terça-feira, 28 de agosto de 2007

EVIL ELVIS NÃO MORREU


Este mês completou 30 anos que Mr. Aaron Presley resolveu cantar Can't Help Falling In Love para platéias, digamos, mais seletas. Coincidentemente, Glenn Danzig, um de seus súditos mais fiéis, retorna das trevas em grande estilo com sua banda homônima.

The Pelvis foi influência primordial na sonoridade do grupo em seus quatro primeiros discos e em seu estilo vocal desde sempre - referência discográfica já devidamente exumada aqui. O legal é que não é gratuito. Ele de fato engrossa esta veia pélvica (opa) e a introduz (opa²) num contexto musicalmente funcional. O crossover de blues rock com o espírito obscurecido do Rei, mais a pegada cramulhística fim-dos-tempos do Black Sabbath se mostrou vigoroso desde os primeiros acordes.

Também é notável que após a espetacular quadra inicial, o Danzig entrou na zona de rebaixamento - mais precisamente, a partir do baticum equivocado de Blackacidevil, de 1996. O disco era uma maçaroca eletrônica sem eira nem beira, na cola do boom industrial noventista. O que se seguiu foi uma produção de metal genérico que muitos classificariam de 'meia-boca' sem dor na consciência.

Apesar dos álbuns recentes terem resgatado um pouco da dignidade musical de "seu" Glenn (o cara já está com 52, ainda no shape - Elvis cravou nos 42, acabado), nunca houve uma recuperação completa. Talvez fosse pelo time de músicos modernoso demais. Ou simplesmente porque as composições não traziam nenhum vestígio daquele feeling blueseiro de encruzilhada. A verdade é que faltou mais 666 nos últimos discos do Danzig.

Mas veja/ouça só como são as coisas... o novo álbum é antes de tudo old school. É tão bom quanto sua antológica primeira fase, sem que nada mudasse efetivamente no Danzig atual.


The Lost Tracks Of Danzig é a tradicional compilação de canções inéditas. Mesmo pertencendo ao velho esqueminha dos caça-níqueis, o material surpreende pela quantidade e qualidade. São 26 músicas "novinhas" de primeiríssima, não raro melhores que muitas das que entraram nos álbuns oficiais. Impressionante como a pré-produção daqueles discos foi cruel.

Paradoxalmente, a nova masterização - feita pelo próprio Glenn e por Rick Rubin - nivelou todas as faixas, sendo bem-sucedida em manter a coesão de uma coletânea que prima pela variação extrema de sonoridade. Convivem no mesmo pacote o blues metálico dos primórdios, a fixação cinqüentista do Evil Elvis, industrial ressacado, experimentalismo neo-gótico e as guitarradas tonitruantes dos últimos dois álbuns. O resultado é um discaço classe "A" (ou "B", o que for mais lisonjeiro). Merece cada níquel investido.

Quando comentei que muitas destas canções mereciam figurar em seus respectivos álbuns oficiais, foi pensando na arregaçante faixa de abertura, Pain Is Like An Animal e nas sensacionais Angel Of The Seventh Dawn e The Mandrake's Cry. Se destacam na imediata segunda audição a baladona soturna Crawl Across Your Killing Floor, as duas versões de When Death Had No Name, o hard de botequim vagabundo Soul Eater, o doomzão cavernoso Lady Lucifera (a versão s&m da Grazi Massafera!) e duas pérolas que pagam tributo ao Rei: Cold, Cold Rain (meia-irmã de Sistinas) e a bela acústica Come To Silver, que Danzig diz ter composto para Johnny Cash.


A faixa Satan's Crucifixion merece uma menção à parte: riff marcante, melodia tétrica, satanismo de história em quadrinhos e climão pesado de cortejo fúnebre. Desde já, um clássico imediato da banda. Há uma história curiosa sobre a canção, contada por Danzig em entrevista à Rock Brigade.

Nas demais, há poucos pontos baixos na repescagem (contabilizei só duas), predominando composições que figuram confortavelmente na 2ª divisão do melhor que o Danzig já produziu - mesmo as inéditas do famigerado Blackacidevil, superiores ao álbum inteiro. O disco também traz ótimas versões de Caught In My Eye (do The Germs), Cat People (tema de David Bowie que entrou na trilha do filmão A Marca da Pantera, de 1982) e Buick McKane (clássico taradão do T. Rex).

Chega o fim do álbum e "Evil Elvis has left the building". Fazia tempo que ele não fazia por merecer o anúncio. Este conjunto da (s)obra rendeu uma moralzinha extra.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

THE LUDLUM ULTIMATUM


O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, EUA, 2007) é o exemplo prático de uma continuação que se justifica. Em nada soa gratuito e desde a sua essência mantém conexões íntimas e indissociáveis com os filmes anteriores sem, no entanto, se tornar formulaico. Muito pelo contrário.

Mesmo respirando independente e estabelecendo um fluxo intenso de novas informações e saídas criativas - em paralelo mais que perfeito com o frenesi dopante da ação física - o filme parece implorar que a experiência de assistí-lo seja feita com a bagagem de tudo o que já houve até então. Ver A Identidade, A Supremacia e O Ultimato Bourne não é apenas dar um passo atrás pra enxergar o grande quadro. É testemunhar todo o processo, desde a inspiração, passando pela criação, até a assinatura.

Mais do que o desfecho de uma premissa, o filme dá a dimensão real deste parâmetro. A coesão atingida aqui, sem individualismos e abnegada ao aspecto dramático daquele universo, atesta a autenticidade da trilogia enquanto produto de excelência. Méritos deverão ser distribuídos pelo mais honrado tesoureiro de Asgard: Doug Liman (Swingers, Vamos Nessa!), diretor do primeiro filme, foi uma escolha inusitada pela pouca experiência no gênero, mas sabia construir uma narrativa instigante, e aqui isto é moeda corrente; Paul Greengrass (Livre Para Voar, United 93) foi uma escalação mais improvável ainda, mas foi a partir dele que a franquia se tornou consciente de que vôos mais altos não eram uma opção, eram uma necessidade; e Matt Damon... bom, segura aí enquanto eu vou matutando a respeito.

Uma tendência em particular já avançava em sentido ascendente nos filmes anteriores e se manteve no pico durante toda a projeção: o crossover muito bem sedimentado de trama, tensão e ação, fruindo com tal vigor que pode até causar um choque anafilático nos paladares anestesiados pelo fast food ingerido voluntariamente via Hollywood. O Ultimato Bourne é entretenimento adulto com conhecimento de causa. Diversão sem constrangimento e sem ofensas a neurônios alheios. A antítese do guilty pleasure.


Existe um elemento-chave na dinâmica da história que funciona meio como um gatilho de percepção - quando o nó é desatado, lá pelo ato final, é que sabemos onde realmente estávamos o tempo todo. O resultado é nada menos que genial. E simples. Sabe o que dizem das melhores idéias. Não tenho formação o suficiente na matéria para reconhecer referências pré-existentes do recurso, então encaminho todos os créditos para o escritor Robert Ludlum (póstumo) e para a adaptação bombástica de Tony Gilroy. Eles merecem.

O filme começa exatamente onde Supremacia parou. E por exatamente, entenda como cravado em suas artérias, ainda durante a fuga na Rússia. O desmemoriado Jason Bourne (Damon), ex-assassino da Operação Treadstone, continua juntando os fragmentos de seu passado obscuro. Ao mesmo tempo, mergulha fundo nas ações extra-oficiais que desenvolveram o programa - atualizado e agora com o nome Operação Blackbriar. O objetivo de Bourne é descobrir quem são os envolvidos e vingar o assassinato de sua namorada, Marie (Frank Potente). Na tentativa de eliminá-lo e preservar a operação, Noah Vosen (David Strathairn), Diretor-Representante da CIA, não mede esforços e recursos. Por outro lado, a sagaz Diretora Pamela Landy (Joan Allen) também retorna, estreitando cada vez mais sua relação de cooperação-mútua com Bourne.

Às vezes, termos como "artesão de atmosferas" são utilizados sem muito critério, mas aqui cabe milimetricamente na proposta de Greengrass. O esmero e a dedicação do cineasta em construir cenários de crise com longas e absolutamente dramáticas seqüências chega a emocionar. Eu nem era nascido quando Gene "Popeye" Hackman perseguiu Fernando "Charnier" Rey nos dois Operação França - mas daqui a trinta anos (sou um otimista!) poderei me refestelar dizendo que eu estava lá quando Jason Bourne driblou uma equipe inteira da CIA e um sniper usando apenas um celular pré-pago. E como classificar a tensão absurda que precedeu a luta de Bourne com o assassino profissional Desh (o silencioso e apavorante Joey Ansah)? O que dizer da luta propriamente dita?

Se em Supremacia, Greengrass carregou na instabilidade do camera-man, aqui ele insiste e reconstitui a mesma técnica, mas com um resultado final a anos-luz no que tange à eficiência. A sincronia da explosão performática com o desvario visceral das imagens remetem, veja só, à adrenalina de uma luta de verdade. Mas apenas o suficiente para deixar o espectador moendo os braços da cadeira com a ponta dos dedos. Nota dez com louvor para o formando Greengrass por sua outrora desacreditada monografia sobre Porrada no Cinema.

Comparece também a já tradicional perseguição-monstro de carros, que desta vez destrói uma New York City e meia. A quebrada meio-fim é praticamente reeditada do filme anterior (com o dobro de caos, obviamente), o que, se rendeu o momento mais ganchudo e acessível da produção, também serviu de base para uma retomada psicológica definitiva do protagonista.

Pecadilhos: o excelente Scott Glenn só faz breves pontas, como Ezra Kramer, Diretor-Geral da CIA. E a presença gigantesca de Albert Finney, no papel do Dr. Albert Hirsch, é reservada para um momento específico, do tipo que nunca dura o bastante.


Ao lado de Kiefer Sutherland, em 24, Matt Damon e a Franchise Bourne reinventaram as regras dos estúdios neste filão. Tom Cruise, personificação de todo o mainstream gilete cinematográfico, reorientou sua franquia de espionagem fake para capitalizar o fenômeno. Até James Bond teve de se adequar. O complicador nisto tudo é a carga humana crível presentes tanto na mitologia de 24 quanto na de Bourne. Isso não se acha na esquina. E ainda entre estes dois, Damon sai na vantagem, pois é melhor ator. Desde já, a herança icônica de seu personagem é tão garantida quanto merecida, mesmo que a festa acabe por aqui - o que não acredito...

...afinal, a trilogia foi impecável inclusive nas subtramas: já no filme anterior eu me perguntava sobre a presença cuvilheira e concomitante de Nick Parsons (Julia Stiles). Essa menina tem tinta no cabelo...

Pretendo reassistir, comprar o DVD e encher a burra desses caras de grana. Quero The Bourne Legacy e The Bourne Betrayal nos cinemas, mesmo que um Ludlum-wannabe tenha escrito as novelas.


"Se Jack Bauer fosse viado, ele seria Chuck Norris. Pois bem, se Jason Bourne fosse viado, ele seria Jack Bauer" - autor campestre.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A GUERRA DE PAK


Tudo começou em Incredible Hulk #100. Ou melhor... recomeçou. Entre os extras que compõem tradicionalmente as centésimas edições (no caso, a origem do Hulk e o arco clássico onde ele é julgado e termina esmagando meio mundo), uma breve história chamada Planet Cho foi o estopim para o mais novo apocalipse da Marvel.

Ao contrário do que me pareceu à primeira vista, não se trata de uma homenagem ao conjunto da obra de Frank Cho (bem que ele merecia), mas um olhar mais profundo sobre o garoto Amadeus Cho. Dezesseis anos e um super-gênio, Cho é considerado a sétima pessoa mais inteligente do planeta, com capacidade para processar de dados que faria um Cray parecer um cartão perfurado. Também é o vencedor do Mastermind Excello, um contest frita-miolos da internet (favor não confundir com o Mastermind Excello Earl Everett, da Mystic Comics #2, de abril de 1940!). Cerca de uma hora após a vitória no concurso, explodiram a casa do rapaz com todo mundo dentro. Desde então, a toda-poderosa SHIELD tem investigado seu paradeiro, visto que uma operação não-autorizada que estava em seu encalço veio à tona.

Após a confirmação de que Cho ainda estava vivo, a mega-agência reclassificou sua habilidade única de raciocínio e resolveu enquadrá-lo na famigerada Lei de Registro dos Super-Humanos. O que eles não sabiam é que as ambições de Amadeus Cho iam muito além de viver na ilegalidade.

Recapitulando, Hulk, o Incrível, foi a júri novamente em The New Avengers: Illuminati #1, publicada em maio do ano passado. Longe de ser um júri popular, o Gigante Esmeralda foi condenado ao exílio pelo Illuminati - espécie de Comissão de Ética da Marvel, formada na surdina por Doutor Estranho, Namor, Professor Xavier, Raio Negro, Homem de Ferro e Reed Richards. Destes, apenas Doc Strange e o Príncipe Submarino podem ser considerados amigos do Hulk, chegando a combater nas mesmas fileiras durante os áureos tempos dos Defensores. Numa sessão turbulenta e sem a presença de Xavier, o Illuminati decide pela deportação do Golias Verde para um planeta distante. O único voto contra é de Namor. Com ajudinha de sua habitual impetuosidade e individualismo, ele enxergou ali uma decisão prepotente e unilateral de um clubinho fechado.

De fato, eles acabam banindo o Hulk mesmo, numa jogada absolutamente desonesta, dando origem à saga Planet Hulk.

Tempos depois, o Illuminati voltaria a se reunir para um derradeiro encontro. Um Homem de Ferro lobista coloca em pauta o rascunho da Lei de Registro de Super-Humanos, fator determinante na dissolução do grupo. Doutor Estranho e, novamente, Namor prontamente renegam o projeto imposto pelo governo. Do lado da Lei e do Latinha, estão Reed Richards, Raio Negro e, posteriormente, um Xavier estrategicamente tucano. É o embrião da Guerra Civil.

Mas voltando ao Cho...





Amadeus Cho...


O rapaz-prodígio© assombra geral ao dar seguidos olés em missões especiais da SHIELD, mas barbariza mesmo quando hackeia os sistemas do Edifício Baxter, o cafofo ultra-high-tech do Quarteto Fantástico. Diante de um surpreso Reed Richards, ele revela conhecer detalhadamente o esquema do exílio imposto ao Hulk. Após uma hilária disputa geek com Reed, Cho assume o controle de um satélite e mostra que o Gigante Esmeralda jamais chegou ao destino programado. A seqüência segue com Amadeus e Reed colocando na balança os prejuízos e os feitos heróicos já praticados pelo Hulk, num flashback que impressiona pelo alcance retroativo (lembraram de Jericho e da montanha em Guerras Secretas). Sem entregar o jogo, o garoto afirma que não medirá esforços para trazê-lo de volta - ameaça bastante considerada por Reed, tendo em vista o intelecto excepcional de Amadeus e o paradeiro desconhecido do Golias Verde.

A história termina com Reed se encontrando com o Homem de Ferro. Juntos, avaliam a situação como sendo catastrófica: a possibilidade do Hulk retornar é muito real, pois ele ainda tem amigos aqui.

Apesar de breve, foi uma excelente intro de Greg Pak para World War Hulk. Suspense na medida, humor nervoso e uma atmosfera bem diferente de seu trampo em Planet Hulk. Discreto, Pak não tem o approach bombástico de um Mark Millar ou a complexidade (muitas vezes, desmedida) de um Warren Ellis ou de um Grant Morrison. Pak é um miniaturista. Seu diferencial está nos detalhes. Planet Hulk é o exemplo perfeito. Como quem não queria nada, ele gradualmente desconstruiu o perfil do herói, reestruturou suas motivações e a profundidade de suas atitudes. No final, soa quase como um novo personagem. E bem mais instigante do que antes.

Ajuda também o fato de Pak evitar idéias... não muito "produtivas" (vide Straczynski) e manter um impressionante índice de acertos no que tange às inovações. Isto pra não citar o número de plots importantes que ele está administrando no momento e mais importante, com qualidade. É como se fosse um Brian Michael Bendis sem a existência do Homem-Aranha Ultimate. Com certeza, Greg Pak é o nome do momento na Casa das Idéias.

Os desenhos são do excelente Gary Frank. É um imenso prazer ver como seu estilo Jim-Lee-with-brains funciona no universo do Hulk.

Em Incredible Hulk #106 e World War Hulk Prologue: World Breaker esta linha narrativa é retomada. O check-list 'zilla divulgado pela editora é equivalente ao impacto causado naquele cenário pós-Guerra Civil. Nem imagino como a Panini Comics vai organizar a "Guerra Hulkial" por aqui sem apelar para a velha tesourada.


Incredible Hulk #106


IH #106 começa com Jennifer Walters, a Mulher-Hulk, sendo chutada pra fora de um helicarrier da SHIELD. Jen foi uma das primeiras a abraçar a causa da Lei de Registro patrocinada pelo Homem de Ferro, cujos ideais ela seguia fielmente - até ele revelar o destino que reservou ao seu primo mais famoso. A reação da gamma-girl, obviamente, foi esmagadora. Prevenido, Stark injeta um de seus nanobots inibidores de poderes. Assim, após muito tempo medindo dois metros, Jen volta a ser 100% humana, frágil e baixinha. E vai pro olho pra rua.

E quem está lá, esperando na esquina?

Ao que parece, Cho também derrubou os firewalls da SHIELD, pois sabe tudo o que acabou de acontecer. E Reed Richards, na cola do moleque, sabe que ele sabe - pretexto fácil para trocadilhos infames ("Ele sabe que eu sei o que ele está fazendo... provavelmente até sabe que eu quero que ele saiba que eu sei..."). Cho tenta convencer Jen a unir forças com ele para trazer o Hulk de volta. Ironicamente, ela, mesmo com todos os motivos para aceitar, parece ser a única voz sensata entre os dois extremos. Jen sabe muito bem que se o Gigante Verde voltar, poderá custar a vida de muitos. E sofre por causa disso. Logo em seguida, o cabeludo Doutor Samson é enviado para interceptar os dois.

Como um mestre enxadrista, Cho antecipa tudo e deixa o cenário devidamente preparado. No final, é revelado que ele tem o suporte de Hércules e do mutante Anjo, ambos ex-integrantes do supergrupo Campeões (que contava também com Motoqueiro Fantasma, Viúva Negra e Homem de Gelo - formação bizarra no último).

Curiosamente, a Marvel iria revitalizar os Campeões, agora com novos integrantes e supervisionados pela Iniciativa, a rede de super-equipes controladas pelo governo. O problema é que os direitos da marca foram abandonados pela editora, que desde 1978 não a utilizava, e adquiridos posteriormente pela Heroic Publishing. A saída foi bem à Navalha de Ockham: "mudem o nome". O grupo agora se chamará The Order.

Mas calma lá... The Order é a mesma alcunha que os Defensores originais adotaram na época em que decidiram proteger o mundo com mão-de-ferro. Originalidade? Pra quê?


World War Hulk Prologue: World Breaker


Casus Belli foi escrita por Peter David, velho conhecido do Verdão, e ilustrada pela trinca Al Rio, Lee Weeks e Sean Philips. O resultado visual acaba sendo irregular, mas Peter David é artilheiro e desempata. O cara sabe fuçar como ninguém o psicológico de uma situação extraordinária. A idéia é registrar o que acontece entre o fim de Planet Hulk e o início de World War Hulk. O enfoque é basicamente o Hulk em rota de colisão com a Terra e Jen Walters discutindo com Doc Samson num hotelzinho vagabundo e repensando sua posição frente ao caos iminente. Portanto, tome diálogos, decisões e preparativos de ambos os lados.

Hulk vem acompanhado por comrades de peso. Estão com ele até a morte: Miek, Brood (da Ninhada), a vermelhinha Elloe, o pedregoso Korg (muito forte) e o honrado Hiroim, detentor do Oldstrong, a "Força das Sombras" (muito, muito, muuuuito forte). Juntos, formam o chamado Warbound. Além da traição que sofreu, Hulk tem o sangue de um planeta em suas mãos, incluindo aí o de sua esposa grávida. Todos mortos pela explosão do construto que o Illuminati usou para baní-lo. O que os roteiristas farão para arrefecer esse problemão é algo que me deixa cabreiro. Dificilmente o Hulk, furioso e fora de controle, pouparia a vida de algum dos envolvidos.

Aliás, "fora de controle" nem tanto... ao perceber que ele está ficando cego pelo ódio e ameaçando a vida de seus companheiros, Hiroim o inicia num treinamento de meditação e redirecionamento da raiva. Peter David, cheio do timing, novamente usa a questão da dupla personalidade como um bom recurso criativo.

World War Hulk Prologue acaba sendo notável pela estratégia adotada pelo Verdão em parceria com Hiroim. É aqui que eles decidem qual será o primeiro alvo. O único que pode derrotar o Hulk.


World War Hulk #1


Acaba a contagem regressiva. O Hulk e o Warbound finalmente chegam à Terra, mas antes fazem uma rápida escala na Lua - mais precisamente, no domínio dos Inumanos. Seu governante, Raio Negro, é o primeiro da lista negra. É o mais duro adversário que o Verdão já enfrentou desde sua criação e o combate prometia. No entanto, a narrativa é implícita. Rigorosamente, limita-se às mesmas cenas já reveladas no preview divulgado meses atrás. Ofereço aqui a saída pela esquerda: como já houveram referências à dificuldade da luta (vide o planejamento metódico de Hulk e Hiroim em WWH Prologue) é quase certa a inserção de um retcon mais revelador adiante. Quase certa não, quase obrigatória. Seja como for, o resultado do confronto deve ter arrepiado até Jack Kirby lá no céu dos artistas.

A poeira levantada na Lua é só o aperitivo da edição. Hulk e o Warbound já chegam ao puny planet botando o terror em New York. Com direito a telão holográfico na Madison Square e em centros urbanos no mundo inteiro, o Gigante Verde esparra geral tudo o que passou nos últimos meses, desde a arapuca armada pelo Illuminati até a explosão que arrasou Sakaar, o mundo onde se deu a saga Planet Hulk. Em seguida, ordena a evacuação de Manhattan. E a presença de Reed Richards, Homem de Ferro e Doc Strange. Pra ontem.

As contramedidas de Tony Stark vêm em velocidade de dobra: oferece perdão presidencial ao Dr. Estranho e todos os heróis ilegais em troca de auxílio na evacuação da ilha. Além disso, coloca Robert Reynolds, o Sentinela, em stand-by para um eventual abraço no trem-bala gama.

O resto é som & fúria. O embate central é do Hulk contra um Homem de Ferro tunado com carenagem de Transformer. Destruição total. Difícil não lembrar do 11 de setembro quando a torre dos Novos Vingadores vem abaixo.

Greg Pak teve seu dia de Mark Millar. E John Romita Jr. mais um trabalho para constar na antologia.


Incredible Hulk #107


Amadeus Cho é malandro à moda brasileira. Tanto que Hércules e Anjo estão de pé (e asa) atrás com ele e mesmo assim são levados na conversa. Pelo menos o suficiente para juntos detonarem um cerco da SHIELD. A coisa segue aos trancos e barrancos e piora ainda mais quando Cho confessa ao Anjo que desviou uma fatia milionária de suas contas bancárias (agora bloqueadas pelo governo por virar cúmplice de um foragido), o que deixa o mutante com um humor nada angelical. Mas foi dinheiro bem gasto. Um de seus "sábios investimentos" foi em uma nave anfíbia de última geração - seu objetivo é chegar até Atlantis e pedir a ajuda de seu soberano, Namor.

(...) convencer Namor de alguma coisa é uma missão impossível até pro Beyonder. Após um sonoro "não" e o inevitável e quilométrico discurso ressentido ("eu avisei", "seus tolos"), o Príncipe Submarino assiste a transmissão de guerra do Hulk, mas mantém a decisão de não intervir. O tempo fecha quando ele e Hércules se estranham, cada um com seus próprios pontos de vista sobre os sentimentos do Verdão. Neste momento, Namora (prima de Namor), toma partido de Cho & Amigos. O senhor de Atlantis se isenta de qualquer responsabilidade e vai embora - depois de "esbarrar" na nave deles, só de sacanagem.

Quando o grupo finalmente chega em New York, a luta entre Hulk e o Homem de Ferro está acontecendo e a cidade está um caos. Muitas pessoas ficaram para trás e eles ajudam como podem. Assim que a briga acaba, eles vão ao encontro do Monstr... hã, do Golias Verde, que está 110% insano. Cho tenta conversar, mas Hulk parte pra cima, ainda no calor da batalha. Hércules o confronta numa seqüência bastante violenta e, da maneira mais difícil, consegue mostrar que há algo mais em jogo.

A história começa em easy mode on, mas depois Pak capricha na variedade de situações (Cho "telefonando" para a nave do Warbound foi foda) e manda bem com um Namor totalmente filho da puta. Outra boa sacada foi buscar na Mitologia Grega um inesperado link entre Hércules e o Hulk.

Aqui termina a participação de Gary Frank no título - uma despedida em grande estilo, diga-se, com uma Namora deliciosa (as mulheres do Frank são as melhores!) e o Namor mais carismático e expressivo que eu vejo em muito tempo. E isso realmente me deixa puto da vida.


A Marvel (=Joe Quesada) foi muito zé-ruela em abrir mão deste artista, que assinou um contrato de exclusividade com a DC, em maio passado. "Infeliz", pois quem perde é o leitor de bom gosto. Na DC, Frank está trabalhando ao lado de Geoff Johns (e Richard Donner!) no Superman, onde dificilmente fará mais que reeditar a surrada estética daquele universo - primorosamente pervertida por ele em Poder Supremo. Será reduzido a mais um simulacro sob medida para manter o standard vigente, ao exemplo das passagens de Ivan Reis, Jim Lee e tantos outros pelo título. Posso estar enganado, mas até onde vejo, Gary foi engolido pelo establishment que ajudou a sacanear. De qualquer modo, só veremos o resultado disso aí no final de outubro, quando a Action Comis #858 for lançada - mas esse Clark com cara de Mark Milton só reforça a minha tese.


Mas o show tem de continuar. Portanto, boa sorte para o Frank... é na DC que está o money!


Invincible Iron Man #19


Em Guerra Civil, os roteiristas da Marvel treinaram bastante o esquema de trocentas narrativas correndo em paralelo. Nos títulos que acompanham World War Hulk, eles estão fazendo isso com uma sincronia digna das meninas do Pan. Aquelas que levaram o ouro na ginástica rítmica. Pequenas Elektrinhas que parecem saídas dos gibis, tamanha graciosidade, agilidade e precisão...

...mas cortando o papo surreal e voltando ao subject: o retorno triunfal do Hulk comparece fielmente em todos arcos agregados, então cabe aos escritores se desdobrar nos pormenores da situação. O Latinha protagoniza metade da primeira edição de World War Hulk, então teoricamente não havia muito o que mostrar de novo. Neste quesito, o roteiro de Christos N. Gage (Authority, Avengers: House of M) se sai até bem, no limite de possível. Esperto, antecipou o início da história para algumas horas antes, com Tony Stark remanejando todos os recursos da Casa Branca para deter o "U.F.O." que se aproxima da Terra. Dezenas de drones abordam a nave do Hulk e são atropelados sem muita dificuldade - destaque para o Verdão ordenando "ramming speed" com a profissa de um Capitão Kirk.

O que se segue são as velhas discordâncias com procedimentos da SHIELD (desta vez, com Dum Dum Dugan à frente) e a já clássica luta entre o herói e o anti-herói. Os belos desenhos são o ponto alto da revista - mérito de Butch Guice, que me lembra o Stuart Immonen antes de virar overpop.

Interessante é que a armadura escolhida é a nova versão do modelo Hulkbuster, desenhada especialmente para derrubar o Gorilão. Mas nem injetando os nanites inibidores de poderes teve jeito. The Hulk busted the Hulkbuster.


Ghost Rider #12


A presença de Ghost Rider na lista de sub-arcos que acompanham WWHulk só pode ser explicada como uma forma de capitalizar em cima das últimas marolinhas de popularidade geradas pelo filme. O Motoqueiro Fantasma e seu universo demoníaco/espiritual não têm absolutamente nada a ver com o clima da saga. Simplesmente não existe química.

A história começa com o Espírito da Vingança caçando um demônio que possuiu o piloto de um Airbus. Tudo acaba da pior maneira e ele acorda na manhã seguinte, já na pele de Johnny Blaze. Através do noticiário, o rapaz fica sabendo da invasão do Hulk e resolve ir até lá encarar o Gigante Verde. Fim da história.

Tapa-buraco mequetrefe escrito pelo Daniel Way (Poder Supremo: Falcão Noturno), geralmente um razoável Garth Ennis cover. Mas aqui escangalharam muito a barra. Já os desenhos de Javier Saltares são apenas corretos - e estou sendo bem bonzinho. Só se salva mesmo a belíssima arte da capa, cortesia do italiano Gabriele Dell'Otto.

O irônico é que a voz da razão vem do próprio Lúcifer. Na tentativa de impedir Blaze, ele avisa: "isto não é da nossa conta... não vá..."


Heroes For Hire #11


O tempo foi passando e acabei nunca lendo Heroes For Hire. Esta foi a primeira vez. Me lembrou bastante Nova Onda, de Warren Ellis (publicada aqui via Marvel MAX). Ambos têm muitas similaridades: tom bem-humorado, elementos de espionagem, diálogos cheios de duplo sentido, garotas bem-alimentadas abusando dos decotes e das posições de cachorrinho(a), e integrantes vindos da 4ª divisão dos buchas. Pra completar, as duas equipes têm como líder uma heroína negra das antigas - no caso, Misty Knight, ex-tira e eterna namorada do Punho de Ferro.

Os demais componentes são Shang Chi, Gata Negra, Tarântula, Colleen Wing, Paladino e Humbug. Este último está com um visual novo que lembra um filhote do Besouro Azul, da DC, com o Black Kamen Rider. É o que mais se destaca na edição, já que suas habilidades "insetísticas" interagem com pelo menos dois integrantes do Warbound: Miek e Brood, que estão preparando o terreno para uma infestação alien generalizada.

Apesar da cara de tosqueira anunciada, o roteiro de Zeb Wells é curioso e mantém o senso de continuidade. E os rabiscos de Clay Mann são bacanas - em especial as moçoilas, agradavelmente voluptuosas. Vamos ver no que vai dar.

A edição também traz uma sub-sub-sub-trama, com o Paladino investigando uma conspiração envolvendo a cavalíssima Carmilla Black, a nova Escorpião. Bobagenzinha à toa. Roteiro de Fred Van Lente e traços curvilíneos de John Bosco, xará do nosso João Bosco.


World War Hulk: X-Men #1


Queria mesmo saber como ia ser o acerto de contas do Verdão com Xavier e, por extensão, com os X-Men. Primeiro, porque o tutor dos mutunas não esteve presente naquela fatídica reunião do Illuminati. Segundo, porque a única coisa que faria Xavier sair de cima do muro seria um gigante radioativo, indestrutível e louco da vida batendo em sua porta.

Tchan-tchan-tchan-tchann...
Hulk esteve com a agenda abarrotada desde que chegou de viagem. Em que ponto da narrativa ele encontra tempo pra ir à Mansão X eu ainda não consegui saber - imagino que deve ter sido depois de tudo o que aconteceu nesta primeira leva de edições. Logo que chega lá, ele é recebido a bala por um grupo de novatos liderado pelo Fera e formado por Mercury, Faísca, Pedreira, Satânico, , Elixir e X-23. Mesmo sabendo do inevitável resultado, todos lutam corajosamente. Mas no fim, Hulk-smash-puny-mutants.

Apesar do quebra-quebra que permeia 98% da edição, WWHulk: X-Men é sobre a postura de Xavier diante disso tudo. O roteiro de Chris Gage meio que fez um sanduíche ideológico aí: abriu e fechou com o bom professor sendo questionado (primeiro pelo Homem de Ferro, depois pelo Verdão) e recheou tudo com bastante porrada. Deu certo e os desenhos de Andrea Di Vito não vacilaram: durante a luta com final premeditado, fica claro o espírito bravo e perseverante do X-time.

Só não sei ao certo como a equipe principal dos X-Men apareceu por aqui. Em Astonishing X-Men #21 - excepcional arco do Joss Whedon - eles estavam a zilhares de quilômetros da Terra.

Excetuando a Wolverinete X-23, não conhecia nenhum dos mutantes newbies que tiveram a paudurescência de enfrentar o Hulk. Sei que é notório o beco sem saída que se tornou esse lance de super-poderes, mas o caso da Mercury foi muito sintomático. Suas habilidades copy-pasteadas do T-1000 remetem à também mutante Robin Vega, que apareceu em Homem-Aranha #192.

Ou seja... os arquivos da Marvel estão mais bagunçados que repartição pública. Nego sai criando personagem sem fazer uma consulta decente e dá nisso.


World War Hulk: Front Line #1


Front Line é um olhar mais realístico sobre os últimos grandes eventos da Marvel. Guerra Civil teve uma, Iron Man também e por aí vai. Tudo sob o ponto de vista dos repórteres investigativos Ben Urich e Sally Floyd, com eventual participação do detetive Danny Granville. Urich saiu recentemente do Daily Bugle de J.J.Jameson e criou seu próprio jornal on-line com Sally - chamado Front Line, claro. A dinâmica entre os dois é o forte da série. Difícil não ser cativado. Para os órfãos de Alias, Front Line é quase um alento.

A edição mostra o impacto do ultimato do Hulk sobre a população e o que acontece nas ruas durante as 24 horas do prazo estipulado. O roteiro é muito bem-humorado, principalmente na segunda metade, quando a nave do Warbound aterrisa no Central Park - um moleque chega a dizer que parece o Cirque du Soleil, mas lembra mesmo uma paródia ao clássico O Dia em que a Terra Parou. Korg é quem faz o corpo-a-corpo para estabelecer os termos da "ocupação pacífica". Porém, logo ele se vê obrigado a pressionar o Departamento de Polícia (!!) quando o dróide do Warbound, Arch-E-5912, é depenado em um subúrbio. A bomba acaba estourando na mão do pobre Danny.

Prosa leve e bem-sacada de Paul Jenkins, meu ídolo. O "normal" dele é tão bom que é até uma pena quando tudo fica "super" no final. Traços urbanóides de Ramon Bachs, como deve ser.


A seguir:



To be continued...


Destrinchando: Incredible Hulk #108, World War Hulk #2, WWH Front Line #2, Ghost Rider #13 (fazer o quê!), Avengers: Initiative #4, Irredeemable Ant-Man #10 (vixe), WWH Gamma Corps #1, Heroes For Hire #12 e WWH X-Men #2. Roooaarr!!