quinta-feira, 17 de abril de 2025

Trailer de família

Hoje é o dia dos trailers inesperados. Fantástico!


Quarteto Fantástico enfim numa adaptação live action decente e sem tergirversar o material original de Stan Lee e Jack Kirby. E com um crescendo climático que os Vingadores levaram dez anos para construir nas telonas. A Marvel Studios parece dar os primeiros passos para reencontrar o caminho.

É um alívio finalmente ver o Pedro Pascal menos gaiato e mais sério e cerebral com seu Reed Richards. Reed é um racionalista chatão arrogante, pô. Gostamos dele assim. Já Vanessa Kirby soa meio gélida e indiferente como a Sue Richards. A ver. Joseph Quinn acerta no alvo com o Johnny Storm e o Coisa visualmente perfeito de Ebon Moss-Bachrach carece de mais diálogos. A Shalla Bal/Surfista Prateada (já falei que é Luminaris!) ficou bacana e praticamente reedita o pique-pega com o Tocha Humana no filme do Quarteto de 2007. Não vi sinal do John Malkovich. E o rolê Galáctico pelas ruas de NY fecha com um tiro de Nulificador Total.

Além disso, a vibe de recap retrô me dá a impressão de que adotaram a ótima Quarteto Fantástico: História de Vida como bíblia de produção.


Expectativa lá no alto, portanto. Droga.

65 Dias Antes

Trailer novo e novamente espetacular de 28 Years Later (Extermínio 3... bah!²). Agora com maiores e aterradoras infos sobre aquele bravo mundo novo arrancando tinta do spoiler.


É preciso admirar o marketing da produção, que teve a sagacidade de resgatar o elemento mais comentado do 1º trailer (exatamente 1 frame mostrando um possível Cillian Murphy faquir), expandir aquilo e ainda promover a thumb da prévia! Fizeram o dever de casa direitinho.

A dinâmica pai-e-filho dos personagens de Aaron Taylor-Johnson e do guri Alfie Williams vagando por uma terra maldita recheada de territórios autônomos, pra mim, foi um gatilho quase imediato para o universo de The Walking Dead. Irônico, visto que as franquias tiveram pontos de partida idênticos, com Rick/Jim acordando de um coma em pleno apocalipse zumbi/infectado. Nunca esqueceremos.

Mas Extermínio (bah!³) veio antes.

terça-feira, 8 de abril de 2025

Predador de matadores


Pela prévia, a animação Predator: Killer of Killers parece um bom aperitivo para o longa live action Predator: Badlands, previsto para novembro. Ambos são co-escritos e dirigidos pelo Dan Trachtenberg, de Predador: A Caçada, o que é uma grande referência.

Não sou lá muito fã dessa tendência de animações em 3D com baixo frame rate, mas é ranhetice minha. Arcane e Samurai de Olhos Azuis usam essa técnica e são excelentes. E meu sonho era ver o honorável Hiroyuki Sanada de samurai fatiando um Yautja no Japão feudal, mas essa versão digital genérica vai ter que dar pro gasto. E ainda terá ninjas. E uma batalha aérea contra uma nave predadora. E pelas empalações e torsos decepados, a Disney+ liberou geral para a Hulu.

Ok, noves fora, acho que já temos algo lá fora e que não é um homem. E se sangra...®

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Kilmer Eternamente


Val Edward Kilmer
(1959 - 2025)

Se foi o Val Kilmer. Não sou muito fã da expressão "descansou", mas no caso dele, que a justiça seja feita. Os últimos dez anos da sua jornada foram um daqueles exemplos lapidares de coragem e resiliência – muito maiores do que qualquer herói que ele tenha personificado.

Na 1ª vez que vi o Kilmer não teve nada de épico ou dramático. Pelo contrário. Foi rolando de rir com o impagável Top Secret! (1984), do trio ZAZ. Não perdia uma reprise. E nos dias seguintes, ficava comentando as melhores cenas com os colegas da escola.

Logo veio uma sequência matadora com Top Gun (1986), o 1º apavoro dramático com The Doors (1991) e o sensacional faroeste Tombstone (1993). Em 1995, já absorvido pelo estrelato, vieram Batman Eternamente e o clássico drama policial Fogo Contra Fogo. Em 1996, experimentou um caos maior que o de Jim Morrison nas gravações desastrosas de A Ilha do Dr. Moreau e emendando como pôde em A Sombra e a Escuridão, com o Michael Douglas. E por aí foi. Sua filmografia é tão extensa quanto variada.

Kilmer tinha fama. Não era um sujeito fácil. Também era obviamente talentoso. E, de fato, colaborava com os direitos dos nativos americanos e com causas ambientais. Fora que doou milhões para a caridade.

Vai fazer falta pra muita gente. E não apenas pelos filmes. Isso que é legado.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Ruptura e perda


Caindo dentro de Ruptura/Severance após uma seca de quase três anos. Apesar da abstinência (ou Síndrome de Estocolmo, não sei), aguentei um pouco mais até o final desta 2ª temporada para mergulhar na experiência como se deve. Pretendo voltar aí, mas antes tenho que interromper as atividades para sublinhar este episódio 9, "Chikhai Bardo". É um espetáculo de narrativa e recortes.

Dirigido melancolicamente por Jessica Lee Gagné e com um roteiro devastador de Mark Friedman e do criador Dan Erickson, o capítulo é protagonizado pela Dichen Lachman (Gemma/Ms.Casey, finalmente!), Adam Scott (Mark S.) e Jen Tullock (Devon, irmã de Mark), afinadíssimos.

É um ensaio sobre vida, morte, luto e escolhas. E é perfeito. Este é um episódio muito bonito. E muito triste.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Medicare don't care

Sempre parece que algo errado não está certo quando somos lembrados que a maior economia do mundo tem um dos mais sistemas de saúde mais onerosos do mundo. É o que senti quando noticiaram que o grande Peter David precisou recorrer ao GoFundMe para cobrir suas despesas médicas.


E é o que sinto agora ao ver o também grande Mike W. Barr seguindo a trilha em direção à terra prometida da vaquinha gringa.

Não tá fácil pra ninguém... ou melhor, it's not easy for anyone.


Para meros mortais, são quantias vultosas – no câmbio de hoje, 860 mil cruzeiros na meta de David e 200 mil cruzados novos na de Barr. Para a Marvel e para DC, onde ambos fizeram contribuições inestimáveis e lucrativas até hoje, uma ninharia.

Claro, a questão é muito mais complexa que isso. Envolve contratos da época e direitos de autor na legislação daquele país. Temas que, convenhamos, poucos têm a competência para discorrer sobre. Ainda mais pro bono.

Só sei que no meu caderninho da justiça, o conjunto da obra desses dois já deveria garantir uma cobertura vitalícia.

terça-feira, 25 de março de 2025

Seguidores em série


Abrupto como uma aparição no meio de uma estrada deserta: divulgado o pôster de They Follow, sequência de It Follows, a sensação indie de 2014. E que sensação. Sem nenhuma major por trás, o filme de David Robert Mitchell arrecadou 23 milhões de doletas de bilheteria, dezoito vezes o seu valor de produção. Além do público, também ganhou as graças da crítica, um cult, hã, following dedicado, além de catapultar a Maika Monroe para o estrelato, quase. Mas, como bom aprendiz de iconoclasta, não curti.

Nunca entendi como o filme conseguiu notas tão boas. Parecia alguma fissura americana em ter seu próprio Deixa Ela Entrar original, o seu próprio mythos cult. O filme trai suas regras internas seguidamente e a sensação de tempo jogado pela descarga no final é incrível. Fora as tecnicalidades ectoplásmicas. Pra começar, é um espírito maligno que se machuca quando leva tiro na cabeça (e sai sanguinho). E se tem uma entidade assassina que só você vê e que nunca para de te seguir (tá, a ideia é boa), que tal reunir os amigos, ir à praia, dar as costas ao mundo e sentar de frente para o mar?

Sem contar a apatia da geração Y empesteando o filme inteiro. Foi a parte mais difícil de aguentar. Haja Prozac. Este é meu post-pra-falar-mal. Já posso dormir sossegado.

Mesmo com tudo isso, fiquei surpreso pela volta ao conceito após longos 11 anos. O figura David Robert Mitchell, diretor, roteirista e produtor, resistiu bravamente à tentação. E aos boletos.

As filmagens estão previstas para este ano. Por enquanto, não há muitas infos. Originalidade não parece despontar no horizonte, tanto pelo retorno de Maika Monroe ao papel quanto pelo próprio pôster, com latente inspiração poltergéistica, além, é claro, do batismo desavergonhadamente carpentesco.

E se o original desenvolvia uma metáfora ao medo do HIV, HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis, o título da continuação cai como uma luva no atual medo do cancelamento. Outros tempos.

Seja como for, It Follows e They Follow (interessante como o "S" do nosso plural age em sentido inverso aí) é mais um caso de trapalhada da versão brasileira. Aguarde por um Corrente do Mal 2, o título mais burocrático e tedioso de todos tempos – ao passo que em Portugal deve sair com um polivalente e fidedigno Vão Seguir-te. E novamente os lusas vão se sair melhor.

terça-feira, 18 de março de 2025

A Balada das Fúrias Femininas


Agosto de 1994 foi um divisor de águas. Naquele mês, saía a polêmica Green Lantern #54. Ao mesmo tempo em que a edição choca os leitores com a morte brutal de Alex DeWitt, a namoradinha do Lanterna Verde Kyle Rayner, também dá uma nova carreira à cabeleireira Gail Simone. Seu website Women in Refrigerators – título sem rodeios e autoexplicativo – leva o fato um pouquinho pra fora da bolha nerd e rende contatos com figuras-chave da indústria. Alçada a roteirista, Gail tem breves passagens pelo gibi dos Simpsons e pela Marvel, até que, em 2003, assina com aquela mesma DC Comics da historinha brutal, onde está até hoje.

Claro que a DC não é a única editora historicamente misógina e sexista. A Marvel, tradicionalmente mais progressista, também tem sua cota de esqueletos femininos no armário. Mas é na DC que, por algum motivo, a passada da boiada sempre manteve o cardio em dia. Um exemplo é que logo após cooptar Gail Simone, a distinta publicou a minissérie Crise de Identidade, de Brad Meltzer, com toda a sorte de atrocidades às quais a personagem Sue Dibny foi submetida.

Quando o assunto é idade de consentimento, então, a coisa vira mato. O que queriam fazer com a Mary Marvel foi além de qualquer sensatez. E que o diga o amor-estranho-amor de Slade Wilson e Dana Markov, Hal Jordan e sua bimbo de 13 anos Arisia Rrab (mais tarde, embaraçosamente "consertada" por Geoff Johns para 240 anos!) e prefiro nem mencionar o Terry Long, pelo amor de Nabokov.

A raiz disso tudo parece remontar a uma época em que o escoteirão Superman flertava com suas jovens primas Supergirl e Poderosa como se fosse o sugar daddy das galáxias. Aquele agosto de 1994 pode ser sido um divisor de águas para Gail Simone, mas para a DC, era uma terça-feira qualquer.


São algumas viagens que ficaram após a leitura de As Fúrias Femininas, mini em 6 partes publicada em 2019 lá fora e compilada pela Panini em abril de 2021 aqui dentro. E minhas expectativas com o quadrinho eram o exato oposto desse papo. Com a guarda de elite de Darkseid em pose épica e ameaçadora na capa de Joëlle Jones, imaginei uma aventura de ação militar-espacial 2000 ADística, curta, grossa e divertida. Mas o roteiro da escritora, diretora e indie rocker Cecil Castellucci prefere explorar a cena pelos bastidores. O que, a priori, é uma ideia ótima e, ao mesmo tempo, perigosamente desafiadora.

Poucos terrenos das HQs são tão férteis para analogias ao preconceito de gênero (ou a qualquer preconceito) e à luta pelas causas femininas (ou a qualquer causa) quanto o inferno totalitário de Apokolips. Em particular, as Fúrias Femininas parece que nasceram para isso. A abordagem de Castellucci fica evidente no logo nas primeiras páginas, com a Vovó Bondade supervisionando a 1ª formação da equipe: Auralie, Lashina, Bernadeth, Harriet Louca e Grande Barda. Ah, esses nomes.

Enquanto conclui anos de treinamentos mortais, Bondade relembra seus próprios perrengues em nome da ascensão social e profissional – incluindo éons de humilhações e gaslighting de seus camaradas até a submissão sexual para o chefão de pedra chapiscada.

Paradoxalmente, as Fúrias eram, de certa forma, "protegidas" pelo treino e condicionamento extremos. Quando são oficialmente apresentadas, passam a conhecer o mundo-cão-machista no qual Vovó Bondade se graduou.

Dentre elas, a maior vítima é Auralie, alvo constante de assédio e estupros por um oficial da alta cúpula. Apesar das tentativas de trazer alguma justiça para seu caso, Auralie só encontra indiferença por parte de Bondade e repúdio das demais Fúrias. Sororidade passa longe das hostes apokoliptianas. A única que desenvolve alguma empatia (tardia) é Barda, já a um passo de seu relacionamento com o Senhor Milagre e do passaporte para a liberdade na Terra.


Castellucci teve bastante cuidado com o momentum de sua trama. Tudo está muito bem encaixado na cronologia sem influir nos eventos clássicos. A HQ começa com o assassinato da mãe de Darkseid, Heggra, a mando do próprio. Depois, Scott Free inicia sua parceria com o líder rebelde Himon. Até a sofrida Auralie tem o mesmo destino de sua encarnação original, em Mister Miracle #9, de maio de 1972. Detalhes extras bacanudos que mostram que a roteirista leu todo o Quarto Mundo de Jack Kirby com atenção e mucho gusto.

A coisa só patina um pouco nas elipses da narrativa, nos entrequadros. Alguns cortes são muito truncados, fora que algumas ideias chafurdam no absurdo, como a sequência envolvendo Auralie, Barda e um cadáver desovado num cometa (!). O desenlace é puro nonsense da Era de Prata.

A arte da paulistana Adriana Melo é eficiente e esteticamente agradável – sua "jovem" Vovó Bondade é qualquer coisa de espetacular e implora por arcos com missões solo. A exceção são as cenas de luta, confusas como as de um gibi do StormWatch ou do Justice (lembra disso, Vicente?). A artista também evita aquelas panorâmicas industriais/tecnomedievais de Apokolips, um personagem à parte das sagas Kirbyanas. Se conscientemente ou não, vai saber. Mas ela, com absoluta certeza, teria cacife.

No final, surpreende ver que a chamadinha de capa "A Revolução no Quarto Mundo!" não fica apenas na promessa. A tal revolução, furiosa e feminina, realmente acontece, embora destoe da cronologia jogando tudo pra conta de um provável Elseworld. Uma ousadia que não consegue suprir totalmente a sua (enorme) ambição. Não foi dessa vez.

Deixemos isso, ainda, com a Martha Washington de Frank Miller e com a Halo Jones de Alan Moore. Mas valeu a tentativa.

quinta-feira, 6 de março de 2025

DD volta ao trabalho


Demolidor: Renascido chega para assumir uma bronca de longa data da Disney+. Não é de hoje que o conteúdo Marvel da plataforma vem sendo hostilizado por uma legião insatisfeita de fanboys da editora – uns quatro ou cinco que gritam por 400 ou 500, em média. Entre as acusações, a de que a megacompanhia não teria cojones para lidar com o material urbano casca-grossa-macho-bagarai dos quadrinhos. Pois bem, só nos primeiros quinze minutos já tem mais porradaria e sangue do que em Pinguim inteiro. E no final das contas, só prova, pela enésima vez, que apenas isso não é garantia de nada.

É preciso louvar o esforço da Disney para agradar o público ao restaurar o Demolidor da Netflix enquanto sincroniza com os eventos do MCU. Charlie Cox e o Wilson Fisk de Vincent D'Onofrio já são habituées na nova casa e a produção reescalou a Vanessa da bela Ayelet Zurer e o sinistro Mercenário de Wilson Bethel. Tudo em nome dos bons tempos.

O resgate também incluiu, logicamente, a Karen Page de Deborah Ann Woll e o Foggy Nelson de Elden Henson. Eles voltaram. Mas não muito, só um pouco. Quase nada, pra ser franco.

O negócio é que recaiu sobre a dupla a decisão mais controversa deste início de temporada. Logo de cara. Quem conseguir passar por esta provação de última hora, será recompensado. De alguma forma.


Mesmo com inserções de CGI ruim, o tira-teima Oldboyesco entre Audacioso e Poindexter é eletrizante, visceral e sem freio. O tenso diálogo entre Fisk e Murdock num restaurante vem da excelente inspiração em De Niro e Pacino na cena clássica de Fogo Contra Fogo. A referência ao Justiceiro e aos desdobramentos daquele símbolo no mundo real não passou despercebida, tampouco. Cojones.

Outra boa sacada foi levar à trama o dilema legal do vigilantismo na figura do Tigre Branco Hector Ayala – papel póstumo do ator porto-riquenho Kamar de los Reyes, morto em 2023. Pra mim, pelo menos, foi uma grata surpresa: o Tigre Branco sempre foi um dos meus personagens B prediletos.

Problemas? Alguns de ritmo, sim. O Rei do Crime se candidatando/vencendo para prefeito nova-iorquino em velocidade de dobra, por exemplo. Da mesma safra do vilão dando entrada no xadrez e se tornando o rei do lugar em 30 segundos nos seus áureos tempos de Netflix. Deve ser algum superpoder de carisma setado no nível 11. Mas dá pra abstrair.

Principalmente quando o payoff são sequências como o cliffhanger do ep. 2. Uma catarse brutal e libertadora seguida da "Get Free" do The Vines na orelha. Puro exibicionismo.

Quero mais.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Eles estiveram lá


Mesmo com todos os contratempos e probabilidades, o feito de Walter Salles, Fernanda Torres, Selton Mello & cia na noite do Oscar foi histórico. A campanha foi irrepreensível e Fernandinha foi magnífica, sobrenatural (o jet lag vai ser monstro). Marcelo Rubens Paiva e a sua família mereciam demais.

E o Brasil também.


Agora vamos, por favor, guardar esse sentimento. Nosso cinema agradece.