quinta-feira, 28 de setembro de 2017

CROM E MITRA!


Dando sequência à saga do lendário bárbaro/capitão/pirata/rei cimério, a Salvat lança pelos circuitos setorizados A Espada Selvagem de Conan - A Coleção vol. 3: A Maldição da Lua Crescente. Em três edições pontualmente quinzenais, a editora deve ter tirado algumas lições preciosas com a recente distribuição de materiais com baixa tiragem. Ao contrário das coleções da Marvel em capas preta e vermelha, a regularidade aqui tem sido britanicamente impecável.

Da treta muito louca da Panini (parceira na empreitada) com a distribuidora Total-ex-Dinap, pelo visto, só chegou a "marolinha" - e vamos bater na madeira 3 vezes, por favor.

O que mudou? Não faço ideia, já que esse tipo de informação as editoras brasileiras guardam como se fossem códigos de ogivas nucleares. Me atenho aos fatos - e volumes - empíricos.

Por exemplo, a única grande mudança ardeu os olhos, mesmo já prévia e fartamente anunciada.


"Achou que eu estava brincando?" - Salvat, com um bastão de baseball

Já distante dos idílicos tostões que custearam os dois primeiros volumes, o preço real de 44,90 reais foi realmente de um choque de realidade. O que me leva a mais e melhores cálculos e à possibilidade concreta de dar um hiatão nesses posts E$pada $elvagem, além de repensar o timing da entrada de cabeça nas assinaturas do ano que vem. E o mais importante, tomar um remédio para verme extraforte.

Voltando aos fatos, o pacote bárbaro daqui pra frente não será mais pacote: só a edição lacrada.

Menos glamouroso, mais prático = Melhor assim.




Os bônus são sucintos: novo prefácio do editor Max Brighel, galeria de capas e uma belíssima chamada para o próximo volume.

Entre as histórias, Alfredo Alcala dá mais um show de finalização no clássico "A Cidadela no Centro do Tempo", o veterano dos gibis de terror Sonny Trinidad (ah, esses filipinos) deixa sua marca em "O Terror Dorme Sob a Areia" e até a arte estranha e vanguardista de Alex Niño (ah, esses filipinos²) combina bem com a história estranha e vanguardista de "O Povo da Escuridão". E claro que não poderia deixar de destacar o arco-título em oito capítulos onde Conan se vê às voltas com a linda e traiçoeira bruxa Salomé.

É nesse épico de Roy Thomas e John Buscema que acontece um dos momentos mais icônicos do personagem, transposto inclusive para o filme de 1982: a crucificação de Conan e a antológica sequência do abutre na "Árvore da Morte". Com certeza, uma das minhas aventuras favoritas do cimério.

Infelizmente, também é ali que a problemática digitalização da Dark Horse faz mais vítimas. Desta vez, foi a arte-final de The Tribe - o time de filipinos que finalizava artes para a Marvel e que tinha em suas fileiras o grande Tony DeZuñiga (ah!). Cheia de nuances suaves nos sombreamentos e tons de cinza e/ou aguados®, o acabamento orgânico e mundano da equipe levou um banho de água sanitária da editora do cavalo preto.

Detalhes de painéis mais trabalhados ficaram bem apagados, lembrando aquelas famigeradas impressões pixelizadas que ninguém gosta de lembrar. Basta comparar algumas das amostras com as respectivas artes originais. Em alguns quadros o nanquim vira um lápis. De lascar.

Friso, não é culpa da Salvat, os arquivos digitais já vieram assim, é o que tem pra hoje, etecétera e tal.

Felizmente, no restante da edição a parte gráfica segue em bom nível. O volume defende com tranquilidade o status de acervo histórico da série e, confesso, é algo emocionante ver A Espada Selvagem de Conan já atingindo seu #7 original bem adaptado, na íntegra e em capa dura.

Parece até que já estou vendo algo se formando no horizonte...




Sim, sim... estou vendo algo! Estou vendo algo!!

Só gostaria de ter uma casa maior ao redor dessa estante.

A Espada Selvagem de Conan - A Coleção vol. 1
A Espada Selvagem de Conan - A Coleção vol. 2

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O sonho acabou


Miracle Mile (1988) é uma velha obsessão, você sabe. Cult entre os cults, eu não esperava tão cedo um revisionismo desse filme além do dvd magrelo lançado em 2003. Quando anunciaram o lançamento do blu-ray lá fora, remasterizado e com vários extras, quis até comemorar espalhando um hoax sobre alguma destruição mútua assegurada estourando por aí. Seria um dos meus raros investimentos atuais em mídia física - ao lado do dvd do Drive noventista e do, ainda sob estudos, mod da Amazon gringa para Big Guy & Rusty.


Orçamento aprovado, canto na estante reservado a cotoveladas, mas... antes de fechar o carrinho resolvi dar um bico no torrent produto final. Se foi um grande erro ou um grande acerto, ainda não sei.

A remasterização, feita pelo cinematografista Theo Van de Sande e pelo diretor e roteirista Steve De Jarnatt, foi radical. Talvez numa tentativa de dar à pérola oitentista uma cara mais up-to-date, carregaram nos filtros teal & orange hollywoodianos e acabaram assim liquidando um dos aspectos mais intrigantes e ambíguos da trama de Miracle Mile:


♢♢♢ olha o spoiler ♢♢♢


...foi tudo um sonho?


Tudo bem, o próprio Jarnatt já rechaçou a teoria, alegando que "o público não teria gostado". Porém é uma das raras ocasiões onde essa possibilidade não só é muito provável como está muito bem enquadrada no contexto, independente da visão de seu criador.


Sequências como o anti-herói Harry (Anthony Edwards) correndo  pela madrugada de Los Angeles com a garçonete Julie (Mare Winningham) num carrinho de supermercado (!), os vários desencontros pelas ruas da cidade, a desorientação generalizada e os protagonistas teimosamente retornando ao ponto de partida por mais que fujam dele, por si sós, têm uma mecânica de sonho - ou de pesadelo. Sem falar na trilha etérea do Tangerine Dream e no fato de que a premissa inteira teve início durante (e devido a) uma soneca de Harry.

Tudo isso ainda seria apenas um amontoado de (bons!) indícios, se não fosse o lado estético não transposto para o disquinho azul. Além do figurino new wave a da direção de arte ao estilo "magazine de moda dos anos 80, com muito neon e lojas de departamentos", como bem observou Roger Ebert e irritou Gene Siskel, havia bem mais ali.


No original, a fotografia do filme reveza entre uma matiz magenta/rosada e outra azulada nas externas, conferindo um ar de surrealismo às cenas. Outro ponto é a definição moderada da imagem, típica das limitações de sua época, acrescido de algum blur em momentos-chave. Geralmente isso é usado para ilustrar passagens de flashbacks, mas aqui reforça ainda mais o aspecto onírico da aventura.

Enfim, era uma maneira alternativa e intimista de assistir Miracle Mile. Ficava bem mais divertido (e sutil) do que qualquer filme-sonho que o Brian De Palma já tenha feito.

Já no blu-ray, filtros saturados estouram na tela e fritam a retina com a melhor definição que a trama nunca pediu. A menos que você seja o Michael Bay, é impossível enxergar aquilo como algo vindo de um sonho.

Outro con é a transposição do formato de tela. O objetivo inicial era sair finalmente do full screen (1.33:1) da versão do dvd para um formato wide similar ao lançado nos cinemas (1.85:1). Mas pelo jeito algo não fechou nas contas da montagem e o resultado foi uma complicação quase tão grande quanto a dos dvd's nacionais de Homem-Aranha (2002).






Os prós, contudo, são promissores. Dos extras com material inédito de um filme obscuraço à reunião da maior parte do elenco 30 anos depois, quase posso dizer que vou arriscar o importado...

...se não encontrar o torrent disco n'alguma loja por aí, claro.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Os cavalheiros do apocalipse

Em geral, os catálogos da plataforma musical NoiseTrade são recheados de muito folk, americana e cantores indie/songwriters com banquinho e violão e depressão. Às vezes, a coisa pesa e velhas guitarras roncam furiosas de alguma garagem forrada com pôsteres do MC5, Black Sabbath e Motörhead. E tem aquelas ocasiões em que não rola nem uma coisa, nem outra e é sensacional, como o grupo The Texas Gentlemen.


O divertido vídeo da música "Pain!" traz um humor negro que normalmente seria associado a sons mais fuleiros e barulhentos, mas é conduzido pela pegada acústica de um certo soft rock vintage. No fim, os rapazes de Dallas abraçam mesmo é o country rock de raiz. No perfil do Facebook (que moderno) eles fazem menções apaixonadas a Willie Nelson, Johnny Cash, Kris Kristofferson, The Band e outros.

Analisando por outro espectro, o improvável mix da imagética gore e cínica do vídeo com o pop rock agridoce e anacrônico da música também remete à clássica cena de Laurel Canyon, Los Angeles - que ganhou fama e (muita) grana no final da década de 1960 e durante toda a década de 1970.

O lirismo e o perfeccionismo musical de Eagles, Carole King, The Byrds, Buffalo Springfield, Crosby, Stills, Nash & Young e outros ilustres locais só eram superados pelo seu ritmo industrial de sexo, drogas e quebra-paus homéricos nos bastidores. Não por acaso, há um verdadeiro cult following àquela louca geração, que inclusive foi tema de livros, como Hotel California, de Barney Hoskins, e filmes, como Laurel Canyon - Rua das Tentações, que usa a mística barra-pesada do lugar como pano de fundo.

Nos primórdios, essa turma - mais Steely Dan, Cat Stevens, Elton John, Seals & Crofts, America e lá vai AOR - passava longe do meu dial. Do alto do meu subterrâneo punk-metal, achava isso tudo o suprassumo da cafonice. Puro preconceito. Mal sabia que os bem comportados é que eram os verdadeiros maus exemplos. E a música era demais - principalmente depois dos 35.

Hoje tenho os primeiros discos de Elton John como discoteca básica. The times they are a-changin', mesmo.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

MÃE DE MITRA!

E seguimos com o Plantão A Espada Salvatiana® de Conan:


Novamente sem maiores alardes, aportou nas bancas de Vila Velha A Espada Selvagem de Conan - A Coleção vol. 2: A Libertação de Thugra Khotan. O que marca finalmente a republicação oficial dos primeiros números da clássica The Savage Sword of Conan, agora sim pela consagrada dupla Roy Thomas/John Buscema. Aye!

Compilando as edições de #1 a #4 de SSC, mais a adaptação do conto "Os Demônios da Montanha", do autor sueco Björn Nyberg, assinada por Thomas e Tony DeZuniga, a segunda entrega da Salvat dá o salto no preço para as previstas 29,90 sonjas - a ruiva, aliás, faz uma participação especialíssima nessa estreia.

Até aqui ainda desceu redondo, mesmo com o folder já antecipando a natureza salgada do investimento para o próximo volume - 44,90 thulsa-dooms!

Vai aí uma oração ao deus encarregado:

Crom, eu nunca orei para ti antes. Não levo jeito pra isso. Ninguém, nem mesmo tu te lembrarás se fomos homens bons ou maus, por que lutamos ou por que morremos. Não, tudo o que importa é que somos dois (eu e meu bolso) contra muitos (volumes), isto que é importante. A coragem te agrada, Crom, então concede-me um pedido, concede-me a verba! E se não me escutares, podes ir para o inferno!

(Crom, amigão, nunca concordei com essa última parte, isso é coisa de bárbaro cimério sem respeito pelas autoridades, espero que não tenha se ofendido)

arram.

A edição vem nos mesmos moldes da anterior, em versão enxuta. O folder é menor e dessa vez não tem encartezinho. Os extras também são mais contidos: temos um prefácio, a 2ª parte das Crônicas da Espada, a galeria de capas, as minibios, as próximas atrações e fim.

Um pack honesto, ainda que, ironicamente, mais caro que o recheado 1º volume.




E algum problema no paraíso? Não. E talvez.

Um dos aspectos mais marcantes na arte das Savage Sword originais - e que, diga-se, foi replicado fielmente nas ESC da Abril - eram os efeitos e sombreamentos cinzas auxiliando o preto definitivo do nanquim na arte-final. Com isso, o acabamento nos desenhos do bárbaro adquiria um detalhamento e complexidade ainda maiores, com um quê de virtualmente irreplicável. Não era arte de baixo padrão mesmo - apesar do formatão popular com grande herança do universo dos pulps.

Então, nunca foi apenas preto & branco - eu lembrava bem da "sujeira" desse lápis (ou tinta cinza clara, não sei mesmo) como algo bastante peculiar e recorrente nos gibis do Conan. E só deles.

Nos arquivos digitais que a Salvat usou para esta impressão, todas essas técnicas usadas por gênios da arte-final como Pablo Marcos e Alfredo Alcala quase não veem a luz do século XXI.

Quase... mas que saíram visivelmente prejudicadas em relação ao original, isso não há como negar.


Para comparar, clique em cima, desconte o amarelado da versão original e a qualidade chumbrega da câmera

A nova impressão está muito mais limpa, pálida e estéril, em contraste com o vigor e a vivacidade de outrora. Nada dramático, claro. Os tons de cinza ainda estão lá, ainda que bastante esmaecidos.

Aí volto a questionar sobre as fontes, franquias e joint-ventures envolvidas.

A Salvat em parceria com a Panini-matriz (só tem ragazzos & ragazzas no expediente) pode ter adquirido o material digitalizado pela Dark Horse, que, reportadamente, também trazia essas particularidades. Será? Não há qualquer menção à Dark Horse nos créditos, apenas à fonte direta, a inexpugnável Conan Properties.

Dúvidas, dúvidas...

Não é o fim do mundo, embora a arte tenha perdido um tanto de peso e profundidade. Mas após esse breve entrevero que tive entre as versões, veio justamente deste volume 2 a redenção que eu não esperava: a reedição do primeiro contato que tive com a arte-final do mestre Alcala, em meados dos anos 1980.


Sem dúvida, um belíssimo (re)começo.

sábado, 9 de setembro de 2017

Não se meta com o Diabo, Cabeça de Copo

Após alguns anos me decompondo na fila de espera, parece que agora vai.

Cuphead "Don't deal with the devil" - Polygon

Una bella presentazione di "Cuphead": videogioco platform basato sui cartoni più strambi ed inquietanti degli anni 30, ma soprattutto è disegnato e animato, parzialmente, a mano! Non vedo l'ora di provarlo. [Blue]

Publicado por Cartoon Creek em Segunda-feira, 24 de julho de 2017

Cuphead é o clássico shoot'em up oitentista de plataforma com conceito e visual das animações trintistas. E é indie game. Claro que virou automaticamente minha obsessão assim que pus os olhos nessa belezinha, há intermináveis três anos.

Um parênteses: (não sou um gam... ué, pra quê parênteses se já usei dois pontos? Nah)... não sou um gamer por definição. Minha taxa game/ano é baixíssima. Não raro, dá traço. Nem console em casa eu tenho. Mas é claro que acompanho matérias sobre o assunto, os projetos mais comentados e os cinematics mais compartilhados da semana.

Fora que grande parte dessa linguagem está inexoravelmente atrelada a outras áreas que yo tengo mucho gusto. Música e gibis, por exemplo.

Mas mesmo sem esses links, Cuphead me deixaria aos seus pés de qualquer modo. Desenvolvido pelos manos canadenses Chad e Jared Moldenhauer (a.k.a StudioMDHR Entertainment), o jogo é evidentemente um trabalho de amor à arte. O esmero e o cuidado na produção, sozinhos, já valem um documentário do tipo "Projeto Colaborativo Desenvolvido numa Garagem vs. A Fria e Bilionária Indústria dos Jogos Eletrônicos".

Só divagando. Mas vem chamando a atenção.

Por todas essas razões, Cuphead - que, dizem, é brutalmente difícil - será outro daqueles raros eventos a me arrancarem do meu limbo non-games, ao exemplo de... Limbo! Esse adorável, evocativo e assustador indie game de 2010 representou pra mim algumas das melhores horas gastas com cultura pop. Memorável.

No mais, o assalto retrô de Cuphead, além de certeiro, também está atrelado inexoravelmente ao divertido vídeo de "Ghost of Stephen Foster", do Squirrel Nut Zippers.


Melhor referência, impossível.

Cuphead será lançado em 29 de setembro.