2015 foi bastante atribulado para acompanhar artistas novos e lançamentos em geral. Certamente ainda estarei descobrindo muita coisa bacana desse ano mais pra frente. Tomara. Espero ansiosamente pelas dicas dos amigos.
Constatação: nunca ouvi tanto Slayer na vida - da insuperável trinca Angel-South-Seasons, que fique claro. Reflexo subconsciente do clima pesado que acometeu o país esse ano? Talvez.
A Sra. Morte trabalhou bastante no cânone artístico em 2015. Nem dá pra destacar highlights num conjunto da obra que englobou de Leonard Nimoy até B.B. King, mas tenho que admitir... convocar o Lemmy aos 47 do 2º tempo foi capricho puro. Bem, se houver rock and roll, bebidas, cigarros e bem alimentadas anjinhas/diabinhas por lá, pode crer que ele já nem lembra mais desse lugarzinho a uma altura dessas!
Mas vamos aos 11+ dos melhores! De alguns deles!
We are (all) Motörhead!
"Descobri" o Alabama Shakes no excelente programa Alto-Falante e desde então fiquei viciado. Primeiro, porque já estava meio órfão desse blend de rock pauleira, soul e r&b desde que o The BellRays e o Detroit Cobras afundaram no underground. Segundo, porque os Shakes têm personalidade própria e um modo muito peculiar de "bater" esses elementos. Em comparação com o fantástico debut, este Sound & Color é menos rocker, mais intimista e mais intrincado. Não é do tipo que desce de primeira, mas quer saber? É o melhor álbum do grupo até agora. E como canta essa Brittany Howard, benzadeus.
E eu também achava que o New Order já tinha dado o que tinha que dar. Pra minha (nossa) sorte, Music Complete simplesmente atropelou tais impressões. Não que os discos anteriores fossem ruins, mas o que se ouve aqui prova que aquela incrível banda que gravou clássicos como Brotherhood e Technique está viva e passa muito bem. Parece até que foi composto e gravado na época. Nem dá pra escolher uma favorita em meio a tanta música boa e ganchuda, mas "Stray Dog" com a voz cavernosa do Iggy Pop é de derreter o coração.
Não sou o maior fã da música do Marilyn Manson que você vai encontrar por aí. É um sujeito evidentemente inteligente, com dois álbuns iniciais muito promissores e um terceiro que trazia um hit genial. Depois, no pós-estouro, se embolou numa maçaroca envolvendo glam, rock industrial e covers requentadas de clássicos pop e parecia que não ia sair mais disso. Então foi um tremendo susto quando ouvi The Pale Emperor. No álbum, o "Antichrist Superstar" mergulha numa espécie de country-blues gótico com um climão soturno que faria o próprio Imperador Palpatine sair por aí assobiando os refrãos. Algumas batidas de rock arena ainda marcam presença, mas de forma absolutamente adequada ao contexto. Disco surpreendente.
O tempo voa em mach-5. Psychic Warfare já é o 11º disco do Clutch, fora registros ao vivo e EPs. E até hoje não sei categorizar o som eletrizante do grupo. Tem algum parentesco com o blues-punk das bandas do Jon Spencer, mas é bem mais grosseiro, quase stoner metal, e embebido numa certa malemolência etílica, prima-irmã do mesmo ar que o Tom Waits respira. Mas vai saber. Só sei que esse disco deve estar rolando em alguma festa insana por aí e eu estou perdendo...
Um amigo comentou outro dia que o Krisiun é atualmente a melhor banda de death metal old school do planeta. Assino embaixo, ainda que o álbum Forged in Fury não seja totalmente old school - observei partículas de harmonias melódicas aqui e estruturas mais acessíveis e cadenciadas acolá. O fato é que ele obedece com coerência e bom senso uma cuidadosa escalada evolutiva/musical que o trio gaúcho vem conduzindo primorosamente nos últimos álbuns. Coisa de alto nível. Dá vontade de partir pra ignorância e gritar "é Brasil, porra!!", mas além de ser mesmo um atestado de ignorância, o Brasil não tem nada a ver com isso. Talento, integridade e trabalho duro sim.
Uma pena que o Napalm Death seja apenas para usuários avançados. Uma discografia recente brilhante como a do grupo britânico merecia um especial em horário nobre todo santo dia. O excelente Apex Predator – Easy Meat é um exemplo disso. É um mash-up nuclear de tudo o que deu certo no som dos caras: punk hardcore, death metal, noise e um tanto de experimentalismo, além, é claro, do grindcore nosso de cada dia, do qual eles são reis absolutos. Isso aqui é podreira elevada ao status de arte.
O Death Grips anunciou seu "término" em 2014, mas ainda está malandramente ativo, com participações em festivais descolados e desovando mais discos de inéditas. Um deles, aliás, é um projeto de inéditas: dois álbuns separados do mesmo lançamento, The Power That B. O primeiro, Niggas on the Moon, não curti tanto, mas no segundo, Jenny Death, o Grips toca o terror como sempre. Estão lá os estilhaços agonizantes de tecno, hardcore, noise e industrial fazendo a cama para o hip-hop psicopata de MC Ride. É a trilha perfeita para o estado atual do mundo.
No último ZdO cheguei a cantar a bola sobre o disco colaborativo do fabuloso trio canadense BadBadNotGood com o rapper Ghostface Killah, do Wu-Tang Clan. E Sour Soul não decepcionou. É verdade que Killah pouco altera seu discurso daquilo que sempre fez em seu grupo, mas o BBNG é esperto o suficiente pra compensar com um cenário impecável ao fundo. O grande diferencial para aquele manjado jazz-rap dos anos 90 é a vasta musicalidade da banda. Sem esforço, os caras combinam batidas secas de jazz com arpejos mod dos sixties, melodias Morriconeanas e a atmosfera obscurecida do trip-hop até o ponto de soarem indistinguíveis. O resultado é maravilhoso. Se eu fosse o Killah ficava por ali mesmo.
Musicalmente, Sol Invictus continua daquele exato momento onde o Faith No More parou, no disco Album of the Year, há 18 anos (pois é...). Que não é um dos meus preferidos, mas que, folguei em ouvir, apenas serviu como ponto de partida mesmo. Há ecos evidentes de tudo o que o Fenemê aprontou desde Angel Dust - e até do ensolarado The Real Thing, se considerar que a música "Superhero", minha favorita, é uma subversão atualizada da inesquecível "From Out of Nowhere". Mas a criatura aqui, como de praxe em se tratando desses malucos, é bem outra e completamente sui generis. Um álbum bacaníssimo. Se rolar outro, tô dentro.
A sonoridade de Berlin entrega fácil: o power trio alemão Kadavar nunca esteve tão à vontade. Se no incensado álbum anterior o som patinava no excesso de referências ao passado, agora o esporro está muito mais garageiro, orgânico, visceral. Quem sabe daqui a um tempo eles não se tornam o novo Thee Hypnotics?
Fazia tempo que não comentava do Baroness aqui - desde o ZdO 2007, pra ser exato. Purple impressiona não só por manter sua evolução sonora contínua, mas também pelo fato da banda ainda estar viva para gravar o disco. Não bastasse o gravíssimo acidente sofrido pelos músicos em 2012, o baixista e o baterista (o que sobrou deles) resolveram picar a mula logo na sequência. Contra todas as probabilidades, o grupo deu a volta por cima em tempo recorde e seu metalzão progressivóide com melodias pop oitentistas segue intacto. E sensacional.
Menções honrosas:
Hand. Cannot. Erase., Steven Wilson
Luminiferous, High on Fire
Bad Magic, Motörhead
SubTrap, Jay IDK
Songs from the Black Hole, Prong
Meliora, Ghost
Thе Plаguе Within, Pаrаdisе Lоst
Vol. 4: Hammered Again, Mammoth Mammoth
Technicians of the Sacred, Ozric Tentacles
The Killer Instinct, Black Star Riders
Melhores aquisições de HQs
Em igual nível de importância estão o tomo Do Inferno, da editora Veneta, e o clássico sci-fi O Perfuraneve, pela editora Aleph, finalmente lançado no Brasil. Mas não estaria sendo honesto se não destacasse um grande sonho de consumo realizado.
E bota grande nisso. Lançado em 2011 pela Mythos Editora, o gigantesco livro Conan: O Libertador reúne as histórias do bárbaro na Savage Sword of Conan que acompanham sua vida dos tempos de várzea até sua ascensão ao trono da Aquilônia. Perdi, claro, pelo preço bastante elevado para época (e não tão elevado para hoje!). Pra piorar, os exemplares esgotaram rapidamente. Muitos deles certamente abduzidos por especuladores para posterior venda extorsiva em sites de vendas informais. Um indício é a edição que adquiri, de um lote com edições lacradas e em estado "de banca". Suspeito, no mínimo.
Seja como for, depois de uma edição colossal dessas (e que, provavelmente, jamais verá uma continuação nas mesmas proporções), vai ser difícil ler o Conan de Roy Thomas, John Buscema, Tony DeZuniga e outros em formatos mundanos novamente. Crom!
A capa mais foda
Homem-Máquina, com roteiro de Tom DeFalco e os traços de Herb Trimpe (r.i.p.) sendo varridos pela magnífica arte-final de Barry Windsor-Smith, também era outro velho sonho de consumo. A demora na publicação desde o anúncio assustou um pouco, mas felizmente deu tudo certo. A belíssima metalização da capa e contracapa deu um toque mais do que especial à saga futurista do Aaron Stack. Golaço da Panini!
Melhor seriado de tevê
Demolidor, com uma bengala nas costas. "Uma série com o padrão HBO" sempre foi o mantra de todos os leitores de quadrinhos quando se trata de adaptações live-action de super-heróis. E taí o porquê disso. Copiaram, executivos?
Melhor filme
Felizmente um ano concorrido, com Sicario: Terra de Ninguém, O Marciano, Kingsman: Serviço Secreto e vários outros. Mas só pode haver um!
Mad Max: Estrada da Fúria, com o carnaval apocalíptico de George Miller a pleno vapor. Assim que ganhar uma dessas mega-senas viciadas, produzo eu mesmo um filme solo da Imperatriz Furiosa!
Melhor doc
E também o mais chocante...
Night Will Fall reúne o material produzido por Alfred Hitchcock e Sidney Bernstein para um documentário sobre a chegada das tropas aliadas a vários campos de concentração nazistas. As cenas são tão fortes e perturbadoras que as filmagens terminaram engavetadas por 70 anos. Pra ser sincero, fiquei uns bons dias com algumas dessas imagens assombrando minha cabeça, então fica o aviso. Mas acima de tudo, se trata de um documento histórico essencial, com muito material, depoimentos e informações até então inéditas sobre a hora mais negra da humanidade.
Por hora é isso. Dicas, concordâncias e discordâncias nos comentários.
E um excelente 2016 (e 2017, 2018...) para todos!
9 comentários:
Esse livrão do Conan sonho um dia aqui em casa.
Mad Max tá na lista de todo mundo pelo que eu vi, um clássico moderno.
Demolidor subiu o nível das adaptações Marvel/DC... Apesar de gostar muito de Flash e entender a pegada, não tinha como não identificar uma porrada de forçada de barra a cada episódio e comparar com a série do Homem sem Medo.
Uma pergunta pra finalizar: ainda acompanha o Black Stone Cherry? Descobri os caras por aqui nos teus melhores de 2006.
Vai tempo, hein?
Abraço!
Doggma não lembro se em algum post tu falou se gostava ou não de anime,mas mesmo não gostando vou indicar a vc(se é que vc não conhece)pois acho que qualquer fã de heróis fantasiados iria se interessar.
O anime em questão é "One Punch Man" que apesar do nome de filme de "porrada B" do Força Total,foi uma das melhores coisas relacionadas a "herói" esse ano.
Não vou fazer uma resenha aqui,mas basta dizer que o anime em questão é uma sátira bem humorada mas ao mesmo tempo extremamente bem produzida ao gênero de super heróis não só americanos como japoneses..
O cara usa um "traje" ridículo" com uma capa meio Superman e um poder maior do que o Goku que decidiu ser herói por hobby rsrs
Toda a historia por trás da produção por si só é bem interessante.
Pra mim que passei tanto tempo afastado de animes desde Bersek e Evangelion foi uma ótima surpresa no ano de 2015.
E aí, Do Vale! Peguei esse Conan no ML por 150 mangos, sem frete. O que ficou até justo, corrigindo pela inflação desde 2011. Mas te digo que se fosse uns $200 ainda valeria a pena.
Em contraponto com o tom mais urbano e realístico do Demolidor, Flash (e Arrow) ficou mais formulaico e pueril nesta última temporada, hm? Espero que recupere o ritmo, pois gostava da equipe.
Falando nisso, Jessica Jones também rendeu uma belíssima temporada... ainda que estrelada por uma Jessica Jones alternativa. Nada a ver com a JJ do Bendis.
[Editado 10/1] Ah, e quanto ao Black Stone Cherry, acabei acompanhando só até o lançamento seguinte, o excelente "Live at the Astoria". Depois me embolei no meio de campo - mas só com coisa boa: The Answer, Slave to the System, Black Country Communion - e os perdi de vista (e ouvido!). Chegou a conferir os seguintes?
Abração!
* * *
Fala, Bickle! Também sou espectador casual, mas curto anime sim e me curvo ante as bizarrices pop-japorongas.
Vi que esse "One Punch Man" anda absurdamente bem cotado por aí. Andou saindo até em artigo da Forbes (!):
http://www.forbes.com/sites/olliebarder/2016/01/04/one-punch-man-is-the-hero-manga-and-anime-deserves/
Valeu mesmo pela dica e pelas referências. Vou correr atrás pra ontem!
Não tenho como contestar suas aquisições, sobretudo a do Conan*, ainda mais porque ninguém é obrigado ou sempre tem grana suficiente para adquirir tudo que deseja logo nos primeiros dias do lançamento.
Empato contigo no Do Inferno/Perfuraneve e sigo adiante com Arte de Neil Gaiman, Promethea #1, Gotham (Central) #1, Batman & Robin Integral (Morrison), O Quinto Beatle, O mundo de Aisha, Duas Sombras, Talco de Vidro, e, IMHO, o melhor quadrinho de 2015, Pílulas Azuis.
(*) Que, por acaso, vi em bancas à época, mas, miseravelmente, a deixei passar.
Quanto ao filme, incontestável, mas fico bastante tentado a criar um empate técnico com os indies, e por sua natureza menores em escala, Relatos Selvagens (Relatos Salvajes) e A Viatura (Cop Car).
Demolidor chegou com o pé na porta, não tem como discordar. Já contando as horas para voltar a vê-lo em março em clima de "bromance" com o nosso Velho Frank. Por outro lado, se já não conheces, dê uma chance a The Leftovers**, da HBO, mormente no Ano 2. Seu S02E08 (International Assassin) ao lado de Black Mirror S01E03 (The Entire History of You) foram as coisas mais acachapantes que vi em termos de TV. Coisa fina.
Outro seriado foda-foda-foda, que, aparentemente, sou o único que assiste: Banshee! O Ano 3 foi de uma finesse que só vendo para crer: https://www.youtube.com/watch?v=AJMHd7-LL1k
(**) Acredite, é a redenção de Damon Lindelof!
E a lista de séries imperdíveis não para! Dessas, a única que conferi é Black Mirror. Joguei as demais na lista, juntamente com a tal The 100, que dizem que demora pra engrenar, mas quando engrena...
Não assisti esse "A Viatura". Vou correr atrás. Valeu a dica!
Chegou a ver o TP do Conan nas bancas? Caramba, ainda bem que não vi, senão iria declinar dessa compra sangrando pelo nariz (e olhos, ouvidos...). Em 2011 eu não tinha a menor condição de encarar isso aí.
Em contrapartida, hoje a luta tem sido mais pelo espaço físico mesmo. Felizmente, com alguns ajustes pontuais aqui e ali, consegui adiar essa encrenca até, pelo menos, o ano que vem. Ou assim espero. Pelo ritmo das aquisições...
Cara, fui acompanhado à medida que eles lançavam os discos. O 2o álbum mantém a força mas já se nota uma AÇUCARADA nas composições. O 3o definitivamente é o mais fraco, onde eles tentaram emular um pouco do Nikelback, mas sem sucesso: disco sem peso, músicas que não pegam e baladas esquecíveis. Já o mais recente, Magic Mountain, volta ao início da banda e, na minha opinião, só perde pro debut.
The Answer muito os 2 primeiros discos, mas depois deixei passar, creio que ainda tão na ativa; já o Black Country Communion só foi uma das melhores paridas nos últimos anos, muito bom ver os coroas com mais gás que muita banda nova por aí.
Nessa linha retrô tu chegou a sacar Rival Sons? Banda americana muito boa de blues rock, 4 discos na bagagem e todos acima da média.
Quanto ao Flash, até comentei com o Luwig que essa 2a temporada me broxou demais: não cheguei no midseason. Aguardando alguma novidade pra me fazer voltar.
Fala, Do Vale!
Caramba, cara. Adoro Rival Sons. Inclusive curti a leve modificada no som que fizeram no último (e subestimado) disco. Outro que vai nessa mesma pegada blues rock/garagem - você provavelmente já deve conhecer - é o Radio Moscow. Eles também têm 4 álbuns (e 1 EP), todos fantásticos.
E valeu pela geral no BSC e no Answer!
Radio Moscow não conhecia, ouvindo aqui e gostando muito, vou mostrar pra galera aqui.
Rapaz, acho o Great Western Valkyrie o mais consistente do Rival Sons, saíram daquela eterna comparação com o Led Zeppelin (até ouvindo aqui ahahaha).
Tenho que dar uma repassada nos discos do Rival. Ultimamente tenho ouvido o Handsome Jack. Depois do Black Keys ter derrapado no último álbum, o grupo tem sido meu abrigo blues/rock/soul/roots favorito.
Zep rules! E dá-lhe "How the West Was Won" no talo!
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