sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

"Drinks?"

Seguem os quatro episódios restantes da piração iniciada mês passado.

Nonsense, teu nome é Danger 5!



In their first mission together as a team, Danger 5 must stop the Nazis from stealing the world's largest holding of black diamonds, which are kept in the Swiss World Bank. Seems like a piece of cake... served with gas and punishment.



Danger 5 have scored themselves a free trip to the Bahamas, but it turns out this holiday package has hidden fees. Looks like Danger 5 will have to make a down payment in bullets.



After a quick round of Marconis at the Nassau airport bar, Danger 5 rendezvous with their Nazi liaison and embark on a road-trip to Göring's island getaway. However, Nassau roadways are a dangerous place and Danger 5 soon fall victim to the "Terror of the Streets" ...Italians.



In the final instalment of The Diamond Girls, Danger 5 go head-to-head with Herman Göring and his posse of invincible She-Nazis. Apes and trains ensue.


DANGER 5 WILL RETURN!!

ON SBS ONE!!

FEBRUARY 2012


Longer drinks, longer cigarettes, longer bullets, longer episodes!

If you can't watch SBS One, then please be assured we're working on bringing Danger 5 to a TV screen in your country. If not, there is bound to be a torrent out there soon enough... but if you want to support our work then buy the DVD as well!

Victory has a new name!


DANGER 5

www.danger5.tv

www.dinosaurworldwide.com


Depois dessa, só 2012!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Jingle Hell, Jingle Hell

V de vigilância


"O povo não deve temer o seu governo, o governo deve temer o seu povo" - em 2011 essa máxima foi executada na prática em proporções quase surreais. Ditaduras de décadas desmoronando como castelos de areia, mobilizações populares organizadas via Facebook, informações sigilosas atiradas no ventilador com um simples tweet... Mas esta semana o mundo teve um exemplo ainda melhor de como andam as regras do jogo. Isso graças a um anão sociopata com delírios de grandeza e tesão por ogivas nucleares. É quase inconcebível nos dias atuais que a morte de um dos maiores tiranos do planeta tenha demorado dois dias para ser divulgada - e por canais oficiais, como manda o figurino do miniditador moderno. É uma vitória do fascismo nesses tempos de democracia Jobs-Zuckerberguiana. Estaria comemorando efusivamente, fosse eu viúva do Mussolini ou do Costa e Silva. Heil!

Como quase tudo na vida, a coisa não funciona em preto e branco. O ser humano tem uma verve fascista natural que aflora ao primeiro sinal de problema. É um traço perigoso que, felizmente, é controlável. E um autêntico guilty pleasure quando projetamos cenários "E se...?". Na cultura pop tem aos montes: Dirty Harry, D-Fens, Tropa de Elite, Star Wars, Juiz Dredd, Justiceiro e, um dos meus preferidos, 24 Horas. No universo de Jack Bauer não existe fair play. Limite é só mais um obstáculo a ser superado, todos são inimigos em potencial, os fins justificam os meios e nice guys finish last. Me vendi fácil. No vício por adrenalina eu queria mesmo era ver o circo pegando fogo.

Em minha defesa, o contexto de 24 não deixava espaço para hesitação, trâmites burocráticos e amenidades microscópicas, como ética. 24 era a série pop dos republicanos e, por Deus, os caras sabiam se divertir. Até hoje reverbera em minha mente a cena em que enterraram uma faca no joelho de um terrorista durante um interrogatório.

Se 24 era uma imersão num extremo da América, então Homeland é o meio-termo. A série da Showtime lida com as mesmas situações em tons cinzentos e deadlines iminentes, mas faz questão de mostrar que limite não é só uma linha no chão. É um muro de dez metros com proteção eletrificada, seguranças G.I. Joe e cães furiosos à espera do primeiro infrator. O que não impede eventuais invasões em nome do bem comum, de forma bem menos frequente e sempre com graves consequências. De quebra, a série não faz vista grossa: enquanto Guantánamo e Abu Ghraib seriam só mais um dia no escritório em 24 Horas, aqui são vistos como constrangedores fracassos dos Estados Unidos no combate ao terror.


A premissa não é menos incendiária. Na história, a agente da CIA Carrie Mathison descobre que um militar norte-americano não-identificado teria se convertido à al-Qaeda. Curiosamente, a info vem à tona no mesmo período em que o sargento da Marinha Nicholas Brody é resgatado no Iraque após 8 anos de cativeiro. Recebido com glórias na volta pra casa, Brody vira uma espécie de ícone midiático, uma reafirmação da fé no sonho americano - que logo é capitalizada politicamente, afinal, o Salão Oval é logo ali. Carrie por sua vez, mergulha numa cruzada pessoal para saber se Brody foi corrompido. Na maior parte tempo, ela opera abaixo do radar e ninguém compartilha de suas suspeitas. Nem mesmo eventuais colaboradores, como seu mentor, Saul Berenson.

Homeland é baseada na série israelense Hatufim (aka Prisoners of War) e desenvolvida por Howard Gordon e Alex Gansa. A dinâmica é de um tenso thriller psicológico. Nada de ação vertiginosa e perseguições mirabolantes. Ganha quem tem mais bom senso, sutileza e capacidade para saber quando recuar. E apesar de não ter o body count insano de 24, a narrativa é igualmente impiedosa. Não por acaso, Gansa foi um dos roteiristas do 7º dia mais punk da vida de Jack Bauer.

A série tem um cast fantástico. Particularmente, acompanho a carreira de Claire Danes desde a bacanuda Minha Vida de Cão (série de drama teen: um dia todo mundo assistiu uma) e, desde então, ela nunca parou de evoluir. Carrie é um formidável desafio pra qualquer atriz que tem amor à profissão. Corajosa, intensa e tão cerebral quanto impulsiva - isso pra não citar seu pequeno segredo que deixa o cenário ainda mais complexo. Danes administra todas essas nuances de forma magistral.

Damian Lewis por sua vez está no topo da forma. E teve um belo laboratório para compor o sargento Brody. Na extinta série Life ele fazia um policial que passou 12 anos em cana por um crime que não cometeu e sentia na pele as agruras da ressocialização. Sua atuação não podia ser mais impressionante. Especialmente nas cenas em que Brody é colocado em situações-limite, o que rende sequências antológicas.


Não surpreende que tanto Danes quanto Lewis tenham sido indicados ao Globo de Ouro 2012. Merecidíssimo. No entanto, o melhor em cena na minha opinião é o veterano Mandy Patinkin, como Saul. Político e racional, ele é profundo conhecedor do sistema e o único que sabe como controlar e filtrar os extremos de Carrie, sua mais talentosa protégé. O tom paternal adotado pelo ator funciona até mesmo durante as cenas de interrogatório. Um bom exemplo é o sétimo episódio, onde ele escolta uma suspeita do México até Langley e faz uma pequena trip pessoal enquanto ganha a confiança da prisioneira.

É na relação dele com Carrie que fica evidente o grande trunfo da série: a química entre os atores.

A afinidade cênica entre Danes e Patinkin é algo que saltou aos olhos logo na première. Em contrapartida, a relação entre Lewis e Morgan Saylor, que interpreta a filha adolescente de Brody, foi uma grata surpresa construída lentamente ao longo dos episódios - e que pontua nada menos que o clímax do season finale numa sequência arrasadora de mandar legiões de cardíacos direto pro IML.

O elenco secundário também é afiadíssimo. É bom ver que a carioca Morena Baccarin não ficou chorando as pitangas após o cancelamento da fraca V. Aqui ela faz a esposa de Brody, a ex-viúva Jessica. Está mais linda do que nunca, by the way.

David Harewood está ótimo como David Estes, chefe de Carrie e um tremendo carreirista pé-no-saco, bem como Jamey Sheridan como o Vice-Presidente dos EUA (um retrato assustador do pensamento republicano) e o excelente ator iraniano Navid Negahban, como Abu Nazir, um dos líderes da al-Qaeda e o captor de Brody.


Não sei se será a série que substituirá 24 Horas, mas até aqui tem sido um paliativo de primeira linha. Homeland foi renovada para mais uma temporada de doze episódios. E a julgar pelo cliffhanger deixado no ar, será imperdível.


Cotação:

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O primeiro editor



Joe Simon (1913 - 2011)

Poderia ter sido um daqueles eventos que tornam o fim de ano um pouco mais melancólico, mas não. É uma das raras despedidas em que não há qualquer resquício de tristeza. O lendário Joe Simon teve uma grande vida (e uma vida grande!). Dono de uma carreira respeitabilíssima, foi o primeiro editor da seminal Timely, socou a cara do führer enquanto os EUA ainda faziam chapa branca e teve pelo menos uma criação icônica a constar na cultura pop desde sempre.

Do lado pessoal, melhor ainda: o rapazinho foi o patriarca de uma família enorme. Tudo bem, houveram alguns percalços, sendo o processo contra a Marvel o mais representativo. Mas quem nunca acionou a safada da Marvel na justiça?

Parece que foi ontem que comentei que ele devia ter ficado orgulhoso com o recente filme do Cap. E, pelo jeito, ficou mesmo.

Thanks, Simon!

R.I.P.

domingo, 11 de dezembro de 2011

March of the Immigrant


Parece que o bromance entre David Fincher, Trent Reznor e Atticus Ross vai longe. Junto com o lançamento digital da trilha do filme The Girl with the Dragon Tattoo foi liberado um vídeo com uma inesperada cover de "Immigrant Song", do Led Zeppelin. Os vocais são de Karen O, do Yeah Yeah Yeahs. É provavelmente a melhor versão que já ouvi do clássico zeppeliniano.

A montagem foi feita pelo próprio Fincher e é justamente a intro do filme. Dark, bizarro e assustador. Como convém.

Ps: o que não livra a produção do status de presepada hollywoodiana. Mas se alguém pode tornar esse remake relevante, é o Fincher.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Keep walking


Chegamos à meia-temporada de The Walking Dead e não foi nenhuma evisceração, nem algum zumbi carcomido que me deixou mais aterrorizado. Foi o artigo do Hollywood Reporter sobre a saída misteriosa de Frank Darabont da série e as desastrosas intervenções da AMC para esticar a margem de lucro. Algo polemizador, mas com análises e especulações bastante pertinentes, o texto pinça um cenário de horror nos bastidores. Elenco atônito com a dispensa do showrunner, cortes radicais no orçamento e polêmicas em torno da equipe criativa. Nem parece que a série é o maior hit da casa, superando até os números mais otimistas - os outros dois grandes da AMC, Mad Men e Breaking Bad, nem arranharam a lataria. Ao que tudo indica, a raiz do problema parece ser os imbróglios financeiros da própria network que entraram em conflito com Darabont e resultaram na saída do mesmo. E nesse ponto, a malversação de verbas no final da primeira temporada não contribuiu em nada.

O que me leva a concluir que a adaptação teve que se adequar ao modelo enxuto de produção imposto pela AMC. A primeira medida foi cortar direto na carne necrosada: menos zumbis povoando os episódios, mais drama e tensão entre os humanos. Pular o arrepiante arco no condomínio Wiltshire States e antecipar a estadia dos sobreviventes na fazenda de Hershel Greene foi o passo seguinte para diminuir custos. Sem mais aquele grupo de desesperados pegando a estrada enfurnados num trailer fedorento, passando fome e sede, sem dormir, sempre fugindo de hordas de mortos-vivos e ainda penando num inverno de lascar - que aliás, seria um detalhe importante (e caro) na trama do condomínio.

Ainda que esse arco não seja essencial para a saga, é importante sob o aspecto psicológico. É um intensivão de tudo aquilo que The Walking Dead trata e do que os protagonistas tanto temem: sobreviver em condições subumanas e zumbis doidos por um naco de carne. Eles deviam passar por isso antes de chegarem à fazenda. Tornaria sua angústia em permanecerem lá mais palpável, tridimensional. Ou, no mínimo, colocaria nosso amigo Shane mais próximo de seu fatídico ponto de ebulição. Fora que evitaria a barrigada narrativa que eventualmente se formou ao longo desse primeiros 7 episódios.

Mas deixando de lado a panfletagem e o radicalismo fanboy, rapaz... a temporada estreou em alto nível.


Pelo visto, colocar o protagonista se esgueirando embaixo de algum veículo abandonado é uma constante promissora na série. Dessa vez foi o elenco principal inteiro ralando o peito no asfalto enquanto uma manada de zumbis fazia sua marcha pela fome. A sequência é de jogar o miocárdio num barril de Red Bull e desde já uma das mais nervosas e divertidas já produzidas por uma série de TV. Mesmo que você me pergunte "mas peraí, de onde vieram todos aqueles zumbis?", eu daria ao menos umas três alternativas bem satisfatórias e seguiria para o próximo tópico.

O episódio segue criando cenas de forte apelo, novamente superando o material original com o cliffhanger trágico do Carl e definindo o perfil de alguns personagens dali em diante - mais notadamente o presunto ambulante T-Dog (se machucando sozinho e sangrando em bicas) e o senhor de todas as fodezas, mr. Badass-Redneck-with-a-Fucking-Crossbow Daryl.

O segundo capítulo é quase todo calcado no drama da família Grimes e a taxa de zumbis/m² despenca. Só aumenta no clímax eletrizante com Shane e Otis encurralados na escola por uma turba putrefacta. Para os leitores da HQ, o episódio também reservou uma redenção em especial: Hershel e Maggie, em carne e osso. E aí bate novamente aquela sensação meio onírica e surrealista, provavelmente a mesma de ver justas personificações de Yorick, 355, agente Graves, Jesse Custer, Leo Patterson. Jessica Jones. É um espetáculo à parte ver personagens marcantes transpondo as dimensões ficcionais. Quase dá pra ver as rachaduras na 4th wall. E isso não tem nada a ver com atuações dignas da Palma de Ouro. É a empatia que conta.

Os episódios seguintes se dividem entre a recuperação de Carl, o início do relacionamento de Glenn e Maggie, o segredo de Lori, o clima desconfortável entre Hershel e o grupo de sobreviventes, a crescente desestabilização de Shane e, claro, as incessantes buscas por Sophia. Muito do clima de terror agregado ao tema da série é colocado em 2º ou até 3º plano, dando lugar à extensos build ups dramáticos e alívios cômicos ou emocionais. Todos relevantes e bem conduzidos, mas com uma consequência imediata que remete à sangria orçamentária explicitada lá no início: a escassez de zombie action.

A economia ficou evidente no episódio 4, "Cherokee Rose", com o surgimento das criaturas se dando de forma singular e, digamos, concentrada, numa espécie de compensação em moeda splatter.


O que é um deleite para os olhos durante uma lauta refeição em algum boteco pé-sujo - porém não o suficiente para espantar a sensação de que a fazenda por vezes se torna um improvável oásis para os personagens.

Só pra ficar num exemplo recente, uma das (várias) coisas negativas da série Falling Skies - ambientada no mesmo formato pós-apocalíptico com ameaças monstruosas à espreita - é justamente ver os protagonistas convivendo, brincando e fazendo planos num território neutro (no caso, uma escola), tranquilos, à luz do dia. É uma zona de conforto que destoa das circunstâncias e que se repete em The Walking Dead.

Talvez a narrativa do arco simplesmente não deslanche na TV tão bem como na HQ, onde tudo é minimalista por natureza. Ou talvez eu esteja mal-acostumado com os humanos vivendo como ratos (e comendo ratos) na franquia do Terminator.


Se na 1ª "temporada" as impressões já haviam sido positivas, nessa 2ª, Daryl está sendo a grande revelação. Interpretado à perfeição pelo ator Norman Reedus (o Scud, de Blade II, é mole?), o personagem, além de ser o mais esperto no trato com mortos-vivos, tem ganhado uma bem-vinda complexidade. Não por acaso, o episódio "Chupacabra" foi um dos melhores até aqui. Com um cameo especialíssimo de Michael Rooker, Daryl mergulha numa autêntica bad trip hillbilly pontuada pela aparição de seu irmão, o Governad... aham, Merle Dixon. Um excelente e intenso momento-solo. Ou, nas palavras do próprio Reedus, "Amargo Pesadelo encontra Motörhead".

Alternando um pouco o ângulo sobre o personagem, cabem algumas considerações. Daryl é um caçador e rastreador, um sobrevivente nato. Come esquilos crus como se fossem doritos. Obviamente é o tipo de pessoa que qualquer um iria querer ao seu lado numa situação daquela. Também é um personagem criado especialmente para a série, ao passo que um elemento muito importante nos quadrinhos ainda não deu qualquer sinal de vida na telinha: Tyreese.

Aos que acompanham a HQ, desnecessário dizer o quão Tyreese é um dos personagens mais queridos e carismáticos criados por Robert Kirkman. A despeito da boa probabilidade que o autor havia dado para sua inclusão ainda nessa temporada, nada é muito certo desde que as coisas andaram tumultuadas na coxia. No cast publicado no IMDb para esta temporada, por enquanto, nada feito.

Responsável por várias sequências de cair o queixo, Tyreese faz o tipo badass motherfucker na mesma escala de Daryl. Caso ele apareça, certamente irá arrancar elogios dos espectadores incautos. Caso nunca apareça por uma união de fatores (redundância + corte de orçamento), Daryl poderia naturalmente assumir os seus passos na série, como vem fazendo, aliás. Quem sabe até concluir a sua saga de maneira ainda mais perturbadora que o próprio Tyreese na HQ.

Daryl, de joelhos em frente à prisão... será?


Jeffrey DeMunn e Jon Bernthal renderam um dos embates mais bacanas da série como Dale e Shane, respectivamente. O veterano DeMunn, presença assídua na filmografia de Darabont, não só consegue capturar todas as nuances do sensato Dale, como o sintoniza ao seu próprio método de atuação. Literalmente roubou o personagem. Do outro lado da balança, o ótimo Bernthal faz um destilado de puro instinto e reação. É notável a degradação moral de Shane indo sistematicamente de encontro a Dale, sua antítese imediata. É algo que nunca ocorreu nos quadrinhos e que certamente deve ter sido um dos grandes arrependimentos de Kirkman - que, na função de produtor executivo, está ganhando a chance inacreditável de lapidar a sua obra enquanto bate recordes de audiência. Sem brincadeira, o sujeito deve achar que está num sonho.

Andrea, por sua vez muito bem representada por Laurie Holden, chegou a protagonizar uma cena de sexo com Shane num lance inexistente nos quadrinhos, mas ao meu ver muito bem sacado (afinal, foi a gota d'água para Dale). A forma como a atriz transita por sentimentos diametralmente opostos, como fragilidade/frieza, é impressionante. Preciosismo cênico de encher o olhos, embora não seja surpresa pra quem se lembra dela como a inesquecível Marita Covarrubias, dos bons tempos de Arquivo X, e como a agente Olivia Murray, em The Shield.

Sobre o sul-coreano Steven Yeun há pouco a se comentar. O cara é o próprio Glenn esculpido em cerâmica oriental. Parece até que Kirkman se baseou nele para o personagem da HQ. E é o ator mais sortudo da série, visto que Maggie é interpretada pela delícia cremosa Lauren Cohan (a mercenária Bela, de Sobrenatural). A química dos dois ainda é apenas razoável, já que seus personagens têm perfis muito diferentes. Bela... ou melhor, Maggie tem um gênio bem mais forte que nos quadrinhos, enquanto ele mantém o mesmo tom passivo do original.

Apesar disso, a dupla tem se afinado nas cenas mais recentes e alguma evolução já desponta no horizonte, com direito a Glenn no zombie massacre mode.


Ah, o amor pós-apocalipse zumbi é lindo.

A atriz Sarah Wayne Callies, em contrapartida, carrega um enorme fardo nessa série. Lori Grimes é a típica personagem sofrida de drama pesado, enrolada numa teia infinda de segredos, conflitos maritais e maternais e outros dilemas sem qualquer solução razoável. Era exatamente assim na HQ e no entanto foi dela o momento mais chocante de toda a saga. Nos créditos finais de cada episódio deveria haver uma menção especial abaixo do nome da atriz: "há um build up em andamento aqui, fellas. E o payoff vai te deixar com as pernas bambas".

Na mesma tocada, Melissa McBride também lida com sentimentos pra lá de tortuosos como Carol, a mãe de Sophia. É um papel difícil, visceral, não tão fácil de assistir, mas que ela conduz com perícia ímpar. Como ela mesma disse, interpretar Carol "é como presenciar uma batida de carro". No mínimo.

IronE Singleton tem poucas ferramentas à disposição. Seu Theodore "T-Dog" Douglas é um personagem irrelevante que precisa morrer violentamente o quanto antes. O mesmo vale para os coadjuvantes da família Hershel, praticamente invisíveis.

Quanto ao garotinho Chandler Riggs, o Carl, parafraseio um amigo: "não dá pra esperar muito de um ator criança assim, mas pra mim tá ótimo". Leia num tom menos rabugento e é isso aí.


Já expressei minha admiração pelo trabalho do britânico Andrew Lincoln antes, mas não dá pra não repetir a babação. Muito magro neste mid-season, o ator está imerso no protagonista Rick Grimes. Mesmo descontando os suportes de make-up, efeitos, luzes e o escambau, é visível o estado precário de Rick. Especialmente após ele doar 99% do sangue para salvar a vida do filho. Parecia que o homem ia desmontar a qualquer momento em cena. Performance entregue e impressionante, na escola punk rock de De Niro e Christian Bale. Narrativamente, porém, acabou sendo apagado pelo pró-ativo Shane. Rick continua sendo um líder?

E Hershel Greene. É quase certo que o experiente Scott Wilson nunca nem passou na frente da revista (estou no aguardo pela entrevista no blog da série), portanto é fabuloso como um ator com esse perfil tradicionalesco tenha comprado a premissa com tanto fervor. Soa um tanto menos rústico e austero que na HQ, mas a elegância e sobriedade que ele empresta ao personagem justificam qualquer coisa. Quem não se emocionou com o seu semblante arrasado no clímax do episódio 7 é porque teve o coração devorado por um zumbi há muito tempo.

A fazenda de Hershel também foi palco de uma das grandes questões de The Walking Dead: a real condição dos zumbis. Estariam mortos de fato ou gravemente enfermos? Há cura? Kirkman assimilou esse item da mitologia comum em torno das criaturas, que remonta ao folclore haitiano original. Homens sendo envenenados com extrato de datura, declarados clinicamente mortos, enterrados vivos, desenterrados e, induzidos a um estado de transe, escravizados por algum mestre bokor - Wes Craven fez um filme ótimo sobre isso, A Maldição dos Mortos-Vivos.

Da mesma forma que na HQ, a discussão é apenas superficial. Compreensível, já que sobrevivência é a ordem do dia. Mas recapitulando o polêmico arco do CDC, algumas das críticas apontavam que aquela explicação científica acabaria com a ambiguidade da questão, que seria abordada mais tarde no plot do celeiro de Hershel.


Bobagem. Se a ideia inteira do CDC foi ruim, não foi por isso. Nenhuma das informações divulgadas pelo cientista representou uma reviravolta na mitologia dos mortos-vivos.

Na verdade, foi apenas uma versão moderna daquilo que George A. Romero já havia exposto (literalmente) numa cena didática do filme Dia dos Mortos, seu clássico de 1985.


Pra mim parece mais um dos tributos de Darabont ao Godfather of all Zombies. Não sei quantos mais destes serão presenciados até seus derradeiros trabalhos frente à série, mas tomara que Glen Mazzara, o novo showrunner, mantenha a tradição. E o respeito.


E que conclusão surpreendente. Nem me importa que tenha se afastado, e muito, do que aconteceu nos quadrinhos. Aquele clímax foi The Walking Fucking Dead até a medula. Minha maldita ficha só caiu mesmo quando a trama assim o quis. E isso é mais do que posso dizer da maioria dos roteiros que pululam por aí. Sem redenção às portas do inferno, deixai toda a esperança vós que entrais, quando não houver mais lugar no inferno os mortos vagarão pela Terra, dance with the dead in my dreams listen to their hallowed screams e tudo o mais. Compensou? Pra caralho.

A série retorna no episódio "Nebraska", no dia 12 de fevereiro, em pleno carnaval, a festa da carne. As apostas estão estratosféricas. O caldo que tinha que entornar na fazenda já entornou. Shane já está "no ponto". E alguns ajustes não fariam nada mal. Minha sugestão: mais Rick Grimes, mais zumbis, mais urgência, mais baixas.

E se não for pedir muito, uma pequena escala num certo condomínio antes do provável cliffhanger final dessa temporada...