Geralmente, quando vou ao cinema assistir uma continuação, procuro antes rever o filme anterior. Só pra entrar no clima, pescar eventuais pontas soltas, estabelecer alguns parâmetros comparativos, por aí vai. Mania besta, eu sei. Por sorte, não tive tempo de fazer isso antes de ver
Transformers: A Vingança dos Derrotados (
Transformers: Revenge of the Fallen, USBay, 2009). Eu teria uma overdose e sofreria a mesma reação convulsiva daqueles pequenos que assistiram Pokémon no cinema. Sairia carregado de maca em posição fetal, balbuciando
"no no no nonononono!!". Jamais retornaria daquele estado de catatonia sensorial; estaria preso para sempre no
Bayworld, o mundo segundo as lentes pirotécnicas de Michael Bay, onde tudo é frenético, imediato, espásmico. Método Ludovico perde.
Por algum motivo que me foge agora, no fundo, eu tinha esperanças que esta sequência trouxesse algumas diferenças substanciais em relação ao primeiro. Que nada. Eu poderia apenas repetir o
texto anterior, caprichando nos superlativos, que ainda estaria sendo absolutamente fiel. Aqui se faz a velha máxima do
bigger, stronger & faster, versão Godzilla vs. Mothra entupidos de ácido. Com seu estilo inconfundível (influenciado pelos comerciais da Hollywood?), Bay continua gritando "explosão" ao invés de "ação". O roteiro à
tres manos é cúmplice, e nessa Bay vai imprimindo suas convicções pessoais da forma mais escancarada possível. Sabemos que ele é o típico
macho americano - sexista (ou Foxista?), reacionário e ultrarepublicano. Ao menor sinal de perigo, faz Obama correr para o bunker mais próximo, enquanto os milicos salvam a pátria. Sutil. E falando neles, na maior parte das cenas de ação, o filme lembra um vídeo institucional de propaganda das Forças Armadas. Close naquela bazuca. Enquadra aquele tanque. Cadê os AWACs que eu pedi? Em formação, em formação! Go, go, go, go! Bay loooves the army. Reclamações? Talk to the hand. Ele não tá nem aí com a cor do caqui.
E sou eu que vou esquentar? No no no nonononono. É o que eu digo e repito aqui por extenso: mais do que qualquer outro,
Transformers não é filme pra crítico. Ele não seria um profissional competente se elogiasse este acinte à sétima arte. Essa coisa qualquer que foi criada apenas pra vender brinquedos e que, assumidamente, não se leva a sério. Porque crítico não é público, é fiscal do Detran de ressaca numa segunda-feira. E com certeza, pôs um ovo a cada frame que Michael Bay usou para macular na telona o seu tão adorado cinema. Bom, foram duas horas e meia só aqui.
Porém, no quesito pão e circo, é inquestionável: Bay bomba. Ele é um completo despudorado. Exibindo a desenvoltura maquiavélica de um gerente de puteiro, dá ao público que saiu de casa pra ver
Transformers exatamente o que ele foi buscar lá... piadinhas sujas, anfetamina em celulóide e a rainha da bateria, Megan Fox.
A escalação do elenco aposta no que deu certo antes. Novamente, são jogados na parede, a 550 km/h, os mesmos LaBeouf (Sam), La Fox (Mikaela), Kevin Dunn (pai de Sam), Julie White (mãe de Sam), Josh Duhamel (milico #1), Tyrese Gibbs (milico #2) e, que surpresa, John Turturro (Simmons). Curioso como todo o elenco agora atua na mesma frequência de Turturro, ao passo que no primeiro filme ele foi o único que sacou o terreno trash em que pisava. Aliás... Turturro, "olhe em seu coração"... encha a burra por mais um ou dois
Transformers e dedique o resto da carreira a atuar em filmes de verdade.
A história desta vez mostra Sam tentando levar uma vidinha normal e ingressando na facul, mesmo com um autobot na garagem e a namorada na oficina. O maior conflito entre os dois pombinhos é ver quem se arrisca a falar "eu te amo" primeiro. Cute. Com Megatron jazendo no fundo do Abismo Laurenciano e os Decepticons sobreviventes levando uma dura do exército em parceria com os Autobots, tudo caminha para uma resolução positiva entre humanos e alienígenas. Mas a aparente calmaria só dura até os heróis se depararem com uma nova ameaça: Fallen, o Prime renegado.
A sequência de abertura, contando a origem do vilão, ficou até interessante. Chegou a me lembrar da versão de Neil Gaiman e John Romita Jr. para
Os Eternos. Pena que no mesmo pacote vieram a dinâmica warp de Bay e a narração em off ultracanastrona de Optimus Prime (embora em concordância com a verve pomposa do personagem nos desenhos). Sem tempo ou vontade para construir qualquer sustentação dramática, o filme vai metralhando personagens na tela indiscriminadamente, tal qual o Transformovie #1, e sabemos bem onde isso vai dar (até hoje quero saber o paradeiro da Maggie, a loirinha fabulosa que ameaçou o reinado da Megan Foxy Babe no primeiro filme). Em um núcleo, temos os colegas de república de Sam, que mantêm um hot site com novidades conspiratórias. Dali é pescado o histriônico Leo (Ramon Rodriguez), que faz as vezes de coadjuvante cômico. Até que não foi mau negócio, já que o cara protagoniza uma cena genuinamente engraçada (a do taser) e uma outra onde seu rosto petrificado já salda 1/4 do ingresso.
Também temos o inevitável mala engravatado do governo (papel que seria de
William Atherton em tempos idos) e toneladas de novos Decepticons. Toneladas. Se no primeiro filme meia dúzia deles deu aquele trabalho, não dá pra entender como eles não entram em conflito direto agora, já que estão em um número vastamente superior ao dos Autobots.
Enfim... chega a hora da porrada e vem a sensação de ser pego no meio de um tornado com a calça arriada. E juro que levei um safanão também.
A primeira grande sequência acontece em Shanghai. Sem enrolação, Autobots e uma unidade militar empreendem uma perseguição-monstro a alguns decepticons foragidos. Tão absurda quanto um pesadelo de Chuck Jones filmado pelos irmãos Coen com orçamento de nove dígitos. Robôs furam prédios, pulam pontes, explodem tudo e todos num ângulo de 360º. Ufa. E não é nem 2% do que está por vir. A conclusão do entrevero revela que finalmente Optimus Prime está honrando o nome e incorporando bem mais do desenho oitentista do que apenas a entonação vocal. Diferente do primeiro filme, o líder autobot aqui é uma máquina slasher trituradora de decepticons. O momento em que ele explode a cabeça do gigantesco Demolisher é singular. Puro Dirty Harry's Magnum Force. Faltou só ele dizer
"do you feel lucky?".
Melhor ainda é o tour-de-force descaralhante na floresta, em que Optimus, sozinho, chuta com força os rabos de Grindor e Megatron. Graficamente impecável, sensorialmente confuso, foi quase informação demais para só duas retinas e um córtex. Um dia, os melhores videogames serão assim. Outra boa surpresa foram as cenas do Bumblebee. Normalmente pacífico, o ex-fusquinha luta como se fosse o Ray Park e varre o chão do deserto com as carcaças de Ravage e Rampage. Fora a merecida surra que ele dá nos irritantes autobots gêmeos.
Não vou negar que o design dos Bayformers não me agrada. São bagunçados, têm partes móveis em excesso e pouco se vê a combinação de suas formas robóticas com os veículos em que se transformam (o charme dos brinquedinhos desde sempre!). Isso prejudica particularmente as cenas mais aceleradas e qualquer transforminho dos comerciais da Citröen ganha de goleada nesse sentido. Tome como exemplo a aparição do Devastador, o aguardado decepticon
combiner. É espetacular, de encher os olhos, mas não poderia ser mais broxante quando o comparamos com o robô original. Vê-lo em ação destruindo uma das pirâmides é a síntese desse desperdício faraônico (e merecedor desse péssimo trocadilho). Como seria mais
bacana uma versão amigável aos olhos e mais próxima dos originais.
Mas sabe que a coisa toda me soou mais inteligível com o passar dos minutos? Talvez fosse o efeito daquele Redbull visual batendo ou minha percepção se acostumando - seguido da inteligência, já mediana, despencando. Seja como for, é o melhor CG que o dinheiro pode comprar. E utilizado com fomeagem hardcore para inspirar os guris a envergarem seus joysticks e estuprarem seus Playstation 3.
Só que o grande efeito especial do filme era bem outro. E já vinha sendo vendido, sem spoilers, desde o primeiro teaser promocional.
O cinema iraniano que me perdoe, mas Megan Fox é fundamental. Ela é a Mulher-Gostosa Ultimate. Bay sabe o diamante que tem em mãos e não se furta em colocar a moça empinando a bundinha logo em sua primeira cena. No resto do tempo, ela se dedica a fazer mais biquinhos do que a Kate Beckinsale em
Van Helsing - há um recorde aqui, pessoal. Só não senti vergonha alheia porque fui lá justamente pra conferir isso em resolução 950.000 dpi.
Mas fiquei imaginando o que pensava Steven Spielberg, aqui produtor executivo, em ocasionais visitas ao set. Deve ter sido algo como
"mas que piad... holy shit, que morena!".
Não deixa de ser irônico que a única real concorrência de Fox no filme seja uma linda decepticon. Alice (Isabel Lucas) é uma Pretender, uma linha obscura e tosca dos Transformers cujos integrantes podem se transformar em seres humanos e animais. No entanto, nem os recursos tecnológicos de uma avançada raça robótica se comparam ao shape da estrela principal.
E fico feliz em constatar que após alguns filmes, houve uma melhora significativa em sua... presença física. Megan Fox fucks!
Ao longo da projeção, ela nos brinda com um olhar dramático, uma boca dramática e um decote igualmente dramático. Todos essenciais para o enredo.
A entrega é total. E tome decote.
Em algumas cenas, ela tenta até atuar. E fica muito fofa!
...
La niña Fox mais o calhamaço de ação vertiginosa e produção top de linha. É exatamente o produto pelo qual paguei na bilheteria. E saí de lá bem satisfeito. De novo. O que não me deixa dúvidas quanto à natureza da franquia:
Transformers é melhor puteiro da cidade.
Filme? Que filme?