terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Zombie de Ouro 2016


O Zombie de Ouro nunca primou pela pontualidade, mas verdade seja escrita... de todos os anos de edição, 2016 foi o que menos mereceu o benefício do timing. Parafraseando um velho amigo, que ano excruciante. Foi tão abominavelmente interminável que ainda não terminou - e desconfio que irá perdurar por muito, muito tempo. E além disso, tem outras coisas: me pergunto se ainda é relevante compilar o que mais gostei, se ainda é necessário comentar cada item, se o BZ ainda atravessa mais um ano, se...?

A vida é um mar de incertezas, mas sempre posso contar com minha prolixidade, mesmo que rateando na 3ª idade virtual, com a adoração pela cultura pop, pelo trash e pelo thrash e, claro, com o sorrisão de Coringa que pipoca na minha fuça sempre que destrincho esses assuntos com outros malucos perdidos por aí.

No mais, vamos levando. Com Trumps, Temers, Putins, Lulas e Moros. Yippie-ki-yay para esses motherfuckers.

E mencionando o cinema... o vídeo que melhor resumiu 2016 foi produzido pelo genial Friend Dog Studios num formato de trailer - de filme de terror, claro.


Nada mais adequado para abrir este ZdO.

Simbora, gente.



Os 11 discos


O fato do quarteto inglês The Heavy continuar não seduzindo a faixa mais acessível do público indie - faixa esta composta de indies de final-de-semana, mas ainda assim acessível - é pra mim um mistério. Talvez a situação mude neste quarto petardo, Hurt & The Merciless, que traz seu coquetel de r&b, funk, soul, blues e rock valvulado mais dançante e easy listening do que nunca. Tomara que essa antena da capa seja poderosa o suficiente para fazer o disco reverberar mainstream afora. Nós merecemos.



Anunciem ao mundo: o Claustrofobia é uma das melhores formações thrash metal da atualidade. Entre as 4 ou 5 melhores da esfera azul, pelo menos. Culpa do desnorteante petardo chamado Download Hatred. É world wide foda pra caralho. Metalzão esperto, moderno, primorosamente executado/produzido e com um ódio e brutalidade tão autênticos que te faz reavaliar urgentemente todo o seu mapa da música extrema. O caos é aqui.



Entre o pega-pra-capar vigente de conservadores versus liberais e os cacos que sobraram da indústria musical, Dave Mustaine se tornou uma celebridade heavy metal divertida de acompanhar. Sem virar um jacu reacionário tipo Ted Nugent, tasca lá suas opiniões controversas sobre como seria um mundo perfeito para a América & os americanos. No Megadeth e no campo musical, que é o que vale ainda, também não é dos mais tediosos: vez ou outra tenta entrar de penetra no mainstream yankee e, tal qual um Dick Vigarista headbanger, sempre acaba com o nariz na porta. Aí - só pra ficar em analogias cartunescas - pega a saída pela direita de volta à zona segura do metal e de lá enfileira trampos certeiros como esse Dystopia. Ainda com um indefectível tino para equipes terceirizadas, incluindo aí seu novo xodó Kiko Loureiro, Mustaine mostra que quando está a fim de thrash, sai da reta. Mas só quando está a fim.



Atomic, a trilha do Mogwai para o doc Atomic, Living in Dread and Promise, de Mark Cousins, reitera a impressão que tive quando fizeram o mesmo para o filme Zidane: Um Retrato do Século XXI há exatos dez anos: sem mudar uma nesga de seu m.o. criativo, o quarteto escocês ocupa tranquilo o posto de melhores artesãos de trilhas sonoras do pop (só equiparado pelo Godspeed You! Black Emperor, sejamos justos). E a instrumentação de Atomic é uma das coisas mais lindas que ouvi nos últimos tempos.



O Testament entrou no estúdio tão desfalcado que deixou o índio preocupado. Felizmente, com Eric Peterson inspirado, o veterano Steve DiGiorgio assumindo o baixo, o kraken Gene Hoglan nas baquetas e o próprio Chuck Billy envelhecendo igual vinho no vocal, não deu outra: Brotherhood of the Snake é o melhor álbum saído das 1ª e 2ª (olá!) divisões do thrash metal em 2016. O mais relevante enquanto banda/gênero e agressivo como o inferno numa porradaria semi-conceitual sobre o Illuminati reptiliano que há milênios controla os destinos da raça humana e a impede de progredir. É a única explicação!



Não mexa com o Meshuggah! O grupo sueco é uma monstruosidade metálica de outra dimensão e The Violent Sleep of Reason é ao mesmo tempo uma força imparável e um objeto irremovível. Prosseguindo com a evolução calculada em sua arrasadora discografia recente, thrash, math, noise e progressivo são batidos violentamente no LHC da banda até quase atingir o estado de singularidade. Se continuarem nesse ritmo no próximo disco, adeus mundo.



Surgical Meth Machine é uma desgraceira electro-hardcore-industrial-esporrenta-fim-da-linha-estrebuchando-no-chão-com-uma-baba-esverdeada-escorrendo-no-canto-da-boca. O projeto começou como homenagem do Al Jourgensen ao velho camarada caído em combate, Mike Scaccia, mas foi ganhando contornos de piração pessoal. Diz ele que o álbum era pra ter de 220 bpms pra cima, mas que se entupiu com tanta cannabis na Califórnia que as músicas saíram devagarzonas. É um fanfarrão mesmo.



O que dizer da saideira épica de David Bowie no iniciozinho de 2016, como que antevendo a mediocridade geral que assolaria o período e preferindo partir, literalmente, desta para melhor? Mais intenso e, logicamente, mais introspectivo que o álbum anterior, Blackstar consuma a relação do artista com o pop esquizóide que tanto amava. Nesse disco também dá pra sacar mais fácil aquilo que o Ed Motta comentou no My Tracks sobre o Camaleão e suas influências de canto tradicional japonês.



Todo álbum novo do Death Grips dá a impressão de ser o melhor da discografia. Com Bottomless Pit não foi diferente. Os caras simplesmente não têm limites. Seja depurando o hip hop, o dub, o reggae, o hardcore, o tecno, o noise, o cadáver do funk metal e o raio que o parta em etecéteras infinitos. E o melhor de tudo: continua não sendo pra todo mundo.



As certezas da vida: morte, impostos e Pixies não faz disco ruim. Mesmo que Head Carrier nem arranhe os classicões da primeira fase (e deveria?), mesmo com atitudes indie-rockstarzinhas como dispensar a baixista gente-fina por uma bobeira boba que só e mesmo com Joey Santiago achando que é Keith Richards a essa altura do campeonato. O fato é que ninguém sabe entortar uma boa melodia como Black Francis e sua turma. E isso hoje em dia, meu amigo, vale euro.



Sempre nadando contra o tempo e o estado das coisas, Iggy Pop tem cunhado uma sequência recente de álbuns sensacionais - seus discos de chanson, Préliminaires (2009) e Après (2012), são estupidamente legais. Post Pop Depression funciona como uma volta ao doce amargor das guitarras (ui), mas o velho Iguana esteve bem assessorado por quem aproximou a velha garagem do art rock: as Rainhas da Idade da Pedra Dean Fertita, Matt Helders e o onipresente Josh Homme, que também produz. Com um climão de fim-dos-tempos e aquela calma desesperadora que só Iggy sabe destilar, não tem como não associar o disco à nuvem pesarosa deixada por seu irmão musical/espiritual David Bowie.


Também valem:
Adore Life, Savages
Hidden City, The Cult
Book of Shadows II, Zakk Wylde
Nucleus, Witchcraft
Ritual Spirit (EP), Massive Attack
Not the Actual Events (EP), Nine Inch Nails
Barbara Barbara, We Face a Shining Future, Underworld



Melhor capa

Gore, do Deftones.


Nem ouvi o disco ainda, mas olha só essa capa!



Aquisição do coração

Gibi na área! Levando em consideração o fluxo desembestado de lançamentos num mercado hiper/ultra/superaquecido, contrariando a própria realidade econômica do país, fica até difícil instaurar uma ordem de relevância. Em 2016 os colecionadores de HQs tiveram a oportunidade de realizar vários feitos conforme a dispo$ição do momento.

No meu caso, foi demais enfileirar tudo dos incomparáveis X-Men de Chris Claremont e John Byrne em capa dura, fechar todo o Hellboy já publicado no Brasil (ainda que de forma não tão espetacular), fechar Tex Gigante em Cores (via Black Friday, óbvio) e finalmente pôr minhas patas sujas em A Liga Extraordinária: Dossiê Negro, Fax de Saravejo do mestre Joe Kubert, nos TPs do Pato Donald por Carl Barks, nas sequências de Gotham de Brubaker/Rucka/Lark e Demolidor de Bendis/Maleev e mais alguns outros.

Na seara brazuca, também muita coisa legal: Rasga-Mortalhas, de Diogo Vercito e Pedro Vergani, Mundo Paralelo: Aventura e Ficção 1 e o encadernão Brakan do grande Mozart Couto fizeram meus olhos reluzirem. Estamos indo bem - diremos "obrigado" mais pra frente se tudo continuar bem.

Mas disparando na reta de chegada, sem ninguém esperar... e aposto que todos os autores e artistas citados acima concordariam... está Sharaz-De - Contos de As Mil e Uma Noites, do gênio italiano Sergio Toppi (1932-2012). É uma obra-prima.



Uma belíssima publicação da Figura Editora que simplesmente não dá pra explicar com palavras ou fotinhos de celular e internet. Esse funciona em um nível sensorial só ativado por contato táctil.


Divagações mercadológico-HQzísticas:

  • Amazon e Saraiva disputam a liderança das megastores virtuais ferozmente com motosserras, sabres de luz e cara de poker. Porém, a Amazon se revelou uma mistura de Galactus e Bill Gates, com ofertas e táticas claramente predatórias que um dia se voltarão contra nós sem uma gota de vaselina. Mas continuamos comprando. Malditos sejamos.
  • Entre as duas gigantes, Fnac e Livraria Cultura se acotovelam. São as alternativas imediatas ao temível "produto indisponível" e já me salvaram em tempos de seca. Não são dadas a bons descontos ou fretes (especialmente a segunda), mas de vez em quando até fazem um cafuné no bolso do consumidor. É ficar de olho.
  • Liga HQ, um ano pra esquecer. Problemas com distribuidores é uma coisa, entregas não realizadas de pedidos fechados é outra completamente diferente. Sem atualização no site há tempos, será quase impossível recuperar a credibilidade perdida. Uma pena. A loja virtual priorizava os checklists recentes (incluindo o complicadinho material Salvat) com valores irrisórios de envio/manuseio. Preenchia uma lacuna essencial, tanto pela praticidade quanto pra quem perdeu uma edição só porque foi à banca no dia errado. Pena mesmo. De verdade.
  • HQM, seu espírito está nesta sala?
  • Comix continua desconhecendo Black Friday, envios por impresso econômico ou mala direta e segue salgando no frete. Mas justiça seja feita, promoveu e promove várias ofertas interessantes no site. Chorei com Gunnm completo a 50 mangos.
  • Mercado Livre, a terra maldita. Só pra navegantes pro - e às vezes nem pra eles. Mas ainda é imprescindível, apesar dos infames mercenários livres. Ah, como foi lindo vê-los tomando na tarraqueta com os relançamentos de O Evangelho Segundo Lobo e A Morte do Superman... E será mais lindo ainda com os relançamentos que virão...



Filme do ano


O extemporâneo A Chegada. Ao verter a ficção-científica e o 1º contato com extraterrestres para seu próprio estilo, Denis Villeneuve escreveu um belo, dramático e triste relato de humanidade. Clássico certo para os anos que virão. E ele tomou gosto pela coisa.



Filme-pipoca do ano


Capitão América: Guerra Civil é divertido, frenético, tenso e bem-humorado na medida. E com a melhor sequência de superporradaria em grupo já filmada provando que, sim, é possível uma splash-page do George Pérez em versão live-action funcionando na telona.



Ao pior filme-pipoca do ano:




Só pra constar: conferi a edição extendida com muita calma e amor no coração. E o que vi, piora a coisa toda diametralmente. Pelamor...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Trilhando o caminho


Até anteontem minha experiência com mangás se limitava à versão invertida e ocidentalizada de Akira. Hoje, além de ter a exata noção dessa blasfêmia, tenho me iniciado no mangaverso de maneira estranhamente ordenada. Isso graças à vasta gama de opções que pululam no mercado. Tenho bicado desde aventuras pop e cyberpunkadarias diversas até salseiros, digamos, mais clássicos. E encabeçando o gênero, a cultura, a raça e, pelas barbas de Toshiro Mifune, a maldita ilha inteira, Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Goseki Kojima.

...que só conhecia pela fama monolítica, impacto cultural e homenagens solenes de gente como Frank Miller, Bill Sienkiewicz, Matt Wagner e Mike Ploog.

...que também capearam a revista quando foi lançada na 1ª vez nos EUA pela, duh, First Comics em 1987.

...que publicou menos de 1/3 da série antes de fechar as portas. Paraquedismo editorial desconhece fronteiras.

Lobo Solitário estreou em 1970. É alçado à l'état de l'art desde priscas eras, o que, em tese, já faria da atemporalidade uma marca registrada. Do alto de sua invejável autonomia, o que Lobo Solitário menos precisa é da condescendência de um velho gafanhoto como eu. Perfeita desculpa para ser simples, direto e pegar pesado onde e quando for possível. E eis que finalmente li os primeiros passos daquilo que Koike & Kojima aprontaram em seus estúdios há meio século...

Na trama, seguimos Itto Ogami e o simpático Daigoro, seu filhinho de três anos, numa jornada pelo interior do Japão. Apesar da aparência algo simplória e da atitude errática, Ogami é um guerreiro formidável e um estrategista brilhante. Não é muito afeito a discrições: no carrinho do bebê, leva um cartaz anunciando que aluga sua espada e seu filho - sem más intenções quanto ao segundo, que fique claro, a menos que seja para ludibriar algum infeliz até uma morte inevitável e hedionda.

Resumindo, é um assassino profissional capaz das mais ardilosas artimanhas para atingir seus objetivos. Além de conhecer os ditames SunTzuísticos de cabo a rabo e aplicá-los sem piedade ou moderação.

São histórias curtas. Em quase todas, ele está cumprindo ou vai cumprir uma missão... ou não... e é tudo o que se pode comentar sobre o 1º volume sem comprometer as surpresas que vão aparecendo. E o mais incrível: a essência dessas surpresas seguem intactas ainda hoje. Após décadas de pequenas e grandes reviravoltas em ficção e não-ficção em todos os gêneros e estilos, ainda há sacadas em Lobo Solitário que vão pegar no contrapé do marinheiro (ou o ronin, ha-ha) de 1ª viagem.


Nas primeiras folheadas, nota-se na narrativa a cadência inconfundível de um storytelling de western, o que automaticamente estreita relações com o "cinema samurai" de Kurosawa, Kobayashi e fraquinhos afins. Várias passagens lembram um grande plano cinematográfico - particularmente no clima de Harakiri (1962), um clássico do cinema com o qual Lobo Solitário divide vários elementos em comum - se não viu, largue tudo agora e veja... esse merece um lugarzão na lista dos filmes para assistir antes de morrer.

A dinâmica dos personagens, de todos eles, dos coadjuvantes até os maiores "vilões", é tão ou mais importante quanto a do próprio protagonista. É ela que nos ajuda a delinear o intrincado perfil de Itto Ogami - por fora, uma personificação do mito do cavaleiro solitário caladão e instintivo do faroeste clássico. E além: você se importa com esses personagens bem mais do que você achou que se importaria no início. Isto é o maior elogio que consigo imaginar para um contexto de ficção.

Lógico que as credenciais de Lobo Solitário impressionam e até intimidam o leitor novato. Primeiro, porque uma das famas que o precedem é a sua acuracidade histórica. Segundo, a relação da premissa com o complexo cenário sócio-político do Japão feudal. Especificamente o chamado Período Edo - do qual sei absolutamente bulhufas, embora uma breve consulta ao Wiki dê conta que foi o último período do sistema militar feudal japonês e uma época de grande turbulência interna. Um pano de fundo repleto de aspectos únicos a serem (bem) explorados numa ficção, mas com algumas arapucas malocadas pelo caminho.

Não dá pra ficar explicando um contexto extenso a todo momento sem soar professoral e atravancar a história. É algo a ser inserido cuidadosa e homogeneamente na trama, de modo que o leitor nem perceba. Com espantosa facilidade, Koike desfia toda aquela enorme carga política e social durante a narrativa, sendo inclusive essencial para o desenvolvimento e tridimensionalização dos personagens. Tal qual em Harakiri. E, ah, aquela técnica da "zona mortal"...

Há também uma inesperada dose de misticismo, muito sutil e harmoniosa com a pegada implícita do autor. Provavelmente não foi nada, mas um flerte com o obscuro sempre vai bem, obrigado.


A arte de Goseki Kojima é um papo de boteco à parte. Chega a ser visceral e, eu diria, até emocional algumas vezes. Especialmente nas sequências de luta. Bem gráficas e cruas, evitam todo e qualquer exploitation que caberia ali, mas com sangue e membros decepados à vontade. As perspectivas são um espetáculo, embora engrenagens de uma concepção muito variável - e até aí não sei se é uma característica de mangá enquanto gênero.

Certos trechos, como a apresentação de personagens-chave e vislumbres grandiosos são primorosamente trabalhados, com a arte-final saltando das páginas como o mais sedutor óleo sobre tela. E, revezando, uma maioria de traços que remetem ao minimalismo estético dos comics underground, mas sem relaxar no senso de composição. Isso cria uma, argh, conjuntura não-linear no aspecto gráfico da história, que, ao invés de soar irregular, me pareceu exatamente o contrário: enriqueceu ainda mais a experiência. Sem dúvida, algo bastante intuitivo de acompanhar.

Algumas lutas são ilustradas como slow-motion e poucas vezes vi algo tão orgânico numa HQ. Na época isso deve ter sido um assombro. Mulheres belíssimas, poético nas sombras e um filho da puta nos vultos. Esse cara-Kojima é um fodão mesmo.

E como avisei que não seria condescendente com a obra (ela não precisa disso²), em pouco tempo de leitura fica evidente a natureza invencível do Lobo Solitário. Itto Ogami palitaria os dentes com as garras do Wolverine e pegaria até o Batman com preparo despreparado. Sua franca superioridade técnica, física, estratégica e intelectual frente aos adversários tem, em parte, uma boa explicação lá pelos desdobramentos finais, o que ameniza bem. Só ali pelas páginas 194-195 é que a providência divina exagera na dose - embora a sequência tenha sido qualquer coisa de arregaçante.

O final do volume 1 é um expresso do inferno pelas veredas dramáticas. Não apenas tira o leitor da zona de conforto como incomoda bastante em determinado momento. É onde finalmente nos damos conta da aterradora extensão moral e ética do protagonista.

Não tem como não parabenizar a Panini por abraçar a empreitada que é relançar Lobo Solitário num formato mais bacana. Após esse arrebatador 1º volume, pretendo seguir a odisseia de Ogami e Daigoro. Já é fácil uma das melhores leituras do ano.

Em contrapartida, a Panini... ah, Panini...


Com o volume tsunâmico de mangás que publica atualmente - vários deles muito bons, inclusive - a nova edição de Lobo Solitário viria para coroar dignamente para essa boa fase do mercado. Mas justo aqui, houve um problema não muito digno: a cola (!) utilizada no acabamento interno da lombada. Não sei se devido à quantidade ou à qualidade da mesma, algumas páginas soltam com facilidade, especialmente as do início e as do fim. Fora que os pontos cegos do miolo ficaram bem ondulados, algo típico de encadernação ruim. Uma simples comparação com as edições de Vagabond ou One-Punch Man já são suficientes pra ver que algo saiu muito errado lá na gráfica.

Além disso, uma tendência bem chatinha que vem acompanhando a editora já há algum tempo também comparece aqui: a miguelagem de verniz na capa. O volume 1 de Lobo Solitário veio mais seco que um deserto. E nem precisava sair besuntando geral: só a reserva de verniz no letreiramento da capa e contracapa e/ou na arte original e na variante americana já bastavam para o toque de classe e altivez que um título desse porte merecia.

Miguelar verniz é o fim da civilização ocidental, Panini. Faça-nos o favor...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O primeiro dia do resto dos próximos quatro anos


I'm your top prime cut of meat, I'm your choice
I wanna be elected
I'm your yankee doodle dandy in a gold Rolls Royce
I wanna be elected
Kids want a savior, don't need a fake
I wanna be elected
We're gonna rock to the rules that I make
I wanna be elected, elected, elected
I never lied to you, I've always been cool
I wanna be elected
I gotta get the vote, and I told you about school
I wanna be elected, elected, elected
Hallelujah, I wanna be elected
Everyone in the United States of America
We're gonna win this one, take the country by storm
We're gonna be elected
You and me together, young and strong
We're gonna be elected, elected, elected
Respected, selected, call collected
I wanna be elected, elected

Tia Alice já sabia: vamos fazer a América insana novamente!

sábado, 14 de janeiro de 2017

O mau filho a casa torna

Atmosfera macabra envolvendo segredos familiares, crimes, conspirações e misticismo com a Inglaterra vitoriana fazendo mais uma vez a ponte com a África oriental - plus, Tom Hardy protagonizando e co-produzindo ao lado de Ridley Scott e esse cabulosíssimo trailer...


Leva toda pinta de ser o Penny Dreadful que necessitamos desde aquele fatídico finale interruptus. Mas calma lá, que Taboo é minissérie da BBC One: 8 capítulos. E começou dia 7 último.

Já deixei passar um balaio dessas micromaravilhas britânicas. Dessa vez não me escapa.

µT e avante, shall we?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O Poderoso MighToth

Presente de sexta-feira 13 é isso aí!


Não que eu tenha sido "presenteado", exceto... por mim mesmo. Acontece que fechei essa encomenda mês passado e o pacote escolheu essa lúgubre data para aportar, mesmo com o sistema de rastreio chutando pro mês-que-vem-e-olhe-lá.

Ah, sim: e nunca soube quem recebeu e assinou. Simplesmente surgiu na minha mesa na volta do almoço. E quando abri, juro que um vento correu pela sala, mas deixa quieto.




Alex Toth, cara. Dos meus preferidos desde sempre. Já curtia antes mesmo de saber quem era, via Galaxy Trio, Space Ghost e Hanna-Barberices quetais. É um artista completo da velha escola. Dos poucos que trafegaram pelo sistemão sem ser tipificado por ele. Pelo contrário. A simples menção a Toth rescende a um estilo peculiar de visual e narrativa que transcendia mídias com uma desenvoltura sobrenatural.

Agora, de volta à Terra. Como de se esperar, pouca coisa foi lançada dele no Brasil. Material não falta - outro dia mesmo redescobri uns arcos sensacionais que ele fez para a Canário Negro. Mas no atual cenário de apostas seguras não prevejo um revisionismo tão cedo. Então a Dark Horse começa a publicar a linha Creepy Presents, cuja proposta são TPs compilando todo o trabalho de um determinado artista nas clássicas Creepy (duh!) e Eerie, da Warren Publishing.

Fui no Toth, facin, facin.

Noir, expressionismo, ângulos insanos, quebra dos padrões de diagramação e composição, flertes escandalosos com várias escolas europeias. E vai fazer jogos de luz e sombra assim lá com os irmãos Lumière. Tudo funcionava magicamente. Quadrinho com exercício de estilo curtido em sofisticação, minimalismo e refinamento, só comparado por José Luis García-Lópes e alguns seletos nobres da arte pop.






Coisa linda demais. O 1º importado a gente nunca esquece.

Próxima parada... Richard Corben!