sexta-feira, 27 de setembro de 2013

The Walking Headbanger

O guitarrista espanhol Victor De Andrés costuma fazer versões de quase tudo o que sai dos alto-falantes - no seu canal do YouTube encontra-se de babas como "Barbie Girl" até temas de filmes como Piratas do Caribe e Gladiador. Nada muito seletivo, o negócio parece ser pela diversão pura mesmo.

Contudo, o lúgubre tema da série The Walking Dead, composta por Bear McCreary, ganhou uma roupagem extreme metal fantástica nas mãos do sujeito.


Podreira sônica & zumbis é um casamento perfeito. Me perdoe o Urso, mas essa cover tem que ser oficializada na série urgente.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Nick Fury: Agent of M.A.L.I.B.U.


Não só as franquias cinematográficas do Marvel Studios são planejadas por fases. Na estreia de Agents of SHIELD, via ABC, a Casa das Ideias também inaugurou uma nova fase em seus planos de dominação (midiática) mundial. Com a série, a Marvel fará o sentido inverso da estratégia da Distinta Concorrente: se lançar à TV embalada por uma trajetória pra lá de rentável no cinema. O novo projeto retoma o mesmo núcleo de personagens que a Marvel fracassou retumbantemente em engatar nas telinhas a exatos 15 anos atrás, em Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. (Nick Fury: Agent of S.H.I.E.L.D., 1998).

Uma bela ironia do Dr. Destino que certamente merece uma Operação Resgate®.

O piloto foi exibido pela Fox numa época em que não haviam quaisquer dos parâmetros estéticos e conceituais que temos hoje no segmento cinema/super-heróis. Blade, talvez o primeiro filme "super" contemporâneo a trabalhar o gênero com seriedade e estilo, só seria lançado alguns meses depois. O influente Matrix, só dali a 1 ano. X-Men de Bryan Singer, dali a dois. Batman Begins ainda nem sonhava em existir. Em suma, um cenário inóspito e radicalmente diferente de tudo o que temos hoje.

Pra piorar, as vibrações camp de Batman & Robin, lançado apenas 1 ano antes, ainda ecoavam fortes pelas salas de cinema e comic shops.

Esse período de entressafra também se estendia aos seriados daquele finzinho de século. A lua-de-mel do público sci-fi com Arquivo X já havia acabado e o formato estava flagrantemente defasado - algo que só viria a se recuperar com alguma qualidade na virada para os anos 2000.

Nesse contexto de adversidades e descrédito, é seguro dizer que foi uma missão suicida, daquele tipo que sempre é lembrada por agentes veteranos para assustar os novatos. Difícil acreditar que o staff da Marvel conseguiu convencer os executivos da toda-poderosa 20th Century Fox a bancar a aventura.

Não duvidaria que muitos acordos paralelos surgiram na ocasião, especialmente envolvendo os direitos para o cinema de alguns mutantes e de um certo quarteto.


Com a internet ainda engatinhando na cultura pop e a maioria das novidades da TV e do cinema relegadas à revistas especializadas, qual não foi a minha surpresa em ver o VHS de Nick Fury figurando entre os lançamentos das locadoras. E com o David Hasselhoff no papel, um dos canastrões que eu mais assistia quando guri, em A Super Máquina - e depois, não tão guri, em SOS Malibu (bom, não era ele quem eu assistia...).

Mas verdade seja dita, fisicamente, ele ficou muito parecido com o carrancudo diretor da SHIELD. Não o gangsta Fury, feito à imagem e semelhança de Samuel L. Jackson, mas o Fury original. Aquele mix de James Bond com Sargento Rock concebido por Stan Lee e Jack Kirby e posteriormente elevado à l'état de l'art pelo megalomaníaco Jim Steranko.

Essa primeira impressão ligeiramente positiva não durou muito. Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. era um made for TV com tudo o que tinha direito: produção a toque-de-caixa, efeitos dos anos 1970, trama ridícula, direção de jardim de infância e presepadas em geral. Como o tempo é um traidor de percepções, eu imaginava se havia sido duro demais com o filme ou até mesmo se ele envelheceu melhor do que o esperado - o que é algo meio idiota de se pensar, mas que até faz sentido quando se tem alguma afinidade com as tosqueiras B que a vida nos traz. Se algo ficou melhor no filme, com certeza vai depender do senso de humor do espectador.

A história foi escrita pelo onipresente David S. Goyer. Mas poderia ser de algumas páginas que Jeph Loeb descartou do roteiro de Comando para Matar, tal a profusão de ideias jeniais, diálogos bisonhos e frases de (d)efeito.

No início do filme, vemos uma infiltração numa base da SHIELD - só para registro, Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão em português, Strategic Hazard Intervention, Espionage and Logistics Directorate nos quadrinhos atuais e Strategic Homeland Intervention, Enforcement and Logistics Division no filme. Ufa. A ficha cai quando o espião entra num setor chamado Cryogenics Section, que, certamente, serviria como uma espécie de fonte de supervilões projetado pelos produtores.

O que não é de todo uma má ideia. Uma fonte de matéria-prima para eventuais episódios "monstro-da-semana" sempre foi um dos recursos mais utilizados por séries de TV. De Arquivo X e Sobrenatural até Fringe, todos tiveram os seus.

E o arqui-inimigo da vez era realmente o 1º arqui-inimigo da SHIELD.


"Olá, velho bastardo..."

O Barão Wolfgang von Strucker foi o líder da organização terrorista HYDRA. Por que ele é mantido em permanente estado de sorvete nazi não se sabe, já que o filme não faz nenhuma menção a isso.

Mas a intenção e a procedência do agente infiltrado ficam bastante claros, ainda que o agente Clay Quartermain (lembra dele?) não se dê conta disso e apareça de surpresa para um descontraído papo de cafezinho.


BLAM! (onomatopéia aqui)

Pelo visto o papo não descontraiu e Quartermain leva um pipoco nos rins.

Vale observar que nos quadrinhos, Quartermain sempre foi um tipo pomposo e arrogante, mas aqui o ator Adrian G. Griffiths parece ter composto o personagem se inspirando no Chet, o irmão mais velho do Wyatt de Mulher Nota 1000. Ele parece um bully sociopata que realmente merece levar um tiro.

E queria muito encenar uma morte num filme, já que supervaloriza a coisa e demora uns 5 minutos para finalmente desabar no chão.


"Yippee-ki-yay, motherfuckeeeeer!"

Mas não tão rápido! Enquanto o resto da base é neutralizada por um ataque a gás, Chet Quartermain sobrevive e encontra uma máscara pra se proteger.

E depois se dirige heroicamente ao encontro dos invasores...


"Perigosa, êêêê... ela é perigosa... êêêê..."

...apenas para levar uma saraivada de tiros de AR-15 e AK-47 por todo o tórax, mostrando que esqueceu qualquer treinamento envolvendo pontos cegos e autopreservação durante um tiroteio.

Como a dona Morte devia estar dando uns amassos com o Thanos àquela altura, inexplicavelmente Quartermain ainda sobrevive para levar uma bicuda nas costelas e descobrir quem é sua algoz, que deixa um recadinho malcriado para Nick Fury na microcâmera do agente.

"A vingança será minha", diz ela.

Atenção na loira.

Ela é a filha do Barão Strucker, Andrea von Strucker, a vilã da trama. No filme ela usa o codinome Viper, num caso de flagrante apropriação indébita. Nos quadrinhos, Viper é Ophelia Sarkissian, anteriormente conhecida como Madame Hydra. Aquela, das volumosas madeixas verdes. E Andrea, juntamente com o irmão gêmeo Andreas, tem o codinome Fenris. Vai saber porque inverteram a coisa toda. Mas isso é o de menos...

Andrea é interpretada pela suíça Sandra Hess, que, apesar de bonita (foi a Sonya Blade até), é a responsável por boa parte da ruindade deste filme. É uma das atrizes mais canastronas que já vi exercendo a profissão. Não vejo nada igual desde Cinderela Baiana. Com muita boa vontade, daria pra elencá-la no cast do seriado do Batman dos anos 60. E mesmo assim correríamos o risco de um ataque de pelanca por parte de Adam West e Burt Ward.

Se a intenção dela foi soar forçada, histriônica e incrivelmente poser, parabéns. Missão cumprida e com louvor.

Mas voltando...

Mediante à invasão da base, ao roubo do corpo do Barão e aos seguidos assassinatos do agente Quartermain, a solução foi recorrer a um veterano-aposentado-brucutu-fodão.

Aquilo que comentei sobre Comando para Matar...


"Será que é ele mesmo nessa caverna? O famoso Nick Fur..."


"Deixa pra lá"

O ex-soldado John Rambo participava de sangrentas lutas com bastões na Tailândia. O ex-coronel John Matrix cortava sequóias para abastecer sua lareira. Já Nicholas Joseph Fury curte a aposentadoria trabalhando 23 horas por dia numa mina abandonada.

Sol, cerveja gelada e bem-alimentadas garotas de biquíni são para fracos!

Quem faz o contato inicial é o novato Goodwin Pierce, papel do ator Neil Roberts. O agente é o alívio cômico da história e não só é chatinho, como de fato lembra muito Ramon, o infame "pool guy" de Seinfeld. Deve ser primo.

Obviamente, ele não consegue despertar o menor interesse no atarefado Fury, que tem sua cota de dissabores com a velha organização. Mas nada tudo é tão ruim que uma abordagem correta não conserte.


"Eita!"


A expressão de fracasso do aspira é comovente

Essa é Contessa Valentina de Allegro Fontaine. "Val" para os íntimos. Personificada pela Lisa Rinna e seus lábios abnormalmente carnudos e entorpecivelmente convidativos.

Infelizmente, ela não comparece paramentada como nos quadrinhos...


...mas vemos la doce Rinna correndo pra lá e pra cá com um uniforme de couro justinho e fazendo biquinho de mean girl. Também sabemos aí que ela já foi território de Nick.

Val informa a Fury que abotoaram o paletó de seu velho chapa Quartermain, concluindo com um diálogo badass tão clichê que ficou até bacana:

Val: "Soou como se tivessem te mandado uma mensagem" 
Fury: "Parece que ouvi!"

Daí pra Fury tirar a poeira do seu distintivo e ir para o helicarrier é um pulo.


O famoso porta-aviões aéreo não ficou tão tosco quanto se poderia supor, logicamente descontado o CGI primário do orçamento disponível. O curioso é que mesmo com a fachada de alta tecnologia, a estética e o visual interno da nave é de um antigo encouraçado, com porões, portas de escotilha e afins. De uma maneira um pouco melancólica, me recordou dos saudosos tempos de Space Battleship Yamato.

Já a bordo, Fury reencontra velhos amigos dos tempos de Guerra Fria, como o Dr. Gabriel Jones (Ron Canada) e o bonachão modafócka Timothy "Dum Dum" Dugan (Garry Chalk).

Quer dizer, "bonachão modafócka" nos quadrinhos...


No filme ele parece meu professor de matemática do 2º ano.

Na sequência, Fury faz um breve tour para se atualizar e logo flerta com o estilo Dredd de ser: conhece uma agente telepata - Kate (Tracy Waterhouse), a única personagem dotada de algum superpoder no filme - e ganha uma pistola configurada com sua assinatura térmica (quem tentar dispará-la ficará eunuco). Muito sutil.

Mas Fury se espanta mesmo com a última novidade da SHIELD: os replicantes LMDs (Life Model Decoys). Inclusive havia um quase pronto e personalizado com a fuça do caolho.


"Now that's a scary shit!"

Todos nós já sabemos onde isso vai dar (shame on you, Goyer!). Mas o crédito tem que ser dado. Esses replicantes não apenas existem nas HQs como fazem parte dos recursos jurássicos da SHIELD criados originalmente pelo dynamic duo Lee & Kirby.

Enquanto isso, Andrea e Andreas planejam os toques finais de sua vingança. A ternura e o afeto entre os irmãos remete ao Pietro e à Wanda do universo Ultimate.


Mas trabalho é trabalho e Andrea aproveita pra dar uma prensa nas cabeças da HYDRA instaladas no Cairo, Londres, Praga e Osaka. À toa, diga-se, já que eles não aparecem mais depois disso.

Em seguida, os heróis seguem uma pista até Berlim. Lá, encontram a agente alemã mais estereotipadamente noir que a produção conseguiu fazer. Juntos, enfrentam alguma resistência até prenderem e interrogarem o infame Arnim Zola, gênio geneticista da HYDRA, que não é o Toby Jones, nem tem a cabeça no meio do tronco. Aqui ele é só um velhinho muito encarquilhado em uma cadeira de rodas.


Teimoso, Zola se recusa a dar pistas sobre o paradeiro de Andrea. Kate então tenta ler a mente do sujeito e não gosta nem um pouco do que vê: trechos de antigos documentários sobre a 2ª Guerra e filmagens de arquivo de testes nucleares que até a minha avó tá careca de assistir, revelando que Zola é um ávido espectador da TV Cultura.

E não para por aí: Zola fez um condicionamento cerebral que o protege contra hackeadas mentais e ejeta os invasores de sua cachola embolorada. Ok, isso foi bem legal.

Não muito longe dali, Nick acha que é seu dia sorte e que está prestes a pegar uma gata pomerana do serviço secreto. Contudo, ele é traído e, através de um beijo, envenenado com uma toxina de rã (é sério!).

Pra piorar, ele descobre que a loirinha na verdade é...


"Oh, shit... Andrea?! Continua!!"

De volta ao QG voador, Nick é informado que só tem até o fim do filme pra encontrar um antídoto, prender os bandidos, dar umazinha com a Val e ainda conseguir fechar com a Fox a produção de uma temporada inteira disso aí.

De repente, surge um andróide-clone do atual diretor da SHIELD, que é um baita pé-no-saco. Talvez por isso que é prontamente recebido a bala por Fury.

Nesse momento me ocorre duas coisas.



1) Esse Nick pode não ser gangsta, mas atira igual a um mano!

2) Como diabos o andróide chegou ao porta-aviões aéreo pairando a quilômetros de altura?

Isso permanecerá um mistério para a posteridade, mas o fato é que ele traz um SMS ameaçador de Andrea.


A HYDRA irá atacar New York com mísseis contendo o supervírus Death's Head, a menos que sejam depositados 1 bilhão de clintons em suas contas nas Ilhas Maluf.

Mas o pior ela deixa pro final, na forma de um trocadilho ultra-infame vindo direto da mente prevelejeada de Goyer:

"Against HYDRA, there's no shield!" (escudo)

Urgh.

Tem início então uma corrida desesperada dos mocinhos em busca dos terroristas. Fury, Goodwin e Kate vão ao encalço de Andrea, enquanto Val lidera uma equipe tática para vaculhar a Big Apple atrás dos mísseis.

Nesse ponto desperta um certo déjà vu.


O cerco a um furgão parado num beco, Val reportando à base em tempo real, a arriscada missão de desativar uma arma de destruição em massa no centro de uma metrópole, o clima de tensão no ar...

Caramba... 24 Horas puro! Quase dá pra ver o Jack Bauer ali falando "Dammit Chloe, we're running out of time!".

Faltou só o... o...

Peraí... Curtis?


 Curtis, é você mesmo, meu filho?



Curtis!!

Confesso que foi uma grata surpresa rever o Curtis Manning - aqui creditado apenas como "Shield Agent #1" - chutando bundas terroristas novamente. Ou melhor, anteriormente, visto que o agente Bauer só começou a interrogar pobres almas em 2001.

Como a vida de herói não é fácil, o furgão era uma pista falsa. A carga na verdade estava sendo transportada num caminhão de lixo.


Por sinal, o caminhão de lixo mais suspeito da história da espionagem.

Só o naipe do motorista já derruba qualquer disfarce.


Um pequeno adendo aqui... Andrea é assessorada por um time de lacaios idênticos, algo robóticos, de terno, gravata, óculos escuros, parecendo agentes M.I.B. albinos.

A trama nunca revela qual a natureza desses drones esquizóides, tampouco se formam a guarda de elite pessoal da vilã. No filme, a HYDRA conta com vários tipos de mão-de-obra especializada em suas fileiras (espiões, técnicos, cientistas, soldados, etc.), o que os deixa muito redundantes no quadro geral.

Nos quadrinhos, a força de trabalho da HYDRA é só um exército de stunts com uniforme verde e pronto. Menos é mais.

Mas voltando... por incrível que pareça, os vilões atravessam a cidade numa boa e estabelecem a base num cais abandonado (onde mais?). Lá, os mísseis da HYDRA são ativados, configurados, preparados...




E apontados para...


Oh, man.

Lembrando que, em 1998, essa não era uma possibilidade nem um pouco plausível. E que outros filmes também já exploraram a ideia de forma ainda mais incisiva. Mas que deu um frio na espinha, isso com certeza.

Sem muita dificuldade, Val consegue encontrar o covil e enfiar um balaço na cabeça do Andreas, mas o ataque ainda é iminente, já que os mísseis foram programados e a contagem regressiva já começou.

Impressionante como preferem esperar pelo Nick ao invés de removerem a plataforma inteira dali, evacuarem as torres ou chamarem o esquadrão anti-bombas.

No outro front, os mocinhos caem numa cilada e são capturados por Andrea, já testando o figurino que usará em seu aguardado ensaio para a Penthouse.


Fury não tira um olho

Após uma fuga mirabolante do calabouço, onde Fury literalmente arranca um C4 na cavidade ocular baldia atrás de seu tapa-olho (desafio qualquer um a não rolar de rir com a cena), os heróis travam uma batalha épica contra o time HYDRA.

O primeiro a rodar é Arnim Zola, que tenta atirar em Fury com a arma dele...


...e fica eunuco no processo. Não que vá fazer falta.

Tem início então um mano a mano entre Fury e Andrea, em que ele consegue perder no braço pra magrela. A vilã termina o serviço crivando de balas o veterano agente, cujo corpo se estabaca no chão, sem vida.

E é aí que vem uma das cenas mais sensacionais do filme.


"Ahahahah, se fodeu Bátema... digo, Fury. Se fodeu, se fod... hã?"


"Não fui eu quem morreu, sua putinha relaxada, foi meu clone eunuco!"

Depois dessa, Andrea manda tudo à merda. Ela é presa, o antídoto que existe em seu sangue é recolhido e os códigos para o desarme dos mísseis são extraídos de sua mente à fórceps.

O dia está salvo!

Mas a filha do Barão é guerreira. Consegue se libertar das algemas (?), driblar todo o contingente da S.H.I.E.L.D. que abarrotava seu QG naquele momento e fugir com o corpo criogenizado do papai Strucker.

E ainda joga beijinho.


"Tchau, seu corno manso, a gente se vê na Batcaverna!"

Com tudo resolvido, Fury finalmente acerta as velhas pendências com a S.H.I.E.L.D., retoma seu lugar na cadeia de comando e ainda arma aquela bimbadinha exxxperta com a Val.

Isso não vemos, mas somos brindados com um lindo final romântico com direito à pôr-do-sol visto do helicarrier...


Droga.

Mas espere. Isso é um filme pra TV. E também um piloto. Tem que reforçar a continuidade.

Ou seja...


Castelo sinistro, check. 


Vilã ressurgindo das sombras ostentando um enorme camel toe... check. 


Barão Strucker voltando aos negócios, check. 


Mais demonstração de carinho familiar WTF, check. 


HUAHEUEHUAEUHAUE vilânico... check! ✓✓✓✓✓✓✓✓✓

E esse foi o epílogo feito especificamente para dar base aos vindouros episódios... que nunca vieram.

É claro que não dá pra esperar nada muito louvável de Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D.. Mas se o espectador casual se aventurar no filme com isso em mente, é provavel que saia recompensado no final das contas. Com certeza, o filme oferece bem mais risos e diversão involuntários do que a maioria das produções atuais feitas para esse objetivo. E não apenas para quem tem boa tolerância à tosqueira. 

Excetuando se for fanboy de qualquer tipo ou cinéfilo restrito a superproduções sisudas e candidatas a épico. Nesses casos, passe muito longe e fuja, fuja para as montanhas!!

Bom, S.H.I.E.L.D. TV em dia.

Agora deixa eu ver como anda aquela season premiere que eu joguei no uTorrent...


Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. ("Nick Fury: Agent of Shield", EUA, 1998), 90 min.
Direção: Rod Hardy
Elenco: David Hasselhoff, Lisa Rinna, Sandra Hess, Neil Roberts, Garry Chalk, Tracy Waterhouse, Tom McBeath, Ron Canada, Peter Haworth

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

New World Zombie


Guerra Mundial Z (World War Z, 2013) é, de certa maneira, um tipo de marco. Zumbis sendo populares o bastante para estrelarem um blockbuster com Brad Pitt era algo impensável até pouco tempo. Foi uma autêntica escalada social. Nem George A. Romero, Lucio Fulci ou o feiticeiro bokor mais chumbado de peiote de todo o Haiti jamais sonharam que suas crias chegariam a tanto. Difícil precisar exatamente porque o grande público se afeiçoou tanto aos zumbis a ponto de um estúdio largar 190 milhões de obamas em suas mãos putrefactas. Talvez seja uma forma de encarar melhor a ideia da morte, dando-lhe um rosto para confrontar. Ou talvez algum desejo reprimido por colapso social. É algo a se pensar, claro, com o devido acompanhamento. O fato é que o filme, adaptado do notório livro de Max Brooks, tem sua ambiciosa missão estampada no título: registrar o apocalipse zumbi se desdobrando em escala global ao invés de focar um único microcosmo.

Na verdade, essa era a bola que ninguém queria cortar. Vimos relances disso no final do infame Zombi 2, do Fulci, e na abertura da refilmagem Madrugada dos Mortos, de Zack Snyder. E também em perspectivas regionais como visto em The Dead, dos irmãos Ford, Canibais, dos irmãos Spierig, e até em Mangue Negro, de Rodrigo Aragão, passado em terras capixabas (se derrubar é pênalti!). Fora isso, apenas o velho esquema das transmissões de rádio e TV reportando o caos mundo afora - um recurso já bastante utilizado desde o icônico A Noite dos Mortos-Vivos, de Romero. Uma guerra mundial dos zumbis, per se, é a 1ª vez. E o filme entrega. Pelo menos 1/4 da quantidade esperada. E com o produto não lá muito íntegro. Mas entrega.

A trama segue os passos de Gerry Lane (Pitt), um ex-empregado da ONU especialista em zonas de conflito e que agora curte uma idílica vidinha civil. Num dia qualquer, parado no tráfego com sua família, ele é pego no olho do furacão morto-vivo. Zumbis velocistas fazem um mega-arrastão pelas ruas, cravando os dentes em tudo o que se move e mal dando tempo para os motoristas em fuga exercitarem suas barbeiragens. Por pouco, Gerry escapa ileso com sua família. Após passar um sufoco para sobreviver, eles são resgatados e Gerry é "convidado" a conduzir a investigação que irá determinar as origens da praga e, quem sabe, a sua cura.

A partir daí, o filme emenda num vertiginoso tour zumbístico com escalas na Coréia do Sul, Israel e País de Gales.


Com várias opções interessantes na manga, o diretor Marc Forster privilegiou a energia cinética acima da atmosfera. Especialmente no segmento israelense, onde os zumbis literalmente caem do céu e tem uma cinematografia parecida com a de inúmeros thrillers de ação/guerra situadas naquela região (como O Reino, por exemplo). Isso faz com que os zumbis assumam um papel quase figurativo, podendo ser qualquer ameaça insurgente daquelas bandas. É um terreno bastante conhecido pelo cineasta de Redenção e O Caçador de Pipas. Essa contextualização geopolítica em detrimento do horror inerente às criaturas é incomum, mas não é algo necessariamente negativo.

Quando envereda pelo suspense, contudo, Forster monta sequências eficientes, como a fuga de Gerry e sua família pelos corredores de um prédio às escuras. O clima é de survival horror game e até os infames e gratuitos jump scares foram bem colocados. Outro grande momento de tensão é o ataque de zumbis dentro de um avião em pleno voo. Mesmo numa situação beirando o insustentável, os protagonistas e os demais passageiros mantêm o sangue frio e cooperam em silêncio para conter a horda desmorta.

Já em algumas cenas, Forster se embriaga na fonte de Spielberg. A inspiração é nítida quando Gerry e sua família vão até uma farmácia que está sendo saqueada. Lá eles testemunham a civilização despencar bem diante de seus olhos - tudo muito semelhante a um trecho de Guerra dos Mundos, incluindo desesperadas trocas de tiros. Outro momento tipicamente spieberguiano é quando Gerry & cia. invadem um centro de laboratórios tomado por zumbis. Furtivamente, eles se esgueiram pelos corredores, cruzam divisórias engatinhando e usam o silêncio (e o barulho) ao seu favor, num nervoso jogo de gato e rato. Tal qual os guris de Jurassic Park tentando se safar numa cozinha sitiada por dois velociraptors.

Por sinal, os zumbis do filme - ou "zekes" - não fazem feio perto dos dinos. Ou de um crocodilo, de um tubarão...



Há pouco o que se inovar no perfil dos zumbis, mas Guerra Mundial Z marca seus pontos. A zumbificação se dá em tempo recorde: de 10 a 12 segundos a partir da mordida temos um morto-vivo prontinho pra ação. E são muito rápidos, mesmo descontando as turbinadas digitais - ainda pouco convincentes, diga-se, mas melhores que os ridículos bonecos de Eu Sou a Lenda. O ataque é minimalista ao extremo, basicamente mandibular. Zumbis se atiram pra cima das vítimas e travam seus maxilares nelas como se fossem pitbulls, o que é, ao mesmo tempo, engraçado e assustador. Engraçado porque lembra Pac-Man. E assustador porque mostra que os monstrengos não estão pra brincadeira e vão direto ao que interessa.

O grande diferencial é que dessa vez não há uma fome louca por carne, massa cinzenta, vísceras ou fluídos: o objetivo é simplesmente espalhar a infecção a qualquer custo, para o máximo de pessoas possível. Isso, mais o fato de serem os zumbis que menos ligam para a própria integridade física da história, rende imagens pra lá de impactantes, como as cenas de um tsunami zumbi invadindo as ruas e escadarias de Israel como se fosse uma pororoca pútrida com dentes. Fora que dá a incômoda sensação de que eles são apenas ferramentas descartáveis para um propósito obscuro e ainda mais ameaçador.

Aliás, por "zumbis não ligando para a própria integridade física", favor descontar o pleonasmo, visto que só com essa descomunal desencanação e sacrifício pelo coletivo seria possível para as criaturas formarem pontes de formiga...




...sem dúvida, o carro-chefe do filme e uma das ideias/cenas mais perturbadoras que já vi no cinema.

É a versão pesadelo de um outro pesadelo.


Cultura pop, você é aterradora.

Uma das incógnitas do filme era a presença de Brad Pitt. Era uma dúvida que me incomodava já no teaser. Seria o marido da Angelina Jolie capaz de se desvencilhar da aura de galã/capitão do time e conseguir vender desespero, impotência e medo com credibilidade? Seria capaz de vingar como um simples mortal em uma situação extraordinária? Convencer que existe sangue quente sendo bombeado naquelas veias? Se não dá pra exigir muito, ao menos vemos um esforço honesto nesse sentido.

Seu melhor momento é quando Gerry foge com sua família para o terraço de um prédio. Realmente dramático. Durante o resto do filme, há alguns lampejos desse sentimento, mas nada que se compare. Botei na conta da frieza e experiência de campo que o personagem acumulou em seus tempos de ONU.

Com relação ao restante do elenco, há pouco o que comentar já que é composto de uma maioria de personagens efêmeros - muito embora a soldado israelense Segen, interpretada pela atriz Daniella Kertesz, seja algo promissora. Também foi ótima a participação de David Morse como um ex-agente da CIA. Meio esperto, meio insano e totalmente encarcerado. Curioso como todo bom ator se aventura pelo menos uma vez em personagens desse tipo. Que o diga Elias Koteas em Possuídos e o Ed Harris assustador de Justa Causa. Deve ser o efeito Lecter batendo.


A adaptação, desenvolvida a dez mãos, entre elas as de Damon Lindelof e J. Michael Straczynski, até consegue uma transposição satisfatória para o formato. Obviamente, a maior parte do material foi editado, o que não evitou algumas das falhas cometidas pelas maioria das adaptações que o cinema faz de livros, sendo a passagem do tempo a mais evidente. As escalas do voos internacionais de Gerry são tão imediatas que na conexão Israel-País de Gales a impressão é que ele nem havia chegado à metade do caminho. O problema aí é bem pontual.

Há um grande imediatismo assolando as produções de Hollywood. Desconfio que é para agradar os guris da geração Playstation, cujo déficit de atenção é cada dia mais agudo. Tudo tem que ser rápido, pra ontem, no corte de um videoclipe (que termo mais démodé). Isso implode qualquer construção dramática e não é compatível com um storytelling decente. Quanto mais um escrito a partir de uma narrativa literária.

Mas o que mais surpreende, porém, é a quantidade irrisória de sangue e entranhas dilaceradas para um filme de zumbis. Mesmo partindo da premissa de que não são criaturas comegente e que se contentam em morder pessoas para perpetuar a espécie, ficou faltando algo ali - ou sobrando...

O uso frequente de camera shake só reforça essa impressão de pouco grafismo. Em compensação, foi muito bem-sacado na sequência do ataque no início do filme, quando vultos zumbificados se misturam à multidão em pânico, quase indistinguíveis, criando um efeito de confusão e perplexidade muito bacana.

A duração do longa conspirou contra, mesmo na versão uncut. Muito curtinho, quando o ideal deveria ser pelo menos umas duas horas e meia. A conclusão escancarada precedida pela inevitável narração em off com resuminho da ópera foram sintomáticos. Preferia esse troquinho convertido em mais história e mais mordidas. Embora Guerra Mundial Z fique devendo na ousadia e no sentido literal do título que ostenta, não dá pra negar que é divertido e vale eventuais reprises com muita pipoca.

...pelo menos até que Danny Boyle e Alex Garland mexam seus traseiros brancos e finalmente tirem Extermínio 3 do papel.