domingo, 30 de junho de 2019

Retrospec Junho/2019


3/6¹ - Robert Pattinson é o novo Batman dos cinemas e Zack Snyder curtiu isso. No Vero. Quem é que usa o Vero? Os mesmos que usam o Telegram? Goddamn early adopters.

3/6² - A Mauricio de Sousa Produções anuncia o lançamento de Turma da Mônica Geração 12, o primeiro título da linha Mangá MSP. Os olhões gigantescos a turminha já tem...


3/6³ - Daniel Lopes, da editora Pipoca & Nanquim, publica um inocente gif e o gerente do banco me liga dizendo "não!"

4/6¹ - Alguém lá na editora Lorentz cabulou a aula de utilização de crases e de por que/porque/por quê/porquê. Resultado, a graphicaça Alvar Mayor, de Carlos Trillo e Enrique Breccia, se torna uma das recordistas de erros da página Todo Dia um Erro nos Quadrinhos Diferente. Para ser justo, nenhum dos erros diminui ou altera a percepção/compreensão da obra. Mas podiam ter prestado mais atenção, né...

4/6² - Deadly Class e Happy! canceladas pela Syfy. Bastardos!

5/6¹ - Fofocas indicam que a Marvel Studios está programando a volta do Quarteto Fantástico nos cinemas para 2022. E Peyton Reed (Homem-Formiga) está louco para dirigir.

5/6² - Fora isso, a Marvel Studios também está negociando com Keanu Reeves e Angelina Jolie para estrelarem Os Eternos. Calma aí, Marvel. Calma aí.


6/6¹ - Partiu Malcolm John Rebbenack Jr., o lendário Dr. John, aos 77. Veterano do blues, rock, r&b, funk e boogie-woogie, o bom Doutor estava na estrada desde a década de 1950 e gravou mais de 30 discos solo, fora álbuns ao vivo e um oceano de colaborações com outros artistas. Um mestre que se vai.

6/6² - E Swamp Thing já está cancelada. Alguns boatos dão conta de diferenças criativas - time do direcionamento de terror vs. time do formato CSI-da-semana - e conflitos com a mudança na plataforma streaming da WBTV.

6/6³ - Nada disso: as razões foram mais práticas. Parecia até praga do Arcane, mas foi só a Warner fazendo merda de novo.


7/6¹ - Se vai Sérgio Augusto Bustamante, o Serguei. Tão rockeiro quanto folclórico, Serguei nunca saiu da década de 1960, mas sempre fez o que quis - e foi o que quis - até o fim. Personalidade e carisma únicos.

7/6² - Após a editora Record perder o passe, Asterix vai parar na Panini. Perdeu, gaulezada.

Sábado, 8 de junho de 2019

8/6 - Andre Matos faz sua passagem, aos 47. Cantor e multi-instrumentista talentosíssimo, Matos construiu uma trajetória sólida e respeitada, seja em carreira solo ou com as bandas Viper, Angra e Shaman. Sempre admirei a representatividade da obra do músico, especialmente em se tratando de power metal/heavy metal melódico produzido em pleno Brasil. Inesperado, pra dizer o mínimo.

11/6¹ - Em matéria entitulada "O Dia em que a Música Queimou", o New York Times revela a verdadeira extensão do incêndio nos estúdios da Universal em New England, em 1 de junho de 2008. Um desastre sem precedentes que pode ser facilmente considerado o pior da História da Música, mas que, até hoje, permanecia criminosamente acobertado. Não é brincadeira: quando mencionam a destruição das masters originais de Guns N' Roses, Nirvana, Soundgarden, R.E.M., Nine Inch Nails e outros artistas contemporâneos, é quase como se estivéssemos no lucro. Preste atenção na 1ª e na última leva de gênios musicais mencionados pelo jornalista Cunha Jr. no programa Metrópolis. É chocante. Que ano, meu amigo. Que ano.


11/6² - A editora Figura abre um Catarse para a obra Tanka, do mestre italiano Sergio Toppi. Repetindo: Sergio Toppi. Agora vá lá colaborar.

11/6³ - Parece que Swamp Thing tinha um objetivo de 3 temporadas para lançar uma série da Liga da Justiça Dark. E tudo seguia muito bem até a Warner se dar conta disso.


11/64 - Quentin Tarantino vai dirigir um Star Trek para maiores de 18 anos. No aguardo para a cena do Dr. McCoy ressuscitando o Scotty de uma overdose de heroína com um shot de adrenalina direto no coração. Vida longa e próspera, motherfucker.

11/65 - Sob ataque cerrado de zilhares de DCminions raivosos, Rob Liefeld abandona sua conta no Twitter. Ao menos deixou um bonito legado de desafetos, desenhos colossais e seguidas redescobertas de sua própria jenialidade. Em dois dias ele volta.

12/6¹ - Quer ver um decenauta véio e acabado chorando? Conta pra ele que Scott Snyder vai trazer a Sociedade da Justiça de volta.

12/6² - O roteirista Al Ewing e os artistas Joe Bennett e Paul Mounts incorporaram o John Carpenter de O Enigma de Outro Mundo em Immortal Hulk #19. Nojeira da braba!


12/6³ - Autoridades americanas desarticulam uma quadrilha que traficava metanfetamina cristal para a Austrália dentro de gibis da DC. Bem debaixo do nariz do Bátima! Opa...

12/64 - Lobo sai de Krypton e ganha sua própria série via Syfy. Será que o Maioral finalmente vai chegar lá?


12/6 - Jason Aaron e Esad Ribic se reúnem para concluir seu épico do Deus Trovão em King Thor #1! Lançamento em setembro. Aye!!

13/6¹ - Se vai André Midani, o homem que reinventou o pop brasileiro.


13/6² - Jimmy Fallon é um bosta, mas esse hino do derrotismo interpretado pelo Fat Thor foi no alvo.

13/6³ - O run de 100 edições do Batman por Tom King acaba de se transformar em um run de 12 edições de Batman/Catwoman devido a compromissos recém-assumidos do roteirista com um longa dos Novos Deuses e uma série de TV ainda não divulgada. Entendi direito, produção? Quantos dias a DC estava sem fazer merda mesmo?


14/6¹ - O filme já deve ter ido pro pau, mas que se-phoda-se: Bill Sienkiewicz e Chris Claremont se reúnem para New Mutants: War Children #1. O one-shot (então porque o #1, com mil diabos?) será lançado em setembro nas comic shops americanas - e 1.2 segundos depois, num compartilhador de arquivos pertinho de você. Excelsior!


14/6² - HAHAHAHAHAHAHA... cara, isso foi errado em muitos níveis, da disseminação do preconceito à completa desonestidade editorial, mas puta que par... Porra, Abril! HAHAHAHAHAHAHA!!


14/6³ - 3ª temporada de Young Justice: Outsiders a caminho. E com a Vovó Bondade cheia de amor pra dar.

15/6 - Se vai o produtor, diretor e ex-senador italiano Franco Zeffirelli, aos 96. Esse era dos grandes. Foi muito popular entre o público brasileiro por suas versões de A Megera Domada (1967), Romeu e Julieta (1968), o belíssimo Irmão Sol, Irmã Lua (1972), Jesus de Nazaré (1977), Amor sem Fim (1981) e, especialmente, pelo dramão de boxe O Campeão (1979), com Jon Voight e Faye Dunaway. Haja lencinho de papel.

16/6 - O diretor e roteirista Todd Philips diz que o filme do Coringa será Rated R (menores de 17 anos, só acompanhados dos pais ou demais responsáveis). Mas ainda não levo fé, avisem pra ele.


17/6¹ - Dave Mustaine está com câncer na garganta. Nossa torcida para o MegaDave!

17/6² - Lembra da Red Monika? Ou melhor, de Battle Chasers, a série de fantasia do Joe Madureira? Diz ele que quer continuar com a história de onde ela parou, no #9, há dezoito anos. E precisa de ajuda.

19/6¹ - Realmente não entendo a polêmica sobre a fase de Tom King no Batman. Por exemplo, aquela cena dos Batmans papeando e arrastando um caixão pelo deserto tem uma porralouquice à Zero Hora e ainda lembra o crássico vídeo Um pistoleiro chamado Papaco. Melhor que isso, só o Feira da Fruta.

19/6² - Um caminhão de escritores e artistas canadenses foi incumbido de trazer a Tropa Alfa de volta à ordem do dia em Alpha Flight: True North. Espero que a Marvel não tenha se esquecido de que, além da nacionalidade, é essencial que todos os envolvidos detestem o supergrupo. Deu certo com o John Byrne.

20/6¹ - Nepotismo é (d)o caralho: J.J. Abrams e seu filho de 20 anos, Henry, estão escrevendo um gibi do Homem-Aranha. Nem sei o que dizer. A única coisa que me vem à mente agora é "Meu garoto... meu pai-pai..."


20/6² - A crítica anda meio dividida com Superman: Year One #1, da dupla Frank Miller/John Romita Jr. Uns acham que é exageradamente sexista e ufanista; outros acham que o escoteirão virou um sociopata. Da minha parte, ainda estou lidando com a capa do Romitinha.

21/6¹ - Em setembro sai o especial Satanika Vs. Morella's Demon, escrito por Glenn Danzig com desenhos de Simon Bisley. Esse vai ser osso pra achar no DC++.

21/6² - Ao lado dos roteiristas Ange e Patrick Renault, o desenhista Charlie Adlard (The Walking Dead, óbvio) publica em setembro sua graphic francesa The Walking Vamp... ops, Vampire State Building.


21/6³ - E... lá se vai o selo Vertigo.

21/64 - Millennium Films substitui o queimado Bryan Singer por Jill Soloway (da série Transparent) na direção do filme Red Sonja. Com isso, aumentaram a testosterona do projeto em 400%.

21/65 - O Los Angeles Times lamenta que a Marvel tenha fechado seu selo Vertigo 1 ano após o aniversário de 25 anos da editora. É realmente triste saber que não teremos mais gibis do Fantasma. :´(


22/6¹ - Paulo Antônio Figueiredo Pagni, o P.A., se vai, aos 61. Baterista do RPM, P.A. foi um dos poucos músicos que soube o que era ser um rockstar nesse país (RPM era rock, vai). Dessa vez, infelizmente, não era fake news.

22/6² - Após a estarrecedora matéria do New York Times revelando a verdade sobre o incêndio no estúdio da Universal, chovem processos de todos os lugares - inclusive do além, com o ator e rapper Tupac, morto em 1996.

24/6¹ - Já vi esse filme antes, mas vá lá: Danny Boyle confirma que um terceiro filme da série Extermínio voltou à mesa de planejamentos. Daqui a 28 meses teremos mais notícias.

24/6² - Deadly Class foi cancelada mesmo, não vai para nenhuma outra rede e Rick Remender (o criador do gibi) está em paz com isso.


24/6³ - Gail Simone está trazendo o Daredevil de volta. Não o Matt Murdock, mas o Daredevil original da Lev Gleason, priminho do Homem 3-D, e agora rebatizado Death Defying 'Devil - literalmente, 3 D's. Melhor que a D... ynamite ser processada pela D... isney. Damn.

26/6¹ - Neil Gaiman twitta que pediu à Marvel TV para escrever uma série de 1602 e eles nem ligaram. Captamos a vossa mensagem, Neil. Eu levo os coquetéis molotov.


26/6² - Max Wright se vai, aos 75. O ator ficou famoso no Brasil no fim dos anos 1980 com o personagem Willie Tanner, pai de uma típica família de classe média americana no sitcom Alf: o ETeimoso. Depois disso, Wright passou maus bocados na vida pessoal, daqueles dignos de figurar no E! True Hollywood Story - o que parece ser uma triste constante no mainstream americano.

28/6¹ - Steven Adler, ex-baterista do Guns N' Roses, é internado após cravar uma faca em si mesmo. Eita.

28/6² - Segundo um representante de Adler, a autoesfaqueada foi acidental e o ferimento, superficial. Em alguma mansão de LA, Axl está dizendo "arram, sei".


28/6³ - James Hetfield pira o cabeção ouvindo Angel of Death no carro. Quem lhe dera, hein James. Quem lhe dera...

30/6¹ - Sandman, a série, está em desenvolvimento pela Netflix.

30/6² - E aí vem Rien...


...a filha de Wolverine. Ah, para, Marvel. Para.

domingo, 16 de junho de 2019

Eu traí o movimento punk, véio!


No atual pega-pra-capar da Panini em busca da liquidez perdida, tanto a oferta quanto a demanda têm ensaiado um desencontro sem precedentes. Ao menos é que tem sido comentado ad nauseum em redes sociais e canais do YouTube. Provavelmente nem sempre é verdade - ou você acha que a editora já não teria puxado o freio de mão, ao invés de jogar mais dinheiro na fogueira? - e, pessoalmente, faço o meu mea culpa: encomendei minha edição de Marshal Law - Edição Definitiva diretamente pelo site da Panini (eufemismo para "pode meter tudo e sem vaselina") logo que pus meus olhos pidões no volumão. Uia.

No meu caso, nem foi opção. Não só amo o Pat Mills, como pulo a cerca com o Kevin O'Neill. Marshal Law sempre foi um dos meus quadrinhos do coração. E foi amor à primeira vista, já que é também o 1º gibi de ultraviolência que li na vida. Ultraviolência na concepção de 1987, claro, mas que batia maravilhas em 1991, quando foi publicado aqui pela Abril. E ainda uma delícia de incorreção política em 2019.

Com prefácio bem sacado de Jonathan Ross (traçando um paralelo de Mills/O'Neill/Law com o punk rock, veja só) e posfácio do próprio Mills, a edição é trampadíssima, trazendo tudo o que já foi publicado do Matador de Super-Heróis - menos os crossovers intereditoras e os livros ilustrados.

É uma belezura.



Com o verme temporariamente fora de ação, agora é só colocar uma playlist punk/hardcore e mergulhar nesse tratado de anarquia no future.

E, claro, rezar pra não ver muitos erros de revisão...

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Música, Ídolos e Midani


André Haidar Midani
(1932 - 2019)

Não me estranha que a partida de André Midani, ontem, 13 de junho, tenha repercutido muito mais pela "grande mídia" do que pela "baixa mídia". Embora qualquer brasileiro acima dos 30 anos tenha vivido e respirado o trabalho de Midani durante toda a vida, a maioria nunca se deu conta disso. Ex-gigante da indústria fonográfica e incrivelmente low profile, Midani reinventou a história da música brasileira como um Forrest Gump tupiniquim. Tupiniquim sírio, mas brasileiro com honra ao mérito da malandragem e da boa lábia.

Uma enorme parte do que esse país já produziu em termos de música pop desde 1955 (!) foi por intermédio dele. Isso inclui não apenas discos e artistas, mas gêneros musicais, abertura internacional e modernização da indústria, mesmo com os inúmeros bloqueios da ditadura.

Falar do trabalho de André Midani com artistas é até demais pra comentar. Passou pelo seu crivo uma verdadeira constelação, indo de Tom Jobim, Elis Regina, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor a Tim Maia, Guilherme Arantes, Erasmo Carlos, Raul Seixas, Camisa de Vênus e quase todo o Rock Brasil dos anos 80. E isso nem é o começo.

Como leitor véio de publicações musicais, como a finada Bizz e qualquer Caderno Dois ao alcance das mãos, já conhecia o peso e a importância do nome Midani. Mas não tinha ideia do tamanho do peso e o tamanho da importância. Pelo menos até ler Música, Ídolos e Poder: do Vinil ao Download (Ed. Nova Fronteira), que ele escreveu e lançou em 2008.

Meu objetivo era pesquisa, pura e simples. Queria retroceder na timeline da música pop brazuca, até descobrir "o que havia antes". O que tocava no rádio. O que as pessoas cantarolavam por aí. O que era um hit do verão brasileiro no início da década de 1950, muito antes da Bossa Nova, da Jovem Guarda, do Tropicalismo.

Como seria a figura de um popstar nacional daquela época? E o que acontecia ali que sobrevive até hoje, contra todas as probabilidades?

O livro me respondeu a todas essas questões e ainda me ofereceu uma visão muito mais ampla da indústria e, por que não, da essência do nosso país. Fora que é um belíssimo relato de uma vida plena e fora-de-série - se você não se emocionar logo nas primeiras páginas com suas memórias de criança se esgueirando por uma França sitiada pelos nazistas, é porque você tem um pedaço de barbante no lugar desse coração de gelo.

Até concordo com algumas críticas reclamando da excessiva discrição de Midani. Boa praça, no livro ele pouco se aventurou por algum caso mais polêmico envolvendo nossas queridas estrelas. Se tivesse contado 2% do que sabia e do que já viu em todas essas décadas de mainstream canarinho, provavelmente o palco iria desabar. De novo.

Mas a pegada é outra, igualmente recompensadora. E há poucas referências com tanto conhecimento de causa no que tange ao tino para os negócios.

Escolhi um trecho que serve como lição pra vida (especialmente dos sonhadores):

"Os danos que os tecnocratas estão causando à indústria fonográfica, ao cinema, à TV, às publicações, à Broadway e às empresas de publicidade têm que ser confrontados pelos líderes criativos de amanhã, antes que seja tarde. Terão que inverter o lema “lucros e criatividade” para “criatividade e lucros”. No entanto, para alcançar esse objetivo, deverão aprender a entender, e até gostar, do mundo das finanças para se tornarem presidentes de suas organizações, descobrir o prazer de estudar os balanços financeiros das suas empresas, ler através dos números e compreender o que significam. 
Richard Branson, os irmãos Weinstein, Ted Turner, Steve Jobs, Bill Gates, Larry Page, John Hegarty são alguns exemplos que podem servir de inspiração. Os líderes criativos vão ter que aprender a ser tão impiedosos quanto os tecnocratas, aprender o linguajar de Wall Street e convencer todo esse mundo de que somente a criatividade genuína e o planejamento a longo prazo levam a uma lucratividade segura e duradoura. Vão ter o desafio e a responsabilidade de inverter os papéis e conseguir que os tecnocratas trabalhem para eles, em vez deles trabalharem para os tecnocratas."

Descanse em paz, Midani. E obrigado por tudo.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Typhoid Ann

Ann Nocenti, minha heroína particular e reserva moral da Superaventuras Marvel, deu uma entrevista bacanuda para o podcast Women of Marvel.


O episódio completo pode ser conferido abaixo...


...ou aqui, para fazer um agrado às garotas com um buquê de page hits.

Jornalista, roteirista e ex-editora na Marvel, Nocenti sempre rendeu ótimas entrevistas. Ela não é de fazer média: normalmente solta o verbo até o limite possível antes de incomodar (muito) alguém, mas sempre com franqueza e bom humor adoráveis. E, mais importante: zero frescurite. Talvez seja herança da época pré-redes sociais, quando as pessoas conversavam olhando nos olhos e não se ofendiam tão fácil.

Sendo assim, salta aos ouvidos como as podcasters Sana Amanat e Judy Stephens desperdiçam o Fator Nocenti para um bom papo de boteco. Apesar da eventual quadrinhista se mostrar articulada e generosa, a condução é respeitosa e bem chapa branca. E termina dez minutos antes do tempo regulamentar. Sintomático.

Ainda assim, Nocenti fala bastante sobre sua juventude lendo velhas antologias do Pogo (o Bone original) e do Dick Tracy - cujos inimigos caricatos e disformes lhe criou um fascínio por vilões e monstros ainda criança - e sobre a dinâmica interna da Marvel com alguns causos de bastidores da era Jim Shooter - o ponto onde a entrevista poderia ter virado puro rock & roll, não fossem as comportadas apresentadoras/funcionárias da editora.

Outros pontos interessantes: a importância de Louise Simonson e da grande Marie Severin em sua carreira, a perícia de Archie Goodwin em mecânicas de plots, a ocasião em que Mark Gruenwald a pediu para matar a Mulher-Aranha logo num de seus primeiros trabalhos, como é a transição de editor-assistente para mentor ("e então você se demite"), suas crias (Longshot, Mojo, Espiral, Coração Negro), a influência de Chris Claremont na composição de personagens femininas fortes e os conselhos de Dennis O'Neil - também um jornalista - sobre como inserir questões políticas e sociais em gibis de super-herói.

Um dos trechos em que fica evidente a diferença entre as cascas-grossas gerações 1970-1980 e a superprotegida geração pós-milênio, é quando ela comenta sobre a "experiência de campo" necessária para contar uma boa história - coisa a própria Ann conhece bem. Curiosa também era a estratégia quase suicida do processo criativo. Com deadlines absurdas e trabalhando literalmente madrugadas adentro, "trazíamos muitas ideias malucas porque achávamos que elas iriam acabar numa lata de lixo".

A melhor parte, pra mim, é sobre os primórdios da relação com John Romita Jr. e a escalação da dupla, por intermédio de Ralph Macchio, para assumir o Demolidor pós-Miller/Mazzucchelli. Uma senhora responsabilidade. E, claro, o trecho onde que ela fala sobre uma de suas maiores personagens: Mary Tyfoid.

Segundo ela, a vilã tem uma dualidade e contradição equivalentes às do próprio Matt Murdock/Demolidor, que, por sua vez, ainda tem uma queda por garotas malvadas. Tal qual o Destemido, Mary lida o tempo todo com um reflexo distorcido dela própria. E Nocenti não se furtava em ir fundo na ferida. Isso bate com a impressão que sempre tive da personagem, cuja complexidade ia muito além do perfil crazy bimbo de uma Arlequina, por exemplo.

Perturbação de identidade dissociativa num contexto pop com super-heróis e supervilões? Você já via (lia) muito antes de Shyamalan e a trilogia Corpo Fechado.

Num dos meus trechos favoritos, Nocenti reflete sobre a evolução de Tyfoid, ficando mais e mais sombria até virar uma matadora de homens. Ou, nas palavras dela, "alguém que poderia invadir um abrigo para mulheres e checar nos arquivos o que cada homem fez com cada mulher e então ir atrás deles para retribuir cada ferimento".

Uma excelente ideia.


Lógico que a Mary Tyfoid é uma das minhas vilãs do coração. E a primeira a conquistar um lugarzinho na (disputada) estante...

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Mãos à obra, pessoal!


Pessoas da sala de justiça de jantar, como alguns já devem ter percebido há mais ou menos dois anos o Vertigem está parado, entre os diversos contratempos para esta paralisação é que o principal administrador do site, Von Dews, encontra-se com problemas de saúde, problema este que lhe afetaram a visão; a doença retinopatia diabética esta levando-o a cegueira.
Dessa forma parentes e amigos de sua cidade natal estão organizando uma "vaquinha" para que seja feita as cirurgias a fim de lhe recuperar sua qualidade de vida, assim sendo, viemos aqui pedir o auxílio aos diversos frequentadores e adeptos do site Vertigem HQ que se interessem em ajudar possam colaborar com esta "vaquinha" no link abaixo e na conta:
https://www.vakinha.com.br/vaquinha/578529
Caixa Econômica Federal
Agência: 0099
Operação: 013
Conta Poupança :164669-0
Agradecemos a colaboração e apoio de todos. Mesmo que não se possa ajudar, por favor, compartilhe este post. O Von Dews só tem a agradecer a esses mais de 10 anos de existência do site.