sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

S. Toppi e as Aventuras de uma Criminóloga


Parece que foi ontem, mas a antológica J. Kendall - Aventuras de uma Criminóloga #11 foi publicada pela Mythos há longínquos 15 anos. Na história "Repouso Eterno", a irresistível bonequinha de luxo/especialista forense Júlia Kendall (bem vinda!) investiga um pavoroso assassinato em uma casa de repouso da fictícia Garden City.

Menos é mais, porém não resisto a comentar que são três subtramas em paralelo. Pessoalmente, não consegui antecipar aquele final nem com meus chutes mais mirabolantes.

"Repouso Eterno" ainda vai além do roteiro sempre inspirado de Giancarlo Berardi: a HQ é marcada pela arte do genial artista milanês Sergio Toppi. Foi uma daquelas ocasiões, por assim dizer, de rara beleza.

Apesar de já ter feito um Martin Mystère aqui e um Nick Raider acolá, Toppi aceitava essas empreitadas mais pela amizade que tinha com o Sergio Bonelli. 300 páginas de um Texone então, nem pensar.

O que é totalmente compreensível.

Como visto nos inebriantes volumes de Sharaz-De, Toppi e o formato limitado de uma publicação convencional – fumetti ainda – não poderiam soar mais dissonantes. Então, essa é uma experiência imperdível tanto por ser Toppi-desenhando-Júlia como pelo exercício de estilo fora de sua zona de conforto.

E um senhor objeto de estudo para qualquer um que se atreva a segurar um lápis com pretensõezinhas supostamente criativas.



Uma maravilha em dosagem (quase) controlada.

Ainda assim, é duro ver um maestro do calibre de Sergio Toppi criminosamente negligenciado no Brasil. Em que pesem os heroicos esforços da Figura Editora, sua bibliografia lançada até aqui ainda é anêmica. O pior é que material compilado em alta definição não falta: a editora francesa Mosquito vive publicando Toppi – piscou, lançou outro álbum. Então não vejo muita explicação que não seja aquele velho amadorismo endêmico que tanto nos queixávamos até... ontem.

Não é, Mythos?

J. Kendall - Aventuras de uma Criminóloga #11 está sendo republicada em formato italiano na série limitada Júlia - Aventuras de uma Criminóloga (já sartando das amarras autorais envolvendo o nome). Porém, num olé monstro que a Mythos aplica em si mesma, Toppi não é sequer mencionado na pré-venda da loja virtual, nem no blog e nem em suas redes sociais. Conferi agora e não tem nada, nadinha.

Júlia-gibi é um troço absurdo. Metanfetaminicamente viciante. Quase impossível largar antes de terminar. Pelo Toppi, então... Um negócio desses era para ser alardeado desde o início do ano. Ou da série. Mas nem tentaram. Estratégia de marketing do mínimo esforço possível.

Como problema pouco é bobagem, não é de hoje que a Mythos tem sérias questões com a qualidade da impressão de seus títulos. Isso era para ter sido sanado nos relançamentos em formato italiano (Júlia, Dylan Dog), que têm a vantagem do miolo em papel offset, mas não foi bem isso que vimos ultimamente.

Ainda assim, não deverá ser pior que a versão anterior, impressa em pisa-pobre numa HP achada no lixão e recondicionada.




Assassinaram sem dó o magnífico chiaroscuro do Toppi. Sad face aqui, por favor.

Aliás, nerd leitor teimoso que sou (já fui mais), fico martelando como seria tão melhor se essa história fosse publicada na Júlia Graphic Novel. Toppi equivale a exatos 10 gazilhões de Antonio Marinetti (titular do nanquim no 1º volume). E assim a qualidade editorial, de impressão e tudo o mais estariam assegurados na jurisdição Prime Edition – afinal, algo tem que justificar aquele infame hot stamp dourado/licença para matar o bolso alheio.

Mas desconfio que a redação da Mythos esteja mais empenhada em outros assuntos. Azar o meu.

Seja como for, sempre terei a Júlia. E as hilárias justas entre ela e o Webb.


Papo antigo...

8 comentários:

Luwig Sá disse...

Ando lendo Júlia nas duas pontas, lá atrás e lá na frente. Tenho encarado de duas a três por mês. É uma delícia. Adoro essa história do asilo, mais pelo Toppi, p/ ser honesto. Em termos de roteiro, a minha favorita é aquela da edição #8, do crime na reserva indígena de Dakota do Sul numa pegada bem Escalpo. E se o Giorgio Trevisan brilha no pisa-pobre, imagina também num papel decente...?!

A Mythos só vê a cor do crédito do meu cartão de crédito de ano em ano, numa Black Friday ou algo do tipo. Desde sempre, os preços deles sempre foram caprichados; e agora com esse problema da distribuição, capaz do gibi regular de banca desaparecer completamente.

Abraço.

doggma disse...

Em Vix vende-se J. Kendall às baciadas em banquinhas de usadas. Peguei umas cinco ou seis edições da série, aí veio a 'italianização' e embarquei.

"Se as Montanhas Morrem" é um pequeno clássico, acho eu.

Em Portugal, essa edição #11 saiu numa edição de luxo da Revoir.

https://kbportugal.pt/bd-graphic-novels/-colecao-bonelli-livro-4-julia-o-eterno-repouso-edportuguesa-capa-dura.html

(assim é que se faz, Mythos)

A conclusão dessa história me lembra a do ep. "Unfriendly Skies", de CSI (aquele da morte de um passageiro da 1ª classe de um avião). As circunstâncias são as mesmas. Mas a Júlia veio primeiro...

A Mythos ainda tem aquele problema com o frete absurdo pra sua região?

L disse...

Excelente post, por causa dele estou pensando em iniciar a coleçao. No meio de tanta hq cara e com.várias amarras cronológicas e desdobramentos.em centenas de revistas. É bom saber que há uma hq com um preço razoável e gostosa de ler. Obrigado ��

doggma disse...

Não há de quê, L.

Dentre os Bonelli de linha - que já têm uma boa média - considero a Júlia o melhor custo-benefício. Episódios fechados e instigantes que você devora em 1/2 horinha (ou menos) num preço honesto.

Scant disse...

muito bom
nao conhecia o autor

doggma disse...

O Berardi ou o Toppi?

Seja como for, ambos essenciais.

Scant disse...

ambos, principalmente o Toppi.
pena que o gibi das 1001 noites ta com o volume 2 esgotado
deviam ter lançado em edição única

abs!

doggma disse...

Deviam mesmo. Mas eventualmente, a Figura deve fazer uma reimpressão, já que foi um sucesso.

Abraço!