quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O apocalipse da Era


A Panini vai relançar A Era do Apocalipse. Era um sonho antigo. Durante algum tempo torci por uma reedição com a qualidade e ordem cronológica que a Abril nunca ofereceu. O tempo passou e o sonho também.

A 1ª vez que li a saga foi à prestação, via sebo. Eu estava recém-saído de um período de dez anos longe dos quadrinhos. Felizmente não perdi muito, só os anos 90. Mas é natural que até desenferrujar eu superestimasse certas coisas naquele primeiro momento - e EdA estava entre elas. Não que a linha central fosse completamente ruim, era até divertida (ainda acho as versões de Blink e Dentes-de-Sabre melhores que as originais). Porém, a maior parte da saga era irregular e seus tie-ins eram lixo puro. Enfim, um produto tão anos 90 que nem a revisitada recente teve lá grande brilho.

Mas apesar disso e dessa capa mulambenta do Joe Madureira (que é o artista regular da série), méritos para a Panini por relançar a saga nesse ano pra lá de sugestivo e por compilar - pelo menos é o que diz a promessa - todo aquele extenso material na íntegra em volumes provavelmente a perder de vista. Boa sorte na empreitada.

Lembrando que o preço do primeiro volume, R$ 19,90, é apenas promocional.

Da minha parte, meus votos continuam para as reedições encadernadas de Homem-Máquina de Tom De Falco, Herb Trimpe e Barry Windsor-Smith, Os Novos Mutantes, de Chris Claremont e Bill Sienkiewicz, e o sensacional Demolidor, de Ann Nocenti e John Romita Jr. Pra esses sim, o sonho ainda não acabou.

domingo, 22 de janeiro de 2012

I yam wot I yam


Interessante essa iniciativa da IDW em resgatar o velho marinheiro num título novinho e saindo do forno. A primeira edição de Popeye será lançada em abril e terá arte de Bruce Ozella e roteiro do aclamado Roger Langridge (Thor: The Mighty Avenger).

Criado em 1929 por Elzie C. Segar, o personagem estreou nas tirinhas Thimble Theatre do jornal King Features. E era bem diferente da versão açucarada dos desenhos animados. Em plena Grande Depressão, o teor das histórias era extremamente cáustico e satírico, retratando com humor toda a decadência social e moral vigente nos Estados Unidos na época. Certamente muitas de suas histórias soariam ofensivas hoje, mas ainda impagáveis. Segar era um tremendo sacana.

No press release da nova revista, Langridge diz que é fã de longa data:

Estou especialmente feliz pela IDW ter decidido adotar uma interpretação ao estilo Segar. Por mais que eu goste das versões posteriores do personagem, pra mim, foi naquelas primeiras tirinhas que a mágica realmente aconteceu.

Um ótimo sinal. E a referência bacanuda da capa foi certeira.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Us and them


"The Last of Us is not a zombie game, but a love story about a father-daughter-like relationship."

Oquei... então é um ótimo zombie game trailer não-zumbi. Mesmo sendo quase um mashup de Dead Island com Eu Sou a Lenda.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Vídeo do dia


Além de O Assassino da Furadeira, vi Noite das Sombras, Noite de Sangue e Bloody Pit of Horror. Mas tem mais gore de procedência desconhecida aí...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A day at the races


Certa vez me atrevi a jogar umas partidas de dominó com uns coroas numa espelunca com cerveja a preço de custo. Até ali, pra mim, o inocente joguinho era apenas um entretenimento evasivo, motorizado pela sorte. Ledo engano. Os amigos, todos profissionais de boteco 24/7, sabiam quais peças eu tinha, quais eu precisava e quais estavam no banco. Isso já na primeira rodada. Particularmente irritante era o hábito que tinham de "adivinhar" com qual peça eu iria jogar. Mais ainda, me forçavam a jogar as peças específicas que eles queriam, me fazendo afundar no banco. A carroçada foi inevitável. Graças a Deus não era a dinheiro e aqueles camaradas não eram da máfia russa. Claro, depois fui saber que existem várias modalidades de jogo, estratégia, uma matemática aplicada simples e que eu era um peregrino numa terra pagã.

É um universo com uma física à parte e duas leis soberanas: nada é o que parece e sorte é a gente que faz. Isso se estende por outros jogos de forma mais evidente, como no pôquer, ou quase totalmente insuspeita, como nas apostas em corridas de cavalos. Pelo menos, foi isso que vi no piloto de Luck. Uma completa desmistificação.

As credenciais impressionam. Luck é a nova série da HBO. No elenco, Nick Nolte, Dennis Farina, John Ortiz e Kevin Dunn. Dustin Hoffman protagoniza e produz. O piloto foi dirigido por Michael Mann e escrito por David Milch (Deadwood), criador da série.

A trama acompanha um dia na vida de várias pessoas em posições radicalmente diferentes e todas interligadas por um grande esquema nas corridas. Hoffman faz um figurão do crime organizado recém-saído de uma estadia de 3 anos na cadeia e que agora volta à cidade para reassumir seus negócios. Farina faz seu motorista e assistente, talvez a figura mais próxima de um amigo. Pouco foi entregue sobre o amargo personagem de Nick Nolte, apenas que é um treinador veterano com um passado traumático envolvendo a morte de um cavalo campeão. John Ortiz, por sua vez, é dono de um estábulo e tem um cavalo de altíssimo rendimento, mas condicionado para correr mais devagar nas prévias (tornando-o assim um azarão de ouro pra quem tem a informação). E Kevin Dunn faz parte de um pequeno grupo de apostadores inveterados, do tipo que come, bebe e respira no hipódromo.

O piloto dá várias pistas sobre o que vem a seguir - e que provavelmente não corresponderá à expectativa de quem vê esse dream team cinematográfico. A trama não vem mastigada pra quem não conhece o mundo das corridas, a construção é lenta e metódica, não há qualquer alívio em termos de informação e o ritmo narrativo não faz média com o espectador. É roteiro de gente grande. E gente grande da velha escola. Uma segunda assistida se faz bastante oportuna, mas a premissa é cristalina no que quer entregar: apesar do nome, Luck não tem nada a ver com sorte.

O núcleo formado por Dunn é dos mais promissores - particularmente o personagem de Jason Gedrick (bem distante de seus tempos de Águia de Aço), um apostador de olho clínico que poderia ser um peixe grande, não fosse seu vício nas cartas. Dennis Farina está sensacional como sempre, bem como John Ortiz, um pilantra ganancioso de marca maior. Já Nolte, que novidade, passa a maior parte da história completamente impenetrável. Mas a velha raposa sabe o que faz. Assim que solta uma ou duas falas mais intimistas, traz de volta o espectador que estava quase desistindo de seu personagem, em velocidade de dobra. Timing elevado ao status de arte.

Quanto à Dustin Hoffman, me abstenho de qualquer análise. Não é pra mim. O que esse colosso faz em cena deveria ser isolado, estudado, catalogado e conservado em laboratório para as gerações futuras chegarem a um consenso razoável. Magnetismo irresistível, potencializado por uma carreira com um índice ridículo de concessões e equívocos. Quando ele fala, você cala a boca e presta atenção. Quando não, também.

A direção de Michael Mann é soberba, só pra variar. Com o recurso da ação bastante reduzida para seus parâmetros, o cineasta direciona suas lentes para as engrenagens do sistema. Num registro meio candid camera temos um intensivão de como flui o capital pelos bastidores. Quem são os incautos casuais que acham que aquele pode ser seu dia de sorte, quem são os apostadores que jogam pra ganhar e quem realmente ganha dinheiro ali, chova ou faça sol. O tom é de denúncia, em paralelo com o Oliver Stone de Um Domingo Qualquer, mas não fica só nisso. Nas cenas que antecedem as corridas e as corridas propriamente ditas, Mann chuta a lata e entra em seu modo cinemascope.

Nunca vi uma corrida de cavalos filmada desse jeito, in loco. As cenas são absolutamente eletrizantes, poderosas, viscerais. Eu diria até que são majestosas, em uníssono com a elegância absurda dos animais - o que é surpreendente pra mim, vindo de um esporte que não me dizia nada até a semana passada. A forte sensação de que aquilo realmente está acontecendo ali chega a ser desconcertante. O lugar daquelas sequências não deveria ser outro senão no maior IMAX 3D disponível neste planeta.

Um atrativo de peso que não sei se será repetido nos próximos episódios. Se não, pouco importa, ganhamos de qualquer jeito. Os dados já foram lançados. E Dumbledore está vindo aí...


Luck estréia no dia 29 de janeiro.