Os mais coroas lembram bem do jogo
Street Fighter II - The World Warrior detonando nas casas de fliperama lotadas. A molecada ficava horas em frente às máquinas armando desafios entre si. Zerar o game já era carne-de-vaca, fácil, fácil. O bicho pegava quando vinha um mega-viciado e inseria uma ficha quando você estava jogando. Era
shoryuken direto, não dava nem pra chegar perto do sacana. Eu lembro de um cara que era simplesmente invencível, jogando com o
Dhalsim! E o personagem indiano era disparado o pior para se jogar. Era todo lento e com golpes esquisitos... Eu ia de
Ryu mesmo. Sempre fui fiel às raízes. Joguei muito o obscuro
Street Fighter, o jogo original, aonde só tinham de conhecidos ele, o
Ken e o
Sagat, que era o chefão.
SF Foi um dos primeiros jogos de luta a contar com combinações de comando. Pra disparar o
hadouken, tinha de fazer um "L" com o joystick e pressionar o botão do soco. Pra fazer o famoso "helicóptero" (mortal), era um "L" ao contrário e o botão do chute. Até descobrir essas peculiaridades, gastei rios de grana com fichinhas. Mas o lance era viciante mesmo. Pior foi quando eu arrumei o meu primeiro trampo, de office-boy (só pra variar). O point da galera era num flipper que tinha no centro de Vitória. Bons tempos.
Mas voltando, lá pelo começo dos anos 90, a
Capcom, que desenvolveu o game, faturou toneladas de U$S com SFII. A coisa virou multimída antes mesmo do termo entrar na moda. Eram camisetas, bonés, revistas (toscas) e o mais curioso: várias versões aprimoradas do game. Para aproveitar o nome da marca SFII, eles não fizeram um
Street Fighter 3 logo de cara, e mantiveram o "II" no nome durante muito tempo. Aí tivemos as versões
SFII Champion Edition, SFII Alpha, Super Street Fighter II, etc, etc. Cada uma mais popular que a outra. Foi uma verdadeira festa capitalista... Muito japonês deve ter sido admitido na Yakuza nessa época.
A franquia se tornou uma das mais rentáveis na história dos jogos eletrônicos para arcade e home-players (SNES, Mega-Drive, Dreamcast e mais uma batelada de formatos), e atravessou a inflacionada década de 90 ilesa. A Capcom, em conjunto com a famigerada e onipresente
Marvel Comics, fez versões SF para vários super-heróis, como os X-Men, no precursor
X-Men: Children of the Atom. Depois descambou tudo de vez e armaram monstruosos (e iradíssimos) crossovers entre os personagens de SF com grande parte dos heróis Marvel, mais uns "penetras", como o
Capitão Commando e a
Chapéuzinho Vermelho (uma das personagens mais violentas, acredite). O criativo nome da série de jogos que traz esses embates é
Marvel versus Capcom, o que me deixa feliz em saber que o game não tem roteiro.
Claro que a coisa toda tomou força e acabou resvalando novamente para outras mídias, como séries de animação e os quadrinhos. A primeira animação que eu assisti atendia pelo nome de
Street Fighter - The Series. Era uma co-produção americana com uns poucos técnicos japoneses na equipe. Como a indústria japonesa de animação é o que há em termos de ação violenta, imagino que a maior parte da equipe era norte-americana mesmo, pois o desenho era um lixo. Era um arremedo de
G.I.Joe pró-imperialismo americano e fascista. Tecnicamente falando, era pior ainda. Péssima fluência na movimentação (uns 3 quadros p/seg.?) e roteiro mais esburacado que uma rua iraquiana. Passava no SBT.
Um belo dia, em uma vídeo locadora, vi uma fita de uma animação baseada em SF.
Street Fighter 2 - The Movie. Tremi, achando que se tratava de alguns episódios condensados daquela série tenebrosa. Mas olhando pra capa e pros screens do desenho, a coisa puxava bem mais pro anime. Vi uns caracteres japoneses onde deveria ser o nome da produtora e pronto, aluguei o trem. Putz, o desenho já começa com uma luta arrepiante entre Ryu e Ken, ao som de
Them Bones, do
Alice In Chains! Pancadaria de primeira!! A história, espertamente econômica, mostra Ryu e Ken (que são amigos de infância) ao encalço dos maiores lutadores da Terra, para se aprimorarem como guerreiros. Depois, eles desenvolvem a técnica do
hadouken, e logo chamam a atenção do sinistro
Bison, que domina o lado negro dessa técnica (SW no talo!). Altas lutas, animação acima da média e trilha sonora de trincar o crânio: além do AIC, também rolam porradas do
Korn, Godsmack, Disturbed e, se não me engano, tem
Sepultura na parada também.
Como que tentando se redimir, o mesmo SBT começou a exibir aos domingos outra série baseada em SF, chamada
Street Fighter Victory. Isso foi no distante 1995 (apenas seis meses de diferença de sua estréia no Japão). Na época, eu até falei:
"Não assisto essa porcaria nem que me paguem". Acabei assistindo sem ninguém me pagar mesmo, não sei por quê. Era domingo, eu devia estar na praia. Assisti e, cara... que
PUTA DESENHO! A animação era quase perfeita, as lutas muito bem construídas (eles não repetiam golpes em loop) e, principalmente, muito, mas muito sangue... era violentaço mesmo! Animê de alto nível. Bem melhor que o (bom) filme que eu tinha visto antes. Como a história era contada em partes (foram uns 50 capítulos, acho), os personagens foram muito bem desenvolvidos, ganharam profundidade (sem exageros) e motivações. Até a história ficou muito legal, por incrível que pareça. Ryu e Ken, claro, são os astros principais. Todo mundo do game está lá, menos
Blanka. Foi até melhor, pois ele estaria bem fora do contexto "realista" da animação. Desenho nota 1000, e a luta final foi melhor que os três Matrix juntos. Fiquei triste quando acabou o último episódio. Será que já saiu o DVD?
Como nem tudo foram flores pra SF nos anos 90, em 1994 tivemos um marco da ruindade cinematográfica:
Street Fighter - A Última Batalha, de Steven E. Souza (???). Capitaneado por
Jean Claude Van Damme, no papel de
Guile, o filme ainda trazia uma deliciosa
Kylie Minogue pré-ná-ná-ná, no papel da
Cammy e, heresia das heresias, o grande
Raul Julia, em seu último papel, como
Bison. Ô filme ruim!! E eu ainda fui ver essa tosqueira no cinema (só perde pra
Highlander 2, em matéria de filme ruim que saí de casa pra assistir). Não há nada a se declarar aqui. É todo ruinzão mesmo. Ah, sei lá, o cara que fez o
Zangief é igualzinho, tenho de admitir (
Andrew Bryniarski , o novo
Leatherface!). O cara que fez o
Vega também é bem parecido (
Jay Tavare, de
Adaptação e
Cold Mountain). Nota:
-10. Deve ter levado o Framboesa de Ouro de 94. Se não, foi uma puta injustiça.
Ah, e esses últimos screens do Ryu lutando com o Sagat aê, fazem parte na HQ
Street Fighter - The Comic Series, da
Image. Desenhos do ótimo
Alvin Lee e história de
Ken Siu-Chong (hi!). Está disponível no ótimo
MBB Animes. Procurem lá que tem.
Cliquem na figura aê!
Outra curiosidade: a banda
Megadriver é especializada em fazer versões
speed metal pesadonas para vários temas de SF e para outros games clássicos. E está tudo disponível no site dos malucos. Eu baixei e garanto, as versões ficaram divertidíssimas... eles usam e abusam da bateria eletrônica e a guitarra é insandecida. É meio tosco, mas o espírito é esse mesmo.
:P
Fui!!