quarta-feira, 29 de junho de 2022

Panela vegan é que faz comida boa


Já espalhei a palavra em tudo que é lugar: há tempos o Panelaço é o melhor programa de entrevistas brasileiro. E de culinária vegana. Os pratos são saborosos (os que arrisquei copiar, pelo menos) e inacreditáveis: coxinha de jaca, strudel de maçã e banana, penne ao abacaxi, cebolada com farofa de maracujá, pudim de tapioca e por aí vai.

E o Gordo, cara.

Gordo é foda. A cancha que o cara tem hoje é anos-luz de sua época na MTV, que já era muito legal. Ele sabe criar/manter um clima informal como poucos e deixar os convidados bem relaxados (excetuando uma), dispostos a responder praticamente qualquer coisa. Ele não é de desperdiçar chances. Além de tudo, é obrigatório para quem se interessa pela fauna musical brasileira.

Portanto: feito, feito e feito. E vou dormir feliz, crucificando o sistema.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Caçada inesquecível


Caçada (Hunter Hunter, 2020) estava disponível na minha fila de filmes desde o dia um. Após o lançamento, quando pipocaram os primeiros burburinhos embasbacados, o promovi e joguei na pasta de prioridades. Mas, por algum motivo que só a minha procrastinação pode explicar (depois), fui conferir a produção apenas esses dias, à fórceps e em grupo. E até agora estou (estamos) juntando os cacos e administrando o inevitável TEPT. Porque o longa dirigido, escrito e coproduzido pelo canadense Shawn Linden é impiedoso com a sanidade alheia.

O que me chamou atenção primeiro, confesso, foi a escalação de Devon Sawa e Nick Stahl, duas figuras que já sentiram o gostinho dos holofotes e que há tempos vagam proscritos pelas searas do terror e do suspense. O primeiro encarnou a forma humana do Gasparzinho logo no início de carreira e atraiu atenção quando estrelou o terrir A Mão Assassina e o 1º filme da série Premonição. Já o segundo, se destacou no início dos anos 00 numa levada promissora de casts: foi o John Connor em O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas e o psicopata Ethan Roark Jr., o "Assassino Amarelo", de Sin City, além de protagonizar a macabra e subestimadíssima série Carnivàle, da HBO. Não é a primeira colaboração dos dois, mas ainda não deixa de ser pitoresco.

Na premissa, uma família luta para se manter em tempos difíceis numa região selvagem nos cafundós do Canadá. Joseph (Sawa) é um irredutível seguidor de uma linhagem ancestral de caçadores. É modelo e inspiração de vida para sua filha adolescente Renee (Summer H. Howell) — e é só o que ela conhece mesmo da vida. Sua mãe Anne (Camille Sullivan) é a única que almeja um retorno à cidade, dividida entre a vida dura que escolheu ao lado do homem que ama e em apresentar Renee ao mundo do qual ela foi privada. Um mundo mais seguro, menos sofrido e repleto de opções. E, em meio aos questionamentos, uma terrível ameaça espreita pelas redondezas.

Agora já posso escrever sinopses para a America Video.

Infelizmente, não dá para comentar muito sobre Caçada sem sabotar suas melhores qualidades. Na maior parte da metragem, o filme tem aquela pegada quase documental de Homem X Natureza, à Inverno da Alma (Winter's Bone, 2010) e, sei lá, Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2008), com um núcleo pequeno de personagens e locações. É aquele feijão com arroz de mundo-cão-interiorano já conhecido, mas bem temperado. E as atuações levam boa parte do mérito.

Sawa está irreconhecível como o patriarca caçador. Durão, indomável, o sal da terra. Assistiria fácil a um filme só do cara caçando e olha que não sou fã de caçadas. A menina Howell, uma veterana de Chucky's, mostra uma segurança absurda na transição bravura-ternura-fragilidade. Nick Stahl faz um exercício de jogo para o time, interagindo na medida com a atuação de Camille Sullivan. Que é magistral, diga-se.

É impressionante a habilidade de Linden em trabalhar tons cinzentos e pesados de drama familiar/social com suspense psicológico e terror sem perder o foco, patinar em exageros e soluções mágicas. O não-dito exerce um papel fundamental em momentos cruciais e no destino dos personagens. E o roteiro, sempre sóbrio, árido e verossímil, nunca entrega nada tão fácil — mesmo aquilo que você, traquejado de outros carnavais, já vislumbra pelo horizonte. Tudo isso converge como uma perfeita sinfonia de elementos para o final mais brutal que vejo em muito tempo.

Sem dúvida, a "cena com walkman" mais impactante que vi este ano.

Ps: desculpa aí, Kate Bush.

domingo, 19 de junho de 2022

Promessa cumprida

Meus botZ espiões dormiram no ponto. Só há pouco soube da existência do espetacular fan film animado Batman: Broken Promise, uma das melhores coisas com o Cruzado Encapuzado que vi este ano.


A direção e a escrita do artista/comediante Stephen Trumble são magistrais e contornam com sagacidade as limitações do formato. Chega a lembrar a atmosfera opressiva que Ed Brubaker e Greg Rucka imprimiam na antológica série Gotham DPGC. O traço remete ao sujão estilizado do John McCrea em Hitman com o batdesign inspirado no uniforme pesado e desconfortável em que o Lee Bermejo sempre metia o sofrido Bruce.

Mas o show mesmo é o trabalho de voz e os efeitos de som, impecáveis — infelizmente, com o áudio muito baixo nas cenas de ação. Quase funciona à parte, como se fosse uma radionovela um podcast.

Torço para Trumble abrir um KS para uma leva de novos episódios. Assim, poderei publicar o grito de guerra do Fry e dormir tranquilo...

quinta-feira, 16 de junho de 2022

A última estação


Tim Sale
(1956 - 2022)

Do tweet preocupante do Jim Lee até à notícia de poucas horas atrás foi um pulo. Se foi o grande Tim Sale.

Difícil transcrever a sensação da partida de um artista cuja obra se passou a vida inteira admirando, acompanhando, se inspirando. Um nome que era decisivo na hora de escolher um título. E que títulos: só nas colaborações com Jeph Loeb, Sale cunhou hits estrondosos como a quadrilogia das cores da Marvel, o universo quiróptero (e felino) de O Longo Dia das Bruxas e, principalmente, o clássico Superman: As Quatro Estações.

Sem esquecer da parceria dos sonhos com o saudoso Darwyn Cooke no brilhante arco "Kryptonita", bem como de seus trabalhos extramainstream, como a ótima Billi 99, ao lado de Sarah E. Byam.

Apenas breves exemplos de gibis que volta e meia releio, sempre redescobrindo detalhezinhos aqui e acolá. Como da primeira vez.

Esse ano está implacável. Em todos os sentidos.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Pray, Prey

E saiu o trailer completo de Prey, novo opus do Predador, o alien guerreiro (e esse é guerreiro!) praticante de caça esportiva.


Em geral, acho saudável esse tipo de proposta fora da curva para franquias estabelecidas, mas faz tempo que uma não me descia tão quadrado. Jovenzinha indígena contra um alienígena com 240 kg de puro músculo e arsenal, duh!, de outro mundo? Porra, véio.

O mancebo cineasta Dan Trachtenberg (41) tem um portfolio curto mas legal: fez um ep. de Black Mirror e debutou na telona no bom 10 Cloverfield Lane. E o roteirista/argumentista Patrick Aison foi produtor executivo em séries bacanas (Wayward Pines, Tom Clancy's Jack Ryan). Mesmo assim, esse plot é uma tour pela luz da improbabilidade e da suspensão de descrença.

Sem desmerecer a atriz nativa americana Amber Midthunder, que protagoniza o longa, quem vai precisar se besuntar em lama pra escapar do fracasso é essa dupla...

Veremos o resultado em 5 de agosto.