sábado, 30 de agosto de 2008

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

R.I.P.?


É sempre difícil comentar sobre um personagem com tanta estrada sem patinar em imediatismos e generalizações, tão comuns nesses tempos do editar/publicar. Mas acho que dá pra mandar essa na boa: em seus quase setenta anos, poucas vezes o Batman rendeu interpretações tão criativamente peculiares. Em grande parte, em razão de O Cavaleiro das Trevas e sua proposta revisionista, auto-suficiente e hermética, mas preservando bases cravadas na essência original. Bem, foi o que foi (e vou parando por aqui senão sai outro review) e quem se aventurar pelos quadrinhos do morcego hoje vai se deparar com um cenário muito diferente e, de certo modo, tão arraigado em seus objetivos quanto o filme - para o bem ou para o mal.

Mas quer saber? Batman R.I.P., a nova e polêmica saga, periga ser a melhor coisa publicada do herói em anos.

Antes do lançamento, Grant Morrison, recordista olímpico dos 100 metros de autopromoção, se esmerou no hype. Afirmou em entrevista ao CBR que faria com o Batman "algo pior que a morte" e que seria o fim da era Bruce Wayne como o cruzado encapuzado. E ainda falou mais um monte por aí, desmentindo algumas e se abstendo de outras. Seja como for, o arco, que está agora em sua 4ª parte (Batman #679), pode até não ser uma megaprodução, mas demonstra claramente porque Grant Morrison é Grant Morrison e não um Jeph Loeb qualquer.

Leitura instigante, com climão de labirinto conspiratório e uma boa dose de suspense. É quase uma nova forma de desconstruir/demolir o personagem por dentro a partir de elementos tradicionalmente "intocáveis". Afinal, não é todo dia que vandalizam o bom nome da família Wayne.

Spoilers à frente!


Martha e Thomas Wayne, os pais de Bruce, retratados como junkies, alcoólatras e freqüentadores de orgias. O pequeno Bruce seria fruto do adultério de Martha com Alfred Pennyworth (sempre o mordomo!). A suspeita de que Thomas teria forjado sua morte e agora seria quem puxa as cordinhas do submundo de Gotham. Esse pacote inflamável enfureceu muitos críticos e fanboys, mas até o presente momento teve seu lugar e motivações dentro do contexto. Certamente, grande parte é apenas armação de vilão recalcado - o problema é que este vilão em particular parece ter acesso total aos segredos de Bruce. Mesmo a sua suposta identidade soa tão bombástica quanto improvável, visto que ele alega ser o próprio Thomas.

Mas nada pode ser descartado ainda, já que Morrison, perversamente, brinca com as possibilidades. Ao mesmo tempo em que sugere que tudo pode ser obra da mente depauperada de Bruce (elemento citado pelo roteirista quando comentou o fato de que o herói vive toda essa loucura desde os anos 30), ele também faz questão de mostrar que se trata de um pesadelo bem real.

A trama é focada no retorno do misterioso Black Glove, o "keyzer soze" que tentou assassinar o morcego no arco League of Heroes, também de Morrison. Sem sair das sombras, ele reúne o perigoso Clube de Vilões, que aparenta ser liderado pelo Dr. Simon Hurt. Não fica claro se Hurt é o Black Glove - o verdadeiro antagonista do Batman aqui, considerando que o Clube oferece ameaça real apenas aos bat-sidekicks. Mas pelo andar da carruagem, eu já tenho o meu suspeito principal.

Após o jump >>


É Jezebel Jet, a bela namoradinha do herói. Vários indícios saltam aos olhos (a primeira a receber um contato do Black Glove; esteve presente no momento do colapso mental de Bruce; convenientemente saiu de cena ao ser capturada; perfeita demais pro sempre trágico Darcnaite). Contudo, são pistas óbvias demais, o que contraria a única qualidade totalmente indiscutível de Morrison: ele pode ser tudo, menos datado. Quem em sã consciência poderia imaginar, p.ex., que Xorn era o Magneto (estou avaliando imprevisibilidade aqui, não bom senso)? Essa busca pelo ineditismo e soluções inesperadas é justamente o que dá o tom principal de Batman R.I.P. E nesse quesito, como diria Marcelo Nova, o passado é o futuro, baby.

O Clube representa não só mais um trampo arqueológico absurdo de Morrison (é composto pelos arquiinimigos do velhuscão Batmen of All Nations!), como também uma de suas maiores obsessões: a Era de Ouro.

O próprio visual do bando parece ter sido inspirado na False Face Society, organização criminosa que o morcego enfrentou em Batman #152 (dez/1962). Curiosamente, seu líder mascarado se revelava ninguém menos que o Coringa. Um modelo a ser seguido? Meu palpite é que não, considerando que o palhaço (que, por sinal, está parecendo um primo do Marilyn Manson) já tem uma função bem definida no arco.

Toda essa gana para encaixar o passado camp/infantil/psicodélico/doidaço do velho Batman na dinâmica atual foi provavelmente o maior guilty pleasure de Morrison ao escrever a saga. E prepara o terreno para a punchline não só da edição #678, mas também do arco e, se bobear, da década inteira.


O Batman de Zur-En-ArrhNão dá pra ser mais rebuscado que isso.

Sem dúvida, é o carro-chefe da fixação cinqüentista de Morrison em R.I.P. Enxerto inacreditável de Batman #113 (fev/1958), história Batman -- The Superman of Planet X! (haja maconha, Senhor), onde o morcegão é teleportado para o planeta Zur-En-Arrh e ganha poderes ao melhor estilo Superman. Lá ele conhece um Batman wannabe alienígena que se inspirou nele para defender a justiça em seu mundo. A idéia de revisitar esse passado negro (ou seria colorido?) em tempos de Coringa do Heath Ledger e após oitocentas Crises só poderia ser feito do jeito que foi: tudo não passava de uma indução ilusória na cabeça de Bruce.

A palavra-gatilho "Zur-En-Arrh" foi criada pelo Dr. Hurt para "desligar" a persona-Batman de sua psiqué. Ao mesmo tempo, Bruce, antecipando um eventual atentado psicológico (claro!), criou uma identidade-backup, que é o Batman de Zur-En-Arrh. Infos cedidas pelo infame Batmirim, também resgatado do limbo pré-Crise - aparentemente, o Mxyzptlk do morcego aqui é apenas um agente de racionalização criado pelo herói. Em outras palavras, um grilo falante.

É certo que antes dessa invocação retrô ante-diluviana, poucos compreenderam de cara o significado de certas cenas (os que entenderam ou são freaks ou já estão quase comendo capim pela raiz... dá um tempo!). Ainda mais flutuando soltas dentro da costumeira narrativa fragmentada de Morrison, este David Lynch dos quadrinhos. Ou seja, Morrison é quadrinho que demanda mais que meras folheadas, o que é uma virtude e também um problema. Por mais que seja enriquecedor para o texto e ocasionalmente divertido para o leitor, não é sempre que bate a disposição de sair por aí à cata de referências (é ou não é Alcofa?!). E o Morrison faz todo o acabamento do roteiro em torno disso.

A propósito, não estou acompanhando nenhum tie-in. Com Secret Invasion e agregados já sobrecarregando o sistema (neurológico), é humanamente impossível pra mim. Fora que ainda estou com o bat-radar em frangalhos desde a minha incursão em World War Hulk. Santos caça-níqueis, Batman!


A arte de Tony Daniel é competente, mas não surpreendente. Gostei do novo Batmóvel à Aston Martin (não é nenhum Tumbler, mas...). E as capas variantes de Alex Ross são um show à parte. Fazia tempo que o "Capitão Marvels" não se apresentava tão bem em séries regulares.

Fica a expectativa para próxima edição - que está me parecendo muito, muito divertida - e a resolução da trama que está sendo vendida como "definitiva" na trajetória do morcego. Com dois arcos subseqüentes já engatilhados (um de Denny O'Neil e outro de Neil Gaiman!), tudo indica que o velho cruzado vai mesmo passar o capuz adiante - e, quem sabe, finalmente assumir a posição da sua contraparte na série Batman do Futuro. Ao meu ver, não seria nada mal. Mas duvido que dure.

Ps: Grant Morrison deve ter pirado com o trailer de Batman: The Brave and the Bold!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

UM HERÓI BOM PRA CACHORRO


É, dessa escapamos. O editor executivo da Marvel, Tom Brevoort, revelou em seu blog a quase-produção de uma série animada do Demolidor nos idos de 1983. Na época, havia um certo hype em torno dos quadrinhos na grande mídia (mas nada comparado ao que ocorre hoje) e a rede ABC quis capitalizar a onda. Logo a network iniciou as negociações com a Marvel para um cartoon do Homem $em Medo a ser exibido nas manhãs de sábado.

Na premissa original, Matt Murdock sofria uma série de mudanças para se enquadrar na telinha. E seus cabelos, agora negros, eram só o começo. Para combater o crime, o advogado ganhou dois sidekicks: sua sobrinha adolescente e seu destemido supercão-guia Lightning ("The Super Dog"!). Juntos, os três enfrentavam as forças do mal em uma van superequipada. Contudo, como o próprio Brevoort chegou a questionar, quem ia dirigir a tal da van? O cego, a "dimenor" ou o cachorro?

O irônico é que essa proposta PG-0 do vigilante chegava numa época em que seus quadrinhos andavam mais violentos do que nunca, via Frank Miller. O rumor que correu nos anos seguintes era de que o projeto foi cancelado devido à capa de Daredevil #184, que trazia o Demolidor apontando uma Magnum .357 para a cara do sossego.


"É, amigo, tenho que admitir... eu tava com o pavio curto"

Na edição, o herói baleava ninguém menos que o Justiceiro. Reza a lenda que isto espantou a alta cúpula yuppie da rede, que pulou fora. Mas segundo Brevoort, a verdade é que houve uma grande reestruturação interna na ABC - coisa comum na área - e todos os projetos de equipes anteriores foram descontinuados.

Já o roteirista Mark Evanier afirma que chegou a escrever o piloto e o conceito da série. Ele lembra que o cão não tinha qualquer poder, funcionando mais como uma Lassie do herói. E que posteriormente a NBC demonstrou interesse pelo desenho, mas que não foi adiante devido às restrições de redes em adotar projetos já descartados pela concorrência.


Já pensou, um Demônio "camp", ao melhor estilo Superamigos?

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

SURPREENDENTES MESMO


Indo direto ao assunto: estou viciado em tudo o que é desenhado pelo John Cassaday. Sim, eu já conhecia, já o reverenciei aqui, mas acho que só agora a parada bateu pra valer. Provavelmente aquele espetacular quase-final de Planetary teve algo a ver com isso. Talvez tenha ativado algum gatilho subconsciente de apreciação artística, sei lá. Só sei com certeza que neste momento sou capaz de ler e reler até os guardanapos que ele rabisca e joga fora. O cara devia mudar o sobrenome pra Crackssaday. Não usei o termo "viciado" à toa. Não mesmo.

Semana passada, decidi quebrar meu auto-exílio de edições nacionais dos mutantes. Mais de dez anos sem comprar nenhuma das revistas mensais dos X-Men. A causa era nobre: o buffy Joss Whedon e mr. Cassaday estavam devolvendo emoção e dignidade aos combalidos heróis em Astonishing X-Men, um primoroso seriado em quadrinhos, cuja primeira temporada me foi apresentada "em primeira mão" pelo surpreendente Fivo (valeu, tricolor!). Após uma segunda temporada ainda mais embasbacante, me senti na obrigação de ter estas jóias em meu poder!

Comprei a edição atual e fui caçar as atrasadas no sebo. Logo de cara, ensacolei a primeira fase completa (X-Men Extra #46-57), entre outras coisas - com a sagrada putaria periódica inclusa. Beleza, doze edições tinindo com Astonishing e umas bobagens ignoráveis (Excalibur, Exilados) a R$ 2,50 cada. Trintão saindo do bolso de um novo e feliz proprietário da etapa inicial de Whedon-Cassaday's Astonishing X-Men. Já estava planejando o investimento na segunda fase.

Mas eis que na semana seguinte (esta!), a Panini Comics divulga o checklist de agosto...


O horror... o horror... agora entendi o porque do "supreendentes". Eu fiquei surpreendido. É a Pixel fazendo escola.

Sabe, não é tanto pelos trinta dinheiros que escorregaram automaticamente pela sarjeta. É uma questão de espaço físico, hoje quase inexistente aqui. Cá estou eu novamente com mais um calhamaço de revistas empilhadas sem destino/propósito.

...

Tsc. A quem estou querendo enganar? É pelos trinta dinheiros mesmo.


Damn!

Aproveitando o assunto sobre encadernados mutunas...


Os Maiores Clássicos dos X-Men - Vol. 5 traz a fase da equipe X com o grande Neal Adams e roteiros dos também imensos Roy Thomas e Dennis O'Neil. O estilo inconfundível de Adams ainda soa visualmente sofisticado (um show de ângulos à parte) e todos estes anos só realçaram a extensão de sua influência. Sem dúvida, ele inspirou muita gente boa. O jovem Bill Sienkiewicz - aquele, de Cavaleiro da Lua - que o diga.

Mas o que me instigou a comprar mesmo foi a capa clássica (justamente homenageada por John Byrne em X-Men #135). Não sei bem o porque, mas se quiser chamar a minha atenção é só estampar o Monolito Vivo esmagando alguma coisa. Adoro um bom kaiju e golems quase tanto quanto quadrinhos e supervilões, então acho que é por aí. Ainda mais com a arte elegante de Adams turbinando a coisa toda com imagens monstruosamente fodas, de cair o queixo.

O lado ruim é que a referida história começa já em sua metade final (X-Men #56, maio de 1969), já que a edição anterior contava com outro artista. E também o fato de que o vilão só aparece em seu estado über-large em parcas 4 páginas. Não chega a diminuir a 'imperdibilidade' da edição - principalmente pra quem desenha a sério -, mas também não desbanca a melhor história do Monolito Vivo já escrita.

Aquela sim, um kaijuzão pra Gojira nenhum botar defeito.