segunda-feira, 29 de agosto de 2005

SUE STORM E A ERA DE AQUÁRIO


Interessante. Parece que a linha ultimate irá revisitar uma das maiores corneadas das HQs. A capa da edição #25 de Ultimate Fantastic Four já traz a libidinosa Susan Storm se roçando em Namor, o Garanhão Submarino. Aliás, cabe aí uma observação. Apesar do traço sempre maravilhoso do artista Greg Land (da ótima Sojourn), o soberano de Atlântida ficou parecendo um gênio. Aqueles, de garrafa encantada. Deve realizar mais que três desejos para a Sue, com certeza. Sempre reclamosa da atenção de Reed Richards, Sue é um daqueles casos interessantes de personalidade humana bem caracterizada para os quadrinhos.

Inicialmente uma comportada housewife dos anos 60, Sue começou a pirar com a postura comedida e sempre cerebral de Reed. Ela não tinha os poderes do Homem-Aranha, mas começou a subir pelas paredes. Quando Namor a raptou para tê-la como sua rainha, a recusa do início se transformou rapidamente em "taí, acho que eu posso curtir muito tudo isso". Reed se desesperou e precisou da ajuda do cunhado e do amigo da família pra reaver a concha perdida. Obviamente que a inocência e a politicagem correta da época impedia certas considerações mais óbvias, mas hoje fica explícita a motivação de Sue. Namor é um canhão de testosterona. Com músculos esculpidos em mármore e sempre com o torso à mostra, ele era a personificação do básico instinto aos olhos de Sue. E isso era o oposto imediato à racionalização broxante de Reed.

Veio o cinismo dos anos 80, depois a cara-de-pau dos 90, e agora a putaria ideológica do novo milênio. Vale lembrar que Sue é bem mais jovem na versão ultimate, o que nos remete novamente à analogias com a realidade. É o fim do elemento "dona-de-casa" e o início de uma era de terror para os Reed Richard's enrustidos, sempre imersos em projetos pretensiosos e compromissos "mais importantes". Coincidentemente, também é o início da Era de Aquário. Cuidado com o tubarão.


Uma das HQs mais emblemáticas sobre a questão é justamente Marvel Knights - Fantastic Four: 1234*, da abençoada dupla Grant Morrison/Jae Lee. Morrison é tão genial, mas tão genial, que tocou neste assunto e o esgotou sem que ao menos ele fosse o tema principal. E ainda elevou ao máximo outras questões já esperadas, como a autopiedade crônica de Ben Grimm e a concorrência até o limite entre Reed e o Dr. Destino. Também iniciou um certo bafafá relacionado ao mau-humor de Johnny, que alguns relacionaram à um suposto tesão reprimido que ele sente pela irmã. Sinceramente eu não vi isto aqui não, mas vindo de Morrison... vai saber. :)

E Jae Lee. Vai desenhar assim lá no caixa-prego. Puta que o pariu. Jae Lee é daqueles que quando eu leio algo desenhado por ele, dá vontade de mandar à merda todo mundo que se diz desenhista (principalmente seu quase-xará, tão bajulado).

* Não sei quem escaneou a revista (em pdf). Nos créditos tinha um "e eu" anônimo, logo abaixo do nome do Fernando Lopes. E o Luwig já a disponibilizou certa vez. De qualquer forma, muito obrigado ao "soldado desconhecido". :)


Putz... até o Bruce Timm sacaneou



HAJA BAIGON


Pois é. Esse é o Galactus Ultimate. Ou melhor... o Gah Lak Tus. Daí pode sair algo genial ou algo bem podre. Depende do background que fizeram pra ele.

E não é um só não. Parece que será uma infestação de Gah... Lak... Tus's.


Nas palavras de Warren Ellis:

"Galactus is not a big guy in a purple helmet, Galactus is a big and scary and alien and not at all what you'd imagine. Galactus is a thing that scourss inhabited planets for life. A 100-foot-tall guy in a Death Star isn't totally convincing in that gig. And you don't defeat him by beating him up or waving a little gadget at him."

De repente Ultimate Extinction virou obrigatório. Que coisa não?


dogg ama e apóia essa nova frente de abertura feminina. E já treinando para o show do Nine Inch Nails, em novembro. With Teeth é o discaço que me serviu de trilha para essas linhas.

Acho que este é o post mais esquisito que já escrevi.

domingo, 14 de agosto de 2005

O COIOTE E O PAPA-LÉGUAS

Rodriguez: - Chega de tiro? Miller: Quase... dá mais uns dez no saco que já tá de bom tamanho.

Estamos presenciando o surgimento de uma subtendência nessa última leva de adaptações de quadrinhos para o cinema (já totalmente inseridas na ordem do dia). Algo que só ocorria com mais freqüência em adaptações de livros. O target agora é a fidelidade ao material original. Claro que muito disso se deve à farofadas com gosto de pólvora, do calibre de Elektra e Mulher-Gato. Finalmente aprenderam que nem todo mundo tem a classe e o talento de Bryan Singer para reinventar estruturas estabelecidas e quase sagradas para os fãs. E que nem todo material pede por revisões pseudo-melhoradas - coisa que, por sinal, raramente acontece.

Em um comparativo mais do que providencial, está vindo aí a adaptação de V de Vingança, que anda se revelando uma crônica da alteração anunciada. Seria muito bom se viessem com idéias melhores (mesmo!), mas como, neste caso, o padrão original é Alan Moore, acho meio difícil, pra não dizer impossível...

Sin City - A Cidade do Pecado (Frank Miller's Sin City, 2005) acaba sendo o extremo dessa pendenga. É o fim do ágio entre o fã, o estúdio e o texto original. Nunca fizeram e provavelmente nunca farão algo tão fiel, mesmo porquê, o material já saiu da mente do ronin Frank Miller com claras aspirações (e inspirações) cinematográficas, e perfeitamente entendidas pelo diretor Robert Rodriguez. Eu diria até mais: só agora essa urbanidade caótica criada por Miller encontrou seu verdadeiro lar. Tudo soa natural por aqui, sem aquela sensação de "aventura humana em um universo animado", comum em transposições literais como essa (com alguns passos à frente do Dick Tracy de 1990). Ok, a dinâmica física é um exercício descarado de estilização, sem dúvida, mas distante de qualquer preciosismo. Através desse recurso, o filme priviliegia uma ação mais solta, cartunesca, abrangente, depretensiosa, violenta... e divertida - palavrinha execrada solenemente pela sensível inteligentsia patrulhinha.

Ah, a violência...


Todas as ações violentas em Sin City encontram uma motivação direta? Não mesmo, e nem deveriam. Cada uma delas tem um background que a justifica. É diferente. Isolar o fator "violência" como um elemento depreciativo do todo é de uma má-vontade mastodôntica. É preguiça mental e ideológica. Já li alguns absurdos por aí baseados nesse equívoco cegueta e emburrecedor. Pessoas que deveriam fazer um melhor uso da plataforma que têm na mídia andam culpando uma geração inteira por uma suposta degradação moral e cultural - que sempre existiu, devidas as proporções de época. Então, fica difícil ter de ouvir que O Clube da Luta é contextualmente vazio (e é exatamente o contrário!) ou variações ad nauseum do discurso de Tiros em Columbine, como se isso resumisse tudo num passe de mágica.

Não é de hoje que a violência é destrinchada com intensidade over no cinema. Tenho como comparativo extremo o despirocante Henry - Retrato de um Assassino (Henry: Portrait of a Serial Killer, 1986). Só a cena do videotape é mais arrepiante e violenta que Sin City inteiro - e ainda plenamente justificada dentro de seu conceito. Na época, o filme foi repudiado pela crítica, mas hoje tascam-lhe uma tarja cult reparatória. Que hipocrisia.

Ironicamente, perto dessas considerações, Sin City não passa nem raspando. É o mesmo que acusar Chuck Jones de fazer apologia à violência através dos cartoons do Coiote e do Papa-Léguas.

Marv, o marvado

Fragmentado em três linhas narrativas (extraídas das HQs The Hard Goodbye, The Big Fat Kill e That Yellow Bastard), o filme abre com uma cena tão cool (saída de The Customer is Always Right), que chegou a me dar arrependimento de tê-la assistido antes. Em seguida, emenda na via crucis de John Hartigan (Bruce Willis), o último policial honesto da cidade. Muito doente e a uma hora de sua aposentadoria, Hartigan ainda consegue salvar a vida de uma garotinha das garras do psicótico Roark Jr (Nick Stahl... esse cara promete...). O problema é que o Jr é filho do corrupto e malévolo Senador Roark (o malévolo Powers Boothe), irmão do influente Cardeal Roark (Rutger Hauer, reaparecido do limbo).

Corta para a avassaladora jornada do bad boy Marv (o bad boy Mickey Roark... digo, Rourke). Após uma noite inesquecível com a bela Goldie (Jamie King), Marv encontra a motivação da sua vida ao acordar com ela morta ao seu lado. Literalmente coloca a cidade de pernas pro ar para resolver o crime. Na seqüência, Sin City tem o seu momento mais thriller noir, com a história de Dwight (Clive Owen, style até a medula óssea), praticamente um... hã, pulp fiction em movimento. O climão sugestivo e espirituoso do início vai descarrilhando até se largar de vez numa metelança de vísceras, desmembramentos e fuzilamentos em larga escala.

Quentin Tarantino aparece nos créditos de Sin City como diretor convidado (cobrando a mesma quantia que Rodriguez cobrou pra fazer a trilha de Kill Bill vol.2: US$ 1), e nem precisa dizer que é dele a cena entre Dwight e o presunto Jackie Boy (Benicio Del Toro, mais seboso que um percevejo). Os diálogos e a situação improvável, apesar de serem de Miller, parecem saídos de algum extra obscuro de Cães de Aluguel.

Mickey Rourke, que já foi um big big star, tem a chance de tirar o pé da lama com esse filme, da mesma forma que John Travolta em Pulp Fiction. Só não digo que ele vai aproveitar, pois sempre foi um sujeito difícil e orgulhoso (Alan Parker que o diga). Por hora, é curtir o durão Marv, que consegue ser ainda mais psicótico e ameaçador que nos quadrinhos - e ainda com uma ligeira verve "pop monster" à Mickey Knox (de Assassinos por Natureza). E palmas Elijah Wood, aqui um verdadeiro Frodo From Hell. Sempre achei que ele tinha cara de doente disfarçado. As tretas dele com Marv, apesar de curtinhas, são de arrepiar. Detalhe: Rourke e Wood nem chegaram a se encontrar nos sets.


Outra bela surpresa foi Devon Aoki no papel da letal assassina Miho. Que olhar assustador o dessa menina. Perderia por pouco da Beatrix Kiddo, mas chutaria fácil o traseiro da Elektra Garner.

Ôôôôaaaa...seguuuuuuura peãooo...

As mulheres, aliás, são a força motriz de Sin City - e que Deus abençoe Rodriguez/Miller por trazerem a maravilhosa Carla Gugino quase como veio ao mundo. E sem palavras para descrever a family-destroyer Jessica Alba. A Jessica acalba comigo (a ponto de eu fazer trocadilhos geniais como esse).

Sua cowgirl Nancy Callahan já é a pinup da minha vida e merece urgente um spinoff (x-rated, de preferência).

E agora eu quero aquele pôster de qualquer jeito.

Minha namorada stripper

Alguns pequenos desníveis climáticos pipocam em Sin City, e a maioria deles é devido ao recurso da quebra temporal, que, embora não seja prejudicial, é um tanto desnecessário. Isso fica claro quando a carnificina quase épica da saga de Marv dá lugar ao cuidadoso conto de Dwight. Meio abrupto. Como se, após devorar aquela churrascada sanguinolenta, ter que limpar o canto da boca pra degustar um requintado soufflé au fromage. Ficaria mais funcional e impactante se ignorassem o formato em loop do roteiro e ficassem no Hartigan-Dwight-Marv. Do jeito que está, fica parecendo um primo pobre de pauleiras narrativas como Amnésia, 21 Gramas ou mesmo Pulp Fiction. Nada demais, entretanto.

Segundo Robert Rodriguez, o filme Sin City não é uma adaptação, e sim uma tradução. Perfeito. Afinal, tenho de admitir... esse filme é mesmo a melhor transposição já feita de uma HQ.

Mas não da melhor HQ.



MILLER: MONOCROMÁTICO


Marv, sem saber que é filho do padre

"NYC, 2:45 da manhã. Os becos de Manhattan já não parecem tão familares para mim. Mendigos, loucos delirantes, bêbados, prostitutas baratas, traficantes, garotinhas estranhas, sujeitos mal-encarados, ilustradores de quadrinhos e roteiristas desempregados. A escória da sociedade. Meu antigo lar. Muito diferente da minha belíssima cobertura na esquina da quinta com a sexta. Lá eu tenho uma vista privilegiada para a baía. Quartos enormes, sala de cinema, bar, academia, hidro. Uma piscina imensa onde dificilmente eu entro, pois não sei nadar. Cristo, até a Oprah esteve lá certa vez. Mas nem sempre foi assim. Tive me especializar em minha área e sair do gueto em que me encontrava no começo de carreira. Aprendi a enxergar além. E para trás também, ao mesmo tempo. Aproveitei a onda cyberpunk/no future do filme Blade Runner e misturei ao contexto de velhos e cansados heróis. Hype virou o meu segundo nome.

O primeiro deles foi um herói cego da Cozinha do Inferno. Coloquei a vidinha do cara de pernas pro ar e inseri uma sexy-symbol que misturava tragédia grega, artes marciais e fetiche sadomasô. Ótimos resultados. Virei o hit do momento. Eu era o garoto que estava ensinando aos veteranos. O próximo herói a tomar uma geral foi o Homem-Morcego. Transformei em realidade os piores temores daquele sujeito paranóico, coisa que sempre foi sugerida, mas evitada. Senti como se estivesse dando vida aos delíros mais insanos de Dom Quixote. Todo mundo gostou e eu garanti meu lugar na História. Foi show.

Com o tempo, fui percebendo que as pessoas gostam mesmo é de uma boa desgraceira. Paranóia, decadência, obsessão, sexo e violência. É isso o que vende. Os super-heróis...? Esses podiam ficar até em segundo, terceiro plano. E enxergando além, vi que nem precisava mais deles, só da desgraceira. Foi aí que tive a idéia de criar um universo urbanóide, caótico, independente de centralizações e com vida própria. Aproveitei e meti junto um clima noir rebuscado e enquadramentos angulosos, reforçando a impressão cinematográfica. Eu sou o cara. Foi mais um sucesso, mas desta vez estranhamente com uma pecha underground. Não gosto disso. Eu preciso é de dinheiro, oras!

Enquanto recorro a um certo orelhudo pra levantar uma graninha aí, começo a agitar um filme sobre aquele universo urbanóide comercialmente promissor. E também quero participar da brincadeira. Não quero dar uma de Mike Mignola e ficar só dando tchauzinhos pelo set. Mas não posso cometer erros. Tenho de contar com os melhores do ramo. De porcaria já me bastou Robocop 2. Descolei um mariachi à um preço módico, com cojones o suficiente para encarar a empreitada (embora ele tenha essa estranha mania de fazer filme infantil entre uma carnificina e outra), e um sociopata tarado por cinema oriental. Desta vez eu era o veterano que estava aprendendo com os garotos.

Deu certo. Tirando uma ou outra florzinha que escreve no Rotten Tomatoes, todos aplaudiram em pé. Preto & branco é o que há! Comecei na sétima arte com o pé esquerdo, mas desta vez eu bombei. Me sinto como se fosse a própria Sofia Coppola. Franquia? Com certeza.

Aguarde por toneladas de novas edições. Afinal, preciso de sketches e story-boards prontos. É o esquema perfeito! Nada melhor que unir o útil ao agradável.

Nos vemos em Sin City 2!

(...)

E Moore... ao invés de ficar aí sentado e resmungando porque estão estragando suas obras-primas, faça como eu... move your ass!"




...E OUÇA O DISCO

A trilha do caos

Uma coisa que logo me saltou aos ouvidos em Sin City: el mariachi Rodriguez está se tornando um grande compositor de trilhas! Ele e os feras Graeme Revell e John Debney fizeram um excelente trampo. É um primor de atmosfera incidental. Algo jazzy, soturno, dark, sujo e sarcástico, por vezes deliciosamente exagerado, como o próprio filme.

A faixa-título começa estilosa e resvala quase num cabaret pós-punk. A guitarra em reverber cheio de efeito no finalzinho ficou demais. Haja Pro Tools. Pena que só tem dois minutinhos. A faixa Marv é o momento mais pesado, como não poderia deixar de ser. Começa cadenciada e vai dando a lugar a um teclado fantasmagórico e um batida sujona. Parece trilha de filme do David Lynch. Old Town Girls traz o sax mais vagabundo e ordinário já gravado desde o fim do Morphine. Já a percussão epiléptica e o sax cheiradaço de Jackie Boy's Head lembra muito as pirações do veterano Link Wray. Sin City End Titles começa como se fosse o replay da faixa-título, e emenda numa sonzeira blues rock-mariachi de boteco vagabundo. Parece que a qualquer momento alguém vai aparecer gritando "pussy, pussy... pussy lovers!!" :P

E como este blog não presta...

"Sin City - Original Motion Picture Soundtrack"


Pra arrematar, a banda alternativóide Fluke comparece com uma faixa autoral, chamada Absurd (um industrialzão standart). Curiosamente, a trilha cool do último trailer ficou de fora. A música é do grupo The Servant, e se chama Cells - pra baixá-la, clique aqui. Ela é muito, muito legal, o riffzinho é matador. Deveria ter ficado no lugar do Fluke.



MEGA-TURNÊ DE REUNIÃO



Tudo bem... na verdade só o Alcofa e o Luwig voltaram. Os miseráveis deletaram seus respectivos sítios cheios de imagens e textos bacanas, mas é perdoável. Afinal, os caras estão de volta...! E merecem uma skol gelada!

Eu e o Victor estamos aí de lambuja, com novíssimos e foderosos banners. Cortesia do Lobo Schmidt, o melhor banneiro de Czarnia. Valeu!


Na trilha: Cells, do The Servant... pela centésima vez só hoje.

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

"METLLICA"

O cinegrafista Bob Richman e James Hetfield na concentração

Eu era um garoto que amava Metallica e Faith No More. Obviamente, isso pouco interessa a você, fã de Franz Ferdinand, do novo hit do Gorillaz ou mesmo da sua velha radiola que só pega AM. Também não adianta vir com muita grosseria na matéria (tem gente que acha que qualquer coisa mais leve que o Krisiun já é pop). Até piora. É essa nesga de público restante que pode ter uma bela surpresa com Metallica: Some Kind of Monster (2004), documentário que cobre o período 2001-2003 da carreira do grupo.

Dirigido heroicamente por Joe Berlinger (de A Bruxa de Blair 2) e Bruce Sinofsky, essa foi justamente a fase mais turbulenta da história do Metallica. É catarse filmada com todas as situações-limite e/ou constrangedoras que possam sair de uma relação desgastada. Três caras criativamente exaustos, sentindo o peso do tempo chegando junto (mais de 20 anos de estrada), a desmistificação de seus antigos ideais no future (hoje eles são milionários e a banda, um ícone do estabilishment), a saída traumática do baixista Jason Newsted, o caco de relação que sobrou entre o vocalista e guitarrista James Hetfield e o baterista Lars Ulrich, e os bastidores da gravação de St. Anger, disparado o seu pior álbum. E é aí que está a questão.

'tallica jammeando e lá no canto, Robert Trujillo, o novo candidato a bass hero

Até então, eu só sabia que St. Anger era uma decepção multi-facetada. Em primeiro lugar, veio a produção propositalmente ruim - contraste flagrante com a mesma banda que gravou o Black Album (1991), um marco da engenharia de som, com o mesmo produtor Bob Rock. Em segundo, já se podia esperar por um material no mínimo conturbado, dados o break interminável no processo de composição e a saída ríspida de Newsted, que, sem dúvida, abalou a banda - e principalmente Hetfield, de quem se tornou um grande amigo. Embora isso não tenha livrado Newsted de um belo flagra, quando um dos roadies mostra um recadinho mal-criado que ele deixou gravado em uma secretária eletrônica (nos extras do disco 2).

De resto, sabíamos por alto que as coisas já não andavam lá muito bem dentro do grupo. Vez ou outra chegava a notícia de um eventual arranca-rabo entre James Hetfield, o deus do metal (pense nesse adjetivo de forma bem pejorativa e psicologicamente prejudicial a longo prazo), e o explosivo Lars Ulrich, herói que virou vilão mega-capitalista e que acabou com a farra-do-boi do Napster, iniciando uma caça às bruxas que dura até hoje. As cenas em que os dois discutem chegam a ser engraçadas de tão nervosas.

No meio disso tudo, o guitarrista Kirk Hammett, sempre passivo e concluindo que os bons tempos foram mesmo pro saco, Bob Rock (que já trabalha com a banda a 15 anos), demonstrando um jogo de cintura invejável quando escapa de algum fogo cruzado, e um conceituado psiquiatra... isso mesmo, um psiquiatra... que tenta somatizar toda a zona que anda acontecendo com a banda. O mesmo profissional acaba sendo vítima de um "motim" por parte dos rockeiros.

Mustaine, o recalcadoAlguns velhos elementos recorrentes na "metallogia" do grupo acabam dando as caras e quando menos se espera... voilá: Dave Mustaine entra em cena e de repente faz dessa locação um daqueles investimentos superfaturados. Ah, sim. Pra você, que gosta de The Killers, Keane, Altemar Dutra, etc, eu explico.

Mustaine estava lá, nos primórdios do Metallica, junto com Hetfield, Ulrich e Ron McGovney. Foi chutado da banda em 1983, porque conseguia chapar mais álcool e drogas que todos os outros juntos. Reza a lenda que eles colocaram o cara doidaraço dentro de um ônibus que ia de LA para San Francisco. Mustaine, puto, montou o Megadeth e também vendeu seus milhões de álbuns, mas sem nunca sair da sombra perseguidora do Metallica.

Então essa lavagem de cueca suja adiada por 20 anos finalmente acontece, e com juros - embora a banda tenha sacaneado Mustaine pra valer nessa mesma seqüência, com a opção "Comentários da banda" ativada. Mas que foi engraçado, foi.

Metallica ao vivo... até 1989 eles eram os melhores nesse negócio

Essas são as peças no tabuleiro. Claro que você quer saber é se Some Kind of Monster pode ser palatável ao gosto de quem não é fã do Metallica. Sim, com certeza. Mas como o próprio título já diz, esse monstro aqui não se encaixa em nenhuma categoria pré-definida. Não é bem um "rockumentário", não é nem um pouco redentor e pinta os integrantes do grupo com cores pra lá de cinzentas. Estar no Metallica Inc. é quase como estar no elenco de O Aprendiz (o original americano com o Donald Trump, muito mais hardcore). Reuniões, campanhas de promoção, contratos com gravadoras e distribuidoras, investimentos e conflito de interesses. Isso tudo e ainda um novo disco a ser gravado, enquanto os músicos penam com um teimoso bloqueio criativo. A coisa fica bem mais séria quando se tem dinheiro envolvido. Aliás, muito dinheiro - o Metallica já vendeu mais de noventa milhões de discos desde 83.

Não deixa de ser curioso o modo como cada integrante lida com isso. Hetfield acompanhando sua filhinha na aula de balé e passando uma temporada numa clínica de reabilitação, Lars levando seu pai (que figura) ao estúdio e investindo alto em leilões, e Hammett, cansado do "deixa-disso" habitual e se isolando em sua fazenda idílica. E para fãs (agora sim!), chega a ser tocante quando imagens de várias fases da banda são colocadas em seqüência, deixando claro o quanto isso tudo já foi especial um dia.

Talvez esteja aí a força de Some Kind of Monster e o que faz dele uma experiência tão peculiar. A pressão do profissionalismo, a deslocada condição humana e a fragilidade de relações desgastadas por longos anos de convivência. Onde foi que você já viu isso mesmo?



COMEÇOU EM PIZZA


Literalmente. Durante uma esticada turística na Terra, o Senhor do Fogo, ex-arauto de Galactus e chato de plantão, é confundido com um portador de gene X no auge da febre anti-mutante. Confusão armada e logo o Amigão da Vizinhança tem de salvar alguns pescoços. O problema é que a treta é tão desigual que poderia ser tranqüilamente adicionada ao cartel de pepinos do Aranha (Rino, Hulk, Fanático, Mr. Hyde, etc). Como sempre, só resta ao nosso esforçado herói lançar mão de muito improviso, corre-corre e do providencial Sentido de Aranha. Não faltam situações inusitadas (como o Senhor do Fogo na pizzaria), prédios destruídos, explosões a rodo, aquelas infames piadas do Aracnídeo, J.J.Jameson numa seqüência hilária, e, claro, a indefectível cena em um metrô. :)

Por incrível que pareça, esse tipo de história minimalista sempre rendeu horrores com o personagem. Provavelmente seja porque o Aranha se garante em personalidade e é de fato o super-herói mais complexamente humano dos quadrinhos. A seqüência (genial) em que ele fica tentado a sumir na multidão é um ótimo exemplo. Méritos do roteiro esperto de Tom DeFalco e do traço limpo e eficiente de Ron Frenz (por que não existem mais desenhistas assim?).


Outro detalhe digno de nota é a edição nacional pra lá de capenga, como de praxe. Dia desses mesmo eu estava tirando sarro com as pernadas de editoração da Ebal, mas atrocidades como essa também eram habituais durante a era Abril Jovem. Fazer o quê, né. Eu cresci achando que o uniforme do Fantasma era vermelho...


Clique na capa pra baixar a HQ
(link já off, é claro, mas é fácil de achar por aí!)


"You will do, what I say, when I say... BACK TO THE FRONT!"