Faria muito mais sentido se Chelsea Wolfe fosse natural de algum lugarejo perdido do leste europeu ou de algum país pródigo na cena black metal. Mas foi mesmo a ensolarada Califórnia quem pariu uma das revelações mais sombrias da cena alternativa. Ovelha negra per se, a cantora, guitarrista e compositora passa longe do ideário californiano padrão, do rock alto astral e das pistas de skate aos calçadões de Venice e às onipresentes praias - exceto, claro, se estiver nublado.
O tom é de uma suavidade melancólica, liricamente pesada, estranha e de uma forma incomum, sedutora. Não é uma música de fácil assimilação, mas certamente muito recompensadora para iniciados em Nick Cave, My Bloody Valentine, PJ Harvey, Portishead, Patti Smith e esquizoidices quetais. Em suma, uma resposta das profundezas à new age popstar de Florence + The Machine. Get out!!
Esse negrume todo ganhou a atenção da crítica indie e também a afinidade de fãs ilustres, ilustríssimas. Merecido.
Ἀποκάλυψις ("Apokalypsis"), seu segundo álbum, é arrepiante. Lançado no final de 2011, virou figurinha fácil nas listinhas mais descoladas de melhores do ano. Na parte melódica, o disco tem lá seus momentos "PJ & The Banshees", mas a obsessão por morte e desespero impregnada nas letras, o instrumental fúnebre, as vocalizações fantasmagóricas, a atmosfera soturna... porra, é de fazer até os caras do Ghost se mijarem nas batinas.
Não há nada de poser na cantora californiana. Ela é the real deal. Tori Amos fez uma cover do Slayer, Chelsea Wolfe fez uma do Burzum!
O som foi batizado de doom folk pela crítica, mas é apenas uma tentativa pífia de categorizar a demon-girl. A única música que se aproxima do rótulo talvez seja "Pale on Pale", um pesadelo sepulcral de sete letárgicos minutos com uma indefectível influência de "Black Sabbath", a música. A intro "Primal/Carnal" parece saída de uma missa negra ministrada pelo próprio Pazuzu e "To The Forest, Towards The Sea" é trilha pra fugir da bruxa de Blair e de toda a população demoníaca de Amityville e Cuesta Verde. Vade retro.
Já nas músicas "Demons" e "Friedrichshain" ela reafirma sua vocação pra PJ Harvey do inferno.
Mas é nas demais faixas que a artista destrincha mais a fundo sua identidade musical (ainda em formação, segundo ela), que lembra vagamente uma versão dark da Nico, a icônica musa ex-integrante do Velvet Underground.
Não duvidaria se o cultuado disco Chelsea Girl também escondesse alguma profecia sobre uma Chelsea sinistra de um futuro próximo...