terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Bem-vindo à selva


Deu na Wired: com Avatar, James Cameron pode mudar para sempre a maneira como você assiste filmes. No mínimo, o épico 3-D deu um passo gigantesco nesse sentido. E mais importante, imprimiu no expectador um novo padrão de como ele quer consumir cinema daqui pra frente. Porque não dá pra sair indiferente de uma sessão de Avatar, como se fosse apenas um vislumbre do que virá num futuro provável. Com o filme, Cameron agendou a revolução pra ontem.

A excelente matéria da Wired não fica apenas na superfície do resultado final. Documenta a gestação de Avatar desde os primórdios da carreira do diretor. O ano era 1977. Cameron (ex-caminhoneiro e ex-estudante de filosofia) e um amigo acabavam de sair de uma sessão de Star Wars. O eterno hit de George Lucas tinha sido um entretenimento memorável para o amigo, mas para James Cameron foi muito mais que isso. O universo criado por Lucas bateu fundo na sua alma. Naquele momento ele decidiu que também queria criar o seu.

Vinte e três anos, um andróide e um transatlântico mais tarde, Cameron se reunia com engenheiros da divisão de câmeras HD da Sony, em Tóquio. O objetivo era criar uma nova tecnologia, transcendendo mais uma vez o (não tão) simples ato de se fazer cinema. As especificações da encomenda são fascinantes, mas o principal era que o cineasta finalmente agregava as condições necessárias para empreender seu Big Bang particular. E conseguiu.

Tudo o que se refere ao esmero plástico e técnico de Avatar é impecável. O 3-D digital imposto por Cameron ao estúdio e às redes de cinema norte-americanas são imediatamente justificáveis, ainda que tenha sido idealizado para exibição no IMAX. Pandora, a lua onde se passa o filme, é peculiar e funcional, uma exuberante explosão de vida, saturada de cores, nuances e grandiosidade - nada mal pra quem só havia trabalhado com o feioso LV-426, um planetóide rochoso e estéril que nem era cria dele. Sua população nativa, os Na'Vi, têm expressões faciais e linguagem corporal convincentes na maior parte do tempo e a fauna e a flora local são variações quase oníricas do que temos aqui, nesse planetinha solitário mas cheio de imaginação. É a Floresta Amazônica curtida em Santo Daime. Um espetáculo visual e sensorial que só Hollywood mesmo.

O roteiro de Cameron há muito já não traz mais o punch do novo. E isso já é de velho. Porém, nunca deixou de ser eficiente e isso se aplica aos escritos de Avatar. É uma aventura pop redonda "com mensagem" e várias daquelas convenções que marcaram época no mainstream, mas que jamais envelhecem nas mãos de um craque. Houve até um bafafá questionando a originalidade do filme, relacionando desde gibis obscuros (que eu li, é bacanão e tem até o Jimi Hendrix!) e animações meia-boca até o capista do Yes (semelhança, de fato, impressionante), além de um top 10 temático inteiro. Da minha parte, todas as espinafradas se esvaem no momento em que se pergunta: e ele fez um bom uso desses elementos?

Além do quê, tenho lá minhas próprias teorias pós-filme. Avatar é O Novo Mundo, do cultuado Terrence Malick. Similaridades permeiam desde a narração em off do protagonista, às duas visões da trágica história de Pocahontas até às circunstâncias profissionais dos dois cineastas: Cameron retorna após um sumiço de doze anos; Malick praticamente inventou os sumiços de mais de dez anos.

Quando o assunto é estilo, o diretor cita a si próprio na brilhante produção de Aliens, O Resgate - nestes termos, a primeira cena de Sigourney Weaver em Avatar é tão sutil quanto um show do Motörhead. Estão lá os mariners vindos direto do Texas, ajustando seus arsenais para a batalha iminente (por sinal, o ameaçador Cel. Miles se equipara ao Cel. Koobus, de Distrito 9). As unidades robóticas, os jatos, helicópteros e bombardeiros parecem da mesma indústria de armas e, mais uma vez, uma corporação sem rosto manipula as cordas do outro lado da galáxia.

No mais, é puxar pela memória. Cameron resgata aqui a latina durona Vasquez (Michelle Rodriguez), o heróico Hicks (Sam Worthington) e o corporativo Burke (Giovanni Ribisi), fora Sigourney Weaver no melhor papel de Sigourney Weaver. Ele poderia fazer mais meia dúzia de filmes assim, que ainda pediríamos continuações.

Avatar, embora estrondoso, não deve fazer James Cameron quebrar a banca de novo, nem sair abocanhando geral na cerimônia da academia. Mas o filme trouxe a "normalidade" de volta à vida do cineasta, que já conversa abertamente sobre seus próximos projetos - um bom sinal de que a espera será menor até a próxima escala. E, brincando, ainda rendeu o blockbuster do ano.

Rapaz, como esse cara fez falta!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

MEME: mulheres de quatro... ou melhor, de cinco autores

Conheço o Luwig já há um bom tempo. Começamos nesse lance de blog mais ou menos na mesma época. Escrevemos bastante - no caso dele, com quantidade e qualidade caminhando lado a lado. Seus textos apaixonados sobre HQs me inspiraram a seguir em frente, mesmo nos momentos de baixa. Indiretamente, ajudaram a manter este blog vivo (ou morto-vivo). Suas dicas e análises me ensinaram a ser um apreciador melhor e acredito que fizeram o mesmo por muitos outros. Tudo isso sem se render ao umbigocentrismo e ao alpinismo virtual. Muito menos à superficialidade com que o tema é frequentemente abordado.

Em outras palavras, é um cara que admiro. Mas não sabia que era tão vingativo! Como diz a velha máxima, aqui se faz, aqui se paga.

O que não significa que a sua intimação seja algum sacrifício. Pelo contrário, além de um exercício agradabilíssimo, é pretexto dos bons para revisitar aquele harém de coelhinhas a que tanto me rendi em tempos idos. Fechou? Não, fácil demais. O cabra paraibano atravessava uma pororoca de epifanias românticas - comparável, em efeito químico, à ingestão da produção anual da fábrica da Garoto, aqui em Vila Velha - e tascou uma pecha de personalidade e inteligência às homenageadas (e lá se vai meu plano de começar pela Psylocke). Felizmente, esse perfil tridimensional só deixou a lista mais interessante, contestadora e sexualmente revolucionária. Sutiãs em chamas e tudo o mais.


Então, ferro na boneca... a seguir, cinco autores que, ao inverterem a ótica masculina, desvendaram um pouquinho desse gigantesco mosaico que é a essência de uma mulher.

Aliás... quatro autores. Um é o couvert da casa. Nada mais justo pra quem ficava parado nas curvas-com-óculos da Tina.

("ficava"?)



As mulheres dos Hernandez Bros.


Love & Rockets foi o grande marco dos quadrinhos underground dos anos oitenta. Não só porque o sci-fi anárquico dos irmãos Mario (no início), Gilbert e Jaime Hernandez já adiantava desde 1981 o que cults afamados como Tank Girl fariam anos mais tarde. Ou porque o minimalismo visual e narrativo de Jaime arrancou elogios rasgados de Robert Crumb e Alan Moore ("é um dos quadrinhistas mais significativos do século 20 no topo de sua forma, onde cada linha é um casamento entre o clássico e o cool"). Nem porque a revista foi o equivalente dos quadrinhos ao do-it-yourself do punk 77, inspirando toda uma geração de jovens quadrinhistas a sair da fila de espera das grandes editoras e abraçar a independência. Mas porque suas personagens tinham vida própria.

Na ordem da imagem: Isabel "Izzy" Reubens, Margarita Luisa "Maggie" Chascarrillo, Esperanza Leticia "Hopey" Glass e Beatríz "Penny Century" García se tornaram maiores do que o título original. Como declarou Jaime anos depois, "passei a me preocupar mais com os personagens do que com os foguetes". Logo elas ganharam um spin-off chamado Mechanics, que depois virou Locas, cujo merecido sucesso ofuscou até L&R. Não é pra menos, elas eram irresistíveis. Passavam por fases, humores, mudavam de opinião tanto quanto de cabelo, engordavam (justo a Maggie), erravam e, não raro, persistiam no erro. Gente comum.

Izzy tinha uma bagagem de vida mais barra-pesada (com direito a um aborto entre uma coisa e outra) e era uma deprê profissional, mas nunca deixava escapar uma boa piada. Em contrapartida, a ensolarada e estonteante Penny era uma loira nada burra cujo esporte preferido era fazer o mundo se arrastar aos seus pés. Já as protagonistas Hopey e Maggie tinham uma dinâmica à parte.

Hopey era um espírito livre, deliciosamente impulsiva e provocadora. Tocava baixo nas piores bandas punk da Califórnia. Amante ocasional de Maggie (muito menos do que gostaria), diplomada em se esquivar das responsabilidades da vida adulta e, principalmente, das investidas de Terry, a guitarrista da sua banda.

Maggie, ex-mecânica de foguetes (lembra do "Rockets" do título?), era a girl next door doce e encantadora, mesmo quando estava fora de forma - ou principalmente quando estava. De todas, era a única que ainda tentava levar uma vida normal e careta. O que não a impedia de, vez ou outra, acordar com a cara enfiada numa privada depois de uma balada mais hardcore. Garotas comuns são o que há.


E não dá pra deixar de citar as amigas luchadoras Gina e Xo, protagonistas da excelente graphic Whoa, Nellie!. Ideal para relembrar o sentido da verdadeira (quando não ingênua) amizade e de como pode ser complicado lutar por seus sonhos, literal ou idealizadamente. E leitura obrigatória para conhecer um pouquinho mais dessas fascinantes mulheres de Jaime Hernandez.



As mulheres de Terry Moore


Década de 90. De um lado, tínhamos a era mais sexista e estereotipada dos quadrinhos injetando testosterona adulterada na cabecinha dos leitores. De outro lado, porém, tínhamos Terry Moore e sua cria máxima, Estranhos no Paraíso, correndo corajosamente por fora do sistemão (o que não o impedia de recorrer a ele às vezes). A série era sinônimo de independência, tanto no quesito criação-distribuição, já que era autofinanciada, quanto no perfil realístico de suas personagens. Sem exagero: relendo hoje as aventuras de Francine e Katchoo se tem uma boa pista de onde Brian Michael Bendis tirou inspiração para sua fabulosa Jessica Jones, em Alias, e Brian K. Vaughan para o mulherio insandecido de Y - The Last Man.

A série era repleta de nuances de ação, drama, romance e humor, mas o que importava mesmo era o triângulo/rolo amoroso central. A sexy, temperamental e determinada Katina "Katchoo" Choovanski ("The Original Angry Blonde!") é perdidamente apaixonada pela insegura Francine, sua melhor amiga, enquanto David é caidaço pela loira - não raro, parecia um intruso desastrado na relação ou mesmo um alter-ego do autor. Nada fica muito claro no início, mas depois as coisas vão se acertando - e se complicando, com o aparecimento da demoníaca Darcy, irmã de David, diretamente ligada ao passado escabroso de Katchoo.

Terry Moore concluiu (maravilhosamente) Estranhos no Paraíso em 2007, deixando uma legião de órfãos mundo afora. A série, aclamada pela crítica e premiadíssima (Eisner incluso), foi uma das melhores e mais sedutoras HQs publicadas nos anos 90. Lá por 94-97, então, não tinha páreo. Moore estava em sua melhor fase como desenhista e, como escritor, vivia criando ganchos de cair o queixo. Era quase impossível largar um arco antes da conclusão e imagino que a espera entre uma história e outra devia ser insuportável.

"Imagino", porque só fui completar a leitura há relativamente pouco tempo. A publicação da série no Brasil foi bastante irregular. Trafegou pela Abril, Pandora Books, Via Lettera e HQM, compilada sem muito critério em minis, álbuns e pocket-books.

Nada que uma edição brazuca da colossal Strangers in Paradise - Omnibus não resolvesse. Eu pediria falência feliz.



As mulheres de Craig Thompson


A esta altura, todos os grupos de discussão já devem ter exaurido o assunto. Retalhos (Blankets, 2003) cativou meio mundo e metade do outro com uma entrega e sinceridade poucas vezes vista nos quadrinhos ou mesmo na literatura, digamos, mais convencional. Se existe alguém que não foi arrebatado em alguma das 600 páginas do livrão de Craig Thompson é porque tem um bloco de gelo no lugar do coração. A sensibilidade e a resignação com que o autor olhou para sua infância e adolescência não pareciam a de um cara de só 28 anos. No mínimo, o dobro disso.

O trato com o sexo oposto, neste caso, tem fundamentos totalmente pessoais para o autor - porém, é justamente a parte em que mais me identifiquei. Nós, da turma do cromossomo Y, não somos tão diferentes assim. Aposto que muitos outros se identificaram também. Porque a paixonite terminal do jovem Craig pela suave e enigmática Raina é puro deslumbramento e projeção. Típico daquela idade. O diferencial (e aí já não sei quantos continuaram se enxergando ali) é que dali ele mergulhou fundo na idealização. E isso costuma doer mais que o Merthiolate da época. Dificilmente acaba bem. Nietzsche e aquela coisa sobre se fortalecer mandam lembranças.

Claro que é uma visão unilateral de um cara sobre uma garota que ele julga perfeita até em suas imperfeições (e o monólogo de Robin Williams em Gênio Indomável me vem à cabeça agora). Mas se encaixa neste contexto do meme se pensarmos que também é uma característica feminina inconsciente. Raina é Alison, Amy e aquela garota que o Marcelo Rubens Paiva viu passando num ônibus. Essas são eternas. Principalmente porque não sabem disso.

Acho que tenho que comentar da mamãe Thompson também. Apesar de subserviente ao puritanismo da igreja e ao autoritarismo do marido, salvou os traseiros do pequeno Craig e do seu irmãozinho de uma bela surra. Sempre que podia, contemporizava os ânimos, como uma mãe mesmo faz. E também o levou pra passar uns dias com a amiga. O que conta, afinal, é a intenção.



As mulheres de Joss Whedon


Pode se dizer que as mulheres são a base do trabalho de Joss Whedon. Qualquer coisa relativa aos homens é só consequência do que elas fazem. Demorou pra eu me convencer que o cara que repaginou Buffy, a Caça-Vampiros tinha desenvolvido um filão criativo de credibilidade. Mas a verdade é que, no pouco que vi da série, a protagonista não tinha nada de santa e nem de longe dava vazão à imagem valley girl da Sarah M. Gellar. Foi um bom sinal, mas não o suficiente pra me tirar o prazer de ignorar o programa.

A ficha só começou a cair após o longa Serenity, que refletiu todos os meus temíveis raios ômega. Avançou em queda livre com a série Firefly, conferida retroativamente, e se estatelou de vez com a surpreendente Astonishing X-Men. Extermínio total de paradigmas - pra não dizer da minha opinião equivocada.

A referência de todo mundo em relação à mulherada da Mansão X estava bem defasada. Grant Morrison? Preciosista demais e se via em cada personagem. Whedon não. Sem levantar bandeiras, ele mandava todas irem à luta. Aumentou o volume nas limitações e nos momentos de fraqueza, capturando a substância daquelas meninas. Mostrou do que elas eram feitas - e não era só de papel. O que ele fez com Emma Frost reluz de tão representativo.

Predadora por natureza, a Catherine Tramell mutante sempre foi retratada de forma unidimensional e vilanizada, o que, no fundo, era só um subtexto para punição e repressão. Por mais que a lingerie com espartilho e as frases clichês de dominatrix fossem uma massagem shiatsu pra este corpo cansado, Whedon, como toda razão e bom humor, ironizou o estereótipo. A ex-Rainha Branca agora utilizava sobriamente seus instintos de fêmea alfa - na maior parte do tempo, mais relevantes do que seus dons mutantes - e não hesitava em adiantar o seu lado. Scott que o diga. Em Astonishing #14 (X-Men Extra #68), ele foi seguidamente atropelado por uma Scania branca com um lindo capô.

Seguindo sua tendência natural para inverter posições (opa!), Whedon atingiu ótimos resultados até em dinâmicas en passant entre coadjuvantes. Foi assim na conversa entre Logan e a novata Hisako "Armadura" Ichiki e com o Fera e a normalmente profissional agente Brand.

Mas o grande achado da segunda temporada de Astonishing foi, sem dúvida, Kitty Pryde. Eu, que nunca gostei muito da personagem, fiquei, arram, surpreendido. Sem mais aquela de teenager modelo de comportamento virginal, emocionalmente frágil e vitimizada. Kitty agora tinha reservas de autoconfiança. Pegou o russo de jeito umas boas duas vezes em poucas edições. Ao longo da saga, confrontou e intimidou até a ameaçadora Emma, que em outros tempos foi a sua antítese literal. Teve moral e atitude suficientes pra justificar as referências mais lisonjeiras. Os créditos pela sequência eletrizante de ação girl-on-girl entre ela e ms. Frost são dos traços abençoados de John Cassaday, mas o toque final foi do Whedon. Classe.

E, pelamordeDeus, nem vou falar do final. Que me perdoem Mark Millar e Bendis, mas os desfechos de Guerra Civil e Invasão Secreta, juntos, não são 1/5 do que Kitty Pryde faz sozinha aqui. Virei fanzão da Lince Negra. Pena que, agora, à distância.

Whedon demonstrou tanta desenvoltura em tridimensionalizar suas garotas que não chegou a ser surpresa quando ele diversificou o cardápio da caça-vampiros. E a vacilante e já empacotada Dollhouse? Essas regras e suas exceções...



As mulheres de Carlos Zéfiro


Ah, os catecismos. Em tempos de sensações indie (Moon & Bá) e pirotecnias plasticamente impecáveis (Grampá), a trajetória e o legado de Carlos Zéfiro soam quase improváveis. Ele era indie autêntico e virtuose apenas nas curvas femininas, mas soube como ninguém dar vazão aos anseios e à imaginação de um povo soterrado numa ditadura militar. Pra muitos, Zéfiro era apenas sinônimo de revistinha de sacanagem, porém, houve uma época em que comercializar putaria, só se fosse na clandestinidade. A sacanagem, por si só, era considerada mais subversiva que sequestrar embaixador norte-americano.

O autor operou ativamente no olho do furacão, de 1948 até o final dos anos 70, mas durante a década de 80 ainda se encontravam nas bancas essas práticas revistinhas - os famosos "catecismos", que cabiam no bolso e assim apelidados porque eram vendidos camuflados em publicações religiosas. Dessa forma, gerações inteiras de moleques hiperativos descobriam a sexualidade pela primeira vez. Antes de comprar a minha 1ª Playboy (aquela da Ana Lima, prima da Druuna), estudei religiosamente nos catecismos. Amém.

Foi justo a Playboy quem desvendou o "Código Zéfiro", numa investigação levada a cabo em 1991. Após quarenta anos se reservando no mais absoluto anonimato, o icônico Carlos Zéfiro, por insistência dos filhos, decidiu finalmente revelar sua identidade ao público. Era o carioca Alcides Caminha, um respeitável funcionário do Departamento Nacional de Imigração. Autodidata no traço, se envolveu com o desenho erótico meio que por acidente e tomou gosto pela coisa. Resolveu vender alguns originais, a receptividade foi positiva, as tiragens aumentaram e o resto é história.

Na época, o funcionalismo público era regido pela antiga lei 7.967, que proibia envolvimento em escândalos. Temendo perder o emprego e, mais tarde, a aposentadoria, driblou a lei adotando o famoso pseudônimo. Criou uma lenda. A antológica entrevista que ele concedeu à revista Semanário, em 1992, tem a história completa.

Alcides também era um compositor de mão cheia. Escreveu algumas canções ao lado de Nelson Cavaquinho, entre elas, sucessos como "Notícia" e "A Flor e o Espinho" ("tire o seu sorriso do caminho/que eu quero passar com minha dor"... linda música). Talento pouco é bobagem.


Tal qual um Nelson Rodrigues dos quadrinhos, Zéfiro era mestre em erotizar situações corriqueiras do dia a dia. Empregadas domésticas, primas, amigas, esposas de amigos, amantes de amigos, cunhadas, professorinhas, beatas, matutas, viúvas, vizinhas e, pasme, até prostitutas. O universo Zefiriano era povoado por mulheres pegando fogo em momentos de pura lascívia. No fundo, era tudo sobre o fascínio que temos por elas. E era uma via de mão dupla, nunca totalmente masculinizada. A bem da verdade, suas mulheres jamais ficavam "na mão" (pelo menos, nos balõezinhos, elas falavam um monte...) e sempre tinham o controle da situação. Zéfiro colocava todas no pedestal.

Vez ou outra, o autor também mudava o target e incorporava outros elementos às histórias (sim, as revistinhas tinham histórias). Um bom exemplo foi a mistura de pornochanchada e comédia popular à Mazzaropi na hilária "Aventuras de João Cavalo", seu maior sucesso de vendas (será que P.T. Anderson toparia filmar?).

Alcides "Zéfiro" Caminha não chegou a colher os louros da fama recém-readquirida, fazendo sua passagem em 5 de julho de 1992 - menos de um ano após ter revelado sua "identidade secreta". Mas era um sujeito modesto e, mesmo com o hype iminente, não se deixou seduzir pelos famigerados quinze minutos. Ao ser perguntado se tinha consciência de que fazia parte da história cultural do país, Zéfiro respondeu: "não ligo muito para isso, não. Com sinceridade. Afinal é muita honra para um pobre marquês. Acho tudo na vida muito efêmero. Hoje se está no apogeu, amanhã no ostracismo e acabou".

Tantas pessoas deveriam seguir esse exemplo...


♠ ♠ ♠ ♠ ♠


A tradição dos memes manda o participante a indicar novos incautos à corrente hellraiser. Sem-expectativa-de-retorno mode on, vamos lá: Rafael Lima, do Na Cara do Gol, Thalita, do Pipoca no Edredom, Jotace, do El Blog de Jotace, Valeria D'Orazio, do Occasional Superheroine, e Becca, do No Smoking in the Skull Cave. Pelo menos, renderam bons links!

Ps: fico devendo menção a alguma autora de quadrinhos. Não acredito que não consegui em pensar em nenhuma...

domingo, 15 de novembro de 2009

BIRTH OF A SPACEKNIGHT


Clique pra ver a arte inteira

Contribuição do desenhista Matt Timson para o projeto em benefício ao grande Bill Mantlo. A concepção é fantástica, mas funciona também como uma triste metáfora à condição atual do roteirista.

Se não fosse por Mantlo (ao lado de Sal Buscema), eu jamais teria lido uma HQ na vida. E nem teria aprendido a ler antes de ensinarem na escola.

+ ilustrações

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Gatos de destruição em massa


Nobel de Física em 1933, o austríaco Erwin Schrödinger foi autor de algumas das bases essenciais da Mecânica Quântica, notadamente na equação que leva seu sobrenome. E é também o grande arquiteto por trás da aguardada, adiada, quase mitológica, última edição de Planetary, a fantástica aventura de Warren Ellis e John Cassaday pelos espólios da história humana. Já vimos séries atrasarem, outras atrasarem mesmo e outras atrasarem pra valer, mas como Planetary não teve igual. Foram parcas vinte e sete edições em dez anos - começou bimestral em abril de 1999, foi suspensa no período 2001-2003, retornando esporadicamente sempre que as agendas de Ellis e Cassaday davam uma folga. E assim foi até a atual #27, lançada com um gap de três anos desde a última edição (outubro/2006).

Dessa forma, cada novo capítulo lançado era algo especial lá fora. E, para os leitores brasileiros, quase um evento (um evento fechado num clubinho ultrarrestrito, mas ainda assim um evento). Após uma pífia tentativa de periodicidade pela Pandora Books, a série foi compilada em dois encadernados pela Devir (Mundo Estranho e O Quarto Homem). Em seguida, a Pixel Media retomou o título do ponto onde a Devir parou, finalmente alinhando a série com a cronologia estática lá de fora. O que foi, provavelmente, a única incursão 100% bem sucedida da Pixel Magazine durante seu tempo de vida.

Com os títulos da WildStorm agora sob a tutela da Panini, Planetary se encontra atualmente nos planos a longo prazo da editora (que, nesse primeiro momento, publicará do selo apenas Frequência Global). Segundo o Oggh, Planetary será uma das séries que a Panini "dará sequência" - o que é ótimo, mas... só falta mais uma edição para ser lançada. Não seria melhor desancar isso logo de uma vez?

Ou que tal fazer um esforço em nome do bom gosto e relançar tudo desde o início naqueles TPB's Deluxe que ficam lindos meio tombados na estante? Eu compraria.


Planetary #27 fecha com chave de ouro a saga dos arqueólogos do impossível. Funcionando mais como um epílogo do clímax que foi a edição anterior (com a vitória/vingança definitiva de Elijah Snow sobre Randall Dowling, dos Quatro), a conclusão pode não ser tão espirituosa e evocativa quanto foi a de Y: The Last Man, mas, sem dúvida, é tão emocionante quanto.

De fato, essa é sua maior característica: emocionar mesmo naquele oceano de retórica e racionalidade impostas pela presença gigante de Snow. Até a durona Jakita aparece bastante fragilizada em determinado momento. Contudo, a edição pertence mesmo ao Baterista. Ele é o condutor da trama, despejando compulsivamente toneladas daquela fringe science que se tornou a especialidade de Ellis após todos esses anos. Só que o McGuffin da vez é virtualmente inalcançável, reluzindo num terreno extremamente arriscado, até para os padrões do Planetary.

É nessa hora que eles mergulham de cabeça em mais um dia no escritório, imbuídos pela velha dedicação suicida e o foco obsessivo, supermotivados pela única crença de Snow: "Esse é um mundo estranho. Vamos mantê-lo assim."


Schrödinger é quem dita as regras nessa reta final. Por ironia, o bom doutor tem seu experimento mais pop e surrealista - o Gato de Schrödinger - convertido por Ellis numa espécie de força da natureza destruidora de multiversos. O certo é que a teoria, em princípio até lúdica, nunca foi visualizada nesse ângulo tão hardcore. E isso garante um longo solo do Baterista.


Spoilers
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Nada mais justo do que encerrar (em definitivo?) a trajetória do Planetary resgatando um antigo membro. Ambrose Chase nunca saiu dos planos de Elijah Snow, se tornando uma citação recorrente ao longo das edições. Ellis já vinha rascunhando esse timing há tempos, sem sombra de dúvida. Por isso a cena-referência em Planetary #24 soa tão genial agora.


Recapitulando, Chase foi aparentemente morto em missão (Planetary #9), numa sequência altamente sugestiva.


Isso foi em abril de 2000. O que impressiona - além da pegada cinematográfica de Cassaday - é a criação consciente do "plot Ambrose", deixado em aberto para ser revisitado apenas na edição final. Coisa linda de ler.

O gancho relacionando a natureza dos poderes de Chase com o dilema temporal foi muito bem sacado. De uma libertinagem criativa meio trekkie, até.

O uso do Gato como recurso dramático é avassalador (bem como o fato de, após 1 ano, só terem mapeado 20% do banco de dados de Dowling). Uma viagem temporal que pode sugar e colidir todos os futuros possíveis de volta ao segundo em que a máquina do tempo foi acionada é o pesadelo de H.G. Wells. Você viaja até o futuro ou os futuros possíveis infinitesimais viajarão até você? Levando em conta que as partículas subatômicas - a matéria-prima da Mecânica Quântica - são afetadas pela observação, parafraseio o Baterista: qual a razão de tudo acontecer se já aconteceu? O colapso total seria inevitável.

O que tornaria injustificado o De Volta para o Futuro 2 (heresia!), mas que também coincide com a lógica do filme. Segundo o Batera, uma máquina do tempo só pode deslocar alguém até o ponto onde uma máquina do tempo foi ligada pela primeira vez (princípio da causalidade, discorrido quase didaticamente no ótimo thriller espanhol Los Cronocrímenes). Então, esse limite não se aplicaria ao DeLorean mais famoso do cinema - não importa onde no passado, ele sempre será a máquina do tempo ligada pela primeira vez.

A história também pode ser encarada como mais uma referência de Ellis aos comics americanos. Dessa vez, não a algum personagem, mas a um lugar-comum (Chase, o herói "ressuscitado"). Obviamente, com a inteligência e a classe que faltaram aos universos - e aos escritores - tradicionais.




Essa capa merece um quadro... assim que eu tiver uma parede grande o suficiente

A publicação errática ao extremo se tornou uma tradição de Planetary com o passar do tempo. Acabei me acostumando. E imagino que quem chegou até aqui também. A revista mudou bastante desde aqueles primeiros números, como que traçando uma grande analogia à nossa própria vida nesses últimos dez anos. Muitas coisas aconteceram desde então. Entre uma e outra, uma nova edição aparecia de repente e sempre encontrava seu lugar.

A viagem chegou ao fim e a ficha ainda não caiu - nem sei se vai. Planetary é fora do comum até pra fazer falta.

Obrigado Ellis, obrigado Cassaday.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

APOCALIPSE AFTER


Dia desses, numa roda virtual de amigos, comentei que David S. Goyer "é tão diretor quanto o Maradona é técnico". Pesou na equação sua desenvoltura na direção perigosa de Blade Trinity e Alma Perdida, que deveria se chamar "Hora Perdida" (mesmo com um pôster subornando simpatia). Também opinei que, como roteirista, ele tem a qualidade de tornar eventuais furos irrelevantes diante do objetivo principal. Se não tããão irrelevantes, pelo menos uma coisinha assim, digamos, mais perdoável se a farra for boa no saldo final. Obviamente que, quem execrou Dark Knight inteiro porque não recebeu um relatório detalhando tudo que o Coringa fez depois da invasão à festa, não vai concordar. Mas numa análise simplista, porém limpinha, é mais ou menos isso aí: o cara supervaloriza a relação dos personagens com a premissa e isso é quase tudo o que importa. Os detalhes discutíveis ele deixa para os fóruns de discussão.

O que me faz imaginar se ele não seria o escritor perfeito para algo como Heroes. No mínimo, a salvaria do tédio total. E antes que me esqueça, ao inferno com Heroes. Essa eu abandonei faz tempo - embora considere seriamente um comeback depois que a Mia, de Californication, abriu os horizontes da Clair-bear. Cruzamentos interséries são o que há!

Sempre achei que uma boa edição e uma equipe competente de revisores resolveriam as deficiências de Goyer. E a teoria se confirmou há pouco: FlashForward busca essa mão-de-obra especializada na melhor fonte da atualidade, a indústria americana de telesséries. Os dois primeiros episódios são as melhores coisas que já vi com ele na direção, fácil. Narrativa fluída, promissora, climão de apocalipse-na-hora-do-rush, personagens e plots bem conduzidos e triangulados com facilidade notável.

Goyer, que, ao lado de Brannon Braga, adaptou o roteiro baseado no livro de Robert J. Sawyer (nunca fui apresentado), realmente fez um trabalho muito bom... para o que se espera dele. O terceiro episódio, dirigido por Michael Rymer, é ainda melhor no que diz respeito à cadeira do chefe. Mas vamos dar um desconto. Não dá pra exigir que ele encarne um Orson Welles de uma hora pra outra.


A premissa de FlashForward reafirma o apelo comercial do sci-fi dos dias atuais. O gênero está mais em alta do que nunca, à frente de temas místicos/sobrenaturais e até dos policiais, que até pouco tempo eram os hors concours da audiência. Muito disso se deve ao sucesso Lost, da mesma ABC que adquiriu a opção de FlashForward da HBO. As duas séries não dividem apenas a network, mas também o conceito básico: distorções no tempo servindo como pano de fundo para dramas pessoais. Adicione à fórmula uma boa dose de suspense e ação policial e temos aí um case pop funcional e impecável. Até agora, pelo menos.

No plot central, todas as pessoas do planeta sofrem, ao mesmo tempo, um apagão que dura pouco mais de dois minutos. É mais do que o suficiente para uma tragédia generalizada. Aviões caem aos milhares, hospitais se transformam num caos, o trânsito vira uma Death Race 2000. Nas ruas, o cenário é de horror. Corpos amontoados, carros destruídos, prédios em chamas. Após o susto inicial, descobrimos que o apagão não foi um simples lapso de tempo. Em comum, todos tiveram uma premonição: uma visão de si mesmos, seis meses no futuro. Ou seja, um flash forward (duh!). Enquanto o mundo vai se recuperando, o FBI inicia uma investigação, encabeçada pelo agente Mark Benford (Joseph Fiennes), que, na sua visão, estará muito próximo de desvendar o fenômeno. A trama ganha ares de conspiração quando a câmera de segurança de um estádio registra uma figura misteriosa caminhando tranquilamente durante o apagão.

O maior gancho da série é o impacto psicológico do evento na vida de cada um. As reações são tão variadas quanto fascinantes - desde o flash forward do personagem Aaron Stark, onde a sua filha aparece viva, quando ele acreditava que ela havia morrido no Afeganistão, passando pelo Dr. Bryce Varley, que estava prestes a cometer suicídio quando viu que tudo iria melhorar no futuro, até a agente Janis, que estará grávida mesmo que no presente não tenha nenhuma expectativa disso acontecer. Mais complicado é o flash da esposa de Benford, a Dra. Olivia (Sonya Walger, a Penny, de Lost), que se viu corneando o marido dali a seis meses - mesmo o amando tanto quanto, sei lá, a Penny ama o Desmond.

Mas em termos de "dead line" (literalmente), ninguém bate o drama do agente Demetri, parceiro de Benford, que não vê nada em seu flash.


Na ficção, distúrbios temporais sempre dão boas deixas para zoar com a percepção do espectador. Pequenos detalhes que vão se concretizando como uma versão Godzilla do déjà vu mais forte que você já teve. Em FlashForward, os detalhes das previsões vão dando as caras mesmo quando o personagem em questão os evita - ou seriam eles desencadeados justo porque o personagem tenta evitá-los? Esse tipo de discussão não tem fim. Se continuar sendo bem desenvolvida, a ideia pode render mais que os seis meses regulamentares.

Também existem várias convergências com Fringe, especialmente no terceiro episódio. Quando Benford viaja até um presídio alemão para negociar informações cruciais com um prisioneiro (um velho nazi escaldado), a lembrança de Olivia Dunham confrontando o assustador David Robert Jones, na mesma situação, é quase imediata.

A abordagem "distorção temporal vs. prazo limite" já rendeu ótimas séries no passado, como Seven Days e a saudosa Early Edition, embora seja em Lost que FlashForward encontre sua maior referência - bem mais no estilo narrativo irresistível do que em easter-eggs largamente viralizados.

Certamente, há muitas possibilidades a serem exploradas naquele universo. Afinal, só agora tivemos o primeiro flashback em FlashForward...

domingo, 11 de outubro de 2009

ARKHAM TOWN


Era pra ser só mais um trailer ao acaso, mas a sensação foi de um cruzado no queixo. Dois motivos: é instigante e é mais uma refilmagem de um filme de Romero - um, aliás, que eu não assistia há muito tempo. The Crazies resgata a produção homônima de 1973, agora com direção de Breck Eisner (Sahara) e roteiro adaptado por Scott Kosar (O Operário) e Ray Wright (Pulse). No elenco estão Timothy Olyphant, Danielle Panabaker (do Sexta-Feira 13 2009) e a Radha Mitchell, cuja presença, pra mim, é quase um selo de garantia.

A atriz é pé-quente e já salvou de adaptação de game a filme de crocodilo, que são trasheiras (quase sempre) assumidas. Tomara que a bola da vez não seja a exceção da regra.

O filme original é uma pérola pouco conhecida do mestre Romero, perdida ali, entre os clássicos A Noite dos Mortos-Vivos e Despertar dos Mortos. Virou cult. No Brasil, foi batizado O Exército do Extermínio, título que coincide com uma curiosidade pra quem enxergar na nova versão um mero clone de Extermínio: o filme não tinha zumbis e sim infectados raivosos barbarizando uma cidadezinha. Mas ao contrário do petardo de Danny Boyle, os infectados mantêm a inteligência (mas não a sanidade).

Certamente merece uma reprise, tão logo eu termine de... hã, adquiri-lo.




Espero que não seja um daqueles casos de trailers incrivelmente eficientes. The Crazies estréia nos EUA em 26 de fevereiro de 2010. No Brasil, do jeito que a coisa anda, talvez depois da Copa.

E vamos peneirando por uma versão R5 de Zombieland...

sábado, 3 de outubro de 2009

UM ZUMBI NO CAMPO DE CENTEIO


Criador de uma verdadeira mitologia moderna, George A. Romero resgatou os zumbis do regionalismo arcaico que os envolviam. Desde 1968, ele vem universalizando as criaturas, num avanço através de fronteiras culturais e midiáticas que ganhou contornos de cruzada pessoal. Diferente de outras figuras míticas e folclóricas, os conceitos dos zumbis não ecoaram por séculos ou milênios de superstições populares. Ao retirar o morto-vivo das aldeias haitianas, Romero repaginou tudo, das regrinhas mais básicas ao contexto social, há somente quatro décadas atrás. Porém, ele também foi deixando uma trilha de questões não resolvidas pelo caminho. Fora o ciclo de contaminação e o ponto fraco dos zumbis, pouco foi descoberto daí em diante. Perguntas do tipo quem são/de onde vieram/pra onde vão, ainda persistem.

É certo que o elemento desconhecido conferiu um charme único às criaturas. Com o tempo, virou parte integrante do cenário, tão importante quanto a análise do comportamento humano em situações de crise e o sangue jorrando com nacos de carne mastigada (slurp). Romero brincou com a curiosidade do público e instigou mais ainda. Já em seu clássico inicial, A Noite dos Mortos-Vivos, ele colocava sobreviventes se afogando num oceano de informações desencontradas - desde radiação trazida por um satélite retornando de Vênus e um vírus transmitido pelo ar até a clássica punição divina: "quando o inferno estiver cheio..."

E assim caminham os mortos-vivos, felizes da vida (ou da morte) com sua origem à francesa. Isso, pelo menos até julho do ano que vem.


"The Living Dead" será o debut de Romero na literatura e vem sendo saudado como o Corão zumbi. Segundo a editora britânica Headline, o livro "contará a história completa dos mortos-vivos: como eles foram criados, o que podem e o que não podem fazer". Tudo começa em San Diego, quando um cadáver levanta durante uma autópsia e começa a andar, enquanto um repórter de Atlanta transmite flashes do caos tomando conta do globo. O editor Vicki Mellor prevê para o próximo ano uma onda de livros com zumbis (em contraponto aos incontáveis livros com vampiros publicados em 2009) e que certamente será encabeçada pelo mestre Romero. Faz sentido, afinal, seria algo como um CliffsNotes para o Necronomicon escrito pelo próprio capeta.

Romero finalmente - ou infelizmente - vai esclarecer a tão misteriosa origem de seus zumbis. Após tantos anos, o mestre vai vender o ouro pelo vil metal ($300.000 só de adiantamento pelo livro e mais uma sequência) e provavelmente não irá superar a expectativa, esse monstro obscuro que ele mesmo alimentou por décadas a fio.

Meu sentimento a respeito é meio dúbio. Lerei, obviamente. Até porquê, já faz algum tempo que minha imaginação implora por algo mais que o (ótimo) Guia de Sobrevivência a Zumbis. Contudo, não estou, nem nunca estarei preparado para tal desmistificação. Não se pode ter tudo, mesmo quando se tem.

Info: The Guardian

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

DISTRITO BLOMKAMP


2009 ainda não acabou, mas já é de Distrito 9. É violento, gore, divertido, impactante, dramático, consciente e tão desgraçadamente humano que não tem como superar - pelo menos no que diz respeito ao campo do sci-fi. Um filmaço. E sem diretor ou atores famosos. Particularmente, nunca tinha ouvido falar de Neill Blomkamp. Este cineasta sul-africano já pode ser considerado a melhor surpresa do gênero nos últimos sessenta e cinco milhões de anos.

Vale a pena conferir no YouTube não só os excelentes virais do filme (coisa rara no formato), como também os quatro curtas anteriores do diretor. O primeiro deles, Alive in Joburg, de 2005, já trazia vários conceitos de Distrito 9.

Logo abaixo:



O filme estreia no final de outubro. Até lá, novas reassistidas pra ajudar a assimilar a porrada.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

ULTIMATES ASSEMBLE!


Logo no início de Ultimate Comics Avengers #1, um estarrecido Nick Fury resume o sentimento dos leitores (em geral) após Ultimates 3 e Ultimatum - ambas escritas, ou melhor... excretadas por Jeph Loeb e seus desenhistas sem-mente de estimação. Mais que isso, a cena ilustra o espanto do próprio roteirista Mark Millar frente ao caos instaurado em sua cria mais notória. É a velha e boa ironia escocesa de volta ao batente Ultimate - e pra quem sabe ler, um %@#& é letra. Ainda olhando para um Triskelion em reconstrução, Millar-Fury emenda: "eu sumo por dez minutos e o lugar inteiro vai pro inferno". Pode crer que ele não estava se referindo só ao QG dos Supremos.

Após aquela fatídica primeira edição de Supremos 3 eu achei sinceramente que Joe Quesada estava de sacanagem. Que aquela escalaçãozinha Loeb/Madureira rebuscando toda a tralha noventista da era Image foi mais um plano sórdido do rotundo editor. Autosabotagem declarada para, talvez, enxugar a linha Ultimate, mantendo só o baratinho e rentável Homem-Aranha teen - com entregas sempre no prazo e um comercialmente saudável público unissex. Conspiração demais? Pode até ser, mas nada explica essa line-up sucedendo uma das duplas mais sensacionais dos quadrinhos da última década. E mais uma vez, Quesada e sua gangue fizeram muito bem aos cofres da Marvel e muito mal pro bolso do leitor.

É um baita administrador, vamos combinar. Pode não ser o cara que controla o abre e fecha da carteira, mas é quem a enche. Não fosse ele, a Marvel, se ainda existisse, seria propriedade da Wal-Mart ao invés da Disney. Vi-va.

Mas antes de tecer previsões apocalípticas sobre como a casa do Mickey irá descaracterizar o Universo Marvel ao longo dos anos que virão, vou tentando entender como Millar vai restaurar sua fabulosa sátira ao american way. Porque tá difícil. Mas essa primeira (e curtíssima) edição já traz algumas pistas.


O plot básico é aquele novelão cheio de cliffhangers pontiagudos que Millar fez tão bem nos dois primeiros volumes dos Supremos. Começa com Fury sendo cicceroneado pelo Gavião Arqueiro de volta ao Triskelion ("quase 75% operacional"), não para reassumir seu velho posto, mas para resolver uma antiga merda envolvendo o Capitão América, agora um renegado. Corta para um dia antes. Cap e Gavião estão em perseguição aérea a uma unidade de assalto da I.M.A. (Ideias Mecânicas Avançadas - até onde sei, em seu debut no universo Ultimate). O ato termina com Cap confrontando seu mais clássico inimigo, o Caveira Vermelha, e também com uma revelação-bomba daquelas de fazer o chão desaparecer. Existem novelas na Escócia?

Coube ao artista Carlos Pacheco a difícil missão de substituir Bryan Hitch e dar vazão às epifanias cinematográficas de Millar. Pacheco sempre foi competente, mas vive hoje seu melhor momento, de longe. Da grandiosa capa e do Triskelion de tirar o fôlego na primeira página à sequência de ação desenfreada da metade pro final, o cara foi arrasador. Existe alguma emulação da linguagem visual de Hitch aqui, mas usada como uma ferramenta para deslanchar sua própria dinâmica. Os melhores momentos, claro, são os que trazem recursos mais hollywoodianos (pular com uma moto de um edifício em direção a um helicóptero e uma queda livre sem paraquedas nunca soam cansativos), neste ponto lembrando um pouco a antológica "edição Matrix" do volume um (Ultimates #8).

O texto nem um pouco sutil de Millar traz de volta aquele coice anárquico dos personagens e seu eterno sarcasmo em relação à malaquice republicana dos EUA. Como não podia deixar de ser, o astro principal é o Cap, com as conhecidas frases de efeito reafirmando suas convicções de macho-man militarista ("que tipo de garota é detida por uma bomba?" - adivinhe a autoria e ganhe uma bandeirinha do exército confederado) e seu modus operandi discutível no combate ao terror - vide a cena em que ele joga soldados inimigos desacordados de um helicóptero a trocentos pés de altura com a serenidade de quem põe o lixo pra fora.

A interação com Pacheco destila fluidez e ainda resgata aquelas boas sequências de briga quadrinhística, como no momento em que o Cap leva uma surra homérica do Caveira. Destaque também para o diálogo de Carol Danvers, atual comandante da SHIELD, tentando em vão reconvocar Stark, que está chapado num puteiro bondage.

Uma primeira edição que é um colírio para os olhos e uma injeção de adrenalina para a alma. É Millar no seu mais tradicional: iniciando um arco no auge e cheio daquela energia insana e irrefreável para terminar Deus sabe como. Só não entendi porque mantiveram a infame máscara do Gavião. Apesar dele ter participação ativa nas cenas mais eletrizantes, não dá pra olhar pro personagem sem antes confundi-lo com algum integrante do Youngblood. Provavelmente Millar esteja preparando alguma catarse antes de desmascará-lo definitivamente - bem como a bagunça que fizeram durante a sua "saída de dez minutos" - e talvez assim, deixar de vez os anos noventa lá nos anos noventa.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

GUERRA EXTRA-OFICIAL


Uma das declarações mais recorrentes de James Cameron sobre Avatar é que ele guardava o projeto há anos, apenas esperando pela tecnologia o tornasse possível. Talvez esse seja o maior preço a pagar por lançar técnicas inéditas e revolucionárias que transcendem, e muito, o standard de sua época. E pelo jeito a "espera" é um lugar-comum na carreira do cineasta. Terminator 2: Judgment Day - The Book of the Film compila todos os storyboards, propostas e estratégias de produção que ficaram fora de T2. A esmagadora maioria relacionada às sequências da guerra contra as máquinas no futuro.

Toneladas de material ficaram de fora por puro déficit orçamentário. E um material de primeira, com cenas completas de ação e drama, novos robôs e conceitos como a hybermatrix dos exterminadores. O que se nota é que Cameron já havia concebido toda aquela linha narrativa, suas particularidades e, possivelmente, até sua conclusão - a mesma suspeita que todos tinham de George Lucas e Guerras nas Estrelas antes dele voltar àquele universo dezesseis anos depois.

Com o terminatorverse sendo retomado por terceiros, dificilmente veremos essas ideias saírem do papel por intermédio do diretor. Alguns trechos:


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Meu preferido é o bacanão HK-Centurion esmagando os rebeldes sob uma rocha e exterminando os demais humanos atrás das linhas defensivas... belo instrumento da destruição. Mas no livro devem haver bons lances rebeldes contra as torradeiras também. :)

Via io9 (com galeria)



Se qualquer hora você passar por Orlando, Hollywood ou Osaka - e tiver alguns dólares sobrando - não deixe de conferir T2 3-D: Battle Across Time, atração temática da Universal Studios. O show foi idealizado e dirigido por James Cameron, Stan Winston e John Bruno, funcionando como uma minissequência livre de Exterminador do Futuro 2. "Livre", pois traça uma narrativa que reaproveita os principais elementos do filme, mas desconsidera seus eventos finais.

O programa começa com uma apresentação promovendo os avanços da Cyberdyne Systems. Depois emenda num ato principal, que envolve animatronics e performances ao vivo de atores interagindo com um filme 3-D estrelado pelo cast central de T2 (Robert Patrick, Linda Hamilton, Edward Furlong e, claro, Schwarza). Custando a bagatela de 60 milhões de dólares, o filme tem uma produção bastante eficiente para o formato e expande os conceitos da guerra na visão de seu criador original - o único veículo onde isso já aconteceu.

Estão lá os HK's aéreos, unidades T-800 sem o "living tissue", alguns minihunters (os mesmos de Terminator: Salvation, só que armados com laser) e três novidades que me chamaram a atenção:


O brutamontes T-70, o neanderthal dos exterminadores e bisavô dos T-600 de Salvation, em toda a sua glória animatrônica (mais shots aqui);


O T-1000000 (!), também carinhosamente chamado de T-Meg., um robô aracnídeo gigante com a tecnologia de metal líquido do T-1000. É uma espécie de guarda-costas do CPU da Skynet;


E a central de processamento da Skynet, uma enorme pirâmide futurista, ainda com aquele perfil superhardware da era Cameron, antes do conceito software/ciberespaço adotado nos filmes seguintes.


Abaixo, a ótima sequência de perseguição no futuro com Schwarza e Furlong.




Impressiona a longevidade da atração, que foi lançada em 1996 e continua sendo um sucesso até hoje - mesmo com um plot defasadíssimo em relação à cronologia atual. Muito disso se deve ao impacto que T2 teve nesta geração, hoje trintona ou quarentona e com alguma bala na agulha. Quem foi, adorou.

[dica do Amadeu]


Recapitulando a guerra:
T1
T2
T3
T4

sábado, 5 de setembro de 2009

DOS ZUMBIS DOS ÚLTIMOS DIAS


Mais um capítulo da série "como é que não pensaram nisso antes?" The Book of Zombie é uma produção Z que mistura o clássico cenário de uma turba de mortos-vivos tentando entrar em alguma residência com o pior momento de uma manhã de domingo: uma turba de mórmons tentando entrar na sua residência. Não deu outra... os zumbis mórmons estão à solta. O filme, extra-low-budget, foi dirigido à seis mãos (Scott Kragelund, Paul Cranefield e Erik Van Sant) e filmado em 2007. De lá pra cá, arrasta seu corpo putrefacto numa eterna pós-produção, mas ficou de estrear ainda este ano. Orçamento de troco de padaria é assim mesmo.

O trailer é qualquer coisa de tosco, ultra-splatter, divertidíssimo, cheio de sangue de groselha e frases infames ("the congregation is hungry" é ótima). E vende seu peixe direitinho: esse filme é pra assistir com os amigos e detonando galões de cerveja.




Não é (só) pelos mórmons, mas por qualquer um que venha encher o saco às oito da manhã de um domingo. Num apocalipse zumbi, estes seriam meus alvos preferenciais, logo abaixo dos operadores de telemarketing zombies, ainda com os headsets pendurados na cabeça.


Esse filme o Hulk aplaudiria de pé. Se alguém o vir por aí (sumiu o cara), avise.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A VOLTA DO HOMEM DE VERDE


Enquanto as adaptações dos quadrinhos da DC para o cinema vão tomando rumos incertos (salvo as do orelhudo de Gotham, claro), o departamento de animações straight-to-DVD vão indo muito bem, obrigado. Lanterna Verde: Primeiro Voo (Green Lantern: First Flight, EUA, 2009) mantém o bom nível com uma aventura divertida e lançada sem muita cerimônia - talvez para aproveitar o bom momento do universo do personagem nas HQs e as constantes notícias sobre o filme. Com nomes do porte de Bruce Timm (aqui produzindo) e Alan Burnett (roteirizando, ao lado de Michael Allen), não tem erro. Esses dois, ao lado de Paul Dini, moldaram a cara das animações da DC nas últimas duas décadas. Além de estabelecerem um padrão de excelência para as séries animadas daqui do ocidente, foram, de longe, a melhor alternativa à invasão animê daquele período.

Com esse timaço nivelando tudo por cima, Primeiro Voo se torna uma boa oportunidade para acompanhar a evolução da "novata" Lauren Montgomery. Co-diretora de Superman/Doomsday, ela participou do storyboarding dos bacanas Hulk Vs e dirigiu o surpreendente Wonder Woman, ilustrando frame a frame como a personagem funcionaria na telona às mil maravilhas (sem trocadilho). Se destacando cada vez mais nessa nova fase de animações pós-Liga da Justiça Sem Limites e assumindo projetos com as principais marcas da casa (aos 29 anos, num mercado concorrido e predominantemente Clube do Bolinha), a promissora cineasta é gente igual a gente mesmo.

Muito simpática, bem-humorada, fã da Cheetara (!), fissurada em A Pequena Sereia (a Disney é uma influência primordial), com blog e deviantArt à distância de um clique pra quem quiser curtir - impressiona a simplicidade. Pra lembrar como isso é raro no meio, confira qualquer entrevista com o Bruce Timm ou o Brad Bird onde eles emanam toda aquela aura übernerd/Brainiac híbrida e tão agradável quanto um banho de nitrogênio líquido. Creepy.


Historicamente, o Lanterna Verde sempre foi um personagem do segundo escalão. Senão vejamos: Clark, Bruce, Diana, depois Barry/Wally... o velho Hal Jordan é imediatamente o segundo herói abaixo da santíssima trindade world's finest da DC. Com poderes tão Era de Prata em essência, o maior risco era de uma interpretação camp, o que, felizmente, não ocorre em nenhum momento. E por aí se nota o quanto foi importante e definitiva a caracterização conceitual e estética criada para o Lanterna John Stewart nas séries da Liga. Praticamente toda aquela abordagem foi reeditada no longa, com as providenciais expansões que o herói sempre mereceu. Toda aquela dimensão e grandiosidade estão lá e a gama de possibilidades se mostra realmente universal. Fica bem claro: o lugar desse cara é no cinema.

Outro bom timing foi abreviar a origem do personagem, considerando que já foi mostrada recentemente em Liga da Justiça: A Nova Fronteira. Uma ótima ideia para agilizar a trama e evitar repetições, mesmo com Nova Fronteira sendo de um "elseworld". Assim, o background do Lanterna é bastante sintético e dura o tempo dos créditos de abertura: uma breve apresentação do piloto de testes Hal Jordan, seguido do clássico encontro com o alienígena moribundo Abin Sur e logo o herói chega ao planeta Oa para integrar a Tropa dos Lanternas Verdes. Lá, ele enfrenta os problemas típicos de adaptação de um recém-chegado em meio a veteranos, mais a perigosa rotina da maior força peacemaker do universo - além, é claro, de uma obscura ameaça que se revela na segunda metade da trama.

A dinâmica entre os personagens principais costura uma relação tensa, bem ao estilo do filme Dia de Treinamento, onde o novato Jordan passa dobrados cada vez mais sinistros com seu oficial... Sinestro. Que por sinal rouba a cena. Sua evolução e motivações pessoais são observadas bem de perto, desde a relação desgastada com os Guardiões de Oa até sua transformação no primeiro Lanterna Amarelo, ganhando mais tempo de tela do que o esperado. Isso acaba criando a interessante sensação de que Primeiro Voo se trata mais sobre a origem do vilão do que do herói.

Dono de um carisma arrogante e uma relação dúbia com Hal - ele admira a raça humana por tudo que ela tem de pior -, Sinestro ainda conta com uma irretocável dublagem.



Estreando em animações, o ator Victor Garber empresta elegância e sagacidade ao Lanterna renegado. Já Hal Jordan teve a ótima performance de Christopher Meloni, o Chris Keller, da série Oz (tão inesperado quanto irônico). Kilowog encontrou sua voz definitiva no gogó de Michael Madsen (superando até o excelente Dennis Haysbert, na série da Liga), Kurtwood Smith competente como sempre na voz de Kanjar Ro e a fabulosa Tricia Helfer bem à vontade na voz da Lanterna Boodikka.

Mas se for contabilizar tempo de tela x desenvoltura, quem sai na frente é a atriz Juliet Landau. Numa pequena (e sensacional) participação, ela confere sarcasmo e uma deliciosa vulgaridade na voz da alien Labella.

Até onde conheço do universo do Lanterna, Primeiro Voo se mostra bem fiel aos seus aspectos mais caros. E alguns deles tiveram uma ótima transição da arte sequencial para a arte animada. Um bom exemplo são os anéis que retornam à Oa quando seus portadores morrem. Isso rende cenas tão sutis quanto impactantes - o que parece ser o objetivo maior da diretora Montgomery nos 75 minutos da animação.

Se o vindouro filme tiver metade dessa vibe, o dia será mais claro e a noite menos densa para as adaptações da DC. Afinal, nem todos vivem de intimidações.