sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Pavões do Barulho


Uma das maiores surpresas do jornalismo musical do ano. O jornalista e diretor André Barcinski lançou Pavões Misteriosos originalmente em 2014 pela editora Três Estrelas, do Grupo Folha. É uma das investigações mais completas já impressas sobre o cenário da música brasileira embaixo e fora dos holofotes. Agora, com uma reedição turbinada com 400 páginas extras, vira quase uma Bíblia da bizarrice pop-canarinha.

E Barulho: Uma Viagem pelo Underground do Rock Americano saiu em 1992, pela editora Paulicéia. Foi um livro-evento para todo mundo que curtia rock não-farofa do final da década de 1980 até o início da década de 1990. O material foi resultado de uma viagem de dois meses e ½ fotografando e entrevistando alguns dos pilares da seara alternativa da época —figuras como Steve Albini, Jello Biafra, Ministry, Nirvana, Mudhoney, Ramones, Red Hot Chili Peppers e por aí foi. Algumas destas reportagens inclusive foram editadas na revista Bizz como "amostra grátis" numa série de matérias sensacionais intitulada, logicamente, Barulho. Brodagem pura, só pra ficar nos anos 90.

O que é mais curioso sobre essas futuras reedições (autopublicadas, por sinal) é a discrepância absurda de timing. Pavões foi escrita na mesma pegada analítica e documental de publicações seminais como Mojo, Uncut e a Rolling Stone gringa. Material atemporal para ler, reler e manter sempre ao alcance da mão para consultas. Já Barulho...

Kurt Cobain botou um fim em boa parte daquela história poucos anos depois, quase todos os Ramones se foram, o palco desabou, a indústria morreu, enfim. O único fator que justifica a publicação de Barulho hoje é a força da nostalgia.

Barcinski nunca demonstrou grande interesse em um relançamento do livro —meio um álbum de fotos com textos curtos e diagramação marota pra dar aquele realce— e até se mostrava a favor de seu compartilhamento digital. Certamente, os pedidos de reimpressão da turba carente na casa dos quarenta e alguma pesquisa de mercado (de revivais) devem ter mudado os planos. Um Catarse teria sido um belo termômetro de alcance público.

Também não deixa de ser sintomático que os dois livros tratem da música produzida há, pelo menos, trinta anos. E claro que vou correr atrás dos dois. Pode me chamar de Matusa nostálgico, mas não de ter mau gosto musical.

3 comentários:

Valdemar Morais disse...

Eu curtia ler a coluna do Barcinski na Folha. Por ela eu me interessei por James Ellroy e li "O Velho e o Mar", que me impactou tal qual ele prometeu em seu artigo. Mas me dói a hidrofobia que ele têm com os quadrinhos. :)

Marcelo Andrade disse...

Barcinski me fez ter atenção a mais em alguns cenarios do rock nova iorquino c/ o Barulho e me fez muito bem adicionar os hardcore daqlas bandas...agora essa dos Pavões ja me encheu os olhos...vamos ver qto vai me sair essa sangria.... XD

doggma disse...

Valdemar, bem lembrado. O André Barcinski têm intolerância aguda a quadrinhos, séries e blockbusters. Aí é hora de recorrer ao outro André, o Forastieri. Quando este não estiver atacado na andropausa, claro. Tá difícil pra minha geração...

Marcelo, com muita dor no coração não peguei o Barulho na época (não tinha um puto no bolso) e só li completo há uns anos, via scans. Vai ser meio deprê (aquela cena e aquela realidade já se foram há muito), mas vou pegar. E essa edição-tijolo do Pavões muito me interessa, bem como o projeto dele da bio do Nelson Ned, via Cia. das Letras. Esse também será imperdível.

Também estou preocupado com a sangria... 🩸🩸🩸