E aí vai um conselhinho na faixa: jamais a subestime. Ainda mais em tempos de quarentena (mesmo meia boca), com todo o tipo de soturnidades que assolam os pensamentos.
Claro que esse longo acerto de contas com o passado tem um espaço generoso reservado à figura paterna. Hoje sou mais um daqueles pobres sujeitos que lacrimejam ao ouvir "Father and Son" (mentira, choro em bicas com ela há pelo menos uns 15 anos). Então, meu coração não poderia ter ficado mais amolecido com o tocante trecho de uma entrevista publicado nas redes oficiais do genial e saudoso Flavio Colin.
Palavras francas e incrivelmente generosas do velho mestre.
E as notas de amarga resignação me trouxeram identificação imediata. Para muitos outros também, imagino. Matutando a respeito, cheguei a lembrar de um momento de Bastidores da Comédia (Comedian, 2002), doc resenhado aqui em tempos idos sobre a volta do Jerry Seinfeld ao circuito de apresentações stand-up. Inclusive, está disponível na Netflix.
Na cena, o humorista iniciante Orny Adams fala das pressões sociais e familiares que sofre por causa de sua carreira artística. O veterano Seinfeld então conta uma história esclarecedora.
Vida de artista cansa. E nem precisa ser artista. Como dizia o Bardo, "o mundo é um palco..."
7 comentários:
O problema do Flavio Colin (e de muitos outros artistas) é que eles não ficaram milionários.
Vejo essa onda de youtubers enchendo o bolso de dinheiro pra mergulhar em banheira de nutella e espalhar fake news e ninguém fsla que eles são vagabundos. Todo mundo aplaudindo, todo mundo achando bonito. 2 pesos, 2 medidas.
Flavio Colin, Julio Shimamoto, Rodolfo Zalla, Jayme Cortez, Claudio Seto, Eugenio Colonnese, Gedeone Malagola, Mozart Couto... e a lista vai e vai. Mas só quem é leitor assíduo conhece ou já ouviu falar desses mestres. E mesmo assim nem todo mundo - especialmente a fanboyzada atual.
Fosse na Europa ou nos EUA, todo mês teria um álbum/antologia novo de cada um deles. É aí que dou moral aos esforços do P&N (Fronteira do Além, do Cortez), MMArte (O Ditador Frankenstein, do Shimamoto) e alguns poucos abnegados.
Faço 40 na próxima segunda-feira. Essa bad vem batendo forte durante a semana. Já tô naquelas do "o que fiz da vida até aqui?". Nem uma árvore plantei ou sequer escrevi um livro. Seu texto, por incrível que pareça, foi um alento e o fantasma do meu pai - falecido em 2012 - ainda me atormenta. Ainda precisamos tomar uma cerva.
Nossa, Doggma... Parece até que eu tava adivinhando que teria esse seu post. Eu farei 33 daqui a alguns dias e sinto não só a síndrome de buscar o "significado de tudo" como sinto as mesmas angústias do Orny Adams: os ex-colegas de escola mais bem-sucedidos, os familiares só te rendendo respeito se você for um profissional de elite, com carro do ano e tudo o mais...
Eu gosto de escrever. Já publiquei algumas coisas, já gastei do meu bolso, do meu tempo... E ainda tô no mesmo lugar. No momento, tá "melhor ainda" porque tô há quase um ano desempregado. Há algumas semanas já não consigo escrever nada que me agrade - minha recente obsessão era conseguir finalmente escrever HQs - e a compreensão que me assola é "não é pra você, foque em algo certo, são quase dez anos...".
A frase do Colin, mesmo eu não tendo uma carreira nem de perto como a dele, me caiu como uma luva. Apesar disso, de certa forma, nesta tarde, eu comecei a tentar me reencontrar. E o seu texto e o vídeo do Seinfeld de alguma maneira me ajudaram a me animar um pouco mais. Por isso e por outras, desde que descobri seu blog por acaso, sou leitor assíduo. Um abraço, amigo!
Parabéns de antemão, Sr. Luwig Sá! Bem vindo à 1ª década do resto da sua vida... brincadeira, rs.
Esquece esse negócio de plantar árvore, senão vai pirar. O segredo é fazer de conta que nem é com você e lidar só quando estiver a fim (em dias - semanas - muito... interessantes).
Abração forte, cara. Muita saúde e tudo de bão pra você & família.
Claro que ainda vamos tomar aquela cerva!
* * * * *
Muito legal saber disso, Valdemar. Já valeu o post! Na hora, vi a ligação entre o momento confessional do Colin, a angústia do Orny e o meio termo em que tentamos nos equilibrar.
A situação está horrível pra todo mundo dos 99%. Fora isso, o de sempre... A vida às vezes parece uma corrida sem sentido e não faltam pessoas te empurrando para entrar nela - quase sempre no sentido contrário daquilo que você almeja.
Não por acaso, a postura do Colin é a mesma do Glenn Miller & banda: irredutível. Simplesmente porque não se trata de "escolha", mas daquilo que você é. De ser honesto consigo mesmo. Pelo menos isso, antes de correr atrás de um pagaluguel protocolar.
É a única certeza que temos (fora morte & impostos). Senão, pra quê seguir em frente?
Abraços!
otimo doc
vi esse ano
E eu preciso rever.
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