Produção besta-mole, clicherama anos oitenta no talo, erosão avançada do roteiro, continuístas míopes e o canastrox Dolph Lundgren versão tuberculose. Numa adaptação em que nem a caveira dá as caras (afe) exigir um pouco de laboratório seria um luxo. O Frank Castle de Lundgren é um fanfarrão: faz rapel com flechas no meio de um tiroteio, recusa coletes à prova de balas, desconhece a utilidade da mira de suas armas, invade o território inimigo que nem um moleque (segundo a matadologia do Capitão Nascimento) e larga pelo caminho um arsenal maior que o estoque virtual de Matrix.
O primeiro filme do Justiceiro é indefensável, mas não serviu só pra queimar o filme de Louis Gossett Jr. O longa também teve seus atrativos, deveras trash é verdade, mas substanciais! Castle ameaçando uma criança, uma vilã com cara e perfil psicológico do Coringa de Feira da Fruta e diálogos malaquíssimos ("What the fuck do you call 125 murders in 5 years?" - Punisheiro: "Work in progress!") são diversão garantida para os fãs da comédia involuntária.
Por tudo isso, esta (sub)versão faz por merecer um review todinho dela, logo que possível.
Justiceiro 2004. Desta vez encarnado por um Christopher Lambert afogado em testosterona, o Punidor demonstrou maior perícia nas táticas de combate. Ex-operativo Delta Force (não sei o peso real disto, mas vi o filme com Chuck Norris em suas fileiras e já é mais que suficiente!!) e agente do FBI disfarçado, o Newcastle ainda fez uso das flechas, mas com profissionalismo ímpar. Ao melhor estilo Commando, Castle se arma até as obturações, veste o bendito colete e invade o QG dos vilões, com cara de mau mesmo, fatiando cada curva e matando com eficiência e dignidade (e pode acreditar, isso é possível).
Thomas Jane foi um aspira esforçado: fez seis meses de treinamento militar hardcore, ganhou três toneladas de massa muscular e devorou as revistas do personagem (virou fã obcecado). Um pouco obstruído pelos joguinhos psicológicos e decisões equivocadas do roteiro, mas definitivamente um sujeito que trouxe a morte no olhar.
Do Justiceiro calibre .08 ainda não se sabe muito, mas pela imagem divulgada nota-se que o cara não vem pra perder viagem. Parece um berserker no Devastation Mode indo direto pra faxina. Postura de Navy SEAL, cotovelo de apoio em cima, olhos cerrados na mira e um baita hardware - especialmente o belo toque do silenciador e o que parece ser uma Jericho semi-automática prontinha pra ser descarregada. Isto fora a já confirmada presença do canhão Smith & Wesson calibre 50 (!!! - veja uma comparação com a celebridade Magnum 44, entre outras), só pra ficar nas mais pedidas do DJ Frank.
É praticamente um oficial do BOPE, não fosse a caveira sem a faca (e acertadamente apagada, na minha no-humble opinião) e a semelhança quase univitelina com um dos caras mais durões do universo, o difícil de matar em terreno selvagem Steven Seagal.
Especialmente o Seagal do filme Momento Crítico (Executive Decision, EUA, 1996), onde o indestrutível ator é surpreendentemente destruído, num ato de proporções universais que um dia se voltará contra nós, mas isto não vem ao caso agora.
Só me sinto na obrigação de resgatar este momento mais que histórico.
Especialistas em Seagalogia afirmam que ele caiu de pé e que o local do impacto hoje é visitado por turistas do mundo inteiro. Especulações à parte, o filme realmente foi uma grata surpresa também em outras modalidades. Elenco descolado, roteiro mais sério do que aparentava, além de mais verossímil, mais melhor e muito mais maior (134 min). Uma coincidência positiva que pode até significar algo promissor, se você for supersticioso.
Até porque, El Castigador 2008 não se parece realmente com o Nico Acima da Lei. O ator Ray Stevenson (o Pullo, de Roma) está mais pra Tommy Vercetti, de GTA Vice City, descontados os pixels e após uma temporada em Bora Bora.
Do título do novo filme até as declarações da diretora Lexi Alexander, Punisher: War Zone parece remontar ao espírito do personagem nos quadrinhos. Bom, ninguém sai pronunciando adjetivos como "linha MAX", "Garth Ennis", "Retalho" e "censura alta" em entrevistas à toa. Como se não bastasse, a gaja não hesita em atirar na cara e estragar o velório dos dois filmes anteriores ("não foram relevantes"), mandando às favas a tal da ética profissional. Se for marketeira, é das boas. Mas ainda prefiro ceder um crédito, já que a cineasta alemã tem no currículo o bom Hooligans (idem, EUA/Ing, 2005).
O mais provável mesmo é que a tradicional competência e sensatez femininas prevaleçam onde o desleixo e ineficiência macholinas deixaram a desejar. Tá ok... confesso: o website da moça, apesar de miudinho, me cativou. Olha só a preocupação dela até com a semelhança física dos personagens... e ainda rolou uma foto com o Frank Miller lá nos arquivos...
Lexi também tem alguma "experiência de campo": ela foi campeã mundial de karatê e kickboxing, aos 19 anos. Aposto cenzinho que ela quebraria a fuça do Uwe Boll.
O resultado disso, só dia 12 de setembro. Longe demais.
Pra finalizar, nada melhor que prestar a devida homenagem ao Justiceiro do grande Tim Bradstreet, um cara muito bacana por sinal (até responde e-mail). O personagem das ilustrações do capista é a imagem de um manhunter. Dark, frio e ameaçador, mesmo sem a fisionomia abrutalhada do original.
Méritos para o artista - que, junto com Ennis, se despede da linha MAX no nº 60 - e também para o colaborador Tom O'Brien, que serviu de modelo para as capas.
Se nada der certo no cinema, sempre haverá a possibilidade de mais um fanfilm. Será que o Sandy Collora já voltou do Havaí?