terça-feira, 31 de maio de 2016

Por um punhado de gibis


"Caralho... tá cara essa porra, hein?"

Le kiosquier, ao conferir pela 2ª vez o preço de capa do gibi novo do Tex.

Ainda estou me adaptando à programação e aos valores do cultuado ranger de Sergio Bonelli. Embora ainda não seja parte de seu público alvo, após aquela monumental Edição Gigante em Cores vol. 9 ilustrada por um mestre chamado Roberto "Magnus" Raviola, passei a pescar reedições de destaque aqui e ali.


Mas o espanto do ilustre vendeur de journaux é compreensível. Para neófitos e, no meu caso, recém-chegados, os R$ 19,90 da Tex Edição Histórica #96 soam como um assalto à diligência mais desguarnecida de El Paso. Com periodicidade trimestral, o formatinhozinho 13,5 x 17,5 de 186 páginas (fora contracapa) em preto e branco é impresso num pisa brite fosco, o que, se dá mais profundidade aos sombreamentos da arte-final, também configura um superfaturamento do infame papel limpa-bunda.

Mas, pesquisando, vi que até houve redução no preço em relação às edições passadas, o que é louvável. Meio ponto pra Mythos.

E não se pode ignorar fator da literatura pulp, do quadrinho cult. Ler Tex em papel jornal é old school. Tudo pelo romantismo. Ainda mais em se tratando do conteúdo: uma reeeeedição da saga "El Muerto", considerada por quem entende como uma das melhores histórias do southern-hero.


Só podiam ter escolhido uma capa menos reveladora, hm?



Tex Graphic Novel #1: O Herói e a Lenda custa R$ 29,90, mas poderia ser até 39,90 (não dá ideia...). Esse é um daqueles raros encontros de dois deuses da 9ª arte: Paolo Eleuteri Serpieri fazendo um tributo ao legado de Sergio Bonelli do jeito que sabe melhor - na prancheta.

Lançada originalmente em Tex D´Autore #1 (fev/2015), a graphic de 48 páginas e capa cartonada é fina demais para ser um encadernado em capa dura, mas bem que merecia. Conspira a favor a proporção 20,5 x 27,5. Ou seja, superando até as medidas do formatão magazine tradicional.

Chegará o dia em que toda HQ de valor será impressa nessas dimensões... mas considerando a diferença de tamanho abissal dessas duas aquisições, isso deve demorar um pouco...

A arte, as cores, o texto e a adaptação (livre) do autor, como não poderia deixar de ser, são grandiosos, espetaculares, Serpiéricos!


Quase não senti falta da Druuna. Imperdível.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Entre o portador da luz e o dragão


"A Blade of Grass" é uma catarse performática que, com bem pouco exagero, remete instintivamente ao grande William Friedkin. Não o grande Friedkin de O Exorcista ᵖˢ, mas o grande Friedkin do escalafobético Possuídos (Bug, 2006). Pelo bem da regularidade sequencial, a química entre a parisiense Eva Green e o londrino Rory Kinnear não é tão transgressora e agressora quanto a dos yankees Ashley Judd e Michael Shannon, porém... porém... soa igualmente profunda enquanto experiência. O que talvez seja até mais complexo do que enfiar o pé na jaca de uma vez.

Esperto, o diretor Toa Fraser apenas ligou a câmera e colocou as duas usinas de força dramática num set mínimo. O resultado, claro, é um espetáculo soberbo para aplaudir de pé. Mais um.

Imperdoável nunca ter mencionado Penny Dreadful por aqui. Criada pelo produtor e roteirista californiano John Logan, essa Liga Extraordinária dos sonhos está em sua 3ª temporada pelo Showtime e mantendo uma proficiência assustadora. Habitué em grandes produções, Logan tem na série sua investida mais autoral - por ironia, reminiscente das obras do mago de Northampton - e escreve todos os episódios, prática incomum nesse meio de showrunners e screenwriters.

Isso ajuda a conferir uma unidade invejável ao conjunto, além de nivelar tudo por cima. Não há episódios ruins em Penny Dreadful. Menos ainda atuações ruins.


Mas voltando ao capítulo #4 dessa graphic novel em movimento: é o atestado definitivo que mesmo apresentando visões controversas da cultura pop secular a série extrai delas uma poesia irresistível. Dessa vez, a relação íntima entre Lúcifer e o grande protagonista de Bram Stoker foi uma revelação deveras acachapante. E, à primeira digerida, bastante discutível. Por questões de hierarquia mesmo.

Mas numa segunda revisão, logo me veio à mente a graphic Eu Sou Legião, de Fabien Nury, e sua proposta de uma entidade ancestral puxando as cordas no palco mundano desde tempos imemoriais. O famoso Empalador não foi o início e sim apenas mais um veículo.

Promissor e ainda resolve magicamente as coisas na cadeia alimentar inferno-Terra. Graças a Deus.

Ps: ei, mas espera aí... o Friedkin de O Exorcista também, espetacularmente!