
Essa foi rápida. Imagino que a Pixel Magazine #4 deva estabelecer alguns recordes de leitura dinâmica por aí. Até a disposição contribui pra isso, num eficiente mix de histórias breves com aquele padrão artístico que nunca dura o suficiente pra quem está curtindo. A começar com Promethea, que abre a revista de uma forma até estratégica.
Promethea é mais uma cria vencedora de Alan Moore, em parceria com J.H. Williams III. Colecionou vários prêmios na estante - Eisner incluso - e sua demora em estrear no Brasil pelos meios oficiais é só mais um indício do descaso vigente, et cetera e tal. Não lembro direito onde li, mas já afirmaram que a personagem é uma versão alternativa da Mulher-Maravilha. Besteira. Pode haver a semelhança meramente estética, mas pára por aí.
O argumento vai fundo em temas como mitologia, fé, arte, períodos históricos e questões metafísicas, sempre com uma cadência típica de aventura pop - mas underground, no sentido que Love & Rockets é pop underground -, vide o papo despachadão entre Stacia e Sophie, logo no início. É a espontaneidade em quadrinhos. Contraste total com o intrincado background criado para a musa-heroína no prólogo. Um hoaxzão pra ninguém botar defeito.
Mais e melhores capítulos virão. Segundo a Pixel, Promethea é título fixo, o que é uma excelente notícia, mesmo com pesos-pesados na concorrência.

Ainda tentando tapar os buracos da cronologia de Hellblazer por aqui de maneira caótica. Ao menos a qualidade do material nivela por cima: A Natureza da Fera foi escrita pelo bonzão Paul Jenkis (Inumanos, The Sentry), desenhada pelo fodão Sean Phillips (Marvel Zombies) e, como reza o texto de abertura, é considerada pelo roteirista como sua melhor história para o mago boêmio John Constantine.
O que seria apenas uma episódio de entressafra, se mostra uma premissa muito instigante, com uma evolução belíssima. É quadrinho com punch literário na escola Neil Gaiman. Sensacional, ainda que aquelas parábolas tenham me lembrado o Paulo Coelho (!).
Esta edição também marca a primeira aparição de Tom, o pastor cigano, também conhecido como o - olha o spoiler - Deus Cristão Todo-Poderoso.

Planetary #16, que traz a história Hark, eu ainda não tinha lido. Desde já, uma das seqüências iniciais mais despirocantes que eu já vi, mesmo com o cinemão marcial chinês em baixa. De cara, mete um roundhouse kick naquela memorável cena à Herói/O Tigre e o Dragão/O Clã das Adagas Voadoras de Wolverine #26. E veio dois anos antes.
No subtítulo da tradicional intro, está escrito "um show de Cassaday". Justo, muito justo. Acho que foi o melhor trampo do homem. Com maestria ele conferiu profundidade, tensão e uma das porradarias mais empolgantes dos últimos anos, além, é claro, da beleza minimalista dos (econômicos) cenários. Cada quadrinho pede uma moldura. A "arte" aqui foi medida ao pé da letra.
O roteiro é sobre a origem da personagem Ana Hark, com Elijah Snow sempre fazendo as vezes do anão de Twin Peaks: sabe tudo, mas não explica nada. Fosse um filme, seria dirigido pelo Michael Haneke (Caché), com os créditos subindo sorrateiros no que ia parecer só a metade da projeção. Ainda assim, uma das histórias incompletas mais bacanas que já li.
Warren Ellis continua atirando cabeça de bode pro leitor roer.

Pra fechar, duas rapidinhas extraídas da maravilhosa Tomorrow Stories: Os Fatos da Vida!! e Pensar, ambas com roteiro de sir Moore. A primeira é um conto de uma piada só, protagonizado pelo guri Jack B. Quick. Humor rasteiro, mas hilário. A segunda vem com uma climéria meio noir e lembra muito o filme O Poder da Sedução, thriller putesco com Bill Pulmann e uma fatalíssima Linda Fiorentino manipulando todo mundo. A conclusão é idêntica. Moore tem crédito na casa, então deixa pra lá.
E cadê a seção de cartas? Pessoal estava levantando umas questões interessantes lá.
Fábulas - 1001 Noites vol. 1/3 com 52 páginas a 6,90. Meio caro, huh?

Estava mesmo interessado em que pé andava o bom e véio Swamp Thing. Segundo o editorial, conferido dinamicamente antes da negociação, a abordagem pretende seguir o padrão de horror instituído na fase clássica de Alan Moore (ele já foi citado por aqui hoje?). Amor em Vão é uma mini em duas partes escrita por Joshua Dysart e rabiscada por Enrique Breccia, e até consegue reeditar em parte o climão sorumbático daquela época.
Como bom admirador do Doutor Alec Holland, sempre tive curiosidade acerca do material mais antigo do personagem, ainda sob a batuta dos criadores Len Wein e Bernie Wrightson. Falta corrigida agora, com a revista Estréia apresenta O Monstro do Pântano #9, lançada em maio de 1980 pela Editora Brasil-América, a famosa 
Se bem me lembro, comentei da outra vez que o primeiro Quarteto Fantástico era puro exercício de escapismo e sorvetada na testa. Que Chris Tochevans consegue fazer em um diálogo o que Ryan Reynolds não conseguiu na filmografia inteira. Que Michael Coisa Chiklis, da incrivelmente fudenciante série The Shield, é a única razão daquele amontoado de pedra laranja funcionar em cena. Que Jessica Sue Alba não precisa atuar se estiver de colante (famoso método Elisha Cuthbert de interpretação). E imagino que até elogiei a disposição cênica do Senhor Ioantástico Gruffudd e sua semelhança física com o personagem, mas que ele (ou o script) não encontrou a essência original - no máximo, passa de raspão antes da próxima torta na cara.
Às vezes bate uma vontade meio kamikaze de defender a participação de Julian Von McDoom, em nome da diversão canalha que ele proporciona via Nip/Tuck, mas tenho por mim que o estereótipo que o sujeito montou é tiração de sarro da grossa e não vou ser eu a estragar a piada. Deixa o homem trabalhar.
Fã de Jack Kirby que sou, confesso: todas as cenas em que o Surfista aparece provocam um efeito de satisfação hiper-realista. Até para os que nutrem uma mera fantasia intimista recorrente. Se existe um herói que rescende tal empatia é o Surfer. Sua imagem é metáfora pura. Rasteira, mas pura. Nem precisa ler as revistas. Qualquer um gostaria de subir numa prancha e voar à velocidade da luz para o outro lado do universo, largando pra trás tudo o que não deu certo, toda essa gente chata e mesquinha, etc.