quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Zombie de Ouro 2015


2015 foi bastante atribulado para acompanhar artistas novos e lançamentos em geral. Certamente ainda estarei descobrindo muita coisa bacana desse ano mais pra frente. Tomara. Espero ansiosamente pelas dicas dos amigos.

Constatação: nunca ouvi tanto Slayer na vida - da insuperável trinca Angel-South-Seasons, que fique claro. Reflexo subconsciente do clima pesado que acometeu o país esse ano? Talvez.

A Sra. Morte trabalhou bastante no cânone artístico em 2015. Nem dá pra destacar highlights num conjunto da obra que englobou de Leonard Nimoy até B.B. King, mas tenho que admitir... convocar o Lemmy aos 47 do 2º tempo foi capricho puro. Bem, se houver rock and roll, bebidas, cigarros e bem alimentadas anjinhas/diabinhas por lá, pode crer que ele já nem lembra mais desse lugarzinho a uma altura dessas!

Mas vamos aos 11+ dos melhores! De alguns deles!

We are (all) Motörhead!







"Descobri" o Alabama Shakes no excelente programa Alto-Falante e desde então fiquei viciado. Primeiro, porque já estava meio órfão desse blend de rock pauleira, soul e r&b desde que o The BellRays e o Detroit Cobras afundaram no underground. Segundo, porque os Shakes têm personalidade própria e um modo muito peculiar de "bater" esses elementos. Em comparação com o fantástico debut, este Sound & Color é menos rocker, mais intimista e mais intrincado. Não é do tipo que desce de primeira, mas quer saber? É o melhor álbum do grupo até agora. E como canta essa Brittany Howard, benzadeus.



E eu também achava que o New Order já tinha dado o que tinha que dar. Pra minha (nossa) sorte, Music Complete simplesmente atropelou tais impressões. Não que os discos anteriores fossem ruins, mas o que se ouve aqui prova que aquela incrível banda que gravou clássicos como Brotherhood e Technique está viva e passa muito bem. Parece até que foi composto e gravado na época. Nem dá pra escolher uma favorita em meio a tanta música boa e ganchuda, mas "Stray Dog" com a voz cavernosa do Iggy Pop é de derreter o coração.



Não sou o maior fã da música do Marilyn Manson que você vai encontrar por aí. É um sujeito evidentemente inteligente, com dois álbuns iniciais muito promissores e um terceiro que trazia um hit genial. Depois, no pós-estouro, se embolou numa maçaroca envolvendo glam, rock industrial e covers requentadas de clássicos pop e parecia que não ia sair mais disso. Então foi um tremendo susto quando ouvi The Pale Emperor. No álbum, o "Antichrist Superstar" mergulha numa espécie de country-blues gótico com um climão soturno que faria o próprio Imperador Palpatine sair por aí assobiando os refrãos. Algumas batidas de rock arena ainda marcam presença, mas de forma absolutamente adequada ao contexto. Disco surpreendente.



O tempo voa em mach-5. Psychic Warfare já é o 11º disco do Clutch, fora registros ao vivo e EPs. E até hoje não sei categorizar o som eletrizante do grupo. Tem algum parentesco com o blues-punk das bandas do Jon Spencer, mas é bem mais grosseiro, quase stoner metal, e embebido numa certa malemolência etílica, prima-irmã do mesmo ar que o Tom Waits respira. Mas vai saber. Só sei que esse disco deve estar rolando em alguma festa insana por aí e eu estou perdendo...



Um amigo comentou outro dia que o Krisiun é atualmente a melhor banda de death metal old school do planeta. Assino embaixo, ainda que o álbum Forged in Fury não seja totalmente old school - observei partículas de harmonias melódicas aqui e estruturas mais acessíveis e cadenciadas acolá. O fato é que ele obedece com coerência e bom senso uma cuidadosa escalada evolutiva/musical que o trio gaúcho vem conduzindo primorosamente nos últimos álbuns. Coisa de alto nível. Dá vontade de partir pra ignorância e gritar "é Brasil, porra!!", mas além de ser mesmo um atestado de ignorância, o Brasil não tem nada a ver com isso. Talento, integridade e trabalho duro sim.



Uma pena que o Napalm Death seja apenas para usuários avançados. Uma discografia recente brilhante como a do grupo britânico merecia um especial em horário nobre todo santo dia. O excelente Apex Predator – Easy Meat é um exemplo disso. É um mash-up nuclear de tudo o que deu certo no som dos caras: punk hardcore, death metal, noise e um tanto de experimentalismo, além, é claro, do grindcore nosso de cada dia, do qual eles são reis absolutos. Isso aqui é podreira elevada ao status de arte.



Death Grips anunciou seu "término" em 2014, mas ainda está malandramente ativo, com participações em festivais descolados e desovando mais discos de inéditas. Um deles, aliás, é um projeto de inéditas: dois álbuns separados do mesmo lançamento, The Power That B. O primeiro, Niggas on the Moon, não curti tanto, mas no segundo, Jenny Death, o Grips toca o terror como sempre. Estão lá os estilhaços agonizantes de tecno, hardcore, noise e industrial fazendo a cama para o hip-hop psicopata de MC Ride. É a trilha perfeita para o estado atual do mundo.



No último ZdO cheguei a cantar a bola sobre o disco colaborativo do fabuloso trio canadense BadBadNotGood com o rapper Ghostface Killah, do Wu-Tang Clan. E Sour Soul não decepcionou. É verdade que Killah pouco altera seu discurso daquilo que sempre fez em seu grupo, mas o BBNG é esperto o suficiente pra compensar com um cenário impecável ao fundo. O grande diferencial para aquele manjado jazz-rap dos anos 90 é a vasta musicalidade da banda. Sem esforço, os caras combinam batidas secas de jazz com arpejos mod dos sixties, melodias Morriconeanas e a atmosfera obscurecida do trip-hop até o ponto de soarem indistinguíveis. O resultado é maravilhoso. Se eu fosse o Killah ficava por ali mesmo.



Musicalmente, Sol Invictus continua daquele exato momento onde o Faith No More parou, no disco Album of the Year, há 18 anos (pois é...). Que não é um dos meus preferidos, mas que, folguei em ouvir, apenas serviu como ponto de partida mesmo. Há ecos evidentes de tudo o que o Fenemê aprontou desde Angel Dust - e até do ensolarado The Real Thing, se considerar que a música "Superhero", minha favorita, é uma subversão atualizada da inesquecível "From Out of Nowhere". Mas a criatura aqui, como de praxe em se tratando desses malucos, é bem outra e completamente sui generis. Um álbum bacaníssimo. Se rolar outro, tô dentro.



A sonoridade de Berlin entrega fácil: o power trio alemão Kadavar nunca esteve tão à vontade. Se no incensado álbum anterior o som patinava no excesso de referências ao passado, agora o esporro está muito mais garageiro, orgânico, visceral. Quem sabe daqui a um tempo eles não se tornam o novo Thee Hypnotics?



Fazia tempo que não comentava do Baroness aqui - desde o ZdO 2007, pra ser exato. Purple impressiona não só por manter sua evolução sonora contínua, mas também pelo fato da banda ainda estar viva para gravar o disco. Não bastasse o gravíssimo acidente sofrido pelos músicos em 2012, o baixista e o baterista (o que sobrou deles) resolveram picar a mula logo na sequência. Contra todas as probabilidades, o grupo deu a volta por cima em tempo recorde e seu metalzão progressivóide com melodias pop oitentistas segue intacto. E sensacional.


Menções honrosas:
Hand. Cannot. Erase., Steven Wilson
Luminiferous, High on Fire
Bad Magic, Motörhead
SubTrap, Jay IDK
Songs from the Black Hole, Prong
Meliora, Ghost
Thе Plаguе Within, Pаrаdisе Lоst
Vol. 4: Hammered Again, Mammoth Mammoth
Technicians of the Sacred, Ozric Tentacles
The Killer Instinct, Black Star Riders



Melhores aquisições de HQs

Em igual nível de importância estão o tomo Do Inferno, da editora Veneta, e o clássico sci-fi O Perfuraneve, pela editora Aleph, finalmente lançado no Brasil. Mas não estaria sendo honesto se não destacasse um grande sonho de consumo realizado.


E bota grande nisso. Lançado em 2011 pela Mythos Editora, o gigantesco livro Conan: O Libertador reúne as histórias do bárbaro na Savage Sword of Conan que acompanham sua vida dos tempos de várzea até sua ascensão ao trono da Aquilônia. Perdi, claro, pelo preço bastante elevado para época (e não tão elevado para hoje!). Pra piorar, os exemplares esgotaram rapidamente. Muitos deles certamente abduzidos por especuladores para posterior venda extorsiva em sites de vendas informais. Um indício é a edição que adquiri, de um lote com edições lacradas e em estado "de banca". Suspeito, no mínimo.

Seja como for, depois de uma edição colossal dessas (e que, provavelmente, jamais verá uma continuação nas mesmas proporções), vai ser difícil ler o Conan de Roy Thomas, John Buscema, Tony DeZuniga e outros em formatos mundanos novamente. Crom!



A capa mais foda


Homem-Máquina, com roteiro de Tom DeFalco e os traços de Herb Trimpe (r.i.p.) sendo varridos pela magnífica arte-final de Barry Windsor-Smith, também era outro velho sonho de consumo. A demora na publicação desde o anúncio assustou um pouco, mas felizmente deu tudo certo. A belíssima metalização da capa e contracapa deu um toque mais do que especial à saga futurista do Aaron Stack. Golaço da Panini!



Melhor seriado de tevê


Demolidor, com uma bengala nas costas. "Uma série com o padrão HBO" sempre foi o mantra de todos os leitores de quadrinhos quando se trata de adaptações live-action de super-heróis. E taí o porquê disso. Copiaram, executivos?



Melhor filme

Felizmente um ano concorrido, com Sicario: Terra de Ninguém, O MarcianoKingsman: Serviço Secreto e vários outros. Mas só pode haver um!


Mad Max: Estrada da Fúria, com o carnaval apocalíptico de George Miller a pleno vapor. Assim que ganhar uma dessas mega-senas viciadas, produzo eu mesmo um filme solo da Imperatriz Furiosa!



Melhor doc

E também o mais chocante...


Night Will Fall reúne o material produzido por Alfred Hitchcock e Sidney Bernstein para um documentário sobre a chegada das tropas aliadas a vários campos de concentração nazistas. As cenas são tão fortes e perturbadoras que as filmagens terminaram engavetadas por 70 anos. Pra ser sincero, fiquei uns bons dias com algumas dessas imagens assombrando minha cabeça, então fica o aviso. Mas acima de tudo, se trata de um documento histórico essencial, com muito material, depoimentos e informações até então inéditas sobre a hora mais negra da humanidade.


Por hora é isso. Dicas, concordâncias e discordâncias nos comentários.

E um excelente 2016 (e 2017, 2018...) para todos!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

You know I'm born to lose / and gamblin's made for fools / but that's the way I like it baby / I don't want to live forever!


O Motörhead nunca foi exatamente uma mina de dinheiro. Lemmy costumava dizer que o hit baladeiro que compôs pro Ozzy Osbourne rendeu mais grana que a discografia inteira do grupo. Mas não seria justo ignorar que foi "Ace of Spades", a música, quem garantiu a bebida comida na casa dos Kilmisters.

Lançada em 1980, "Ace of Spades" é um clássico do rock 'n' roll desde a primeira hora. E provavelmente o clássico mais barulhento da História. Isso pelo menos até 2010, quando ganhou uma estilosa versão acústica num comercial da cerveja francesa Kronenbourg 1664.


Apesar da bebida favorita do tio Lemmy ser o velho Jack, o feeling era inegável, flertando com um direcionamento blueseiro num álbum que nunca veio...

Nesta vida, pelo menos, o lugar de "Ace of Spades" foi no topo dos Marshalls.

De "Stage Fright", o melhor dvd/blu-ray de show do universo

Mas, como todo hino de verdade, a música - e o álbum homônimo - também trouxe seus percalços ao longo da carreira.


“Você pode achar Ace of Spades o melhor, porque só ouviu esse! Temos feito 1 álbum a cada 18 meses por 34 anos! Tenho certeza de que deve haver alguma coisa neles que você iria gostar!”

O cardápio é todo maravilhoso. Pra hoje, sugiro uma entrada triunfal com Overkill (1979), Iron Fist (1982) e Rock 'n' Roll (1987), seguida por porções completas de 1916 (1991), Bastards (1993) e uma saideira apoteótica com Inferno (2004).

Repita sem moderação.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O último ronco do Motör


Ian Fraser "Lemmy" Kilmister
(1945 - 2015)

Tinha decidido parar com as mortes por aqui, porque daqui pra frente é só ladeira pros nossos ídolos rock 'n' roll. Mas esse não é um simples obituário, afinal é o Lemmy, porra.

Não que fosse uma surpresa. Nenhuma. Qualquer um que acompanha o Motörhead espera por essa notícia todos os dias há pelo menos uns 5 anos. Só é uma sensação algo inexplicável...

Mas viveu o féladaputa. Pra caralho. De roadie do Hendrix até aqui foram loucos anos. Muito loucos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Ash vs Evil Dead vs Ayahuasca

Eu era mais um que não esperava nada de Ash vs Evil Dead. Mas passados 6 (micro-)episódios, tenho que comunicar: a série é uma das bobagens mais divertidas do ano.

Aliás, foi o ep. 4, com Ash doidão e entupido de ayahuasca, que me lembrou que dois terços da franquia original se passaram nos anos 80...


Buena, buena, medicina, buena, buena, luz divina...