quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Zombie de Ouro 2020


Ah, 2020... um ano tão lazarento que não merecia sequer um Zombie de Ouro.

Entre meus planos mais modestos e pueris estava a confecção de um ZdO a prazo, na carona dos Retrospecs mensais. Mas até isso foi pelo ralo, atropelado pelo grande esquemão se-vira-nos-30 que virou a ordem do dia no pós-Carnaval. Não foi brincadeira. Sou mais um a fazer parte dessa massa e termino o ano pior do que comecei, tanto social, quanto profissional, quanto financeiramente.

A incógnita de 2021 já esmurra a porta e é surreal pensar que entre todas as atrocidades do atual governo, o sucateamento da cultura brasileira (que entrou, literalmente, numas Frias) é o menor dos males. Se observar os Retrospecs em perspectiva, dá pra ver claramente minhas energias se esvaindo até a derradeira edição, de outubro.




Apesar dos pesares, confesso que foi viciante fazer essa série de posts. E ainda estou na fase de abstinência.

Mas fora as razões já comentadas, o próprio formato frequentemente se revelava um instrumento de tortura medieval geek/nerd ("comento essa notícia bombástica agora ou seguro até o final do mês, quando ninguém mais dá a mínima?", "revisão de fechamento do mês: apaga essa informação que foi desmentida, essa também, e aquela outra, etc"). Então, provavelmente devo tentar algo mais dinâmico e flexível, como um BZ News em pequenos drops ou algo assim. Afinal, em 2021 precisarei de todo o dinamismo e flexibilidade disponíveis se quiser seguir com essa brincadeira aqui.

Música, filmes, séries, quadrinhos, livros? Quem tem o menor resquício de empatia, solidariedade e instinto de sobrevivência consumiu o máximo que pôde. Consumimos muito. Isso graças aos abnegados artistas, técnicos e criadores, que, se estivéssemos numa realidade justa, estariam agora alçados à categoria de salvadores da humanidade.

Neste ano, não passei um dia sequer sem recorrer aos seus valiosos talentos. E agora vámonos, cabrón!

One – Two – Three – Four!



Discos que mais ouvi


Nas primeiras audições de Quadra, lá no início de 2020, pensei com meus patches do Overdose: "sem chance de alguém bater o Sepultura esse ano." E, de fato, Quadra é o grande álbum de metal de 2020. Não só é o auge de Derrick Green como vocalista, como Top 5 imediato na já extensa discografia do grupo. Um feito do incansável e brilhante músico Andreas Kisser com um providencial "tapinha" do prodígio Eloy Casagrande – simplesmente um dos melhores bateristas em atividade do mundo. Espetacular.





Nunca fui o maior entusiasta da música do Bob Mould pós-Hüsker Dü. Com algumas exceções, lirismo demais e porrada de menos. O que mudou bastante no balaço Blue Hearts, cuja velocidade, barulheira e contestação em vários momentos remete ao inesquecível power trio de Minnesota. Claro, também tem seus momentos mais Sugar, com uma ou outra balada punk, pra descansar as zoreia. Aí sim.





Impressionante como o Body Count segue tão urgente e necessário quanto quando surgiu, há 30 anos. Ainda mais em tempos como esses, com aberrações fascistóides, George Floyds e vítimas da pandemia brotando aos montes a cada esquina do planeta – cenário fértil para o ataque frontal de Ice-T, Ernie C & Cia. Body Count's still in the house...





Para usar um dos termos de 2020, achava que o Run the Jewels já havia atravessado seu platô artístico. Ledo engano. RTJ4 está pau a pau com o brilhante Run the Jewels 2 (2014), mesmo reeditando parte daquela fórmula em vários momentos (convocaram até o rage Zack de la Rocha novamente). Os beats são uma tijolada, os raps certeiros e os samples cuidadosamente selecionados – aquela guitarrinha da "Ether" (Gang of Four) em "The Ground Below" ainda soa inacreditável. Tudo está no seu lugar. Graças a Deus.





Inesperado jogo de volta do Mr. Bungle. Em The Raging Wrath of the Easter Bunny Demo, Mike Patton, Trevor Dunn e Trey Spruance recrutam os medalhões metálicos Scott Ian e Dave Lombardo para uma regravação de uma (dã) demo homônima de 1986. Então, nada daqueles grooves jazzy-Zappísticos do Sêu Bãngou: o negócio aqui é total crossover thrash veloz, furioso, estúpido e divertidíssimo. Partyporradaria do início ao fim!





Entendi lhufas quando as Savages entraram num hiato em 2017, mesmo com dois discos sensacionais e aclamação de crítica e público (cult, mas ainda público). Eis que finalmente chega o debut solo da frontwoman Jehnny Beth e as coisas ficam um pouco mais compreensíveis. O caleidoscópio sonoro de To Love Is to Live é maior que a vida: tem estilhaços pós-punk da antiga banda com ejeções de som industrial e eletrônica minimalista. Muito disso, talvez, devido à lista de notáveis na produção (de Flood ao Atticus Ross) e, claro, à inquietude conceitual da cantora-performer. Um impactante reinício.





Apesar das presepadas, o Grammy acertou em cheio ao indicar Have You Lost Your Mind Yet? como o "melhor álbum de blues contemporâneo". Poucos artistas conseguem transportar aquele feeling roots para o contexto pop atual com tanta classe, fluidez e naturalidade quanto Fantastic Negrito. Além desse discaço, esse ano ele também lançou um EPzinho matador (Black Roots Music), mostrando que nem talento, nem inspiração são problemas. Negrito já figurou no Zombie de Ouro com o excelente álbum anterior e deve seguir figurando sempre que lançar algo novo. Grammy quem?!





Com o Afghan Whigs na geladeira desde a passagem do guitarrista Dave Rosser em 2017, cacei a estreia solo de Greg Dulli com tanta fome que parecia até que o cara estava me devendo grana. E felizmente, não me decepcionei. Numa pegada mais intimista e atmosférica que o habitual, Random Desire demonstra a fluência do cantor/guitarrista em sotaques soul e r&b com melodias doces e evocativas. Como diria Athayde Patrese, "simplesmente um luxo!"





Não queria estar nos sapatos (ou segurando o violão) de Stephen Malkmus. O gênio por trás do ícone indie Pavement sempre será cobrado por um alto standard. Que, humildemente, acho que Traditional Techniques cumpre com louvor. Poucas vezes ouvi um folk moderno tão envolvente e imersivo. Barato garantido.





The Makarrata Project é o 1º álbum do Midnight Oil após um gap de 18 anos. Só por isso já merecia uma menção honrosa, mas o disco também calha de ser fantástico e traz tudo o que fez do Midnight uma banda tão especial. A gravação é cheia de participações de artistas aussies, sendo alguns de ascendência aborígene – o que está diretamente relacionado às questões sociopolíticas que permeiam todas as faixas. Mais atual, impossível. Um registro pungente e emocional.





Foi primeira vez que ouvi a música de Chris Stapleton e devo dizer que fiquei deveras impressionado (e ele deve estar ainda mais, já que faturou um Zombie de Ouro logo de cara!). Starting Over é o quarto registro do cantor e guitarrista do Kentucky e é, digamos asism, um discaço de country. Ou melhor, um blend bem servido de country, bluegrass, southern rock e classic rock. Se sua "xícara de chá" for Allman Brothers, Lynyrd, Glenn Hughes, os Book of Shadows do Zakk Wylde, etc, pode ir sem medo. E cá pra nós... que vozeiraço!





Voivodes me mordam se V não é o melhor álbum do Havok. O quarteto do Colorado já passou por tantas mudanças de formação que é um milagre a fórmula não ter diluído. E ainda foi melhorada. As pancadarias thrash são um arregaço, mas a banda brilha mesmo quando se entrega à sua notória influência de Voivod com todas as suas progressivices sci-fi dissonantes. Rrröööaaarrr!





Heaven to a Tortured Mind é um compêndio envolvendo música lo fi, trip-hop, neo-psicodelia, rock, funk e soul. Todos juntos, amalgamados e shallow now. A deliciosa bagunça é obra do cantor e multi-instrumentista Sean Bowie, nome civil de Yves Tumor. Não dá pra saber ao certo o que se passa na mente torturada do Tumor. Só sei que é qualquer coisa de genial.





Speed Kills, do quinteto britânico Chubby and the Gang é punk 77 pra quem precisa de punk 77. E com uns goles de pub rock (Dr. Feelgood é meu pastor e nenhum chope me faltará). Esporros ultravelozes de um minuto e meio é tudo que precisamos!



Menções honrosas:

Live Forever, do promissor Bartees Strange
Throes of Joy in the Jaws of Defeatism, do Napalm Death
DSM-5, do Blood from the Soul (projeto do Shane Embury)
Fantasize Your Ghost, do ousado duo feminimo OHMME
Outlaws, dos veteranos do hard-de-boteco Rose Tattoo
Strange Lights Over Garth Mountain, da irretocável violonista Gwenifer Raymond (chega a lembrar a saudosa violeira Helena Meirelles)
Forgotten Days, do Pallbearer (o doom mais bonito de 2020)
Visions of Bodies Being Burned, do rapper clipping. (falta isso aqui pro cara acertar a boa)
Weapons of Tomorrow, do Warbringer (o melhor disco de thrash metal puro do ano)
Cycle of Suffering, do grande Sylosis
Optimisme, do Songhoy Blues (sensacional desert blues made-in-Mali)
Cocaine and Other Good Stuff, do Warrior Soul (álbum de covers com uma seleção divertidíssima, mesmo com a produção home studio tosca e o vocal completamente detonado do Kory Clarke)



Sessão de cinema (em casa) do ano


O ano foi generoso. Druk (o Another Round, de Thomas Vinterberg), His House (de Remi Weekes), Last and First Men (de Jóhann Jóhannsson), The Devil All the Time (de Antonio Campos) e Relic (de Natalie Erika James) seriam presenças obrigatórias na minha lista a qualquer tempo. Mas em meio a esses e tantos outros, fico com uma pequena grande produção japonesa de 2017: o surpreendente Plano-Sequência dos Mortos. Ou, em inglês, One Cut of the Dead. Ou, no original カメラを止めるな! (Kamera o Tomeru na!, literalmente, "Não Pare a Câmera!"). Não dá pra comentar muito sem estragar a experiência, mas o filme escrito e dirigido por Shin'ichirô Ueda é bem mais que um filme-de-zumbi-com-câmera-na-mão. É uma genuína e comovente declaração de amor ao cinema como há muito não via. Memorável.

Ps: valeu pela dica, rock4you!



Momento(s) do ano


O final da 2ª temporada de The Mandalorian, óbvio. Só acrescentando que o combo Fatality Luke-capacete-R2-elevador tem barrinha de energia infinita. Verei em 2040 e meus olhos ainda vão marejar.



A temporada final de She-Ra e as Princesas do Poder foi apenas satisfatória, mas cumpriu o prometido e também o não prometido. Catra/Felina (numa bela dublagem da atriz AJ Michalka) é uma das personagens animadas mais complexas e fascinantes dos últimos tempos. E o trabalho da quadrinhista Noelle Stevenson (de Lumberjanes e Nimona) na recriação daquele universo foi absurdamente instigante, grandioso, sagaz e um gigantesco salto para a inclusão e a diversidade dentro da cultura pop. Tudo pontuado, claro, pelo antológico momento Catradora – algo que, confesso, nem sonhava antes do derradeiro episódio duplo, mas agora faço coro: "Catradora é ca-non! Catradora é ca-non! Catradora é ca-non...!"



Série animada subestimada do ano


Essa é fácil: Hilda, uma adorável e divertida adaptação das graphic novels do cartunista britânico Luke Pearson. Lembra um mix de Coraline, Peanuts, Calvin e Harry Potter. O estilo de animação parece um gibi em movimento, as histórias trazem alegorias belíssimas e um subtexto de psicologia infantil extremamente evocativo. A trilha é repleta de artistas indie – o chicletudo tema de abertura é assinado pela Grimes. Até agora saíram duas temporadas pela Netflix e um longa está sendo produzido para o ano que vem. E aí acho que acaba, visto que não terá mais material nas HQs pra adaptar... :´(



Quadrinho do ano


Sapiens: O Nascimento da Humanidade estava na boca do caixa, mas Berlim, de Jason Lutes, foi quem fechou a conta e passou a régua. É quase impossível ler essa obra e, ao fim da experiência, não se sentir mudado de alguma forma – além de assombrado pelas circunstâncias perturbadoramente familiares. Clássico quase instantâneo (começou a ser publicada em 1996). A edição nacional pela Veneta era uma aquisição prioritária, mas a estarrecedora falha de encadernação adiou meus planos. Por pouco tempo...


That's all folks!


Dicas, sugestões & discordâncias na caixa de dicas, sugestões & discordâncias. Agradecemos a preferência.



Pós-créditos

2020 foi um ano tão fidumarapariga que até meu Thanos com a Manopla do Infinito sucumbiu ante uma reles espanada cósmica.

Trágico.



Pelo menos agora o Vader vai ganhar a Guerra!


Adaptação é o que há. Que tal isso como macete pra 2021?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O retorno dos reis

Peter Jackson liberou uma montagem/prévia de The Beatles: Get Back, com lançamento previsto para 27 de agosto de 2021, via Disney. O doc trará material extraído de 56 horas (!) de filmagens nunca exibidas, confirmando que o baú de inéditas Fab Four é, sim, um poço sem fundo.


Impressionante o nível de preservação do material. Parece que foi gravado semana passada. Acervo histórico, for sure. Imperdível para beatlemaníacos ou, simplesmente, para admiradores de boa, excepcional música.

Aliás, no início do ano, pela 1ª vez, fiz uma maratona cuidadosa pela discografia dos garotos e, pasmem terráqueos!, eles eram realmente impossíveis. A cada disco avançando a passos largos rumo à excelência técnica, lírica & melódica, ficava imaginando a cara do Brian Wilson quando os ouvia na época.

Só que, assim: ainda prefiro os Stones. Mas é porque sou um tosco que gosta de tomar uma ouvindo "Can't You Hear Me Knocking". Ic!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

"Você viu o nascer do sol esta manhã?"


Com essas palavras, levei minha primeira porrada com uma série de tevê. E, quem diria, foi num episódio de Magnum.

Pra situar: na primeira metade dos anos 1980, os seriados americanos – chamados carinhosamente de "enlatados" – eram uma alternativa salvadora ao bandejão de novelas e filmes das décadas de 1950/60/70 reprisados ad nauseum. Em sua maioria, elas tinham uma pegada bem-humorada, sem grafismos ou nada parecido, mas ao menos eram relativamente atuais. E estamos falando de um gap de 1 ano entre o lançamento nos EUA e aqui. O que era inacreditável para aquela época. E inacreditável para esta.

Então, tinhamos lá a nossa cota de Carro Comando, CHiPs, A Super Máquina, Esquadrão Classe A, Duro na Queda, etc... E Magnum. Em comum, todas protagonizadas por heróis no sentido mais clássico da palavra. O Magnum de Tom Selleck era o exemplar perfeito. Detetive particular, festeiro, malandro, mulherengo, um bon vivant com sua coleção de camisas havaianas estoura-retina e eventuais arranhadinhas na quarta parede. Mas também dono de uma extensa ficha militar com seus anos servindo nos Navy SEALs. O cara era durão, mas sem perder a ternura.

Em suma, um genuíno all-american hero, com um inabalável código ético e moral como só os marketeiros yankees sabiam vender. E eles sabiam. Ah, sabiam.

Apesar da linha de trabalho, Thomas Sullivan Magnum III era a quintessência do sujeito boa praça que não media esforços para ajudar um amigo. E que jamais, jamais, daria o primeiro tiro. Aliás, isso era o versículo 0 da Bíblia dos enlatados: leve a justiça, não a execute.

E assim, Magnum seguiu +/- familiar até o episódio duplo que abre a 3ª temporada, "Did You See the Sunrise?". Escrita por Donald P. Bellisario, produtor e co-criador da série, a história traz Magnum e seu velho amigo T.C. (Roger E. Mosley) às voltas com o ardiloso Ivan (o ótimo Bo Svenson), um coronel soviético que fez a dupla comer o pão que o diabo amassou durante a Guerra do Vietnã. Ao final de uma turbulenta trama ao melhor estilo The Manchurian Candidate, Magnum parecia pronto para conduzir Ivan até a mão firme da justiça.

Ou assim pensava aquele molequinho em frente à TV.


Uma cena excepcional até hoje.

Não que Ivan não merecesse – fora tudo o que aprontou, ele ainda foi o responsável pela morte brutal do simpático Mac (Jeff MacKay), que estava na série desde o início. Mas lembro vividamente como foi caótico processar isso que foi uma subversão de tudo que era feito no segmento até então. Era como o primeiro tiro de uma guerra.

E o famoso tema da série, quebrando a crueza da conclusão com seu clima upbeat ensolarado, dava o toque surreal...

Hoje, anos depois de Jack Bauer normatizar esse tipo de coisa umas 35 vezes/episódio, soa até trivial, a despeito do Selleck no modo sangue-nos-olhos. Mortes causadas por um herói a sangue frio-subzero simplesmente não existiam nesse formato. Não ainda. Miami Vice só estrearia dois anos depois. O Homem da Máfia, cinco. E nenhum destes tinha um good guy.

O episódio ganhou uma espécie de cult following ao longo dos anos. Bellisario ainda se diverte ao comentar o impacto da cena.

Magnum podia ser uma das séries mais assistidas, mas não das mais comentadas. Naquela semana, tudo mudou. Pra sempre.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Fogo Contra Fogo, 25 anos

Hoje é aniversário de Heat, não só o melhor filme do Michael Mann, mas um dos melhores filmes de todos os tempos.


O assalto ao carro-forte, a virada pra cima dos investigadores, O Grande Encontro, a mais espetacular sequência de tiroteio da história do cinema, o acerto de contas... Tudo bem orquestrado, orgânico, climático e com pretensões altas, mas pragmáticas. Uma aula de diálogo, narrativa e construção.

E, Mann de Deus, é uma daquelas oportunidades únicas para observar um elenco em estado de graça – e incluo aí até mesmo o Machete Danny Trejo. Isso pra não falar dos próprios Pacino e De Niro, "duas forças da natureza em rota de colisão" numa época em que essa possibilidade parecia virtualmente impossível.

Naqueles dias, nem imaginava que o longa era um remake de um telefilme que o próprio cineasta fez para a NBC seis anos antes. Só sei que saí do cinema completamente torto. Havia sido atropelado. E ninguém anotou a placa do clássico.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A Lenda fica – e o Homem também



Richard Corben
(1940 - 2020)

Se vai Richard Corben, um gigante da ficção científica, do terror e da fantasia. Confesso que preferi esperar um pouco até uma confirmação mais, digamos, oficial. E ela veio, implacável, pela declaração de sua esposa, Dona.

Não é à toa que a notícia só veio alguns dias depois. Com uma vida reservada e de poucas fotos (com aparições em vídeo ainda mais raras), Corben poderia facilmente ter sido o Terrence Malick dos quadrinhos, não fosse uma diferença básica: a carreira tão prolífica quanto longeva. Desenhista, pintor, colorista, roteirista, animador, escultor, um artista completo que tinha entre seus admiradores gente como Alan Moore, Moebius, Robert Crumb, Neal Adams, Druillet e Will Eisner.

É de Corben a 1ª história da 1ª edição da Heavy Metal. Histórico é pouco. Não tenho nenhuma dúvida da sorte de estar aqui no tempo de vida desse mestre. Bem como o fato de que obras memoráveis como Hellblazer: Inferno na Prisão, Banner e Luke Cage MAX não seriam as mesmas sem ele.

E, claro, é sempre bom ter um vislumbre de humanidade em um gênio assim. Sejam nos preciosos momentos em família, sejam nas mesmas dúvidas que todo mundo tem em certo ponto da vida.

Segue um trecho de uma ótima entrevista para a Heavy Metal do Corben quarentão em 1981:
"A maior tragédia da vida é que você não tem sua sabedoria e sua juventude ao mesmo tempo. Quando passei dos trinta, não me incomodou muito, mas passando dos quarenta, estou pensando mais sobre isso. Chegou a hora de fazer uma lista de todas as coisas que você quer fazer da sua vida e depois começar a fazer, porque do contrário será tarde demais. Coisas que eu não consegui alcançar antes, eu me esforço ainda mais. Estou disposto a arriscar mais porque é agora ou nunca!"

Duvido que aquele moleque lá do início teria se decepcionado.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

S. Toppi e as Aventuras de uma Criminóloga


Parece que foi ontem, mas a antológica J. Kendall - Aventuras de uma Criminóloga #11 foi publicada pela Mythos há longínquos 15 anos. Na história "Repouso Eterno", a irresistível bonequinha de luxo/especialista forense Júlia Kendall (bem vinda!) investiga um pavoroso assassinato em uma casa de repouso da fictícia Garden City.

Menos é mais, porém não resisto a comentar que são três subtramas em paralelo. Pessoalmente, não consegui antecipar aquele final nem com meus chutes mais mirabolantes.

"Repouso Eterno" ainda vai além do roteiro sempre inspirado de Giancarlo Berardi: a HQ é marcada pela arte do genial artista milanês Sergio Toppi. Foi uma daquelas ocasiões, por assim dizer, de rara beleza.

Apesar de já ter feito um Martin Mystère aqui e um Nick Raider acolá, Toppi aceitava essas empreitadas mais pela amizade que tinha com o Sergio Bonelli. 300 páginas de um Texone então, nem pensar.

O que é totalmente compreensível.

Como visto nos inebriantes volumes de Sharaz-De, Toppi e o formato limitado de uma publicação convencional – fumetti ainda – não poderiam soar mais dissonantes. Então, essa é uma experiência imperdível tanto por ser Toppi-desenhando-Júlia como pelo exercício de estilo fora de sua zona de conforto.

E um senhor objeto de estudo para qualquer um que se atreva a segurar um lápis com pretensõezinhas supostamente criativas.



Uma maravilha em dosagem (quase) controlada.

Ainda assim, é duro ver um maestro do calibre de Sergio Toppi criminosamente negligenciado no Brasil. Em que pesem os heroicos esforços da Figura Editora, sua bibliografia lançada até aqui ainda é anêmica. O pior é que material compilado em alta definição não falta: a editora francesa Mosquito vive publicando Toppi – piscou, lançou outro álbum. Então não vejo muita explicação que não seja aquele velho amadorismo endêmico que tanto nos queixávamos até... ontem.

Não é, Mythos?

J. Kendall - Aventuras de uma Criminóloga #11 está sendo republicada em formato italiano na série limitada Júlia - Aventuras de uma Criminóloga (já sartando das amarras autorais envolvendo o nome). Porém, num olé monstro que a Mythos aplica em si mesma, Toppi não é sequer mencionado na pré-venda da loja virtual, nem no blog e nem em suas redes sociais. Conferi agora e não tem nada, nadinha.

Júlia-gibi é um troço absurdo. Metanfetaminicamente viciante. Quase impossível largar antes de terminar. Pelo Toppi, então... Um negócio desses era para ser alardeado desde o início do ano. Ou da série. Mas nem tentaram. Estratégia de marketing do mínimo esforço possível.

Como problema pouco é bobagem, não é de hoje que a Mythos tem sérias questões com a qualidade da impressão de seus títulos. Isso era para ter sido sanado nos relançamentos em formato italiano (Júlia, Dylan Dog), que têm a vantagem do miolo em papel offset, mas não foi bem isso que vimos ultimamente.

Ainda assim, não deverá ser pior que a versão anterior, impressa em pisa-pobre numa HP achada no lixão e recondicionada.




Assassinaram sem dó o magnífico chiaroscuro do Toppi. Sad face aqui, por favor.

Aliás, nerd leitor teimoso que sou (já fui mais), fico martelando como seria tão melhor se essa história fosse publicada na Júlia Graphic Novel. Toppi equivale a exatos 10 gazilhões de Antonio Marinetti (titular do nanquim no 1º volume). E assim a qualidade editorial, de impressão e tudo o mais estariam assegurados na jurisdição Prime Edition – afinal, algo tem que justificar aquele infame hot stamp dourado/licença para matar o bolso alheio.

Mas desconfio que a redação da Mythos esteja mais empenhada em outros assuntos. Azar o meu.

Seja como for, sempre terei a Júlia. E as hilárias justas entre ela e o Webb.


Papo antigo...

domingo, 22 de novembro de 2020

Crônicas do compactador de lixo

Que Star Wars nem sempre viveu de spin-offs do nível de Clone Wars e Rebels até minha avó sabe. E que Star Wars Holiday Special, a produção televisiva de 1978, era uma tranqueira ridicularizada até pelos heróis da franquia. O que não tinha era uma noção exata dos pormenores da criatura.

Nesse aspecto, A Disturbance in the Force promete uma autópsia minuciosa...


O doc é dirigido por Jeremy Coon e Steve Koza e ainda não tem data de estreia definida. Mas, como bom louco por histórias de bastidores de produções desastrosas, já quero ver isso pra ontem!

Ah... e feliz Natal para todos, antes que cancelem.



Ops, tarde demais.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O Artista

Não há casa em Game of Thrones tão impiedosa quanto a casa dos 40. Baque geracional é tenso. Não bastasse o absurdo de ver por aí jovens adultos nascidos no século 21 (e se referindo à cultura pop dos anos 80/90 do mesmo modo arqueológico como nos referíamos à cultura pop dos anos 60/70), nos tornamos suscetíveis a uma nova miríade de reflexões. Sem perceber, começamos a atravessar a temível fase de buscar o Significado de Tudo®.

E aí vai um conselhinho na faixa: jamais a subestime. Ainda mais em tempos de quarentena (mesmo meia boca), com todo o tipo de soturnidades que assolam os pensamentos.

Claro que esse longo acerto de contas com o passado tem um espaço generoso reservado à figura paterna. Hoje sou mais um daqueles pobres sujeitos que lacrimejam ao ouvir "Father and Son" (mentira, choro em bicas com ela há pelo menos uns 15 anos). Então, meu coração não poderia ter ficado mais amolecido com o tocante trecho de uma entrevista publicado nas redes oficiais do genial e saudoso Flavio Colin.


Palavras francas e incrivelmente generosas do velho mestre.

E as notas de amarga resignação me trouxeram identificação imediata. Para muitos outros também, imagino. Matutando a respeito, cheguei a lembrar de um momento de Bastidores da Comédia (Comedian, 2002), doc resenhado aqui em tempos idos sobre a volta do Jerry Seinfeld ao circuito de apresentações stand-up. Inclusive, está disponível na Netflix.

Na cena, o humorista iniciante Orny Adams fala das pressões sociais e familiares que sofre por causa de sua carreira artística. O veterano Seinfeld então conta uma história esclarecedora.


Vida de artista cansa. E nem precisa ser artista. Como dizia o Bardo, "o mundo é um palco..."

domingo, 15 de novembro de 2020

Mural da vergonha

Ok, podia colocar a culpa na euforia deste dia de "festa da democracia" e na quantidade obscena de latões de Ecobier matadas logo após o dever cívico (e todo mundo sabe que cervejas ficam 300% mais deliciosas durante a lei seca), mas a verdade é uma só: sou um verme.


Como parte confessa do problema e um maldito corrompido pelo sistema, só me resta apelar a alguns atenuantes.

Os 25% de alívio do último dia da Esquenta Black foram um anzol magnético. E mesmo já possuindo quase todo o material do omnibus na complicada e perfeitinha Os Maiores Clássicos do Quarteto Fantástico, as Marvel Team-Up #61-62 e Marvel Two-in-One #50, inéditas na defunta supracitada, protagonizavam meus pesadelos mais completistas.

Causa e circunstância, seu juiz. Mantido, espero.

Próximo capítulo: "sou uma vítima da genialidade do John Byrne dos anos 80."

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Sextou 13!

Friday The 13th Saturday Morning Cartoon
It's Jason and Friends. What if Friday the 13th, at the height of the franchise’s popularity in the ’80s, had been turned into an animated series for kids? Hey, it was a crazy time. Anything was possible.
Publicado por 𝐕𝐇𝐒 𝐖𝐀𝐒𝐓𝐄𝐋𝐀𝐍𝐃 em Terça-feira, 4 de agosto de 2020

Hora de diversão para toda a criançada!

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Os Velhos Mutantes


Nas HQs, os Novos Mutantes enfrentaram sagas espetaculares e monumentais, mas nenhuma comparada à saga de sua 1ª adaptação para o cinema. Os Novos Mutantes é sério candidato ao hall (hell?) dos filmes com bastidores turbulentos – um seleto clube onde se encontram preservados em carbonita O Portal do Paraíso (1980), Street Fighter (1994), A Ilha do Dr. Moreau (1996), Os Chefões (1996) e Quarteto Fantástico (2015), entre outros diamantes do ego humano. Porém, ao contrário destes, a culpa não é do diretor Josh Boone, mas é das estrelas (ah, essa foi boa, vai): a produção, que teve início oficial em julho de 2017, sofreu mudanças de direcionamento após o sucesso de It, ganhou refilmagens para reforçar os aspectos de terror, foi parar na geladeira após a aquisição da Fox pela Disney, teve vários cortes do estúdio até o derradeiro, em que o cineasta o deixou mais próximo de como foi idealizado originalmente, e sua data de estreia foi adiada só Deus sabe quantas vezes.

Ah, e teve a pandemia.

Amém.

Com esse perrengue todo, surpreende que o filme consiga entregar uma boa horinha e meia de distração – nada que corresponda à expectativa gerada por aquele longínquo 1º trailer, porém. No geral, forma e conteúdo remetem a um típico piloto de série nos padrões atuais.

Um pouco disso é pelo timing há muito perdido para a invasão dos super-heróis pelo streaming nos últimos anos. Outro pouco pelos flutuantes valores de produção sambando pra deixar tudo mais ou menos nivelado. E outro pouquinho pelo roteiro um tanto fugaz, escrito pelo próprio Boone e por Knate Lee, esticando a trama adaptada da clássica Saga do Urso Místico, de Chris Claremont e Bill Sienkiewicz, enquanto atira umas migalhas ao incerto futuro da franquia.

O primeiro terço da história é conduzido por Danielle Moonstar (Blu Hunt), uma jovem nativa Cheyenne que perdeu o pai e todos de sua reserva em um terrível desastre. Acolhida por um abrigo dirigido pela Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga), Danielle descobre que tem o gene mutante e está no, por assim dizer, "desabrochar" de sua mutação (existem metáforas mais sutis). Ela também descobre que não é a única nessa situação: estão lá os internos Rahne Sinclair (Maise Williams), Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), Sam Guthrie (Charlie Heaton) e o brasileiro¹ Roberto da Costa (o brasileiro² Henrique Chagas Moniz de Aragão Gonzaga... ou simplesmente, Henry Zaga). Isso sem contar o mal que começa a rondar poltergeisticamente pelas instalações.


Como se vê, qualquer peso-galo em terror e ficção-científica já consegue matar todas as charadas do filme só de ler esse plot. Nesses termos, quem esperava um êxtase roteirístico vai fechar o app com sensação de punheta/siririca mal batida. Mas Boone consegue temperar bem esse arroz-com-feijão (putz, perdi a fome) e – aí vai a principal qualidade de Os Novos Mutantes – ainda é bastante ajudado pelo competente elenco, mesmo com todas as constrições e a limitadíssima dinâmica do roteiro.

O brit Charlie Heaton (de Stranger Things) faz uma interessante composição de Sam Guthrie/"Míssil", com um sotaque carregadíssimo do Kentucky. A sempre carismática Taylor-Joy se diverte como a arredia Illyana/"Magia", mesmo com a ingrata missão de ressignificar o dragãozinho Lockheed para o filme. Faltou algum sotaque para a russinha, mas aí já é pedir demais. A estreante californiana Blu Hunt foi uma bela surpresa, juntamente com a excelente Maise Williams (Arya!). A química entre "Miragem" e "Lupina" é, fácil, a melhor coisa do filme, junto com as culpinhas católicas da última.

Já Alice Braga, completamente engessada pelo enredo, exercita uma canastrice nunca antes vista na filmografia da atriz nem aqui, nem em Roliúdi. Faz parte. O que me leva ao brasiliense Henrique Ch... digo, Henry Zaga. Mezzo toy-boy, mezzo alívio cômico, o rapaz esteve em meio a uma controvérsia relacionando o seu Roberto/"Mancha Solar" à prática de whitewashing, o que não poderia estar mais longe da verdade.

De fato, seu casting pode ser o início da quebra de um antigo paradigma que retrata brasileiros invariavelmente como afrodescendentes. Ora, sempre fomos a Pangeia II, a Krakoa adormecida. Além de afrodescendentes, somos nativos indígenas, asiáticos, italianos, alemães, árabes, israelitas, acreanos e por aí vai. Aceitamos até argentinos. Lado a lado ou misturados. E vice-versa.

Nitidamente, faltou ao filme uns trinta minutos a mais para desenvolver melhor o cenário. Afinal, esse núcleo tem alguns dos personagens mais ferrados que vejo em muito tempo. Todas as bagagens pessoais ali são pesadaças e tinham um potencial de assalto psicológico nível Trilogia-Corpo-Fechado-encontra-Penny-Dreadful-e-tomam-um-porre-no-Bar-Zeitgeist-2020.

Mesmo o verniz de terror prometido nas promos é tênue, talvez para não assustar a PG-13zaiada. No fim, acaba lembrando uma versão ainda mais diluída de Aterrorizada, aquele John Carpenter light de 2010.



Spoiler devagar, spoiler bem devagarinho

Incomoda ver a Dra. Reyes dando conta sozinha do complexo, de todo o perímetro e de cinco mutantes. Mesmo com seu poder, impraticável. Ainda mais depois que é revelado que o projeto é bancado pelo Nathaniel E$$ex.

Aliás, exterminar uma possível mutante Ômega por representar extremo perigo? Ora, Sr. Sinistro do filme, tire essas fitas pretas que você não merece...


Fim do spoiler devagar, spoiler bem devagarinho


Em que pese a empolgação dos garotos nas cenas de ação e o escopo gigantesco do último ato, a coisa acaba esbarrando no teto baixo do orçamento. Então, tirando por menos a montagem enche-linguiça e a falta de traquejo do diretor com a pancadaria super-heróica, posso dormir tranquilo após afirmar que o quebra final é satisfatório.

E que o Urso Demônio é quase aquilo que sonhei em adoráveis pesadelos sienkiewiczianos...

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

O pai da invenção

Esquadrinhar a vida, a obra, a genialidade e a transgressão do signore Frank Vincent Zappa é impossível para uma produção de duas horas. Para arranhar a lataria, seriam necessárias algumas temporadas de uma série padrão HBO. Enquanto isso não acontece, Zappa parece ser um ótimo aperitivo. E ainda periga ser o documentário musical mais necessário de 2020.


Só esse trailer já me abriu um sorriso de uma orelha cansada até a outra orelha cansada.

Zappa é escrito, produzido e dirigido por Alex Winter (o Bill, dos filmes da série Bill & Ted), que é curtista e documentarista de longa data. Pelas cenas, dá para ver alguns highlights obrigatórios: a obsessão com a teoria musical, a fase The Mothers of Invention, os shows surreais, a iconoclastia sem prisioneiros, a briga histórica com a PMRC e o ativismo político, quando já alertava para o perigo de um estado democrático se tornando uma "teocracia fascista".

Claro, é só a ponta do iceberg. O terrível incidente em Montreux (a mais famosa citação da História do Rock), o atentado quase fatal que sofreu durante uma apresentação em Londres apenas seis dias depois, a amizade com o presidente (e fã) da antiga Tchecoslováquia e por aí vai. Tudo isso já se encontra do excelente doc Eat That Question: Frank Zappa in His Own Words (Thorsten Schütte, 2016), obrigatório para quem se interessa minimamente pela cultura pop e pela política do século 20 e como elas estão ligadas ao cenário atual. O longa é recheado de trechos de shows, entrevistas raríssimas e filmagens de arquivo até então inéditas – o que me deixa com o pé atrás com a mesma oferta sendo vendida no trailer de Zappa.

Olha lá, Bill...

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Uma vampira francesa em Pittsburgh


Curto demais essa pérola do John Landis. Fazia tempo que não reassistia. A trama cruzando máfia com vampiros, o veterano Robert Loggia se divertindo horrores com a sanguinolência e a maravilhosa Anne Parillaud (a eterna Nikita) aparecendo como veio ao mundo logo nas primeiras cenas...

domingo, 1 de novembro de 2020

😷 😷 😷 😷 😷 😷 Retrospec Outubro/2020 😷 😷 😷 😷 😷 😷

Finis. End. Fin. Fine. Ende. E aqui a tag Retrospec é arquivada indefinidamente como "missão cumprida".

Foi divertido fazer, mas muito menos divertido do que no início (desse ano, para ser mais exato). Ainda assim, pretendia seguir com ela até dezembro, para efeito estético. E a de outubro estava na ponta da agulha, mas preferi passar. 

Como toda boa conspiração, os motivos foram variados, entre os quais...


  • Excesso de notícias ruins. Um mês que tem as partidas de Eddie Van Halen, Johnny Nash (no mesmo dia!), Zuza Homem de Melo, do grande Cecil Thiré, de Tony Lewis (The Outfield) e Conchatta Ferrell (a inesquecível Berta) não é para fracos, mas terminar com Sean Connery emendando no dia seguinte com a passagem do bem humorado Tom "Louro José" Veiga já é sacanagem. Porrada demais para reviver masoquisticamente ao fim de cada mês.


  • O Novo Blogger. Da mesma forma que Twitter, YouTube, Facebook e outros alteraram drasticamente suas interfaces e funcionalidades – ficando todos muito parecidos, o que me leva a algumas suspeitas – o Blogger já vinha disponibilizando o novo formato de forma opcional até sua implementação definitiva, em setembro último. Para driblar a imposição e seguir utilizando o antigo esquema, durante algum tempo a url "LegacyBlogger=true#allposts" foi a salvação. Pelo menos até o dia 4 de outubro, quando foi eliminada. Escrever no Blogger hoje é brigar o tempo inteiro com formatações automáticas e lidar com duas ou três vezes mais cliques do que antes. Daria pra contornar alguma coisa na edição do html dos posts, se você estiver disposto a encarar o pavoroso novo html do Blogger. O da imagem acima equivale a um post do tamanho deste, por exemplo. Imagina o de um Retrospec. Ou de um Zombie de Ouro.

Hora de repensar o BZ. Sua missão, com certeza, já foi cumprida há tempos...

sábado, 31 de outubro de 2020

This Bud's for Michael

Em algum ponto de 1980, o jovem John Carpenter começava a esboçar – a contragosto – o roteiro da aguardada sequência do clássico Halloween. Em sua companhia, apenas sua máquina de escrever, vários packs de cerveja e um persistente bloqueio criativo.

Cenário improvável para um comercial da Budweiser, mas o suficiente para a agência paulista Africa reproduzir a atmosfera opressora e angustiante daqueles dias.


Sensacional.

E agora quero uma cinebio completa do João Carpinteiro... tsc.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Hulk esmaga o Coisa!


Certa vez, Rick Jones deu uma ideia do quão aterradora é a sensação de estar perto do Hulk. O velho e bom Rick é o melhor amigo do Verdão, mas mesmo ele não hesita em compará-lo a um caminhão se aproximando em alta velocidade. Com essa adorável visão em mente, o que seria então um confronto entre o Hulk e o Coisa?

Uma frota inteira de caminhões. Mineradores. Descendo a ladeira. Direto para um penhasco.

Benjamin Jacob Grimm, o Coisa (e sobrinho favorito da saudosa e gostosa Tia Petúnia), é o maior veterano da história das pancadarias gama. É uma rivalidade que remonta à Era de Prata da Marvel, sendo ele e o Golias Verde as duas primeiras powerhouses da editora – e, ainda em pleno Mês das Bruxas, os dois maiores monstros da Casa das Ideias.

Claro, é senso comum (e oficial) que o Hulk é "o mais forte que existe!!" e, portanto, o mais forte dos dois. Mas considerando a diferença relativa de seus estados iniciais de força e as variáveis a favor do Coisa, como destreza, resistência, sagacidade e proficiência em vários estilos de luta, é seguro dizer:

"Yes. Ben can."

É muito difícil, mas já aconteceu antes, num momento antológico do Latinha. E, recentemente, num momento igualmente antológico do próprio Coisa contra o Imortal Hulkcontrolado, mas ainda assim um Hulk. E que, por sinal, acabou de ser publicado aqui.

Do lado psicológico, o embate com o Hulk é uma das poucas ocasiões em que Ben se sente orgulhoso de ser o Coisa, superando até mesmo sua notória autopiedade. Afinal, é uma oportunidade de ouro para usar toda a sua força sem restrições, de descontar a sua raiva e frustração num oponente que não só vai aguentar o tranco, como irá revidar à altura – e acima...

Com o decorrer dos anos e após tantas batalhas contra o Golias Esmeralda, Titio Benji acabou cultivando algumas marcas de guerra. Não são raras as longas e melancólicas reflexões pré-confronto, tal qual um pugilista submerso na solidão e tensão do vestiário, minutos antes de subir ao ringue para a luta de sua vida.

Como se aquilo fosse uma grande luta de boxe, alegoricamente falando. Ou quase.


Ben é bom de metáfora

Daí que após o incrivelmente espetacular "hardcover virtual" Hiper-Almanaque Marvel - Hulk Esmaga o Homem-Aranha, nada mais lógico que Hiper-Almanaque Marvel - Hulk Esmaga o Coisa!® seja o próximo passo do brainstorm-gamma com o parceiro VAM!, da Batdeira. O VAM!, logicamente, com a concepção gráfica (Deluxe, diga-se... custaria uns 600 paus na promocha) e eu, com o papo-de-buteco sobre cada edição.

Que, modéstia à parte, poderia até entrar como extra em nosso Omnibus imaginário. Hoje em dia, qualquer um escreve "matérias", "prefácios" e "editoriais", não é mesmo?

Behold the cover!


Clique para ampliar

No primeiro volume, fizemos uma seleção com os melhores encontrões do Homem-Aranha com o Gigante Esmeralda, o que já é um tremendo contraponto em termos de dinâmica. O Teioso nunca teve intenção de encarar o Hulk diretamente; e o Coisa, apesar de reconhecer o perrengue, quase sempre segue em rota de colisão com o Golias Verde, invariavelmente com resultados imprevisíveis e pra lá de divertidos. A ideia básica pode até não ser original, mas a nossa versão é muito melhor, mais forte e mais rápida!

Mas chega de papo, porque... Tá na hora de esmagar!

Err...


Fantastic Four #12 (mar/1963)


A estreia foi já na edição #12 do Quarteto Fantástico. Na capa, uma amostra de como o Hulk era retratado em seus primeiros dias, traiçoeiro e amoral, se esgueirando para atacar a Primeira Família de surpresa. Produzida pela dupla Stan Lee/Jack Kirby, a história é simplesmente entitulada "The Incredible Hulk" (minimalismo é isso aí) e começa com o Coisa sendo confundido com o monstro - uma constante. A partir daí, o Quarteto é contatado pelo General Ross para auxiliar na captura do Verdão. O grosso da trama é ocupado por uma conspiração arquitetada pelo subvilão Destruidor; a luta em si é curta e inconclusiva, mas não faltam emoção e trash-talks disparados pelo Coisa, pelo Hulk e até pelo Titio Stan nos recordatórios. Ouro puro.

Por incrível que pareça, esse quadrinho clássico - ou, como anunciou hiperbolicamente nosso eterno fanfarrão Stan, "um dos momentos mais dramáticos da História da Fantasia & Aventura" - só foi publicado aqui duas vezes, pela RGE e pela Abril.

Momento Tá na Hora do Pau!: o Ben, a voz da emoção, e Sue, a voz da razão.


Fantastic Four #2526 (abr–mai/1964)


Hulk e Coisa são levados de volta ao ringue por Lieber-Kurtzberg apenas 1 ano após o primeiro combate. Menos por um tira-teima e mais para promover a nova formação dos Vingadores, agora liderados por um recém-descongelado Capitão América. Na história "The Hulk Vs. The Thing" (Fantastic Four #25), o Golias Verde decide ir até New York trocar uma palavrinha com os Vingadores após saber que foi substituído pelo Bandeiroso. Chegando lá, é recepcionado por 3/4 fantásticos: Tocha Humana, Mulher Invisível e nosso esforçado Coisa. Claro que o abacaxi acaba sobrando pro Ben numa luta divertida e com soluções criativas recicladas ad nauseum nas décadas seguintes. Na edição seguinte - aquela, da capa do Hulk Donkey Kong – com a auto-explicativa "The Avengers Take Over!", os Vingadores... tomam conta. Mas no final quem vence o Incrível Hulk é o Incrível Rick!

O detalhe é que Stan Lee estabelece de vez a superioridade física do Hulk; e foi o 1º registro da força do Verdão aumentando junto com seu nível de raiva/stress - mais de 1 ano antes da máxima "quanto mais furioso, mais forte o Hulk fica" estrear, portanto. Também ali o bom Doutor é sempre chamado de Bob Banner... eles estavam mesmo tentando evitar o, na época, "suspeitíssimo" Bruce.

Essas duas edições só saíram aqui pela EBAL, em preto e branco, num longínquo ano de 1971. Ainda há muito o que fazer, muito o que relançar...

Momento Tá na Hora do Pau!: Ben fazendo um ultimato pro Hulk enquanto foge de barco é o fino, mas fico com o... GERONIMO!


The Incredible Hulk #122123 (dez/1969–jan/1970)


De cara, essas edições tem alguns dos melhores desenhos do meu desenhista ruim favorito, Herb Trimpe. Ainda na veia Kirbyana, o artista não economiza nos detalhes e nos gadgets do laboratório do Quarteto Fantástico. Também fica evidente quando um roteirista fora da curva assume as rédeas do Verdão: nas histórias "The Hulk's Last Fight!" e "No More the Monster!", Roy Thomas não apenas se torna o 1º autor a "curar" o Hulk (temporariamente, claro), mas também o 1º a manter a personalidade e inteligência de Banner após sua transformação no Gigante Esmeralda. Mas o que interessa aqui é a porradaria e o Coisa tem que se virar quando o Hulk fica descontrolado em pleno Edifício Baxter. E se vira muito bem, diga-se!

Essas histórias saíram aqui pela EBAL em 1971 e pela Bloch em 1975 – milagre não pintarem o Hulk de amarelo.

Momento Tá na Hora do Pau!: Coisa dando um olé no Hulk duas vezes seguidas. É um craque!


Fantastic Four #111112 (jun–jul/1971)


O confronto da vez foi em grande estilo: "Big" John Buscema no traço, Joe Sinnott finalizando e o Tio Stan de volta ao roteiro. Nas histórias "Thing -- Amok!" e "Battle of the Behemoths!", Reed Richards consegue reverter Ben à sua forma humana, mas, claro, com um revés: ele se torna um sociopata. Provavelmente por isso, o Pedregulho não se segura e rende uma das batalhas mais equilibradas com o Golias Verde. Ora apostando nas diferenças físicas (força X velocidade), ora invertendo os papéis (Coisa esmagando tudo pela frente e Hulk usando estratégias!), é perceptível o carinho (e a torcida) que Lee tinha pelo Ben. Não fosse por uma pequena bobeada... Seja como for, é uma das tretas mais eletrizantes da dupla.

Fantastic Four #111 foi editada aqui pela GEA (Grupo de Editores Associados) em 1972. Já Fantastic Four #112, com a luta propriamente dita, segue inédita até hoje, mesmo com a GEA prometendo o "Duelo de Monstros!" para o próximo número – que nunca veio. Queria o quê, por 1 cruzeiro e 50 centavos?

Momento Tá na Hora do Pau!: Vem pro papai!


Marvel Feature #11 (set/1973)


A história "Cry: Monster!" tem argumento de Len Wein, desenhos de Jim Starlin e arte-final do operário-Marvel-padrão Joe Sinnott. É o 1º contato de Starlin com o crossover laranja-esverdeado – e parece que tomou gosto pela coisa, já que comandaria outros encontrões impagáveis da dupla no futuro. Fora que é dele o meu visual predileto do Coisa (sorry, Byrne & Pérez). Na trama, o Líder e Kurrgo – subvilão que o Quarteto baculejou em priscas eras – disputam o "direito" de controlar o Hulk e o Coisa. E para isso, nada mais racional que provocar uma briga entre os dois e fazerem uma apostinha entre cavalheiros!

Essa edição foi publicada pela Abril em 1992, no 1º volume da mini A Saga de Thanos (?!). Segundo o recordatório no final, tinha a ver...

Momento Tá na Hora do Pau!: Hulk acha "Hora do Pau" idiota!


Giant-Size Super-Stars #1 (mai/1974)


Não, os balões não estão trocados

Com roteiro de Gerry Conway, traço Kirbyano de Rich Buckler e arte-final de – adivinha!Joe Sinnott, a história "The Mind of the Monster!" traz Bruce Banner fazendo pior que Reed Richards ao tentar curar Ben Grimm e a si próprio: sua mente Hulkificada vai parar no corpo do Coisa e vice versa. Seria a chance do bom e velho Ben espancar o Verdão até 2040, mas sua adaptação lenta somada à fúria incontrolável do Coisa-Hulk pesaram na dinâmica e ele leva uma das maiores surras da vida... no corpo do Hulk. Então, pode-se dizer que o Coisa arrebentou o Hulk dessa vez, se é que você me entende.

Esse gibi nunca foi publicado no Brasil. Aliás, a única Giant-Size Fantastic Four que saiu aqui foi aquela do Madrox.

Momento Tá na Hora do Pau!: o Coisa-Hulk socando a Tundra achando que era um cara...


Fantastic Four #166167 (jan–fev/1976)


Escrita pelo grande Roy Thomas, a dobradinha "If It's Tuesday, This Must be the Hulk!"/"Titans Two!" tem algumas das maiores forçadas de barra já registradas numa HQ – e olha que estamos aqui em plenos anos 1970. Na premissa, o Hulk é derrotado pelo Quarteto Fantástico em tempo recorde (!), mas o piedoso Ben toma as dores do velho desafeto e o liberta. Na sequência, os dois fogem num jato e team-upeiam contra o Quarteto e, claro, o exército. Mesmo com momentos descendo quadrado (ah, a parte do avião...), a parte on the road – ou on the air – dos brutamontes tem boas tiradas. Traço do George Pérez de várzea nas duas edições. Na 2ª parte, Joe Sinnott, lógico, faz uma eficiente finalização; provavelmente para compensar a 1ª parte, onde Vince Colletta só reforça a munição de seus detratores.

Até hoje essas HQs não foram publicadas por aqui. E aposto que nunca serão...

Momento Tá na Hora do Pau!: SMRAASHH!


Marvel Two-in-One #46 (dez/1978)


Pra dar uma relaxada, uma história (ainda) mais fugaz e bem humorada. Em "Battle in Burbank!", o Coisa, em mais um de seus clássicos rompantes "tempestade em copo d'água", fica revoltado com um seriado televisivo com a cocotinha Karen Page estrelando ao lado do Hulk... quer dizer, não O Hulk, mas um dublê bom de imitação. Indignado, Ben parte pra Hollywood para cobrar dos produtores o seu próprio show de TV! E na mesma hora em que o verdadeiro Hulk está indo pra lá, furioso com o modo como foi representado na telinha!! E ao mesmo tempo em que a estrela Karen Page está sendo sequestrada!!! Pô!!!! Roteiro absurdista de Alan Kupperberg com um timing cômico que lembra as revistas satíricas da Marvel, tipo a Crazy e a Not Brand Echh. Aliás, a bela capa (de Keith Pollard com arte-final do Bob Layton!) engana, já que Kupperberg também desenha a história com pegada tosca e algo estilizada.

A edição foi publicada no Brasil pela RGE em 1979. E o pior é que tive essa, não muito tempo depois.

Momento Tá na Hora do Pau!: impossível não associar a Karen da fase pornstar com a manchete do jornal e o célebre grito de guerra do Coisa...


Marvel Two-in-One Annual #5 (set/1980)


A "Marvel Dois-em-Um Anual" #5 conta com roteiro e desenhos de Alan Kupperberg (ainda assinando "Kupperburg") salvos pela arte-final do grande Pablo Marcos, o artista peruano famoso pelas colaborações no Conan clássico da Marvel. Na trama, o estranho Estranho coopta o sobrinho mais famoso da Tia Petúnia e o Golias Esmeralda para ajudá-lo a impedir a destruição do Universo pelo vilanesco Plutão, o "Rei do Inferno"... mas não conte para Hela, Lúcifer, Zarathos, Belasco e muito menos para Mefisto e o novo capeta-sensação Aquele Abaixo de Todos. Como esperado em se tratando do título, rola aquela brodagem do trio contra um inimigo em comum, mas os dois brutamontes não deixam passar a oportunidade de um tira-teima (mais um) lá pelas tantas. Não que isso tivesse alguma relevância para a história.

Saiu aqui no Almanaque do Hulk #3, da RGE, há exatos 40 anos. Mano...

Momento Tá na Hora do Pau!: Benjy, Campeão Mundial de Trash-Talk a uma Distância Segura.


The Incredible Hulk #293 (mar/1984)


Em "Assassin!" não há um quebra real entre o Hulk e o Coisa, mas um quebra onírico, passado num baita pesadelo do pobre Dr. Banner. De fato, é uma história perturbadora, a começar pela famosa capa de Bret Blevins com o Verdão despedaçando o queixo do Ben. A trama escrita por Bill Mantlo, apesar de protagonizada pelo Hulk inteligente, tem um tom melancólico e amargo, com o personagem atravessando um tipo de PTSD-gama, após tantos anos de destruição e fúria. O traço de Sal Buscema também passava por uma profunda evolução (estava a meio passo da pegada mais sombria que adotou na fase da Encruzilhada), o que, sem dúvida, reforçou o clima taciturno. O título dessa história no Brasil era bem mais acurado: "Remorso".

Foi publicado aqui duas vezes. No formatinho da Abril e na abençoada Coleção Histórica Marvel, da Panini.

Momento Tá na Hora do Pau!: Hulk entregando um conjunto habitacional que ele destruiu anos antes. Redenção com gostinho de Minha Casa Minha Vida.


Marvel Fanfare #2021 (mai-jul/1985)


Sem a menor sombra de dúvida, as duas partes de "The Clash" seriam o carro chefe do compiladão. Fácil, um dos quadrinhos divertidos que já li na vida. Aliás, Jim Starlin escrevendo o Hulk e o Coisa já merecia um TPzinho honesto por si só. A exemplo daquela histórica Graphic Marvel #1, é sempre imperdível. Na história, o Coisa é convocado pelo Dr. Estranho para deter o demoníaco mago Xandu. Xandu, por sua vez, convoca o Verdão direto da Encruzilhada para equilibrar as coisas (ou o Coisa). As piadas são sensacionais e funcionam até hoje, os diálogos são afiadíssimos e a pancadaria corre lindamente por páginas a fio, sem apelar pro lugar comum. O roteiro e o traço de Starlin estavam irradiando inspiração. São tantos os momentos inusitados e impagáveis que dá vontade de citar cada página da HQ (na verdade, apaguei uns 15 parágrafos em que estava fazendo exatamente isso!). Li quando saiu e, desde então, reli um milhão de vezes. Definição de clássico? Isso aqui.

Absurdamente, a aventura saiu no Brasil uma única vez, nos formatinhos do Hulk da Abril. Já passou da hora de uma reedição marota em formato americano, capa cartão & papel offset filezinho.

Momento Tá na Hora do Pau!: Coisa espancando o Hulk como se não houvesse amanhã. Na hora, o Verdão estava zumbificado, mas foi bom enquanto durou.


Fantastic Four #320The Incredible Hulk #350 (nov-dez/1988)


As histórias "Pride Goeth..."/"Before the Fall" trazem uma quase redenção para o perseverante Ben. Na época, o Coisa estava curtindo os benefícios de uma estranha mutação. Embora estivesse com um visual ainda mais disforme, cheio de esporas e pontas pelo corpo, também estava muito mais forte e resistente. E o Hulk estava em plena fase "Sr. Tira-Teima", com terno, gravata, pele cinza e consideravelmente mais fraco. É nesse contexto que o Dr. Destino chantageia o Verdão, ou melhor, o Cinzão para que ele ataque o Super-Ben. Na 1ª parte, escrita por Steve Englehart, Ben atropela o Golias Cinza (sem saber que era o Hulk!), descontando com juros os anos de murros e voadoras que aguentou até ali. Tudo com a arte magnífica do Keith Pollard. Um sonho do Grimm realizado. Já na 2ª parte, o roteiro de Peter David vira o jogo e o Sr. Teima usa o que tem de melhor, a malandragem. Resultado: o Super-Ben quase vai pro saco e, o que é pior, na arte tosquíssima do Jeff Purves. Damn, Ben.

As histórias foram publicadas aqui em O Incrível Hulk #108 e #109, da Abril.

Momento Tá na Hora do Pau!: Coisa, o cara mais forte da cidade!


Hulk #9 (dez/1999)


A história "Chip on my Shoulder" (por aqui, "Acerto de Contas") abre e fecha com aquele solilóquio de Ben sobre seus encontrões com o Hulk – e traçando um paralelo muito bacana com a rivalidade entre os pugilistas Muhammad Ali e George Foreman. Ponto para o roteiro co-escrito por Jerry Ordway e Ron Garney. A mesma inspiração não se repete no miolo, mas o embate entre os nossos gigantes guerreiros é praticamente garantia de diversão. Pra sorte do Coisa, o Hulk aqui está sendo controlado pelo vilão rerererecorrente Tyrannus (já perdi as contas de quantas vezes esse cara morreu!), o que dá certa vantagem ao Pedregoso. Mas é o Hulk de qualquer modo e se Rick Jones o comparava a um caminhão se aproximando, a certa altura o velho Ben parte pra cima dele com um caminhão maior ainda. A fina ironia fica por conta da onomatopeia: RUMMBBLLE ...in the Jungle?

Essa edição saiu por aqui em Grandes Heróis Marvel #10, da infame linha Super-Heróis Premium da Abril, pioneiríssima no conceito de gibi gourmet. Conheço um cara que tem todas. Ah, playboy.

Momento Tá na Hora do Pau!: o Coisa jogando fora sua medalha de boa conduta. Quase deu certo. Wotta revoltin' development!®


E.... C'est fini.²

Editoras interessadas, ainda estamos abertos a propostas.



Panini, para negociações sobre um Omnibusaço disso aí, direto em pvt. Nem precisa traduzir.

Ps: meus sinceros agradecimentos aos srs. Benjamin Jacob Grimm, Robert Bruce Banner, à Tia Petúnia e, principalmente, ao VAM! Ilustrador, por mostrar um nível de paciência que nem imaginava que existia!