quarta-feira, 31 de março de 2021

O Retorno dos Reis




Deve significar algo importante o crossover de dois ícones da cultura mundial se porrando com paixão e orçamento hollywoodiano. Isso sem contar a presença do digníssimo (spoiler aqui se não viu o último trailer) Mechagodzilla com os melhores pixels e texturas digitais que os dólares podem comprar. Depois formulo isso com uns gorós na cabeça.

O que sei agora é que acabei de me divertir demais. Se estivesse no cinema, ficaria para mais uma sessão. Como nos bons tempos.

Ps: e o filme não fez corpo mole: só um deles leva o cinturão pra casa. Oh yeah, baby...

sexta-feira, 26 de março de 2021

...And Justice League for All


Todo cuidado é pouco com o que é dito hoje em dia. As ideias mais absurdas podem escapar do picadeiro e virar realidade numa escalada atordoante. Tem nego virando presidente desse jeito. E foi assim com Zack Snyder's Justice League, o outrora mítico Snyder Cut. O ponto zero foi quando os fãs da filmografia dele à frente das produções DC, inconformados com o Josstice League, viralizaram a famosa hashtag. Em seguida, o diretor começou a jogar verde em sua conta no Vero. O "Team Snyder" ganhou corpo quando Jason Momoa, Gal Gadot e até Ben Affleck retuitaram em coro. Da noite pro dia, o Snyder Cut ganhou contornos de Snyder Cult. Mas foi com Ray Fisher desancando Joss Whedon em praça pública que o processo deu aquela turbinada. O filme virou algo a ser visto (assim como alguns bocós a serem eleitos) para finalmente esfregar na cara desse mundo ingrato o que ele perdeu.

Claro que a Warner já havia endossado a recauchutagem da produção há mais tempo que isso. Afinal, rolou ali uma aditivada de 70 milhões de doletas e, até onde sei, o Coringa do Heath Ledger não inspirou nenhum acionista da empresa a queimar montanhas de grana. Pode crer que antes de qualquer anúncio muitas horas de PowerPoint rolaram no financeiro.

Findos os trâmites burocráticos e conferido o resultado, arram, originado na HBO Max, o novo Liga da Justiça atropela a 1ª versão (o que convenhamos, não é mérito algum). É, fácil, o melhor filme do Zack Snyder no DCEU - considerando que Watchmen não pertence ao segmento.

Mas, de novo, é filme de autor. E esse autor é Zack Snyder.

(Pensando bem, até o cinema do Michael Bay é "cinema de autor". E nem precisamos do nome dele estourando retinas no título para reconhecer o istáile)

Sob sua administração, o termo "Snyderverse" é bem mais acurado que "DCEU". É o extremo oposto do padrão de adaptações proposto pelo Guillermo del Toro de tempos idos e que deveria ter sido canonizado e tombado como patrimônio pop cultural obrigatório.

Talento nunca foi o problema: ainda acho bacanudos o Dawn of the Dead hardcore, a rinha de corujas de A Lenda dos Guardiões, o capa & espada YMCA de 300, o citado Watchmen sem lula alien fake e, provavelmente sua mais elegante e visionária obra que um dia uma raça superior descobrirá e dará o devido reconhecimento, o videoclipe de quase duas horas Sucker Punch.

Sem contar os superpunchs do caótico Homem de Aço, provando que o negócio do Zeca é a (troc)ação.


A dorsal da história, co-escrita por Snyder, Chris Terrível... opa, Terrio e Will Beall, permanece intocada: é a mesma disputa dos heróis pela posse das Caixas Maternas contra as investidas do representante Lobo da Estepe, louco para limpar sua barra com o gerente Darkseid lá na matriz Apokolips. Se o conteúdo segue sem alterações em relação à Liga 2017, a forma é bem diferente.

Apesar da resolução em 4:3 para assistir na Admiral da sua vó (vai dizer que acreditou que era pro IMAX) e da divisão das 4 horas do filme em 6 capítulos revelarem a fina habilidade do diretor de lamber sua própria caceta em rede mundial, é verdade que ao menos 40% dessa pretensão é convertida em relevância na tela. Todos os personagens ganharam mais fluidez, desenvolvimento e contextualização, para mais (Cyborg) ou para menos (Aquaman). De fato, Vic Stone é quem mais se aproxima de algum protagonismo, mas não chega a guiar o espectador pela trama, como qualquer roteiro mais malandro faria. Ajudaria uma grandeza se Ray Fisher fosse melhor ator.

Já o Superman é o verdadeiro MacGuffin dos 5/6 iniciais do filme (vixe). Teve mais tempo para reviver, fazer um amistoso do time do sem-camisa contra o time dos superamigos, curar a ressaca-monstro e juntar os cacos de memória nos bucólicos cafundós do Kansas com uma terapia intensiva de cafunés de Lois Lane e de sua mãe Salve Martha. Insípido toda vida no papel, Henry Cavill encarna aqui o Azulão (ou seria Escurão?) em sua melhor versão do que é, sem nunca ter sido.

A Mulher-Maravilha, por sua vez, teve poucas e pontuais alterações. Foram para a lixeira o infame papai-e-mamãe com o Flash e os seguidos closes na bunda da Gadot presentes no Gross Joss Cut. Mesma coisa com o Batman - não o bundalelê, infelizmente. Não sei se foi pelo bate-bola extra com o Alfred do genial Jeremy Irons, mas parece que Affleck está genuinamente à vontade e se divertindo com o personagem, pela 1ª vez. E desejar isso pra alguém vestido de Batman é pedir o mínimo, pela sua própria sanidade mental.

Difícil mesmo é fazer algo que salve o Flash do Ezra Miller, que, quando não está esganando moçoilas islandesas, mostra como não se corre em frente a uma câmera. Tem duas boas tentativas: o salvamento de sua futura namorada Iris de um acidente de trânsito, numa sequência melosa, esquisita (ah, aquela salsicha) e interminável; e mais ao final, num momento que remete brevemente à icônica cena de sacrifício do Barry Allen em Crise nas Infinitas Terras. Melhora um pouquinho a impressão geral. É só não lembrar da tranqueira que é aquele uniforme. Ih, é mesmo. Tsc, aaah...


Preciso confessar que curto o Aquaman Czarniano e achei acertada a manutenção dos diálogos-ponte com seu filme solo. Até dá pra fazer vista grossa para o skysurfing usando um parademônio como prancha. O que não dá pra passar batido é o visual do Cyborg, que continua um Megatron(bolho) altamente distrativo no pior sentido. Tanto que o personagem fica muito mais interessante e cativante quando é autoprojetado de corpo inteiro em ambientes virtuais, numa boa sacada conceitual do diretor.

E realmente não precisava da ceninha "olha o Homem de Ferro aprendendo a voar em 2008". Toma vergonha, Snyder.

Se a edição mandou todas as bobagens do Whedon pra ponte que caiu, muita coisa do próprio Snyder podia ter ido também. A estreia de J'onn J'onnz, o "Martian Manhunter" (hmm...), esculhamba completamente o único momento em que Snyder consegue ser emocional sem ser brega. Surreal. A sequência inteira do resgate dos cientistas nos subterrâneos de Gotham é bem fraca, especialmente a cena em ultramegapowerslow motion do Flash ajudando Diana a alcançar sua espada durante uma queda (para... literalmente... nada!), a parte em que os heróis correm um sério risco de morrer afogados e o pavoroso batveículo Nightcrawler (prefiro o Kurt Wagner), tão viável e eficiente quanto os veículos do desenho do He-Man. Desculpa aí, Tanque de Ataque, tu era gente boa.

Claro que não podia deixar de mencionar outro TOC Snyderiano: as músicas. Tem que ter, claro, mas não precisa ser uma jukebox. A escolha dos temas sincronizada com as cenas soa tão expositiva quanto um recordatório do Chris Claremont – mais ainda, porque os caras estão literalmente falando o que está acontecendo... Nick Cave cantando "há um reino, há um rei" enquanto Aquaman caminha num píer é o cúmulo da obviedade. E, numa menção desonrosa, enche o saco a voz feminina cantando ao fundo toda vez que a Mulher-Maravilha resolve partir pra porrada.

Mas também tem coisas legais, como as mulheres do vilarejo cantando enquanto Aquaman retorna ao mar, demonstrando o nível da reverência e da adoração daquele povoado pela figura do relutante monarca. Boa.


Por fim, as cenas com a família russa foram sabiamente limadas e o ato final foi reformulado como um bloco mais coeso e focado. A luta decisiva contra Lobo da Estepe (que ganhou um tapinha no CGI) não chega a ser ruim, mas fica a dever. Ainda mais em comparação com sua eletrizante campanha em Themyscira. E a introdução de Darkseid – com visual quase OK e tronco emborcado – ficou surpreendentemente climática e bem elaborada, arrematando com a cena arrepiante do vilão e os heróis se encarando em silêncio através do portal. É a vitória do "menos é mais" sob condições adversas.

Porém, como uma espécie de assinatura artística do diretor, ele mesmo decide contrabalancear a boa impressão com os epílogos mais prolixos do universo conhecido. Dá pra entender a piscadela para uma incerta continuidade no encontro entre LeLex Luthor e Exterminador. O que não dá pra entender é a fixação no Coringa faz-de-conta do Jared Leto chegando a tal ponto que rende a cena mais constrangedora do ano (sim, eu sei que ainda estamos em março). Quer Coringa, Batman, Liga e o Superman boladão num cenário pós-apocalíptico, reveja o cinemático do DC Universe Online. E desapega de vez.

O que realmente impressiona nesse Liga da Justiça é a rara (raríssima) oportunidade de correção histórica dentro do cinema blockbuster. Mesmo com os vários problemas e idiossincrasias, Zack Snyder entrega um bom filme da superequipe mais emblemática dos quadrinhos – também, só me faltava passar uma tarde inteira assistindo um filme meia-boca ou, pior, um novo Batman v Superman. Mais legal ainda é ele ter tido essa chance, por todas as dificuldades pessoais e públicas inimagináveis que atravessou nos últimos anos.

Um pouco de justiça poética, pra variar.

sábado, 20 de março de 2021

"Pare o ódio asiático"... não, pera

Na esteira dos 8 homicídios (sendo 6 mulheres com ascendência asiática) em tiroteios ocorridos em Atlanta no último dia 16, a tag #StopAsianHate viralizou pelos quatro cantos da web. E nosso ex-profeta do apocalipse cool Frank Miller resolveu aderir.


São nesses momentos especiais, ainda que trágicos, que temos a chance de atualizar certos cenários. Se a tag surgiu para apagar o princípio de um incêndio xenofóbico (mais um), então o balde de Miller parece ter gasolina – e não pela tradução literal zoada da mensagem. Nos comentários do tuíte não faltaram menções à obra mais polêmica da carreira do quadrinhista: Holy Terror.

Revivendo esse momento lindo, a HQ, que vai completar 10 anos agora em setembro, foi bastante criticada pela islamofobia latente e o preconceito contra pessoas, gatos, cachorros e tudo o mais que venha do Oriente Médio. Na época, com Miller em plena nóia reaça, sobrou até para a "gangue de valentões, ladrões e estupradores" do movimento Occupy Wall Street. O 1% agradece.

Miller estava determinado a fazer a América grande novamente, mas a constipação mental passou e ele até ensaiou uma mea culpa:
“Minhas coisas sempre representam o que estou passando. Sempre que olho para qualquer um dos meus trabalhos, posso sentir qual era a minha mentalidade e me lembro com quem estava na época. Quando eu olho para Holy Terror, o que eu realmente não faço com tanta frequência, posso sentir a onda de raiva saindo das páginas. Existem lugares onde é inacreditável a sede de sangue.”
Acontece, Frank. Acontece. Saudades de quando só reclamávamos do teu traço.

Bela ilustra, por sinal.

terça-feira, 16 de março de 2021

A Espada Selvagem de KKKonan

E falando da era hiboriana, foi justo de lá - mais precisamente, da era hiboriana brasileira - que veio um dos maiores bafafás da semana passada...


Versão original, de set/1978, versão da Abril, de 1539, e a versão da Panini, de 1540

Caso (ainda) não saiba, aí vai o delivery até o conforto da sua caverna: um administrador do grupo do Comix Zone no Facebook pescou um erro cthulhúlico no volume 11 de A Espada Selvagem de Conan - A Coleção, da editora Panini, levantando uma bolinha redonda para o dono do grupo/canal/editora cortar. Mais que um erro pedestre de tradução, a frase proferida pelo cimério na versão brasileira apela para um grito de ordem racista que destoa completamente da build up-punchline escrita por Roy Thomas no original.

O pior, se é que é possível, é que isso ocorre pela 2ª vez no curso editorial dessa história. Conforme apurado pelo administrador, a "tradução" de Jefferson Pereira foi copiada da versão publicada anteriormente, em A Espada Selvagem de Conan #19, da Abril, em maio de 1986. Tradução feita originalmente pelo sr. João Paulo Lian Branco Martins — mais conhecido como Jotapê pelos sofredores leitores da velha escola.

Resultado: a notícia se espalhou como fogovivo pelas planícies hyrkanianas e a Panini invocou os deuses atlanteanos para o controle de danos ASAP.


Fez o certo. A última vez que vi a editora com tanta pressa foi por intermédio do deus americano Gaiman. Isso deveria se tornar um hábito.

Me senti na obrigação de repercutir isso para registro. É um parágrafo fácil (pero constrangedor) no grande livro da louca trajetória das HQs no Brasil.

Alguns pensamentos:

⚔ Mal sabia o menino Jotapê, então com jovens 26 anos, que um dia tudo o que ele fez na Abril seria fuçado e perscrutado implacavelmente num holofote global;

⚔ Diferente de outros termos mais pueris usados até em músicas famosas e programas de televisão (como meu amado Os Trapalhões), o termo utilizado sempre foi muito ofensivo, mesmo na baixa percepção de racismo em geral da época;

⚔ Apesar da garoteada, não acho que Jotapê tenha sido racista — relapso e inconsequente definem;

Adendo Ctrl+Alt+JP (valeu, Luwig!):


De novo, relapso e inconsequente definem.

⚔ O caso serve para desmistificar a ideia de que A Espada Selvagem da Abril é a melhor versão do título em português. Se é pra ler o Conan do Roy Thomas com um texto inventado aqui, prefiro reler meus gibis do Brakan!;

⚔ E sem contar a falácia de que os diálogos tinham que ser adaptados para caber no balão... o formato era o magazine, pelamordeCrom. De quanto espaço era preciso para caber as letras? De um Wednesday Comics? Das pranchas originais do Príncipe Valente?

⚔ A quantidade de absurdos ainda não descobertos nas ESC da Abril não tá no gibi. Ou melhor...

⚔ Depois dessa, não contrataria o Jefferson nem pra traduzir "the book is on the table."

⚔ O quê, achou que ia esquecer do Jefferson?

quarta-feira, 10 de março de 2021

Longa vida ao Mago


Quando soube da partida do veteraníssimo quadrinhista Frank Thorne, domingo último, me senti como o cara de Cinema Paradiso. Foi a primeira notícia que tive dele desde moleque. E justamente a derradeira.

Igual à maioria, cresci encantado pela arte singular do mago barbudo em seu trabalho mais icônico: Red Sonja. ❤️ ❤️ ❤️

Impossível falar da personagem sem lembrar da passagem dele pela revista solo da heroína no período 1977-1979 (mais a Marvel Feature #2, de 1976). Muito além de desenhar a intempestiva e voluptuosa guerreira ruiva, Thorne redefiniu a titular da "armadura-biquíni metálica" (cortesia marota de Esteban Maroto), influenciando tudo o que veio depois na categoria mulherada-chutando-bundas-na-quebrada-sword-&-sorcery.

Meu 1º contato com o trabalho do mestre foi há exatos 36 anos (putzgrila), mas ele já peregrinava por terras brazilis desde meados dos anos 1950. Sua carreira começou aos 18 anos, em gibis de romance. Logo após a formatura, aos 20, tirou a sorte grande. Bateu à porta da King Features com seus esboços debaixo do braço e saiu de lá contratado para desenhar as populares tirinhas do Perry Mason, abocanhando uma pequena fortuna.

O que seguiu foi um mergulho de cabeça nos universos pulp de editoras como Dell, Warren, Gold Key, Seaboard e Archie. Desenhou histórias do Besouro Verde, Jim das Selvas, Flash Gordon, Às Inimigo, Drácula, Tarzan, Fantasma, Tomahawk e incontáveis outros. Retornava às tiras sazonalmente, como Dr. Guy Bennett/Dr. Duncan, desenhando barbaridade até evoluir para o famoso traço que o eternizou à frente da guerreira hyrkaniana.

Após o furacão Sonja, Thorne trilhou o caminho de todo grande quadrinhista, preterindo as grandes editoras em favor de uma carreira 100% autoral e 200% engajado na fantasia erótica. Nessa fase, estão quadrinhos sensacionais como Ghita of Alizarr, The Iron Devil, Moonshine McJugs para a Playboy, Lann para a Heavy Metal e Danger Rangerette para a National Lampoon, entre outros — todos esses criminosamente inéditos por aqui.

Fez de tudo um pouco. Mas, com exceção de um Espectro furtivo nos anos 70, nunca desenhou super-heróis, que detestava.

Se Robert E. Howard alucinava que escrevia vigiado por um gigante de bronze com um machado, Thorne sofria uma marcação cerrada de algo bem mais aprazível (e real!).


Às vezes penso que os quadrinhos eram só um pretexto: o negócio de Thorne era mesmo personificar Thenef, o Mágico (ou Shard, o aventureiro espacial!) (ou Grampy, o veinho caipira safadão!) e badalar por aí com suas Thornezettes.






Além disso, nunca existiu animador de Comic Con melhor do que ele...

terça-feira, 2 de março de 2021

A Liberdade é Azul e a Feiticeira é Escarlate


Penúltimo episódio de WandaVision, "Previously On" reitera – senão supera – as previsões mais otimistas da Marvel Studios. Uma série adaptando um calhamaço crono(i)lógico complexinho e o romance sintozófilo da Wanda Maximoff com o Visão não era dos materiais mais palatáveis. Mas foi mastigado e cuspido com sucesso na testa dos públicos nerd, pseudonerd e nem um pouco nerd. Mesmo turbinado pelo fator Ultimato, o hype semanal assombroso de WandaVision é uma vitória contra as, arram, probabilidades.

E como recap, foi um bom episódio – mas nada que supere a geral da própria Elizabeth, em carne e Olsen. Adorável.

Claro que rolaram uns vácuos: sem gene X ou efetivação do Pietro que vale e tampouco do fantástico Quarteto. Mas acima dos desperdícios de timing, toda semana tivemos passe livre pra ver Elizabeth Olsen e Paul Bettany trabalhando. E que pintura de trabalho. Um privilégio ver esses dois em cena.

Dissecar a competência da dupla é chover no molhado: são mais atores do que a Marvel precisava ou mesmo merecia. A química do casal neste episódio em particular foi tão intensa que metade do set deve ter morrido intoxicada. Foram muito além das bem-traçadas linhas do roteiro da Laura Donney.

E, pelo amor de Sidney Sheldon, o que foi aquela punchline?

"Eu nunca vivenciei a perda porque nunca tive uma pessoa amada para perder. Mas o que é o luto senão o amor que perdura?"

Dito da forma errada, poderia facilmente ter saído de uma letra do Ritchie. Mas Olsen & Bettany conferem dor, profundidade, amargura e trágica cumplicidade à cena. Por sinal, uma das mais bonitas e bem compostas dos últimos tempos.

Vindo de alguém que tem experimentado o luto em doses cada vez menos esparsas (já comentei que moro na casa dos 40?), pode considerar que, sim, é um puta elogio. Então, reverbero perfeitamente o momento em que Wanda recria tudo o que aliviará sua dor num momento de violenta catarse – não por acaso, dramatizada e enquadrada como se fosse uma cena visceral de um trabalho de parto. Conceitos Cronenberg-Lynchianos operando incógnitos abaixo de incontáveis camadas DisneyPlusísticas. Eu vi isso, Matt Shakman e Jacqueline Schaeffer.

Ali, para qualquer cascudo no assunto, foi impossível não lembrar de outro aspecto do luto, ainda mais sorrateiro e perigoso: a entrega. Isso foi explorado também no terreno do drama/fantasia em Amor Além da Vida, do sumido diretor Vincent Ward (de Navigator: Uma Odisséia no Tempo). Um filmaço, por sinal.


Sem entrar em spoilers, em dado momento do longa, o personagem do saudoso Robin Williams precisa salvar a esposa, irremediavelmente trancada e inacessível dentro da dor da perda. Provavelmente a alegoria fantástica mais depressiva e realista já filmada.


Uma jornada que já apresentava uma outra dimensão das palavras do nosso sintozóide favorito.

Por mim, a parada já está ganha bem antes do tempo regulamentar. Que venham o series finale, Multiversos e além...


Atualização 6/3/21:

Nossa, fera. Foi... decepcionante. Esperava Cumberbatch, saí cum belo banho de água fria.