
Penúltimo episódio de WandaVision, "Previously On" reitera – senão supera – as previsões mais otimistas da Marvel Studios. Uma série adaptando um calhamaço crono(i)lógico complexinho e o romance sintozófilo da Wanda Maximoff com o Visão não era dos materiais mais palatáveis. Mas foi mastigado e cuspido com sucesso na testa dos públicos nerd, pseudonerd e nem um pouco nerd. Mesmo turbinado pelo fator Ultimato, o hype semanal assombroso de WandaVision é uma vitória contra as, arram, probabilidades.
E como recap, foi um bom episódio – mas nada que supere a geral da própria Elizabeth, em carne e Olsen. Adorável.
Claro que rolaram uns vácuos: sem gene X ou efetivação do Pietro que vale e tampouco do fantástico Quarteto. Mas acima dos desperdícios de timing, toda semana tivemos passe livre pra ver Elizabeth Olsen e Paul Bettany trabalhando. E que pintura de trabalho. Um privilégio ver esses dois em cena.
Dissecar a competência da dupla é chover no molhado: são mais atores do que a Marvel precisava ou mesmo merecia. A química do casal neste episódio em particular foi tão intensa que metade do set deve ter morrido intoxicada. Foram muito além das bem-traçadas linhas do roteiro da Laura Donney.
E, pelo amor de Sidney Sheldon, o que foi aquela punchline?
"Eu nunca vivenciei a perda porque nunca tive uma pessoa amada para perder. Mas o que é o luto senão o amor que perdura?"
Dito da forma errada, poderia facilmente ter saído de uma letra do Ritchie. Mas Olsen & Bettany conferem dor, profundidade, amargura e trágica cumplicidade à cena. Por sinal, uma das mais bonitas e bem compostas dos últimos tempos.
Vindo de alguém que tem experimentado o luto em doses cada vez menos esparsas (já comentei que moro na casa dos 40?), pode considerar que, sim, é um puta elogio. Então, reverbero perfeitamente o momento em que Wanda recria tudo o que aliviará sua dor num momento de violenta catarse – não por acaso, dramatizada e enquadrada como se fosse uma cena visceral de um trabalho de parto. Conceitos Cronenberg-Lynchianos operando incógnitos abaixo de incontáveis camadas DisneyPlusísticas. Eu vi isso, Matt Shakman e Jacqueline Schaeffer.
Ali, para qualquer cascudo no assunto, foi impossível não lembrar de outro aspecto do luto, ainda mais sorrateiro e perigoso: a entrega. Isso foi explorado também no terreno do drama/fantasia em Amor Além da Vida, do sumido diretor Vincent Ward (de Navigator: Uma Odisséia no Tempo). Um filmaço, por sinal.

Sem entrar em spoilers, em dado momento do longa, o personagem do saudoso Robin Williams precisa salvar a esposa, irremediavelmente trancada e inacessível dentro da dor da perda. Provavelmente a alegoria fantástica mais depressiva e realista já filmada.

Uma jornada que já apresentava uma outra dimensão das palavras do nosso sintozóide favorito.
Por mim, a parada já está ganha bem antes do tempo regulamentar. Que venham o series finale, Multiversos e além...