quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Zombie de Ouro 2021


"Pior que ontem, melhor que amanhã."

Lembro quando bolei esse status para o meu perfil do Blogger. Era uma brincadeira com o ritmo insano de trabalho na época aliado às ressacas infindas, além de ter algo para botar no campo de cadastro. Uma piada interna, boba e fugaz como só uma pode ser. E com uma ponta de otimismo incorrigível. Aquilo foi se ressignificando pelos anos seguintes, ganhando contornos mais abrangentes. E nunca teve tanta relevância quantos nos últimos... um, dois... três para quatro anos. Isso graças ao Bozo e sua milícia de minions psicopatas? Não apenas, mas ao zeitgeist extremista, obscurantista e negacionista que varre o planeta neste exato momento e do qual ele serve como o michê mais extravagante e mercenário. É um poço de estupidez e intolerância que se mostrou, até aqui, sem fundo, num eterno loop de decepção e incredulidade com a espécie humana.

Daí a relevância da frase, mesmo após uns bons 17 anos. E daí o fato de Não Olhe para Cima ser um dos filmes do ano para mim. Espero sinceramente que daqui a novos 17 anos ninguém mais lembre sobre o quê ele realmente tratava. Sempre o otimista...


E vamos a algumas coisas legais de 2021!


Discos favoritos


O Gojira chega ao seu sétimo álbum mantendo uma discografia invejável. Fortitude traz todas as fases da banda francesa na bagagem —dos primórdios technical death metal, às trips progressivas passando pelos flertes com o groove metal e o post-metal— e ainda aponta para novos caminhos. Ativistas ambientais e fãs de carteirinha do Sepultura, também não deixaram passar a influência fortíssima do grupo brasileiro circa Chaos A.D.-Roots. La perfection.





Quebrando um pouco a regra sacrossanta do ZdO de só selecionar originais (e quem está contando?), é impossível não propagar aos quatro ventos o evangelho de A Better Dystopia, maravilhoso disco de covers do Monster Magnet. Dave Wyndorf & cia lapidam 12 diamantes brutos do rock espacial e da psicodelia pesada setentista, mais a intro imitando o cultuado DJ americano Dave Diamond. Como é de se esperar, o repertório é obscuro-vantablack (eu mesmo só conhecia o Hawkwind e o Dust), resgatando músicas de grupos abissais como The Scientists, Poobah, Jerusalem, Josephus e lá vai porão. Porrada na orelha seguida de lambida em cartelinha de ácido.





E que tal um disco que abre deslavadamente ABBA (que também retornou em 2021) e emenda numa sequência pop-folk dançante irresistível de ouvir sem esboçar um sorrisão besta do início ao fim? Além dos ícones suecos, Magic Mirror tem reverências a Fleetwood Mac, Steely Dan, Seals & Crofts e toda aquela cena de sexo, drogas & tapeçaria chique de Laurel Canyon. É o 2º álbum da cantora e compositora californiana Pearl Charles e já estou apaixonado.





Ministry virou banda de véio. A bem da verdade, o improvável sexagenário Al Jourgensen já tinha queimado toda a gasosa na trilogia anti-Bush, há quinze anos. Na vida e no som, ele tirou o pé do acelerador e das brincadeiras/experimentações no estúdio. Moral Hygiene é o reflexo disso. O disco faz até referências aos renegados tempos de synthpop, o que achei duca. Mas o feeling "Search and Destroy" —que, inclusive, ganha cover garageira no disco— segue intacto. Fora que os associados da vez são afiadíssimos (o veterano tecladista John Bechdel, o guitarrista/baixista Cesar Soto e o baterista Roy Mayorga). Ministry 2021 não é metal industrial, é rockão industrial. E bebo a isso.





Com Vulture Prince, Arooj Aftab chega ao seu 3º álbum nas graças do público e da crítica vanguardista/hipster/artê —até o Obama adora e elegeu uma faixa do disco como uma de suas prediletas do ano. Se isso tudo resultar em fama & grana para esta cantora e compositora paquistanesa radicada no Brooklyn, fechou. O álbum é uma perfeita coleção de gemas blue-jazz, soul e neo-sufi (releitura moderna das canções de louvor dos Sufis) embalada por sua voz misteriosa e absolutamente hipnotizante. E, caramba, um som danado de bom para relaxar depois de um duro dia nas masmorras.





7 discos de estúdio, 2 ao vivo, 5 EPs, uma caralhada de singles e só fui conhecer o Blackberry Smoke agora. Entrei no 2º tempo, mas entrei bem: You Hear Georgia é um primor de country/southern rock com uma pegada de rock jam setentista —Neil Young é o meu pastor e nenhuma banda influenciada por ele me faltará! Pegar a estrada com esse som deve ser o bicho.





Diva electropop, a sobrevivente Ashley Nicolette Frangipane —mais conhecida como Halsey— teve uma sacada de gente grande (e esperta) para seu projeto filme-disco If I Can't Have Love, I Want Power: descolou nada menos que a dupla Trent Reznor e Atticus Ross para a produção. O resultado, além de um pop industrial bonito, bem feito & formoso, tem aquela atmosfera nervosa, tensa e cheia de detalhezinhos arranjísticos que elevam a experiência a um outro patamar sensorial. Não por acaso, é um álbum conceitual sobre gravidez e trabalho de parto. Vai, macho!





Afrique Victime é novo álbum de Mdou Moctar, o melhor guitarrista tuareg do planeta (mal aí, Bombino). Já é seu quinto disco, o 1º pela Matador Records e o som continua... matador¹. Sei, péssima, mas é a síntese mais próxima de seu blues de deserto elétrico, barulhentíssimo e vazando grooves tribais. Mais uma vez, Mdou... mandou.²





Oriundos de formações viscerais e esporrentas, Bobby Gillespie (Primal Scream) e Jehnny Beth (ex-Savages) surpreendem com uma parceria inusitada e o bendito fruto dessa união. Em Utopian Ashes, o duo se engaja numa espécie de country soul pop de nuances soturnas e emocionais (pensa num Cowboy Junkies versão sofrência). E é bom demais. Trilha ideal para afogar as mágoas num litrão de uísque e para ajudar a atravessar aquela ressaca monstro.





Mais stoner metal? Mais stoner metal. Só que o som massivo do Green Lung se destaca fácil na multidão. O quinteto de Londres consegue soar pesado —e isso vai muito além de marretadas insistentes e dos volumes da produção, é mais na forma de encaixe da rifferama + harmonia + cozinha mesmo. Black Harvest é apenas o 2º disco do grupo e trafega com desenvoltura pelo heavy metal velhusco, lisergia e passagens sorumbáticas de occult rock. Isso sem contar as deliciosas intervenções do synthzinho Moog, mostrando que ouviram Spiritual Beggars com atenção. Nem ia comentar nada, mas a verdade é que esses caras têm potencial para voos ainda mais altos...





Em seu debut autointitulado, o guitarrista e singer-songwriter CarlBuffaloNichols faz a ponte definitiva entre blues e americana. Em canções predominantemente solo, o artista de apenas 30 anos brilha com uma habilidade sobrenatural na guitarra acústica e um lirismo quase ancestral nos vocais, remetendo a velhos blueseiros de um Delta qualquer da década de 20. E tudo com uma elegância absurda. Um discaço.





Ainda me impressiono como o monstruoso Carcass, regurgitado dos grotões mais pútridos do death/grind, foi alçado ao status de artesão-mor do metal extremo melódico. Ninguém injeta melodias nas artérias death como o trio britânico —com as instituições Jeff Walker e Bill Steer à frente. Talvez a experiência gore/splatter/tripas-a-rodo dos primeiros discos tenha feito deles cirurgiões musicais miraculosos. Se for isso mesmo, então Torn Arteries é o mais novo certificado de renovação do CRM dos caras. Mas o que não esperava mesmo era um coração vegano estampando a capa. Ué?!





Há tempos o som do Mastodon não é mais tão carne de pescoço. Até gostava de dar uma reclamadinha tipo "ah, na época do Blood Mountain e do Crack the Skye é que era bom" e truezices quetais. Falácia das brabas. O quarteto da Georgia é curtido em musicalidade pura, nunca hesitou em fazer o que desse na telha e sempre soou foda pra caralho. Isso posto, o impecável Hushed and Grim obedece a diretriz básica do grupo de aliar neurônios com headbanging desenfreado num contexto de rock progressivo. Mic drop.





Já comentei sobre o trampo arqueológico sensacional do selo Grapefruit Recors, divisão da Cherry Red Records. A série I'm a Freak Baby inclusive já foi laureada com um portentoso Zombie de Ouro! E esse 3º volume da antologia mantém a nota máxima no quesito qualidade e quase obscuridade dos grupos selecionados —embora aqui já compareçam medalhões como Yardbirds, UFO, Mott the Hopple, Budgie, Hawkwind, Thin Lizzy, Pink Fairies, Trapeze, Free, Procol Harum e até Nazareth, Uriah Heep e o Deep Purple! Mas é CD triplo e, embora alguns ainda possam identificar o Geordie (antiga banda de um certo Brian Johnson), o mesmo dificilmente se aplica a nomes como Stray, Head Machine, Distant Jim, Fuzzy Duck, Sam Gopal, Episode Six, T2, Curtis Knights Zeus, The Deviants, Bram Stoker e mais uma patota subterrânea do proto-heavy sessentista/setentista. É festa do iníco ao fim. Pra ouvir no volume 11.





Mais uma quebra (dupla) dos regulamentos ZdOísticos: não só um disco ao vivo, como também de uma apresentação de setembro de 1979. Mas preferia ir preso a não registrar esse aqui. The Legendary 1979 No Nukes Concerts —parte de um concerto-filme no Madison Square Garden com vários artistas em protesto ao uso de energia nuclear— é uma performance de pura excelência. Bruce Springsteen e a E Street Band tocaram o céu nesta apresentação. "Badlands", "The River", "The Promised Land", "Born to Run", "Thunder Road", "Jungleland"... só cavalos de batalha, um atrás do outro, o Chefão possuído e o público completamente entregue. 2021 é bico: esse é fácil um dos meus discos preferidos de todos os tempos.




Menções honrosas:

Now and Then, do Paul Stanley's Soul Station
Blue Weekend, do Wolf Alice
Black to the Future, do Sons of Kemet
Hardware, de Billy F Gibbons
Portas, da Marisa Monte
Blood, da Juliana Hatfield
The Eternal Rocks Beneath, da Katherine Priddy
Texis, do Sleigh Bells
Ritual Divination, do Here Lies Man
Rocket to Kingston, mashup de Bob Marley com Ramones do divertido projeto Bobby Ramone
What Could Go Wrong?, do redivivo Skatenigs



Filme do ano


Mal dá pra acreditar que Shiva Baby é o longa de estreia de Emma Seligman. Aliás, a história foi readaptada/esticada de um curta homônimo que a diretora e roteirista canadense filmou em 2018. Na trama, a fantástica Rachel Sennott (recém-saída de uma bomba) vive uma jovem judia que faz uns programas para pagar uns boletos e que retorna à sua antiga vizinhança para um shivá, período de luto similar àqueles velórios de americano (onde só comem e comem). Ela chega lá, com o lugar abarrotado de famílias "tradicionais", recalcadas e fofoqueiras —seus pais inclusos— sem saber que entre os presentes estão uma ex-namorada de colégio, ainda gamada por ela, e um sugar-daddy-que-talvez-seja-algo-mais. O que acontece a partir daí é uma verdadeira montanha/roleta russa com uma das trilhas sonoras mais inteligentes e sádicas dos últimos tempos. Impressionante como um filme que é, em essência, uma comédia, consegue ser tenso e claustrofóbico como um genuíno filme de terror. Um espetáculo de construção, narrativa e interpretação em menos de 80 minutos. Brilhante.


(Minis-) Série do ano


The North Water, da BBC Two. A minissérie em cinco capítulos adaptada do livro homônimo é daquelas que demoram para dar baixa na memória recente. A história e a narrativa são tão cruas quanto possível: em 1859, um baleeiro britânico com uma tripulação filha da puta sai para caçar no Ártico. Só que o capitão tem outros planos. A produção é suntuosa e a atmosfera é densa como um muro de concreto. Não é para todos, mas quem curtiu Taboo ou a 1ª temporada de The Terror, ao menos, vai se esbaldar. O elenco é fabuloso e Colin Farrell está irreconhecível, numa de suas atuações mais intrigantes e assustadoras. Ele e, principalmente, Jack O'Connell brilham. Este último, inclusive, lembra um jovem Jared Harris, em entonação e interpretação. Minisserieaça.


Doc do ano


The Beatles: Get Back, de Peter Jackson, eclipsou tudo e mais um pouco. Já li incontáveis vezes sobre as gravações tumultuadas do que viria a ser o disco Let It Be, o canto do cisne do Fab Four. Mas acompanhar com detalhes o intenso brainstorming musical, os choques de personalidades, a pressão interna, a estranha e simbiótica relação John-Yoko, o impacto que a chegada do músico Billy Preston teve no grupo, além de assistir em "tempo real" a gênese de megaclássicos como "I've Got a Feeling", "I Me Mine", "The Long and Winding Road", "Don't Let Me Down" e, lógico, "Get Back" é outra conversa. Em algo como 8 horas de corte final, já é bem mais do que um documentário, é uma experiência audiovisual. E foi uma das mais incríveis que tive nesta vida.


Gibi do ano


Não gibi, mas gibis. Ou checklist de gibis? Seja como for, a valente Editora Mino vem publicando as obras de Ed Brubaker e Sean Phillips, uma das melhores parcerias dos quadrinhos em todos os tempos, corrigindo anos de injustiça editorial. Finalmente. Merece todo o crédito por romper a inércia (má vontade?) das grandes editoras e por lançar esses quadrinhos do jeito certo. Parabéns, obrigado e, por favor, continuem.


Relançamento do ano


Ah, Ken Parker, Ken Parker... Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo são os putos mais geniais da raça. Graças à Mythos Editora, agora posso colocar minhas patas nesse quadrinho com trabalho editorial decente e preço não escandaloso. A jornada será longa (50 volumes), mas altamente compensadora.


E é isso!

2021 não foi fácil pra ninguém. Como cantava o Lennon em "I've Got a Feeling" - "Everybody had a hard year..." e aí logo emendava com "Everybody saw the sunshine..." Esperança é o que sempre fica, afinal. No mais, um excelente 2022².

Dicas, concordâncias e discordâncias nos comentários.

sábado, 25 de dezembro de 2021

Esta noite o Krampus de meia vai te pegar

Não reclamaria de ganhar um par dessas meias no Natal.


Adorei essa linha: "O ÚNICO PRESENTE QUE TENHO É DOR!" - Diretoria do Flamengo.

Feliz Natal e um ótimo, não, um excelente 2022...!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Gaviões do Forró


Costumo torcer por azarões, mas em Gavião Arqueiro o azar foi meu mesmo. Desde o início, a série da Marvel Studios/Disney+ imprimia um tom ameno que me fazia apostar numa dramática virada de eventos no último ato. Ao invés disso, a coisa derrapou feio na reta final. Com espaço mínimo para desenvolver uma narrativa consistente, exageraram na quantidade de subplots —conte comigo: Maya Lopez/Eco, Yelena, mãe da Kate, Ronin, relógio misterioso, Espadachim, Rei— e assim as amarrações foram se acotovelando no último episódio, como se fosse um mix do tradicional arrasta-pé nordestino com a deadline da Marvel.

Mesmo a breve redenção do Vincent D'Onofrio retornando das cinzas netflixianas como Wilson Fisk durou só até a pavorosa sequência de luta com Kate. A despeito do figurino referencial pero inadequado (isso não é exatamente isso), fica difícil saber o que o showrunner Jonathan Igla (de Mad Men) tinha em mente ali. A postura cerebral e austera de outrora deu lugar a atitudes inconsequentes e impulsivas. O Rei do Crime saindo pra resolver um abacaxi com as próprias mãos em público? Tratamento mais pedestre, impossível.

E nem precisa mencionar as flechas mágicas dando conta dos 2 milhões de novos membros da Gangue do Agasalho. O ato final inteiro foi mal dirigido. O atropelamento foi ridiculamente abrupto, praticamente um jump scare, além de impossível: Fisk estava a meio metro de um carro em ponto morto. E se esta versão do Rei tem superforça para arrancar a porta do veículo, então a Kate tem super-invulnerabilidade. Cada soco daquele era pra ela cuspir um pulmão. Muito, muito ruim mesmo.

Outra coisa esquisita foi a Kate vendo a mãe sendo presa por homicídio e na manhã seguinte ela está na casa do Clint pra comemorar o Natal. Merecido descanso, hm?

Uma sobra positiva: a química/bate-bola entre Kate e Yelena. Sempre bem divertidas, especialmente na cena da mão boba no elevador. Quero um episódio girls-night-out das duas soltas em NY pra ontem.

Jeremy Renner já pode pendurar a aljava, o arco e as flechas (claro que a fila dele já andou faz tempo). Suas dívidas com o MCU —e vice-versa— foram quitadas.

Só não precisava daquele musical Broadwayesco breguíssimo nos pós-créditos. Apertei o fast forward como se não existisse amanhã...

sábado, 18 de dezembro de 2021

Review de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa sem spoilers



Nove. Nota: Nove.

FIM

Tudo ao mesmo tempo agora


Agora, isso é Multiverso!

Direção de Daniels (corruptela dos clipeiros indie Daniel Kwan e Daniel Scheinert), estreia prevista para vinte e cinco do três de dois dois.

Sem mais nada para o momento. Preciso assimilar esse litrão de LSD em forma de trailer. E alguém por favor anote a placa da Michelle Yeoh.

Ps: o Bowie pós-Ziggy foi covardia, pô.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Viúva, Interrompida


Só quebrando a tradicional castidade/procrastinação do BZ sobre as séries do UCM para destacar uma das cenas mais bacanas daquela grade. O 5º episódio de Gavião Arqueiro abrindo com a Viúva-Negra Yelena (nossa querida, maravilhosa, salve, salve, Florence Pugh) indo e voltando do Blip em tempo real me fez pensar nos zilhões de pequenas histórias sensacionais que poderiam ser contadas a partir dessa perspectiva humanizada do evento. Após aquilo, fiquei babando pra ver uma novelinha ao estilo Televisa em que Yelena ia descobrindo chocada o que se passou no mundo nos últimos 5 anos —e, claro, com a sua irmã Natasha.

Mas não rolou, nem vai rolar. O jeito é garimpar satisfação em algum fanfic por aí. E isso não desejo ao meu pior inimigo (bem...!).

Sobre o episódio propriamente dito, os atores e atrizes seguem tirando leite de pedra. O roteiro insiste na mesma toada mediana com reviravolta previsível e um timing coalhado de tão vencido. Fosse no 2º ou 3º capítulo, teria estremecido os alicerces aqui. E jamais daquela forma tão preguiçosa e miguelenta, ainda. Presença de palco conta, Marvel Studios.

Tirando isso, de boa. Antes tarde do que... não, teria sido melhor antes mesmo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Tá chegando o Busão da $JA...


Finalmente a editora Panini inicia a pré-venda do 1º omnibus da elogiada fase da Sociedade da Justiça da América de Geoff Johns, James Robinson, David Goyer (quá, quá), Carlos Pacheco e grande elenco. São 1.224 páginas a um precinho recorde rumo ao pentacampeonato dos 500 reais—e a propósito, são trigêmeos. Mais barato do que a importada da Amazon lá fora (só em marketplace) e da Amazon aqui dentro.

Vi as lombadas grossas e redondíssimas—fíu, fíu—desses busões em mais estantes de youtubers que a hashtag "recebidos" web afora. Em outras palavras, a tentação é grande, mas, ainda assim, tentação. E nesse momento, não sei se sou digno de erguer o Mjolnir. Maldita falha de caráter.

Sem maiores digressões, ficam as dúvidas:

💀 Quem vai?

💀 A Panini sabe que a única vantagem de uma pré-venda é um belo desconto no preço? Isso até a Mythos sabe, Sombra.

E a seção de aquisições segue versando mais sobre o que gostaria de adquirir e menos sobre o que adquiri de fato. Preocupado, eu?

Ps: Do Vale, ainda mantém o "Nem reclamo mais, SÓ QUERO QUE VENHA" jovem e inconsequente da outra vez? Aquilo foi lindo, cara.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Gigante Pérez

Quem acompanhou o cenário dos comics nos últimos anos não queria ouvir essa notícia, mas, de certa forma, sabia que uma hora ela chegaria.


“De George para seus fãs, amigos e parentes, por favor leia abaixo. Esta página servirá como um lugar para se conectar com George e também receber atualizações. Por favor, respeite a privacidade de George e sua família neste momento difícil e entre em contato SOMENTE por esta via.

Obrigado e veja abaixo:

A todos os meus fãs, amigos e parentes,

É difícil acreditar que já se passaram quase três anos desde que anunciei formalmente minha aposentadoria da produção de quadrinhos devido à minha visão deficiente e outras enfermidades causadas principalmente por meu diabetes. Na época, fiquei lisonjeado e humilde com a quantidade de homenagens e depoimentos que meus fãs e colegas me deram. As palavras gentis ditas nessas ocasiões foram tão emocionantes que eu costumava brincar que ‘a única coisa que faltava nesses eventos era eu deitado em uma caixa’.

Foi divertido na época, pensei.

Agora, nem tanto. Em 29 de novembro, recebi a confirmação de que, depois de passar por uma cirurgia para obstrução do meu fígado, estou com câncer de pâncreas no estágio 3. É cirurgicamente inoperável e minha expectativa de vida estimada é de 6 meses a um ano. Foi-me dada a opção de quimioterapia e/ou radioterapia, mas depois de pesar todas as variáveis e avaliar quanto dos meus dias restantes seriam consumidos por consultas médicas, tratamentos, internações hospitalares e lidar com a burocracia muitas vezes estressante e frustrante do sistema médico, optei por deixar a natureza seguir seu curso e aproveitarei o tempo que me resta o mais plenamente possível com minha linda esposa de mais de 40 anos, minha família, amigos e meus fãs.

Desde que recebi meu diagnóstico e prognóstico, as pessoas do meu círculo íntimo me deram muito amor, apoio e ajuda, tanto prática quanto emocional. Eles me deram paz.

Haverá alguns assuntos de negócios para cuidar antes de eu ir. Já estou combinando com meu agente de arte o reembolso do dinheiro pago por esboços que não consigo mais finalizar. E, uma vez que, apesar de ter apenas um olho ativo, ainda posso assinar meu nome, espero coordenar uma última sessão de autógrafos em massa para ajudar a tornar minha passagem um pouco mais fácil. Também espero poder fazer uma última aparição pública em que possa ser fotografado com o maior número possível de fãs meus, com a condição de abraçar cada um deles. Eu só quero ser capaz de dizer adeus com sorrisos e também com lágrimas.

Eu sei que muitos de vocês terão perguntas a fazer ou comentários a fazer, e em vez de alimentar o fogo da especulação e da falta de comunicação bem-intencionada, mas potencialmente prejudicial, voltarei à arena da mídia social, iniciando uma nova conta no Facebook, onde fãs e amigos podem se comunicar comigo ou com meu representante designado diretamente para atualizações e esclarecimentos.

Para consultas à mídia e à imprensa, use as informações de contato da página também. Respeite a privacidade de minha esposa e família neste momento e use a página do Facebook em vez de entrar em contato por meio de outros canais.

Posso não ser capaz de responder tão rapidamente quanto gostaria, pois estarei me esforçando para obter o máximo de prazer externo que puder no tempo que me foi concedido, mas farei o meu melhor. Palavras amáveis também seriam muito apreciadas. Mais detalhes a seguir quando estiver tudo certo e funcionando.

Bem isso é tudo por agora. Esta não é uma mensagem que eu gostei de escrever, especialmente durante a temporada de feriados, mas, curiosamente, estou sentindo o espírito natalino mais agora do que em muitos anos. Talvez seja porque provavelmente será o meu último. Ou talvez porque estou envolvido nos braços amorosos de tantos que me amam tanto quanto eu os amo. É muito edificante saber que você levou uma vida boa, que trouxe alegria para tantas vidas e que deixará este mundo um lugar melhor porque fez parte dele. Parafraseando Lou Gehrig: ‘Algumas pessoas podem pensar que tenho um momento ruim, mas hoje me sinto o homem mais sortudo na face da Terra.’

Cuidem-se todos—e obrigado.
George Pérez
7 de dezembro de 2021”


Apesar do terrível prospecto, fica o otimismo inabalável, ainda mais direcionado ao sujeito simples e boa-praça que George Pérez sempre se mostrou durante toda a sua carreira. É bom sentir em suas palavras a plenitude, a integridade e a paz de quem olha para a própria vida em perspectiva e tem a certeza de que valeu/vale demais cada segundo. Sem dúvida, merece a chance de fazer suas despedidas, ao seu tempo e em seus termos.

E isso, pode acreditar, é uma oportunidade raríssima.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Homem-Aranha e seus Incríveis Amigos 2

Pode me zoar à vontade: estou curioso sobre Sem Volta para Casa. Mas a curiosidade nem chega perto da expectativa em torno de Homem-Aranha no Aranhaverso 2, continuação do longa animado divertidíssimo, cheio de coração e meio caótico de 2018. E o teaser só instigou, com perdão do pleonasmo.


A sequência final é literalmente uma HQ viva*. E com o Homem-Aranha 2099 nela.

Outubro de 2022 tá muito longe...


* E não é pra menos! 👇

Wawawewa. Am excite. I was fortunate to have worked on this in the conceptual stages. Count me doubly anticipatory.

Publicado por Bill Sienkiewicz em Domingo, 5 de dezembro de 2021

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Meu Amigo, o Esmagonauta


O Hulk volta a esmagar tudo em "Smashtronaut! - Part One" —"Esmagonauta" é tradução filé by BZ® (Panini, joga aí uns três lobos-guarás na mão e estamos conversados). Com a numeração automaticamente zerada, a HQ marca o retorno do Verdão após a bombástica fase O Imortal Hulk, do roteirista Al Ewing com o artista paraense Bené "Joe Bennett" Nascimento. O run deu uma bem-vinda revitalizada no mythos do Gigante Esmeralda com seu mix de thriller metafísico-psicológico e um body horror gore/splatter que arrancaria sorrisos doidos de David Cronenberg e do saudoso Stuart Gordon. Uma perspectiva inusitada, mas profundamente arraigada na essência do personagem.

O sucesso de público e crítica, porém, não conseguiu evitar alguns perrengues pelo caminho. Mais notadamente a ascensão-e-queda do veterano e talentosíssimo Bené, que não sossegou até implodir sua carreira (provavelmente em definitivo) pelo mainstream dos comics.

Primeiro, chamou atenção ao vibrar com a agressão ao jornalista Glenn Greenwald, depois emendou com artes e posts curtidos em extremismo até finalmente ser dispensado pela Marvel e desconsiderado inclusive para projetos futuros. E o que já não era tão bom parece que piorou. Parafraseando o filósofo João Francisco Benedan, é mais um legítimo representante do movimento white pardo, essa anomalia aberrativa que só existe e se reproduz no Brasil.

Todo esse furdunço reaça-gama acabou gerando mais repercussão do que a própria conclusão da saga —um pecado capital, já que foi uma das fases mais bacanas e aclamadas do Golias Verde em anos. Pessoalmente, curto tanto que nem me adiantei pelas "importadoras": sigo adquirindo meus exemplares religiosamente na editora brasileira credenciada. Dessa forma, antes do derradeiro TP #10, resolvi conferir a nova série desde já, pra ver se entendo alguma coisa.

Afinal, pegar o bonde da cronologia andando é como andar de bicicleta pro marvete com vista cansada e dor nas costas.


O arco em seis partes é escrito pelo texano Donny Cates (Surfista Prateado: Escuridão, Thor: O Rei Devorador), atual bam-bam-bam do massaveísmo super-heroístico. O cara é criador do Motoqueiro Fantasma Cósmico, pelo amor de One-Above-All. A quantidade abusiva de punchlines e splash pages duplas megacolossais dão a impressão de ouvir as onomatopeias gritando a cada porrada desferida. É edição-porrada.

Até rola aquele momento onde um pequeno contigente Todos-os-Heróis-Marvel é reunido pelo Dr. Estranho para... ganha um Surpresa com card de tigre quem acertar... caçar o Hulk. De novo. Mas o grosso da edição é um vale-tudo —tudo mesmo— entre Hulk e Tony Stark com algumas unidades Hulkbuster. É curioso ver o desenhista Ryan Ottley pendendo aqui entre um Ed McGuinness surtadão e a visceralidade não-retranqueira de seus tempos de Invencível. A maneira que o Verdão encontra para se libertar de uma armadilha de adamantium é de emocionar até o Thunderbolt Ross. Coisa linda.

Mas a grande questão é saber se Cates tem bala na agulha para segurar o tchan pós-Imortal. Parece que tem. Sei lá. Não finalizei Imortal ainda e a ideia aqui era saber se daria pra entender alguma coisa. Claro que deu. Ou melhor, não muito. Quase nada, pra ser sincero. Mas, de início, deu pra notar que a rererediviva Betty Ross, em seu melhor estilo mocinha-normalista-pós-família-nuclear, não é aquilo que parece. E que algo estupidamente cabuloso aconteceu em El Paso. Com vítimas. Muitas delas.

O que levou Banner a ficar furioso com o Hulk.

De novo².


Banner, aliás, está bem babacão, num nível quase Hank Pym de zé-ruelismo. Parece mais sagaz do que o normal e lá pelas tantas cita até A Profecia (que referência mais 70's). Contudo, no geral, está a parsecs de distância daquela época do "Hulk-é-um-bom-camarada-mesmo-com-a-cabeça-trocada". Tenho que admitir que o "conceito Esmagonauta" não é novo (você já leu isso na fase Peter David ou em qualquer das trocentas sessões com o Dr. Samson), mas a perspectiva é. A tônica é de pancadaria enche-linguiça servindo de intro. Gloriosa pancadaria, que se registre nos autos.

É basicamente uma edição disso culminando numa splash tão celestialmente massaveiorama que só o Stark mesmo seria capaz. Ele só precisava de tempo e grana. Por sorte, ele tem as duas coisas. Sabe como é.

Na conclusão, Hulk dá um mergulho numa Muralha da Fonte versão 616 e, do lado de cá, me toca alguns sinos. Seja na fase Encruzilhada, na fase Planeta Hulk ou na fase Imortal, a chave para o sucesso parece que é tirar Banner/Hulk da sua zona de conforto —o que, no caso, se traduz como tanques e helicópteros partindo pra cima, tal qual na imagem do topo.

E certamente, Cates vai começar a contar essa história de verdade a partir da próxima edição. A menos que haja um esquadrão Caça-Hulk esperando por ele do outro lado. Ou o Homem Quintrônico.

Nah, Cates não seria tão massaveio...

Ps: ...veremos isso no próximo dia 15.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Cristina de Sousa Lima, jornalista


Tina é garota de gibi que nós amamos. E acho pontual que, entre todas as personagens, logo ela tome a frente de assuntos mais espinhudos, como foi o caso da Graphic MSP Respeito. Parece mesmo que ela nasceu pra isso —ainda mais em se tratando do monstro do momento.

Mas nunca que esse aí é o traço do Mauricio... ;)

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Centro de Repouso Residencial Solar Qualité Arkham


Com a Edição Absoluta de Batman: Asilo Arkham, a Panini deu uma boa perspectiva do cenário atual do mercado de HQs. Por mais que a "nova tabela" dos gibizinhos venha causando estrago nos últimos anos, ainda é acachapante a naturalidade com que se lança algo com preço acima dos outrora virginais duzentos mangos. E sem direito a chazinho de "BLACKPANINI" *. É muito louco: omnibus e demais cases luxuosos estreando —e triunfando— no Brasil em meio a uma das piores crises econômicas de sua História.

Fico imaginando se um dia vamos rir disso, como rimos hoje, sei lá, das cores psicodélicas dos gibis da Bloch ou dos nomes abrasileirados que os personagens americanos ganhavam aqui. Provavelmente não.

Embora todo o segmento tenha encarecido de forma sem precedentes, é verdade que a variedade do material também deu um salto em direção aos padrões da matriz gringa. Ainda falta muito chão até chegar lá, mas já é interessante poder optar por um tomo bíblico compreendendo fases inteiras ou pelos práticos TPs coletando um arco por vez. Claro, a caça de preços tem papel de destaque nessa conta. E deveria ter mais, afinal vivemos na Era de Conan.

Na nova versão de Asilo Arkham, lançada lá fora em 2019, fica claro o quanto se paga pelo luxo. Nada muito diferente do direcionamento comercial da editora. A história em si é média-metragem de 96 páginas, plus guardas, plus expediente/créditos. Nos extras, bios, textões de Dave McKean, Karen Berger e Grant Morrison (será que traduziram?), estudos de personagens, tratamento inicial do roteiro, artes preliminares e galeria, totalizando mais de 120 páginas de mimos Deluxe.

Tudo dimensionado em big formatão 20.5 x 31 cm com capa alternativa e caixa-luva com as lindíssimas artes de McKean (oh, o pleonasmo). De fato, a edição passaria fácil por um artbook do ilustrador britânico.

O que a suntuosa e luxuriante edição da Panini não traz —e nem trouxe em suas desastrosas edições anteriores— é um dos maiores trunfos da versão da Abril: a fabulosa letrista Lilian Toshimi Mitsunaga.


Quando trabalhou na edição nacional de Asilo Arkham, em 1990, Mitsunaga tinha dez anos no ofício. Até ali já havia feito colaborações marcantes em quadrinhos da Martins Fontes, VHD Diffusion e da própria Abril, mas o espetacular letreiramento de Asilo Arkham foi seu grande momento na época —e, sem dúvida, um dos pontos altos de sua brilhante carreira.

Letreirar as fontes do mestre Gaspar Saladino não é para qualquer um(a). Com a perícia da velha escola, Mitsunaga emulou minuciosamente a tipografia de cada diálogo (balonado ou não), recordatório e inscrição criado por Saladino. Lembrando que, em Asilo Arkham, cada personagem tinha um estilo de letreiramento próprio, como uma forma de refletir o estado psicológico de cada um.

E tudo feito à mão, num irretocável exercício de estilo artesanal.



Lilian Mitsunaga, com sua voz de ASMR e fã do grande letrista John Costanza, dava ali mais um exemplo de evidente amor pelo trabalho sem saber que também daria um banho em todas as preguiçosas versões posteriores de Asilo, mesmo com a infinidade de programas e packs de fontes digitais à disposição hoje.

É verdade que a nova mega-edição traz o melhor trabalho de letreiramento da Panini para Asilo até aqui. Méritos do letrista Fábio Figueiredo, que deu todo o esforço, seriedade e profissionalismo que a incursão exigia. Realmente digno de nota, ainda que, claro, não se compare, até por motivos outros —por exemplo, a (blasfema) "remasterização" das letras originais de Saladino na versão gringa, seguida à risca pela edição nacional.

É a eterna briga da Forma vs. Conteúdo.

Por essas e outras, não me desfaço da minha velha edição por nada. O trabalho de Lilian Mitsunaga em Asilo Arkham segue incomparável. O nível é simplesmente outro. E não é pra menos. Até o Instagram dela é uma delícia letreirística.


* Atualização 24/11:


Sim, teve chazinho de "BLACKPANINI", sim. Fraquinho e requentado, é verdade, mas vamos ser justos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

You would love me when I'm angry

Fato: só John Byrne ama mais a Mulher-Hulk do que eu. E posso até conceber que alguns órfãos hardcore de Orphan Black amem mais a fabulosa Tatiana Maslany do que eu. Mas as duas juntas, ah... pode pegar a senha e ir pro final da fila.


Prévia tudo de bom, mesmo mostrando pouco, afinal é teaser, uma das invenções mais maquiavélicas e salafrárias do 9º círculo do inferno. Mas não deixei meu amor pelo combo Tatiennifer inebriar meu pensamento lógico: a Selvagem Mulher-Hulk é algo complexa para adaptação live action, perigando cair nas forçadas de barra mais disfuncionais ou simplesmente no mais puro trash. Sem falar que a pegada será mais bem humorada e quase nada Selvaaaagem.

Estou ciente e pragmático sobre os riscos, mesmo vindo de um estúdio que produziu hits com um guaxinim e um tronco falantes.

Mas a referência à série clássica do Verdão e a sagazíssima homenagem ao saudoso Bill Bixby foi tão legal...


Putz, tô dentro. Manda mais.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Goodbye, Mighty Isis


Joanna Kara Cameron
(1951 - 2021)

Joanna Cameron (ou JoAnna, dependendo do crédito) não era muito conhecida pelas últimas gerações, mas tem seu lugar no rodapé da história da cultura pop. Iniciou a carreira de atriz no finzinho da década de 1960 e figurou em algumas poucas produções para o cinema —a TV logo se tornou seu habitat natural/profissional, mas quase estrelou Love Story (1970) no lugar de Ali MacGraw, o que seria uma dramática mudança de eventos. No fim, acabou concentrando sua atuação em participações em seriados, dos famosos Daniel Boone e Columbo a pérolas da obscuridade televisiva.

Seu grande momento, no entanto, foi protagonizando Poderosa Ísis, série produzida pela Filmation e co-criada pelo próprio Lou Scheimer (que certamente reaproveitou alguns elementos dali para sua She-Ra, anos depois). Ísis durou breves duas temporadas, de 1975 a 1977, mas a caracterização marcante de Joanna como a super-heroína/deusa egípcia rendeu um título próprio nos quadrinhos DC e um crossover no seriado Shazam!, além de um cult following canino através das décadas.

Depois disso, Joanna fez apenas cameos em algumas séries. Um deles, no notório seriado setentista do Homem-Aranha —de biquíni, com a benção de Rá. Seu último trabalho em frente às câmeras foi, ironicamente, no telefilme Swan Song, de 1980.

A partir dali, sua vida se passou distante dos sets de filmagem: trabalhou por 10 anos como enfermeira cuidadora e atualmente atuava como gerente de marketing em dois hotéis no Hawaii. No máximo, fez algumas raras aparições em comic cons. Mas o legado como a pioneira super-heroína já estava garantido na posteridade.

Não por acaso, a notícia de sua passagem foi divulgada por uma ex-companheira de set, Joanna Pang, a Cindy Lee de Poderosa Ísis.


A série era voltada ao público infantil, com narrativas simples, lições de moral e orçamento muito mais limitado do que a série da princesinha Marston. Mas a figura carismática de Joanna personificada como a super-heroína, mesmo com indumentária simplória, eclipsava demais complicações.

Joanna era magnífica.


E Poderosa...


Thank you for everything, JoAnna!