quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Zombie de Ouro 2012


2012 até que foi um ano de lançamentos interessantes. Vários veteranos voltaram aos estúdios - Aerosmith, Van Halen, Rush, ZZ Top - e muitos grupos apostaram em guinadas de estilo. Da cultura undergound, com seus guetos ultrassegmentados, ouvi pouca coisa digna de nota, incluindo trabalhos de gente geralmente boa, o que é uma pena. Nesse ponto, 2011 foi muito melhor e mais produtivo.

No obituário anual (ê fixação mórbida), alguns dos meus velhos heróis fizeram suas passagens: Levon Helm (The Band), Ronnie Montrose (Montrose), Jon Lord e, quase na saideira, Mike Scaccia (Ministry, Rigor Mortis). Até que foram poucos na escala de um ano, embora Jon Lord, para mim, tenha sido algo do tipo "o-fim-de-uma-Era", Dio's style. Não dá pra esquecer.

O cinemão pop teve um ano bem agitado: Os Vingadores, O Espetacular Homem-Aranha, MIB³ - Homens de Preto 3, Jogos Vorazes, 007 - Operação Skyfall, o conturbado Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge e dá-lhe mainstream superaquecido. Particularmente, o que mais me surpreendeu positivamente foi Prometheus, de Ridley Scott.

Segue então o Zombie de Ouro 2012, pós-apocalíptico, sem ordem de preferência - ou quase - e com uns bônus extra-musicais na reta final. Filtrei o máximo que pude para tornar possível a publicação disso antes do Big Crunch. Então só entrou o filé. Material "bom" ficou de fora. Simbora, gente.


Melhores discos do ano


Sem entrar no mérito sobre quem é melhor, Sammy Hagar ou David Lee Roth (gosto do Sammy, mas Lee Roth é um outro nível), é um imenso prazer ver o Van Halen com o irmão pródigo de volta. E em grande forma, já que Different Kind of Truth é um ótimo, quase excelente, álbum de retorno. As músicas reeditam aquela mesma vibe divertida (e atemporal) dos primeiros discos, o timbre da voz de Roth continua assombrosamente o mesmo de 1984, a guitarra incendiária de Eddie ainda reina suprema e o bom humor finalmente retornou à banda. Pena que o baixista Michael Anthony não quis participar da festa. Mas o mancebo Wolfgang, filho do Eddie, fez o dever de casa direitinho e mandou bem nas quatro cordas. Ê guri sortudo...



Há anos o quinteto sueco Meshuggah vem desenvolvendo uma musicalidade abrasiva, intrincada e anticonvencional - e sobretudo difícil de digerir. O rótulo "metal experimental" é vago, mas certeiro. Ouvir um álbum do grupo é como mergulhar na bad trip de um estranho. Poucos conseguem chegar até o final, mas o clube seleto dos que conseguiram conta com admiradores do porte de Al Jourgensen e Mike Patton. Eu achava que eles já tinham atingindo seu ponto de efervescência há algum tempo atrás, em discos como Catch Thirtythree (2005) e obZen (2008). Ledo engano. Koloss - apenas o seu 7º álbum em mais de 25 anos de estrada - mostra que ainda há muito o que perfurar até que o grupo atinja seu núcleo sonoro. Brutal e genial de um modo bizarro.



Família e metal extremo geralmente rendem bons frutos. Max e Iggor Cavalera (Sepultura) e John e Donald Tardy (Obituary) são dois exemplos clássicos. E Joe (vocal/guitarra) e Mario Duplantier (bateria), do Gojira, são uns dos melhores exemplos recentes. Quatro anos depois do excelente The Way of All Flesh, o grupo francês volta à carga com L'Enfant Sauvage e cumpre a difícil missão de não apenas manter o nível, mas principalmente evoluir a sua visão musical. Em essência, a sonoridade é aquele choque entre technical death metal e groove metal, mas apenas em uma forma básica, vestigial. O Gojira há muito transcendeu categorizações. E seu status atual é acima de tudo intrigante. Só não vou chamar de "obra-prima" porque o próximo pode ser ainda melhor. Mas bem que merecia.



Habituados a hiatos discográficos, digamos, "progressivos", o Rush acaba gerando certa expectativa sobre o que trarão em seu próximo disco. Foram cinco anos desde Snakes & Arrows, o que para o m.o. recente deles foi até rápido. Clockwork Angels desenvolve o diálogo que o grupo vinha mantendo com uma sonoridade mais coesa, sintética e dinâmica. O que mais impressiona no trio canadense - e que brota aqui a cada acorde, virada e sessão melódica - é sua capacidade natural de se adaptar a novos padrões de som sem ignorar as informações que incorporou ao longo das décadas. O que se sente em Clockwork Angels é uma banda no auge da maturidade e completamente apaixonada pelo momento que atravessa. Pra mim é um dos grandes álbuns do Rush.



Houve uma época em que Jimmy Cliff era o maior astro vivo do reggae mundial. Com todo o respeito à Peter Tosh e aos Wailers, durante os anos 80 Jimmy era o grande arauto de Jah-lactus na Terra, sem dúvida alguma. Mas após o Rock in Rio 2, em 1991, ele se mudou para o Brasil e simplesmente evaporou do mapa (e da memória). Por isso, Rebirth é um título que soa tão direto quanto justificado. O disco é um renascimento na mais pura acepção da palavra. Produzido - quiçá resgatado - por Tim Armstrong, do Rancid, Jimmy retorna não apenas ao reggae de raiz, mas ao rocksteady jamaicano original. É como um velho mestre que reencontra a perfeição na simplicidade. Um disco fantástico e muito inspirador pela história que traz consigo. De quebra, as rendições a "Guns of Brixton" e "Ruby Soho" (nem precisa dizer qual é de quem) são emocionantes.



Don't Hear It... Fear It!, debut do Admiral Sir Cloudesley Shovell, foi lançado pela Rise Above, tradicional reduto stoner, mas foge um pouco aos padrões do selo. O grupo é um filhote bastardo do hard blues progressivo do início dos 70's, praticado por bandas como Ten Years After, Wishbone Ash e Captain Beyond. Dosagens mastodônticas de space rock e lisergia também dão o tom. Pela descrição, parece um grande shake setentista caótico, mas todos os elementos são colocados para interagir de maneira brilhante. E o "pouco" que foge aos padrões do stoner rock é literal mesmo, já que a dinâmica das músicas é uma verdadeira pedrada, com peso, sujeira e riffs infecciosos que não deixam nada a desejar perto de um Fu Manchu ou de um Orange Goblin. Discaço.



Aqui faço uma réplica a todos que alardearam que Enslaved, do Soulfly, era um retorno aos roots de Max Cavalera (não o Bloody Roots, mas à estética sonora dos velhuscos Morbid Visions/Schizophrenia). Max nunca praticou um som tão nitidamente death metal quanto em Enslaved. Diferente dos primórdios do Sepultura, quando as opções de radicalismo musical eram poucas pra quem não se identificava com o som punk - especialmente na chinelagem brazuca do-it-yourself-te-vira-aí-mermão - agora Max está a milhões de anos-luz daquelas limitações e claramente quis fazer a alegria da torcida. Tirando a intro climática, desta vez não tem lugar pra batuque, telecoteco e ziriguidum. O negócio aqui são evil riffs, solos supersônicos, growl vocals, blast beats e tudo o mais. From hell com gosto. O resultado não poderia ser outro: tô igual pinto no lixo! Eu e todo mundo, aliás.



Em Dark Roots of Earth, o veterano Testament segue firme na curva ascendente que vem mantendo desde... desde muito tempo - do Low pra cá não teve disco ruim e lá se vão 18 anos. A diferença é que o álbum sobe em vários pontos esse padrão e reflete um momento mais ligado às suas raízes no thrash metal americano dos anos 80. A grande façanha foi reconstituir a velha tradição de peso e fúria com a técnica melódica da dupla de guitarristas Alex Skolnick/Eric Peterson sem esquecer que estamos no século 21 (estamos?). Ou seja, nada datado ou revivalista, como muitos grupos da nova geração thrash deveriam aprender. De quebra, tem o grande Gene Hoglan nas baquetas, provavelmente se segurando pra não executar algum blast. Um álbum eficiente e divertido como antigamente, mas calibrado pros dias atuais. Só espero que lancem o sucessor ainda nesta década, pra variar. Ps: a edição especial traz ótimas versões para pérolas do Queen, Scorpions e Iron Maiden.



Home Again, do soulman inglês Michael Kiwanuka, é um disco que me traz sentimentos conflitantes. Sou fascinado pelo funk, soul e r&b norte-americano das décadas de 60 e 70. Wilson Pickett, Sam Cooke, Marvin Gaye, Otis Redding, Aretha Franklin, James Brown... adoro. E apesar de também gostar de algumas coisas atuais, não posso deixar de sentir que a black music (perdoe o estereótipo) está sendo vilipendiada além da conta por hitmakers digitais e por supercantoras umbigocêntricas. O soul hoje está sem alma. Aí aparece esse garoto (24 anos) se embriagando na era de ouro da Stax, Motown e da sua própria gravadora, a Polydor, e produzindo um debut absolutamente refrescante, vibrante e orgânico. Um dos melhores do ano, fácil, e uma das estreias mais brilhantes que já ouvi. Mas aí vem a pegadinha... tudo, desde o timbre e a colocação da voz, os arranjos e os valores de produção remetem a algum ponto dos anos 60. Como se dissesse "está vendo como a música de antigamente era muito melhor?" E realmente. Esse álbum dá um banho em 90% do que é feito hoje na área. O que é uma satisfação. E também uma triste constatação.



Após o excepcional Hisingen Blues, do ano passado, eu achava que o Graveyard havia atingido o seu ponto de perfeição. E ouvindo Lights Out vi que estava certo - por hora. Porém, o hard rock retrô do grupo sueco segue num nível de qualidade estratosférico. Se no álbum anterior eles estavam mais ou menos lá por 1969-1970, ensaiando num estúdio ao lado do Led Zeppelin e do Savoy Brown, em Lights Out eles seguem anos 70 adentro, na estrada com Moody Blues, Grand Funk e Humble Pie. É uma trip fantástica e ao contrário do que essa montanha de referências pode aparentar, tem vida própria e autenticidade. Mais um disco maravilhoso desses meninos. Pena que o termo "Lights Out" ficou só no título mesmo. Uma cover do clássico homônimo do UFO teria tudo a ver ali. Quem sabe na edição japonesa...



Demorou, mas saiu o novo do Witchcraft. Cinco anos após o maravilhoso The Alchemist, a banda sueca emerge com Legend de forma surpreendente. O álbum é marcado por uma daquelas guinadas sonoras que dão uma assustada de cara, mas que alegram logo que a porrada é assimilada. O som passou por um feliz downgrade, incorporando elementos do heavy clássico, com nuances melódicas por vezes remetendo a algumas relíquias da NWOBHM (Holocaust, Demon, Bleak House). Isso tudo mantendo a aura misteriosa e enegrecida de sempre. Várias possibilidades se abrem agora para o escopo musical do Witchcraft - coisa que não aconteceria se ainda estivessem atrelados exclusivamente ao doom metal dos primeiros dias. E palavras não são suficientes para descrever como é bom ouvir a voz de Magnus Pelander novamente. Como canta esse filho da puta!



Quem diria que o Prong um dia faria um back-to-basics tão radical. Carved Into Stone é um álbum para aqueles que nunca tiraram o Beg to Differ de seus CD-players. Tommy Victor deve ter encontrado seu doppelgänger de 1989 e se trancado num estúdio para uma jam dos infernos. As faixas revivem aquele momentum onde o Prong rascunhava sua própria versão do hardcore e do thrash. Nada de climas industriais ou groove metal - no máximo, resíduos fósseis de sua influência básica, o Killing Joke. A capa neanderthalesca e iconográfica com detalhes à Voivod ganha todo sentido quando o som começa a rolar. Resumindo, um disco sensacional e inesperado, vindo de um grupo sempre tão obcecado em delinear o "som do futuro". Referenciando outra pancadaria pronguiana dos primórdios: primitive origins total...



Meio que correndo por fora nos últimos anos, o Therapy? continua lançando álbuns bacanas, como este A Brief Crack of Light. Talvez seja o momento mais experimental e pesado do trio irlandês  desde seus primeiros discos. Por vezes a rifferama violenta chega a lembrar o Prong, mas aí não dá pra saber quem é o ovo e quem é a galinha. Eles também incorporaram um sem-número de micro-informações nos arranjos - tem um baixão à Peter Hook ali, um electro-dub à Scorn acolá e por aí vai - enriquecendo e muito a audição, especialmente nos fones de ouvido. Andy Cairns e sua gangue seguem mandando bem.



Fico muito feliz e surpreso em ver que o trio Stinking Lizaveta ainda está por aí. E com as mesmas idiossincracias que os fazem tão especiais. A proposta musical da banda é pra lá de segmentada: um Black Sabbath instrumental e jazzístico com ocasionais convulsões post-rock. E dá barato, pelo menos pra mim, que os marquei no meu Top 5 de 2007. 7th Direction é distorcido e ultrapesadão como de praxe, mas é um pouco mais acessível que os anteriores, com nuances melódicas menos turbulentas e mais groovy. Mesmo assim, ainda é totalmente fiel ao nome de seu atual selo, Exile on Mainstream. Que continuem desse jeito enquanto houverem boas trincheiras underground.



Conheci o canadense Godspeed You! Black Emperor junto com tudo mundo, durante o filme Extermínio. Mais um pra conta do Danny Boyle, então. O som do grupo é inclassificável. Mistura percussões cacofônicas, loops de tapes, violinos, cellos, guitarras, duas baterias, etc. Tudo executado por nove malucos. As músicas têm em média 15 minutos. E é instrumental. E post-rock. E ambient. E experimental. Alguma coisa. Às vezes passa tranquilo por música incidental. O novo disco 'Allelujah! Don't Bend! Ascend! vem desse mesmo vórtice sonoro e até que não é tão radical assim em comparação com os anteriores. Mas é igualmente fantástico. É som pra embarcar sem horário pra voltar - ou sem garantia de.

Ps: amigo meu costuma correr ouvindo GY!BE no iPod. Ou é maluco ou gosta de pensar que está fugindo de zumbis raivosos enquanto se exercita. O que não deixa de ser um ótimo incentivo!



Sou novato no território sombrio do Melvins. Antes de ouvir este Freak Puke, a única referência que eu tinha é que era banda do Buzz Osbourne (ou King Buzzo), que entre outras coisas foi colega de escola de Kurt Cobain. Mas essa primeira experiência foi das melhores. O conceito da banda é realmente ímpar. Existem coisas aqui que nunca ouvi antes, ao menos não nessa roupagem. O som é uma espécie de sludge metal avant-garde com quedas para o progressivo do bom (os vocais remetem aos primeiros discos do Pink Floyd). Pesado ao extremo, mas também calmo e atmosférico quando se faz necessário. Esse álbum me acertou em cheio - e nem vou falar nada da excepcional versão de "Let Me Roll It", de Paul McCartney & Wings. Acho que vou gostar muito de explorar essa discografia...



Uma coisa que admiro no Phil Anselmo é sua atitude em relação à própria carreira. Seria muito fácil montar um Pantera 2.0 ou mesmo agitar uma reunião meia-boca. Saídas fáceis para todos os lados - todas elas, aposto, ofertadas numa bandeja de ouro pela gravadora. Ao invés disso, o cowboy from hell foi do hardcore (Arson Anthem) ao black metal (Superjoint Ritual) até ao doom/sludge metal com o Down. E se Pepper Keenan (Corrosion of Conformity) e Kirk Windstein (Crowbar) neglicenciaram suas respectivas bandas nos últimos anos, foi por uma boa causa. O Down está cada vez melhor, como atesta esse Down IV Part I – The Purple EP, provavelmente seu momento mais lúgubre e sabbáthico, em detrimento das influências southern rock dos registros anteriores. EPzinho matador. Pena que passa voando, à despeito do estilão arrastado característico.



Psalms for the Dead marca o fim da era Robert Lowe no Candlemass. Cá pra nós, o cantor (que pediu as contas seis dias antes do lançamento do álbum) nunca conseguiu levar o grupo de volta ao status lendário da época da "montanha cantante" Messiah Marcolin. Mas também nunca chegou perto da inexpressividade das passagens dos cantores Thomas Vikström e de Björn Flodkvist. Na verdade, seus discos à frente da banda são muito bons, sendo Psalms for the Dead o que captura melhor o feeling doom dos primórdios. Aquela saudável bruxaria old school de grupos como Witchfinder General, Pagan Altar e Pentagram, com produção moderna, peso estrondoso e Lowe se valendo de técnica e dramaticidade na medida certa. E os econômicos toques de órgão (Hammond?) são absolutamente deliciosos. O crooner saiu por cima.



Primeiro álbum de inéditas do Soundgarden em 16 longos e gélidos anos. King Animal ganhou pontos comigo logo na primeira audição: o disco não era ruim. Que alívio. Estão lá novamente os talentos individuais de Chris Cornell, Kim Thayil, Ben Shepherd e Matt Cameron, todos trabalhando por um só propósito. Seria broxante ver uma reunião de todos esses elementos raros em uma química com validade vencida. Felizmente, o espírito ainda está lá e pra gostar do álbum efetivamente foi um pulo. Não é enfurecido e visceral como os primeiros discos, nem pesado e lírico como os últimos antes da separação, mas quer saber? Nem deveria. King Animal segue sua própria jornada. Se for a saideira definitiva, me dou por satisfeito. Mas se for o primeiro passo de uma nova aventura, quero acompanhar isso até onde for.



É notável a longevidade musical de Ian Astbury e Billy Duffy à frente do The Cult. Especialmente em se tratando de um grupo hard rock - não exatamente a classe mais antenada e/ou afeita à novidades. As décadas que se vão, as tendências, a troca das gerações de ouvintes e as inovações tecnológicas parecem não causar a menor estagnação no som da banda - que soa como se tivesse apenas alguns anos de vida, não 30. Choice of Weapon mantém a ótima sequência de álbuns do Cult - na verdade, é o melhor desde sua reativação, em 1999. Rockão moderno, ganchudo e versátil, com os IDs intactos de Astbury e Duffy (seus solos são inconfundíveis) mais a superprodução do velho conhecido Bob Rock e do master of reality Chris Goss. Esses caras vão chegar à década de 2020 tinindo. Como diria o Ibrahim Sued: "ademã, que eu vou em frente!"



Li na Wikipedia agora: Tempest é o 35º álbum de estúdio de Bob Dylan desde 1962. Pra qualquer artista que chegou a esses números pouco importa qualquer crítica, elogiosa ou não. Pouco importa qualquer coisa, aliás. O sujeito já passou há muito tempo dessa estação. E se ainda faz o que faz após todo esse tempo, quando poderia estar bronzeando as canelinhas brancas e encarquilhadas em Acapulco só na base de royalties infinitos, é porque gosta de briga mesmo. E porque sabe que briga bem. A banda que acompanha é uma maravilha, tradicionalesca e orgânica à moda antiga, com todos os banjos, violinos, mandolins e acordeons a quem tem direito. E mr. Dylan, com sua sabedoria de 70 e poucos e uma voz estragadaça, manda algumas das letras mais fodas do ano. Esvaziar umas garrafas de Johnnie W. com esse cara deve ser qualquer coisa...



Em meio à tanta enganação faceira travestida de "indie" que andou assolando o pop brasileiro nesses últimos anos, eu já tinha entregue os pontos há muito tempo. Mas vinda da mesma seara, a paulista Tulipa Ruiz demonstrou em Tudo Tanto uma característica que a transformou numa alienígena naquele meio: ela realmente tem talento. Algum ranço da velha MPB ainda permeia o doce pop/trip hop da moça e, apesar de ser bem absorvido/devolvido, pra mim marca como algo a ser extirpado/cauterizado. A ótima faixa de abertura é um bom exemplo - lembra Peeping Tom, mas envereda por algumas passagens que me trazem de volta à Terra em velocidade de dobra. É mais ou menos a tônica do álbum, mas o saldo, claro, ainda é muito positivo. Destaque para a boa intervenção do hitmaker Lulu Santos. Aguardo ansiosamente pelo próximo disco e, só pra enfiar um trocadilho perneta, espero do sucessor de Tudo Tanto um tanto de tudo de tocante que Tudo Tanto teve. Ps: o álbum ainda está disponível para download em alta qualidade no site oficial da artista. Ela é espetacular até nisso.



O Gravelroad foi umas das sensações do cenário blues norte-americano em 2012. Psychedelta é seu 3º álbum e mostra bem o porquê do hype em torno desse trio de Seattle. Delta blues eletrificado, cru e rústico, com vocais rasgados e um toque de psicodelia emaranhado entre a slide guitar e os grooves hipnóticos da bateria. Também há uma vibração de banda de garagem, recheada de energia primal, aos moldes dos primeiros trabalhos do The Black Keys. Genuíno diamante bruto. As encruzilhadas do Mississippi continuam rendendo bons negócios.



Desde a divulgação do projeto, o disco O Embate do Século: Ultraje A Rigor vs. Raimundos prometia ser muito divertido. E acabou superando minhas expectativas. A reverência entre influenciador e influenciado se deu no melhor aspecto possível: versões que não têm medo de ousar e tatuar suas respectivas marcas sem sacrificar o que os hits originais tinham de melhor. O resultado é o disco de roque brazuca mais legal do ano. Isso posto, não fica esquecida a sensação de que as duas bandas merecem muito mais do que vêm recebendo nos últimos tempos. À despeito de suas atividades atuais, elas deveriam estar fazendo o que bandas de rock fazem: turnês sold out país afora (e fora dele), aparecendo no Faustão, em capas de revistas, tocando nas rádios, ganhando grana, comendo mulher, etc. Mas cadê?



Chega a soar improvável a qualidade e ousadia do power trio mato-grossense Macaco Bong. Eles já tinham deixado meio Brasil (ou quase) boquiaberto com o excelente disco Artista Igual Pedreiro, de 2008. Dessa vez reforçaram a dose com This is Rolê, disco de título infame, porém igualmente impactante. Não "só" pela sonzeira instrumental post-rock com influências hardcore e que por vezes lembra o metal ritmado do Helmet, mas também pela decisão em novamente apresentar o álbum gratuitamente pela internet. Surpreendente e desafiador, o Macaco Bong é um verdadeiro alento em meio a toda essa mediocridade que parece ter virado a ordem do dia no cenário nacional.



O Torche é uma banda que eu venho acompanhando juntamente com o Baroness. Os dois grupos tiveram pontos de partida semelhantes na seara stoner/sludge metal e optaram por evoluções musicais mais acessíveis e menos segmentadas. Pra mim, o Torche se saiu melhor no álbum Harmonicraft (daí a ausência do aclamado Yellow & Green, do Baroness, nesta lista). O quarteto consegue fugir do lugar comum aliando as atmosferas esparsas e arenosas do rock oitentista - são frequentes os déjà vu's melódicos à U2/Simple Minds durante as músicas - com o peso e a técnica vigorosa de seus primeiros dias. Radio friendly, pero no mucho. O único senão é que acaba rápido demais apesar de seus quase 40 minutos, provavelmente por causa das músicas curtinhas.



O Enslaved é black metal norueguês da gema. E de linhagem pagan/viking metal, predominante por aqueles terreiros ragnarókicos. O primeiro álbum do bando saiu pelo selo do Euronymous, o infame. Enfim, todos os elementos para uma perfeita true metal band, sem nenhum apreço por musicalidade, melodias, acessibilidade ou boa produção - mas é exatamente isso o que se ouve em RIITIIR. O álbum é surpreendente pelo desapego às (muitas) convenções do gênero. Não fosse pelos ocasionais urros vindos diretamente do living room do capeta, daria até rolar nas rádios em horário normal. Quer dizer, em termos, já que uma forte pegada progressiva se faz presente na maioria dos sons, que ultrapassam fácil os 7 minutos. Se bobear, o melhor disco de "black metal" moderno que já ouvi.



Tame Impala é o australiano Kevin Parker, compositor, multiinstrumentista e produtor. Praticamente uma one-man-band, não fossem as parcas contribuições do chapa Jay Watson. Lonerism é seu 2º disco e chegou acompanhado de um grande auê por parte de indies, alternativos e bichos-grilos em geral. Don't believe the hype. O álbum é ótimo, mas não é o Lennon voltando do além para compor com McCartney com Jimi Hendrix na guitarra e John Bonham na bateria, como assim fizeram parecer os reviews que pipocaram por aí. O som é rock psicodélico circa 1968/1969 com sutil dinâmica moderna e produção low-fi na medida. O aussie realmente é talentoso. Da minha parte, me rendi e ainda ouço bem - mas nada que ameace o lugar do Ozric Tentacles no meu iPod.



Foi complicado manter o álbum In The Belly Of The Brazen Bull, do trio de irmãos The Cribs, em meio à tantos cortes difíceis e dolorosos. Mas sempre que ouço, todas as células do meu corpo dizem "siiiimmm". O problema é que não tem nada demais. É simplesmente um álbum de rock. E rock anos 90, do tipo indie, com vocalzinho pós-adolescente e recheado daquelas canções-single que costumavam figurar no programa Lado B, do rev. Massari. Datado? Com certeza. Mas o fato é que há tempos eu não me deparava com um álbum de "rock alternativo" tão gostoso de ouvir. Dificilmente fico só numa faixa. Sim, o Steve Albini é o produtor. Mas sinceramente, meu interesse mesmo é aprender a cantarolar aqueles refrães...



À primeira vista pode parecer que Al Jourgensen mudou de ideia e decidiu envelhecer como Steven Tyler e Mick Jagger, mas a verdade é que o Ministry nunca parou totalmente. Estão aí dois álbuns de covers (Cover Up, de 2008, e Undercover, de 2010), dois de remixes (The Last Dubber, de 2009, e MiXXXes of the Molé, de 2010) e um CD/DVD ao vivo (Adios... Puta Madres, de 2009) que não me deixam mentir. Seja como for, Relapse inaugura uma nova fase de inéditas do mesmo ponto onde a sonoridade do grupo taxiou, lá na trilogia anti-Bush. Estão de volta os parceiros Tommy Victor (Prong) e o veterano Mike Scaccia (que Dio o tenha), além do colaborador mais recente Sin Quirin - e Paul Barker, pelo jeito, prefere manter essa página virada. Dessa vez não há nenhum hino fim-dos-tempos e às vezes soa acessível como nunca antes (talvez flertando com novos caminhos?). Mas o metal eletrônico come solto do início ao fim, inclusive com um cover do S.O.D. só pra não perder o costume. Enfim, tecnoporradaria de primeira linha, sem pausa pra descanso, nem pra falsas promessas. Relapso sim, graças a Deus.



Essa banda merece um full-length por uma grande gravadora o quanto antes. Na ativa desde 2010, o trio britânico XII Boar ainda navega pelos mares da independência e só lançou dois EPs até aqui. Split Tongue, Cloven Hoof traz um mix de sludge, stoner e heavy rock 'n' roll dos bons. Lemmy certamente pagaria uma rodada de cerveja pra esses caras - aliás, o XII Boar seria a banda de abertura ideal para um show do Motörhead. Disquinho eletrizante (e de graça!). Pena que são só quatro faixas em velozes e furiosos 20 minutos.



Só nesse país (e talvez na Jamaica) que um grupo como o Black Drawing Chalks não tem nenhum hit rolando febrilmente na FM, MTV e o escambau. Geralmente associado ao stoner rock, o quarteto goiano mira alvos bem além desse gueto. O novo álbum, No Dust Stuck on You, mostra claramente o talento dos chalks em talhar canções chicletudas e imediatas, sem soarem pueris. São bem dançantes até. Mais um grande disco, no mesmo nível do excelente registro anterior (Life is a Big Holiday, de 2009). O único senão é em relação à produção, clean demais. Um pouco mais de peso e sujeira ia bem...



Nesses 41 anos (!) de trajetória discográfica, o ZZ Top se aventurou algumas vezes para atualizar seu boogie/blues rock de acordo com a época. Especialmente na fase tecnológica durante a década de 80. Logo que o southern e o rock tradicional voltou à baila em meados dos anos 90, o trio se livrou de toda a tralha high tech e fincou os pés na essência, dessa vez em definitivo. Em La Futura, os barbudos (e o bigodudo) seguem chafurdando no melhor do seu mundo, embargados em groove blueseiro, slides cortantes, peso e feeling. É disco que cheira a gasolina, cerveja e strip club vagabundo. Bem que podiam aproveitar o clima do álbum e obrigarem sua gravadora a relançar todos os discos da fase clássica com o mix original, sem a terrível remasterização moderninha que fizeram nos CDs.


Melhores discos ao vivo


Apenas algumas poucas almas iluminadas tiveram a honra de estar na O2 Arena no dia 10 de dezembro de 2007 para ver o Led Zeppelin ao vivo. A vida é injusta. Mas assim como no antológico No Quarter, de 1994, alguma compensação divina se fez presente. Mais ainda no caso de Celebration Day, já que dessa vez Robert Plant e Jimmy Page repatriaram o grande John Paul Jones, além de convocarem Jason Bonham, filho do Bonzo. O registro do show é magnífico, mágico, poderoso. Uma grande celebração ao rock and roll. Led Zeppelin, enfim...



De todos os artistas do pop rock nacional dos anos 80, Lobão talvez tenha sido quem mais sofreu com a qualidade das produções da época. Lobão Elétrico: Lino, Sexy & Brutal foi alardeado incansavelmente pelo grande lobo como o disco mais bem produzido de sua carreira. Descontando a autopromocha básica, ouvindo o álbum, é difícil não concordar. Além de uma bem-apanhada compilação dos seus grandes momentos, o que se ouve é uma sucessão de versões definitivas para os mesmos. Méritos de um dos melhores times de músicos que já o acompanharam, dos arranjos impecavelmente minuciosos e de uma qualidade de áudio que periga ser inédita no rock nacional. Mas, principalmente, mérito do próprio Lobão, com seu estilo peculiar de interpretação em sua melhor forma, revisando hits e anti-hits - inclusive com a justa incorporação do clássico "Ovelha Negra", de Rita Lee, a pedido da carapuça e da emoção. Arrasador.



A capa lembra um campo de concentração nazista, mas é o Tate Modern, museu londrino de arte moderna considerado um dos mais importantes do mundo. Foi lá que o Laibach escolheu gravar seu disco ao vivo. Típico. Esses loucos eslovenos formam um dos grupos mais avant-garde da música contemporânea. "Industrial marcial", é o que arriscam por aí, mas é só a ponta do iceberg. Wagner, noise, eletrônica, progressivo, gótico... tudo desembocando num som estranho, opressivo e assustador. Perto deles, o Rammstein fica parecendo o Linkin Park. Mas também sabem ser impagáveis, como na citação a"Tico-Tico no Fubá" que surge lá pelas tantas. Para veteranos, Monumental Retro-Avant-Garde é exatamente aquilo que se espera desses doidos: o imprevisível como fio condutor - embora possam se surpreender com o crescendo rítmico que compõe o álbum de cabo a rabo. Para neófitos, sugiro começarem por Opus Dei (1987) e pelo revisionista Let it Be (1988). Se sobreviverem, sejam bem-vindos.



Após algumas tentativas frustrantes de modernização, o Machine Head vem reescrevendo sua história no cenário metálico mundial. Essa virada foi pontuada por dois álbuns fora-de-série: The Blackening (2007) e Unto the Locust (2011), responsáveis pela evolução mais relevante do thrash metal em muitos anos. Não por acaso, o set list de Machine Fucking Head Live contempla 3 músicas do 1º e quase todas do 2º. Talvez fosse um pouco cedo demais para outro álbum ao vivo (e como isso tem cara de acordo com gravadora), mas serve como uma prévia de como esses verdadeiros nukes sonoros funcionam on stage. Destruidor. Rock in Rio já.



Juntamente com a edição comemorativa de 30 anos de Cabeça Dinossauro, este Cabeça Dinossauro: Ao Vivo 2012 fecha um tributo decente ao maior clássico do Titãs. Apenas "decente", já que tanto a reedição quanto este álbum ao vivo poderiam ter vingado como peças imperdíveis, o que, apesar dos atrativos, não são. Talvez apenas para velhos admiradores, como eu. No caso do 1º foi a carência de material extra no digipack magricela: nada de livreto com depoimentos, textos, fotos exclusivas ou comentários faixa-a-faixa, naquele esquema dos relançamentos clássicos dos gringos. Já no Ao Vivo saltam aos ouvidos as ausências dos ex-titânicos Arnaldo Antunes e Nando Reis em suas respectivas faixas - pô, "Porrada" tinha que ser com o Arnaldo e "Igreja" tinha que ser com o Nando. Será que não dava pra agitar um cameo dos caras? A ocasião mais do que merecia. Felizmente, a diversão é garantida (nos dois casos), já que não tem como errar com esse material. Mas bem que tentaram.


Blockbuster do ano


The Avengers - Os Vingadores (Marvel Studios/Paramount Pictures)

Não deu nem pro Cruzado Encapuzado. Mesmo com todos os clichês e uma compreensível falta de ousadia, Os Vingadores foi divertido, pop, convincente e algo surreal - afinal, heh, são os Vingadores em carne e osso! Joss Whedon certamente encontrou a Manopla do Infinito em algum lugar e realizou o impossível.


Melhor série


Homeland, 2ª temporada (Showtime/Fox 21)

Homeland teve uma 2ª temporada praticamente perfeita e ainda melhor que a 1ª, com alguns dos roteiros e atuações mais marcantes que já vi no formato. Não foi à toa que a série fez o rapa no Globo de Ouro, mais uma vez. Já está virando hors concours.


Melhor série animada


A Lenda de Korra (Avatar: Legend of Korra, Nickelodeon)

Um dia pretendo comentar sobre Avatar: A Lenda de Aang e limpar um pouco da má impressão deixada pelo filme. A série é um clássico moderno, algo que vou levar provavelmente pro resto da vida. Dessa forma, A Lenda de Korra tinha uma missão difícil, que era dar uma boa continuidade àquele universo tão carismático. Não só cumpriu seu objetivo como promoveu uma evolução daquilo tudo, sendo comparativamente mais madura e dark que a original no mesmo ponto da narrativa (1ª temporada ou "Livro"). Teve lá sua cota de decisões equivocadas, especialmente na reta final, mas nada que ofuscasse o brilho desse início tão promissor.

2º lugar colado: a excelente Young Justice que, sem dever nada às melhores séries animadas da DC/Warner, só perdeu a ponta por causa da sua exibição errática ao extremo. Por diversas vezes tive que confirmar se a série ainda estava em andamento ou se havia sido cancelada, tamanho o hiato entre os episódios.


Troféu framboesa de lata


Metal Open Air, imbatível. Até onde sei, o fiasco ficou por isso mesmo - o poder público nada fez, o produtor Felipe Negri mudou a razão social e o povo que se desventurou por lá ficou a ver navios, ou melhor, vazios. Mas pelo menos rendeu um verbete na Wikipédia, eternizando assim o maior King Kong da história do metal nacional.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Até que os mortos os separem


Sem querer ser um daqueles saudosistas reclamões (já sendo), esse velho hit do início dos anos 80 me lembra como era bom ligar o rádio e ouvir música pop boa de verdade. E olha que nem curtia tanto assim, apesar de ter envelhecido otimamente bem.

De quebra, o vídeo tem uma minitrama que traz muito do que penso sobre certas coisas - além de uns pseudo-zumbis compondo uma metáfora tão bacana e pungente quanto um shopping ou uma prisão.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Alea jacta Ash


Mesmo com o aval de Sam Raimi e Bruce Campbell (o Ash, em carne, osso e motosserra), meu ceticismo pelo remake de Evil Dead parecia possuir minh'alma como se fosse um demônio invocado pelo Necronomicon. Mas esse trailer "banda vermelha" deu uma decepada substancial nessa má vontade. É muito divertido. E por vezes genuinamente macabro, como foi o primeiro filme, mas sem as micro-inserções de humor. Agora fiquei curioso pra ver o que esses moleques aprontaram.