quarta-feira, 27 de abril de 2011

É hora da festa!


Antes de recolher as minhas bolas que caíram no chão, deixo a questão: será que jogar com o Romero seria uma espécie de God-mode?

Ps: "Do you wanna paaaartteee..." Não ouço nada tão grudento desde "America Fuck Yeah"...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Don't worry about him


Surreal que já se passaram dez anos. Ah, mas o rock está rolando em algum lugar nesse exato momento...

Valeu, Joey!

sábado, 9 de abril de 2011

The wolf is on the table


Lobão, Live in Polinter (1987)

Sempre achei curioso como alguns ícones do pop rock nacional dos anos oitenta me foram revelados de forma pontual e nada oficiosa. Já conhecia toda a galeria via FM e não sei se foi o uso abusivo do ska como solução rítmica ou a produção de som datadíssima ante os padrões gringos, mas, pra mim, não representava mais do que um levante new wave de personagens pouco distinguíveis entre si. Assim foi até o Legião Urbana tocar "Faroeste Caboclo" inteira no Globo de Ouro, em 1985. Depois foi a vez dos Titãs, berrando "vão se foder" a plenos pulmões no hit "Bichos Escrotos" - vamos combinar que, em 1986, isso era como chutar a santa em sua própria paróquia. Nesse mesmo ano, o Camisa de Vênus arrepiava o chá das cinco na ABL com "Sílvia", igualmente massificada nas rádios. Mas nada foi tão desordeiro e sui generis quanto o vai-e-vem carcerário de Lobão no período 1987-1989.

Lembro dessa "revelação" como se fosse ontem. Era mais uma noite trivial lá em casa, a TV ligada no monocórdico Jornal Nacional trazendo as últimas sobre José Sarney, Dilson Funaro, Delfim Netto e quejandos. De repente, eis que Lobão aparece sendo detido ao desembarcar de um voo vindo de Los Angeles. Algemado e conduzido por policiais direto para a delegacia, ele não parecia triste, nem aborrecido. Pelo contrário. Cabeludão e transbordando galhofa, fazia o sinal de paz & amor (ou o "V" da vitória, vai saber). Não vou negar, a cena era tragicômica. "Pô, de novo esse cara foi preso?", comentei na hora. Era 1989. Nas rádios, a música "Vida Bandida", do LP homônimo, ainda sendo executada à exaustão...

Timing absurdo, verdadeira atitude rock and roll ou um proto-winning?

Segundo o livro 50 Anos a Mil, as três coisas juntas, em doses nada homeopáticas. A ideia de um livro não é nova. Lobão - ou o réu João Luiz Woerdenbag Filho - pretendia usá-lo pra registrar seu perrengue judicial repleto de ceninhas sórdidas de bastidores. Um roteiro de intrigas pra Oliver Stone filmar. Pelo visto, a ideia maturou no porão e ganhou uma versão long play, décadas mais tarde.

Quem conheceu o lobo mau no fim dos anos 80, já esperava por um conteúdo que não diluiria nem se fosse administrado no oceano Pacífico. Uma autobiografia do Lobão é sinônimo de buchas de C4 plantadas democraticamente nos pilares do mainstream canarinho - com quantidade à volonté nos QGs da "máfia do dendê", com rima e pandeirinho.

Pode ter sido pela estratégia factual (ou talvez por receio de soterrar o ventilador), mas, como o próprio Lobão admite, o livro acabou saindo menos inflamável do que o esperado. O que não arrefece nem um pouco a leitura. 50 Anos a Mil é anárquico, divertido, dramático, com momentos que parecem saídos de algum ensaio obscuro do Nelson Rodrigues e, acima de tudo, muito esclarecedor e sincero.

Não queria bater nessa velha tecla, mas há uma carência absurda por documentos assim no Brasil. O que proporciona, sintomaticamente, uma cavernosa lacuna na memória cultural. Vide a biografia de Garrincha, escrita por Ruy Castro, a bio de Roberto Carlos, por Paulo Cesar de Araújo, e a bio de Noel Rosa, por João Máximo e Carlos Didier. Todas embargadas por processos judiciais. Dos artistas do pop rock nacional, então, nem se fala. É um sindicato fechadíssimo, gerido por assessorias de imprensa e cujo protecionismo foi herdado diretamente dos medalhões da Tropicália. A exceção só poderia ser mesmo o Lobão, o único sem mordaças majoritárias e sem medo de exposição - pré-requisito básico pra qualquer artista independente, aliás.

Em termos de estilo, Lobão optou pelo acessível e coloquial, no que parece ser um exercício de jornalismo gonzo autodirecionado. Nesse esquema, alguns vacilos de revisão e vícios de linguagem se fazem presentes, porém foi fundamental para transcrever a sensação dos momentos mais tensos e eletrizantes, culminando num resultado, por assim dizer, feérico (isso pega!).

Assessorado pelo jornalista Claudio Tognolli (que contribuiu compilando trechos de reportagens dispostos cronologicamente entre os capítulos), Lobão exibe uma memória paquidérmica no primeiro terço do livro, cujo foco é família, infância, adolescência e o amor à primeira vista pela bateria. Tudo muito rebuscado, cheio de sons e imagens docemente bucólicas - um contraste com o prólogo-porrada digno do Danny Boyle em seus tempos de underground inglês.

Quando Lobão começa a ganhar o mundo (e vice-versa) é que a leitura dá uma acelerada e muitas lendas e fatos mal-explicados ganham uma versão. A maioria, pela primeira vez.


Nos primórdios com o Vímana, nos anos 70, e com a Blitz, em 1982 (clique para ampliar)

Muito me agradou a dissecada que o Vímana teve no livro. Pelo menos, a partir da entrada do lobo até o fim de suas atividades, no final dos anos 70. Até então, o que eu sabia sobre o grupo era mais ou menos o que todo mundo sabia: cult progressivo de onde saíram Lobão, Lulu Santos e Ritchie. E que trocaram um contrato promissor com a Som Livre pelo deslumbre de serem arrendados por um "popstar internacional" do cenário progressivo.

Tudo é esmiuçado sem pudores. No fim, lembra muito aquelas bandas iniciantes que tomam decisões equivocadas que nada têm a ver com música e que implodem suas carreiras antes mesmo de começarem.

E pelo que está registrado no livro, a "saga" foi sintetizada à perfeição por Lulu Santos em entrevista ao então VJ Edgard Piccoli.


Mas o lobo era um andarilho e tome história pra contar: a parceria/irmandade com Cazuza e Julio Barroso (líder da Gang 90 & Absurdettes), o genial elástico pra cima da Blitz na capa da revista Isto É, o primeiro quebra (literal) com uma gravadora, o romance com a Alice Pink Pank (que inspirou seu maior hit), a treta histórica com Herbert Vianna, a relação extremista com a mãe, a abreviada trajetória d'Os Ronaldos, o consumo industrial de farinha e outros quitutes, as várias tentativas de suicídio (a do canal raso no Leblon ficou de fora), a péssima fama adquirida (gerando reações que só esperaríamos ver no sul dos EUA), juízes sem o menor senso de humor, prisões hardcore, incursões em escola de samba, bandidagens joselitas no alto do morro, mais prisões, a apresentação apoteótica no Hollywood Rock, a vaia apocalíptica no Rock in Rio 2, o divórcio litigioso com as grandes gravadoras, a carreira na UTI, a sobrevida na independência, a luta pela numeração dos CDs, o Acústico MTV (polêmica ordem de fatores), a reinvenção midiática... esses 50 anos foram a muito mais que mil.

Confesso que a imagética de alguns momentos fizeram minha imaginação fluir vertiginosamente. Lobão no meio de um pandemônio cocainômano enquanto tenta manter uma conversa ao telefone com o João Gilberto foi uma delas. Dividir um quarto com a Marina Lima no auge do sex appeal foi outra - lendo, me senti um garotinho de 14 anos prestes a aprender que a vida é boa.

O final do livro é arrematado com uma série de entrevistas com amigos próximos. Alguns trazendo grande valor histórico, como os depoimentos de Ritchie, Maria Juçá e José Luís de Oliveira. Inseridos na sequência, os autos dos processos judiciais soam inevitavelmente cansativos, mas entendo que foram parte tão presente na vida de Lobão quanto a tríade máxima do rock'n'roll.

Com toda essa bagagem, não é à toa que ele esteja vivendo seu melhor momento em muitos anos. Capitalizando ao máximo a popularidade recém-readquirida com a passagem meteórica pela MTV, os vídeos estourados no YouTube e iniciando uma nova fase com as gravadoras, Lobão, ainda provocativo, dá um fim à nervosa calmaria e mostra para a nova geração as suas poderosas credenciais.

Ps: quase esqueci: e foda-se o Restart.