sábado, 15 de novembro de 2025
I see dog people
Antes de tudo, Bom Menino (Good Boy) deve ter dado um trabalho do cão. Segundo o diretor Ben Leonberg, a ideia de um longa de terror pela perspectiva canina foi inspirada por Buzz, o cachorro de Poltergeist (1982). No filme, o talentoso golden retriever foi o 1º a perceber que algo errado não estava certo na casa mal-assombrada. Histórias com um totó sensitivo às forças sobrenaturais de um lugar não é algo novo e remonta até ao valente Harry, de Terror em Amityville (1979). Mas é a primeira vez que esse conceito ganha um filme inteirinho para brincar, passear, morder e chamar de seu.
Quem é cachorreiro sabe. Às vezes parece que ver fantasmas é a única coisa que explica certas maluquices de um cachorro. A trama coescrita por Leonberg e Alex Cannon é bem enxuta e se vale de uma boa dose de sugestão para equilibrar a escassez de texto.
Sofrendo de uma doença pulmonar crônica e de uma depressão severa, o garotão Todd (Shane Jensen) resolve largar tudo e partir com seu cachorro Indy para a afastada casa de campo da família. Vazia desde o falecimento do avô (o veterano Larry Fessenden), a propriedade é a antessala do inferno. O pobre Indy é o único a perceber isso e faz o possível para proteger Todd – certeza que ele se preparou para o papel maratonando Coragem, o Cão Covarde.
Sabiamente, o roteiro evita dar super-habilidades a Indy e se atém ao básico de qualquer doguinho: a lealdade inegociável por seu tutor, a curiosidade instintiva e o dom de ver espíritos malignos tentando ferrar com os vivos. Nesse ponto, é quase um documentário.
O filme tem poucos jump scares (o do close na retina é o melhor) e investe mais na construção de uma atmosfera lúgubre e sombria. Que visualmente funciona muito bem, mas expõe o aspecto mais frágil da premissa. Com Todd imerso em seu próprio inferno pessoal, Indy é o único vetor de medo no filme para o espectador – e um cachorro não tem a visão humanizada de fenômenos sem explicação, esfriando assim boa parte da identificação e da empatia com o protagonista.
Trocando em miúdos, em tela, Indy não rosna e nem demonstra medo frente a eventos que fariam um homo sapiens voltar correndo para as cavernas. A única cena em que ele expressa medo e angústia reais não tem nada a ver com os eventos paranormais da casa.
Talvez o cineasta tenha pegado leve com seu ator canino, evitando situações de estresse animal e futuras dores de cabeça midiáticas. Na minha época®, qualquer aventura do Benji na Sessão da Tarde deixava o espectador empenado de tensão. Cachorros me mordam, ainda lembro do choro desesperado da cadelinha Lucky no filme O Cão do Diabo (1978). Um negócio impensável nos dias atuais.
Isto posto, é notável a engenhosidade visual de Leonberg para driblar o lugar-comum narrativo. O roteiro tem alguns tropeços, mas mantém a linearidade com direito a um final chocante, triste, evocativo e até mesmo belo.
Como terror per se, no entanto, o filme mais ladra do que morde. É realmente um bom menino...
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3 comentários:
Impressionante como tu continua a escrever com ninguém meu amigo! Grande abraço from Logan!
Fala, Dogg! Também botei Um Bom Menino no play, e ele engana bem. Está longe de ser potencial clássico de qualquer coisa, as situações envolvendo as aparições vão ficando repetitivas, mas achei que, no geral, vale 1h10 do nosso tempo, principalmente porque Indy é uma graça. Para mim, lembrou também dos desenhos do Tom e Jerry em que víamos as pessoas apenas dos joelhos pra baixo.
Abração!
Falaí, .:Logan:.!
Legal demais ter aparecido, meu chapa. Espero que estejam todos bem aí e com muita saúde.
Abração, velho de guerra!
🐾 🐾 🐾
E aí, Marlo!
Pois é, meu amigo... tu mencionou o fator "potencial clássico" aí e já ativou um monte de gatilhos caninos aqui.
O filme Sempre ao seu Lado, aquele, é um exemplo de ator cachorro - no bom sentido - que consegue transmitir a sua ansiedade e medo para o espectador. As cenas dele em 1ª pessoa (1º cachorro?) em que ele se vê sob os cuidados de terceiros são extremamente desconfortáveis e perturbadoras. E o filme nem era terror.
Mas resumiu tudo, Bom Menino engana bem. Principalmente pelo final sem medo de ser infeliz.
Abraços!
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