar, a 20th Century Fox deixou as tesouras da sala de edição totalmente cegas, de tanto uso. Acho que, num determinado momento, algum assistente de montagem deve ter questionado ao seu superior: "Sr., esse filme é um curta?". No que ele prontamente respondeu: "Ok, já entendi. Deixa até aparecer o nome do estúdio então. O resto pode jogar no lixo. No reciclado, não esqueça."


Exageros à parte (será?), houve uma edição que eu só não chamaria de criminosa por que o único que poderia se sentir lesado - o público - não deu queixa. Nesse caso em particular, P.W.Anderson nem teve culpa no cartório, pois foi apenas um funcionário contratado. Ele não teve liberdade criativa, nem tem direitos sobre os personagens. Se o estúdio mandou decepar cenas e diminuir drasticamente a violência gráfica para abaixar a censura, ele ia fazer o quê?

A mesma coisa aconteceu na complicada produção do primeiro filme dos X-Men. O filme também teve um prazo limitadíssimo para a sua finalização, e jamais recebeu da Fox qualquer tipo de suporte (leia-se: adiamento da estréia), o que revela um grande descaso do estúdio no que diz respeito à prováveis franquias. E é aí que entra a mágica do talento, aquela jogada individual que vira o jogo. Na época, Bryan Singer tirou petróleo da própria espinha quando transformou o filme dos mutantes em uma franquia pronta, mesmo com um orçamento capixaba e uma dead line digna de uma edição do New York Times.


Remando contra a maré, P.W.Anderson fez a sua parte em AvP, com poucas falhas concretas (não estou contando as falhas óbvias, aquelas que fazem de um filme de ação um filme de ação). Por outro lado, o roteiro (dele mesmo, mais um exército de "especialistas") é bem redondo e, narrativamente, nunca chega a arriscar. O filme é repleto de personagens estereotipados, daqueles que você já sabe de cara qual vai morrer primeiro.

Já as partes mais esquisitas, que aparentavam uma total ignorância sobre a mitologia dos monstros, se esvaem e deixam a melhor das impressões. Explicando: a história se ambienta na Antártida, quando é sabido que os Predadores procuram sempre lugares muito quentes e que estejam passando por alguma espécie de conflito - o famoso "em busca do calor da batalha". Nesse ponto, o roteiro sai do convencional e se dá muito bem. Não ignora o pouco que sabemos dos caçadores espaciais e, o mais difícil, consegue alimentar de forma competente o seu background.


Quanto aos Aliens, tudo ok. Os cabeçudos nunca foram astros muito difíceis. Sua personalidade (ou a ausência dela) é bem retratada ao reeditar a mesma concepção de "colméia social", estabelecida pelo clássico Aliens, O Resgate. Não existem indivíduos e sim uma consciência única, girando em torno da Rainha. Os zangões são traiçoeiros, furtivos, armam tocaias de fazer inveja ao Lampião e são... ahn, predadores extremamente letais. Seu corpo é a sua própria arma. Tudo nele é feito para causar dor, desde a sua forma esguia (ideal para se esgueirar em passagens muito estreitas), enorme agilidade, zilhões de dentes, garras afiadíssimas, e uma cauda ultra-cortante. Em outras palavras, o Alien é um mix de Batman, jacaré e tubarão. :)

Na trama, um grupo de exploradores é reunido bem ao estilo Jurassic Park, para investigar uma emanação de energia vinda de um templo perdido na Antártida. A expedição é financiada pelo empresário Charles Bishop Weyland (Lance Henriksen, desperdiçaadooo!!), um verdadeiro ícone: ele é o fundador da Weyland-Yutani, a sinistra "Companhia" da franquia do Alien. Chegando lá, eles descobrem que o templo (um tipo de pirâmide multi-cultural) é um local onde jovens Predadores enfrentam Aliens para provarem sua maturidade como guerreiros. Como se fosse um rito de passagem tribal. Uma grande idéia seguida de mais do mesmo: em meio aos confrontos brutais - e bacanas! - das criaturas, os humanos tentam sobreviver do jeito que podem.


As lutas são coerentes com o que sabemos das duas espécies. O Predador é um paredão ambulante, forte como um trator. O Alien, apesar de forte também, não é páreo para o Predador na queda de braço, mas desconta essa desvantagem em velocidade de papa-léguas e "equipamentos cortantes", como aquela boquinha-soco inglês, as garras à Wolverine e a cauda de lagartixa hulkificada.

Os Aliens, aliás (hehe, quase uma aliteração...), estão muito próximos de sua variante em Alien³, que se originou de um cachorro. Rápidos, lépidos e babões - o terror dos carteiros. Aqui, eles não apresentam o seu "poder" mais recente: o de disparar uma gosma ácida pela boca, como visto em Alien 4 - A Ressurreição. Mas faz até sentido, já que nesse filme, eles eram frutos indiretos de clonagem. Algum percalço genético deve tê-los agraciado com essa característica.


Já o Predador recebeu um ligeiro upgrade. Sua armadura está mais fechada e, entre suas armas clássicas, sai o The Disc e entra uma espécie de shuriken "bombado", altamente eficiente, mas sem a tecnologia do anterior. De resto, é bem legal ver que quase todo o seu arsenal é utilizado. Eles são Predadores jovens, ainda em fase de auto-afirmação (hehe), menos experientes do que os vistos nos filmes "solo".

Por tabela, o Predador do 1º filme era o mais experiente. Como se estivesse num safári (e estava mesmo), ele massacrou dezenas de guerrilheiros e mercenários armados até os dentes. Era tão bom no que fazia, que criou até uma lenda folclórica ao seu respeito ("El Diablo, caçador de hombres"). O Predador do 2º filme era menos experiente, como se tivesse acabado de sair do "rito de passagem". Apesar de talentoso (eliminou uma equipe inteira de agentes do governo), ele cometeu vacilos flagrantes (como deixar um inimigo apoderar-se de sua arma e decepar seu braço com ela). Entre os Predadores de AvP, um se destaca, e não é pra menos. Com apenas um braço ele detona um Alien como se fosse um Teletubbie.

E só elogios para o confronto final, contra uma enfurecida Rainha Alien, que não nega sua vocação pra T.Rex e proporciona cenas de devorar sacos de pipocas (devia ter pedido um dos grandes).


De pontos negativos, ficam claras as cenas que foram mutiladas. Em geral, são aquelas que envolvem sangue humano, tripas, um Predador abrindo a carapaça de um Alien (tsc... sempre quis ver o que tem dentro!) e os embriões Alien que explodem barrigas humanas sem derramar nenhuma gota de sangue (!). Enfim, cortaram coisas que os "inocentes" guris de 14 anos vêem todo santo dia em alguma partida de Half Life. O jeito é esperar pelo DVD e ser extorquido conscientemente pela Fox, já que essa é uma jogada puramente comercial (não, eu não me enganei achando que eles estavam preocupados com a nossa imaculada juventude).

Os humanos também foram relegados à mera condição de lanches ambulantes. Nada de mariners ou mercenários em AvP. A protagonista Alexa "Lex" Woods (Sanaa Lathan) também é inexpressiva demais. Como alguém que vê a face de um Predador sem a máscara consegue não demonstrar sinal de asco? Ou como alguém não ficaria impressionado ao se deparar com uma gigantesca nave alienígena? Sanaa não deve ter assistido (ou entendido) a performance magistral de Sigourney Weaver na franquia Alien. Por último, o já citado desperdício do grande Lance Henriksen... isso foi um vacilo imperdoável.

AvP cumpre bem a sua função de pop movie, principalmente para quem não espera ver mais do que isso. São 101 minutos que correm à velocidade da luz, com vários pontos altos espalhados e uma luta final titânica. Claro que poderia ser muito, muito melhor... eu mesmo tenho um roteiro destruidor na minha cabeça. Só não sei se sairia ileso da temível sala de edição da Fox.


Em tempo...
Luta boa seria entre o Alien e o Predador de seus respectivos primeiros filmes... Clique nas imagens.

Um comentário:

Anônimo disse...

po muito locooooo meuuuuuu