segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Chupa, Nemesis


Com RED, Warren Ellis deu uma aula de comixploitation que fez cafetões como Todd McFarlane e Mark Millar parecerem coroinhas. A HQ em três edições estreou lá fora em setembro de 2003. Ganhou algum destaque na mídia especializada, já que se tratava de Ellis, mas nada que transcendesse o hype da semana. Não vingou uma série fixa e terminou como mais um projeto engavetado da defunta WildStorm, caindo no mais absoluto esquecimento. Seis anos depois, a inesperada ressurreição via cinemão hollywoodiano. Sem lobby, sem campanhas virais, sem memes, sem marketagens, sem auto-promoção: o esforço de Ellis foi ínfimo. E isso inclui seu próprio trabalho no recheio da revista.

Apesar de ter lido sobre RED na época e de ainda manter Warren Ellis na minha lista dos 5 quadrinhistas do Templo Shaolin, simplesmente deixei passar. Não nutri interesse ou, já que é Ellis, fui adiando a leitura indefinidamente, não lembro bem. Pra usar o termo da moda, procrastinei. Com a chegada do filme e o timing (sempre cambota) da Panini, finalmente fiz as honras. E fiquei surpreso.

O plot é manjadão. Agente aposentado da CIA vira alvo da agência da noite pro dia. Só. Paul Moses, o agente, é o arquétipo durão da 3ª idade, na melhor tradição Wayne/Eastwood/Bronson. Mas com uma faceta suscetível à sensibilidade, criada após os anos de serviços sujos que teve que fazer pelo seu país (vide a página 59, que mostra as suas "obras" mais famosas). É um lado que ele administra levando uma vida reclusa, lendo as cartas de sua sobrinha distante e em ocasionais conversas ao telefone com Sally, sua supervisora em Langley. Aliás, é nesse ponto em que Ellis escreve os diálogos mais frugais e intimistas da mini - e, provavelmente, de toda a sua carreira.

Mas o carro-chefe aqui é a criatividade gráfica de Ellis em perfeita sintonia com o traço dinâmico e anguloso de Cully Hamner. O artista não mede esforços na composição dos cenários, nas soberbas perspectivas (nesse ponto, dá um show) e na violência curta e grossa - e sem recorrer a efeitos de "áudio", o que deixa as imagens ainda mais pungentes. Juntos, os dois liberam o inferno. Não fazem feio nem perto de Ennis/Dillon.

Finalizar RED em tempo recorde tem tanto a ver com sua boa narrativa quanto com sua despretensão. É tudo tão ralo e direto que, vez ou outra, me lembrou de Comando para Matar, a obra máxima do digníssimo Joseph Loeb III. Uma bobagem só, que jamais sustentaria sozinha o roteiro do (ótimo) filme. Mas uma bobagem confessa.

Uma HQ que certamente reembolsa o preço de capa (R$ 7,90) em diversão pura e desembestada. Passa rápido, porém.

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