quarta-feira, 10 de setembro de 2008

HIPPIES DON'T LIE


Peso, lisergia e lirismo diretos de Estocolmo, Suécia. O Siena Root poderia ser mais uma banda de garotos que amavam Zeppelin, Purple & Sabbath, não fossem as relações realmente estreitas com o dito "classic rock" - e o talento necessário para tal. O grupo foi criado no fim dos anos noventa pelo baixista Sam Riffer e pelo baterista Love H Forsberg ("Love", para os íntimos), que já tocavam juntos há quase dez anos. Logo arrendaram KG West (guitarra, órgão, cítara [!], backings e clone do Urso do Cabelo Duro) e Oskar Lundström (vocais). Com essa formação, gravaram o excelente debut, A New Day Dawning, de 2004. Pouco depois, Oskar saiu da banda e foi substuído pela cantora Sanya. Com a vocalista, eles lançaram seu segundo disco, Kaleidoscope, de 2006. No ano seguinte, ela deixou o grupo, dando lugar a Sartez, que cantou no novo álbum, Far From The Sun - e que, até onde sei, ainda continua na banda.

As constantes mudanças de frontmen seria algo desastroso em qualquer grupo, mas o que acontece com o Siena Root é a profusão de um fenômeno raro. Quantas vezes na história do rock'n'roll um cantor cedeu espaço a outro tão bom ou até melhor? E que compreende exatamente o que a banda precisa naquele momento? Os casos são poucos e notórios - de cabeça, vou aí de Bon Scott/Brian Johnson (AC/DC), Ozzy/Dio (Sabbath), Gillan/Coverdale (Purple), Di'Anno/Dickinson (Maiden) e Halford/Owens (Judas). No grupo sueco isto aconteceu três vezes em três discos (100% de "reaproveitamento"!), sempre com resultados excepcionais.

O trio de vocalistas é peculiar ao extremo. Cada um tem um estilo bem diferente dos demais. Oskar Lundström, o primeiro pródigo, tem influências de soul, inclusive com timbre e alcance próximos do lendário Glenn Hughes. Quem conhece, sabe o que isso significa (e deve estar me acusando de heresia agora). Já a gatinha Sanya ouviu muito o Robert Plant dos áureos tempos e deve cantarolar "Since I've Been Loving You" em casa sem fazer feio. É uma cantora incrível. E Sartez... é glam. Mas glam, glam mesmo, com um estilo espetacularmente andrógino. Tenha em mente Ian Hunter (Mott The Hoople), Marc Bolan (T. Rex) e Bowie fase Ziggy Stardust. Mais uma vez, a banda foge do lugar comum e mantém o alto nível.


Apesar do trampo nivelado dos três à frente do Siena Root, Sanya é de longe a mais cultuada entre os admiradores do grupo. Muito marmanjo ainda choraminga pela saída da moça e é fácil entender porque.

No vídeo a seguir, ela faz uma releitura sensacional de "Coming Home", faixa de abertura do primeiro disco, cuja linha vocal (de Oskar) é dificílima.


Impossível não lembrar de Plant no filme The Song Remains The Same, mais precisamente nas cenas ao vivo no Madison Square Garden.

Como de praxe, os três álbuns do Siena Root continuam inéditos por aqui. Espero que não por muito tempo. Discoteca básica para qualquer stonerhead ou simplesmente fãs de Música.

sábado, 6 de setembro de 2008

BACK TO THE FRONT


Tempos modernos. Ao lado do Google Chrome, o leak do novo álbum do Metallica foi o evento da semana. Death Magnetic será lançado oficialmente no próximo dia 12, mas uma loja francesa queimou a largada e patrocinou uma verdadeira farra P2P mundo afora. Numa postura bem diferente da época em que comia napsters no café da manhã, Lars Ulrich tem se mostrado mais compreensivo na questão: "Todos estão felizes. Estamos em 2008 e isso faz parte de como são as coisas agora, então tudo bem. Nós estamos felizes.". Mais compreensivo ainda foi a bandeira branca sinalizada por ele sobre as releituras de clássicos do grupo feitas por fãs no YouTube. Não que essa declaração tenha vindo do fundo do coraçãozinho ardiloso do baterista, mas o Metallica de fato tem reavaliado sua posição em relação à web. Vendas online de registros ao vivo e divulgação de músicas inéditas via streaming de qualidade revelam uma boa vontade (ou necessidade) em dialogar com esse novo mercado. Nada mais simbólico do que uma banda que é a personificação do establishment-rock revendo seus próprios conceitos.

Tudo isso e a eterna promessa de retorno às raízes criativas só aumentaram as expectativas em torno do disco novo. Sem entrar em méritos mercadológicos, Death Magnetic já é o álbum mais contundente do Metallica desde And Justice for All (1988). Estão lá as seções rítmicas brutais de Lars e do ex-suicidal Robert Trujillo, a artilharia pesada das guitarras, os andamentos deslavadamente thrash da velha escola. Tem o Kirk Hammett de volta aos solos. Tem James Hetfield puto da vida, em vários momentos mandando as melodias pro inferno e esmerilhando a goela como em 1986. Sem dúvida o grupo recuperou muito daquele velho e irrefreável punch. Mas não totalmente, à despeito das seguidas tentativas de sonic boom e pulverização de pedais, cordas e amps.

Segundo os músicos, Rick Rubin desapertou os coturnos de todos durante as gravações - o contrário daquela panela de pressão gerenciada por Bob Rock. O que não deixa de ser curioso, já que, à vontade, todos contribuíram em cada uma das faixas (pela 1ª vez na história da banda) e em vinte anos foi o momento em que soaram mais fiéis às suas origens. Da parte puramente técnica, as texturas estão mais secas e nítidas, conferindo maior dinamismo e uma pegada mais efetiva ao instrumental. A guitarra-base parece uma motosserra assassina e a cozinha é uma muralha de coesão. Isso que é um som de bateria, pelo amor do Bart. Não é à toa que o Slayer não largava do sujeito. É realmente um badass moderfocka.

O resultado está a meio passo do berserker defenestrador que o Metallica já foi um dia, mas ainda com resquícios do feeling hard que vem sendo destilado desde Load (1996) - o que deve desaparecer progressivamente se os próximos álbuns mantiverem o direcionamento. Notável também o cuidado do grupo em não se aproximar demais do passado, evitando a temida auto-paródia (exatamente o que muitos andam malhando no disco em fóruns gringos, sem absolutamente nenhuma procedência). Alguns vícios ainda persistem, mas após tantos anos com a fera enjaulada e com um tour-de-force dessa magnitude, fica difícil não se curvar. Não sei por quanto tempo ainda, mas os reis estão de volta.


Faixa-a-faixa:

"That Was Just Your Life" - meu Santo Araya! Intro pulsante e dedilhados sombrios tomados de assalto por um riff cruel e uma pancadaria fulminante. Estamos de volta aos dias do No Life 'til Leather aqui. Um início espetacular.

"The End Of The Line" - essa fica bem no meio da encruzilhada. Quebrada à "Master of Puppets", métrica à "Creeping Death" e com passagens extraídas da cervical hard rocker da banda. Quase uma "Fuel" metalizada.

"Broken Beat And Scarred" - mais pesada e progressiva. Parece um lado B perdido do Justice, com palhetadas rápidas em uma base cadenciada e variações rítmicas com solo do Kirk. Excelente performance do James.

"The Day That Never Comes" - talvez a mais polêmica do disco, revisitando os mesmos climas da inesquecível "Fade to Black". É uma balada pesada que segue uma pegada mais tradicionalesca, com guitarras dobradas e final abrupto. Uma justa homenagem aos velhos tempos e uma auto-referência no mínimo merecida.

"All Nightmare Long" - mostra exatamente como é a banda migrando para o lado mais agressivo. Começa com as nuances do hard pesado da última década e desemboca num thrashão de explodir o seu lado da rua. Catártica.

"Cyanide" - por incrível que pareça, os grooves de Trujillo e a quebradeira de Lars funcionam muito melhor no disco do que ao vivo. Tem jeito de música de trabalho.

"The Unforgiven III" - fechando a trilogia (assim espero) com chave de prata. Não se compara à primeira parte, mas ganha fácil da segunda.

"The Judas Kiss" - o andamento me lembrou algo vindo do Angel Dust do Faith No More, com alguns riffs e nuances em slow-tempo à Soundgarden. Estranho, mas logo emenda num hardzão metálico de primeira linha.

"Suicide And Redemption" - instrumental colossal de dez minutos. Fazia tempo, hein.

"My Apocalypse" - me diga você, fã de Kill 'Em All e Ride the Lightning: como não sorrir de alegria em ouvir um speed thrash sangüinário como esse saindo novamente dos PA's do Metallica? Mike Portnoy disse que é a melhor música deles desde "Dyers Eve". Roubou a minha deixa o baterista de araque (sic).


Ps: apesar da capa mais tenebrosa de sua discografia, esse eu vou comprar. Faço questão.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

BIG BROTHER ZOMBIE

E os mortos-vivos invadem o sistema de vez. Dead Set é o novo projeto dos produtores britânicos do Big Brother. É. Isso. Big Brother. Anjo. Imunidade. Pedro Bial. Filmado na casa atual do programa, a série em cinco episódios será exibida até o final do ano pelo canal digital E4. Sem maiores infos até agora.

A idéia e o roteiro são de Charlie Brooker, escritor de comédia, crítico e colunista do UK Guardian. Na trama, os participantes do reality show se beneficiam do isolamento imposto pelo programa, enquanto lá fora um apocalipse zumbi assola o planeta. Segundo o Guardian, "a casa do Big Brother se torna o único lugar onde as pessoas podem se abrigar dos zumbis. E os participantes do programa não sabem do massacre que está acontecendo lá fora. É como o 24 Horas 'mas com zumbis'".

Apesar do humor cáustico dos britcoms aliado aos monstros preferidos deste que vos escreve, eu ainda estava cético quanto ao BBZ. Mas agora, após esse teaser dos infernos...



Sensacional. Só assim pra eu assistir um Big Brother!

Na trilha: Rob Zombie Live! Hell Yeah!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

VELHO, MAS NEM TANTO


Vez ou outra alguma grade de programação meia-boca resgata do limbo uma relíquia digna de nota. Semana passada, o SBT exibiu Sepultado Vivo (Buried Alive, 1990), um competente made for TV que resistiu firme ao tempo. A premissa era simples: marido envenenado pela esposa e seu amante é inadvertidamente enterrado vivo e volta para se vingar. Básico, mas funciona aqui maravilhosamente bem.

Mais conhecido por seus trabalhos na TV americana, o galã Tim Matheson está perfeito no papel do marido traído que retorna para uma vingança bem ao estilo do Antigo Testamento. Jennifer Jason Leigh (sempre gostei dessa menina) faz a esposa infiel, com visual blonde fatale, algo entediada e absolutamente ordinária. E William Atherton faz aquilo que sabe no papel do amante: um belíssimo canalha filho da puta para constar em negrito no seu (extenso) currículo de canalhas filhos da puta.

Somado a um roteiro enxuto e um elenco de apoio eficiente (destaque para Hoyt Axton, que faz o xerife), o filme ainda conta com uma direção meticulosa. Foi o primeiro longa de Frank Darabont (Um Sonho de Liberdade, O Nevoeiro), já sob forte influência das atmosferas à Stephen King que ainda permeiam sua carreira. O resultado é um ótimo thriller de suspense B.

O triste é que eu não dei nada por este filme na época em que chegou às locadoras. Adivinha porquê.


Ah, essa CIC Video e seus passeios cannábicos pela Pousada do Sandi... Lembro que aluguei por pura falta de opção num final de semana, o que acabou rendendo o inesperado fator surpresa. O "morto-mas-nem-tanto" (putz) foi rebatizado quando chegou às telinhas brazucas e ainda permanece sem uma versão em DVD.

Em 1997, o filme ganhou uma continuação, Enterrada Viva, dirigida por Matheson e protagonizada pela eterna brat pack Ally Sheedy. Mas os primeiros sete palmos é que ficaram na memória.


E falando em memória, uma pequena e tardia revelação. A vultosa seção Operação Resgate (que estreou num post de julho de 2004) ganhou esse nome não foi por acaso.




Me dói dizer isso, mas quem tem menos de trinta anos não vai se lembrar. O seriado Operação Resgate (Salvage 1, 1979) foi produzido pela ABC e exibido aqui pela Globo, na Sessão Aventura, acho. Teve vida curta, mas foi o suficiente pra virar meu programa favorito na primeira metade dos anos oitenta.

Na história, um coroa espertalhão dono de um ferro-velho teve a idéia de coletar os equipamentos que as missões Apollo abandonaram na Lua e revender na Terra a um preço exorbitante. Com o tempo, ele funda um projeto com ex-funcionários da Nasa visando a construção de um foguete nos moldes oficiais, só que mais barato e readaptado para serviços de busca e resgate. Nascia uma possante nave com o singelo nome de Abutre. E por "serviços", entenda-se desde guinchar um iceberg da Antártida à Califórnia até resgatar um satélite feito de ouro que está prestes a reentrar na atmosfera.

Durante a série, a equipe encara um sem-número de ameaças e situações (todas bizarras), mas o episódio em que eles pousam em uma ilha pré-histórica e enfrentam um gigantesco gorila/pé-grande bateu o recorde. Lembro até hoje.


Até pouco tempo atrás (=antes do Google) eu estava começando a achar que a série era só uma ilusão minha, já que ninguém que eu conheço lembrava. Quase uma lenda urbana, como As Aventuras de Cacá.

Se reprisassem essa pérola eu faria questão de não assistir. Pra que estragar?


Site dedicado:
Salvage 1