sábado, 29 de dezembro de 2012

20 Years Later


Não, não são zumbis.

1992 no Brasil não foi para fracos. Éramos um país quebrado. Ainda novatos nos meandros da democracia, tivemos nosso primeiro presidente impedido de fazer mais besteiras exercer sua função. Nosso mais alto funcionário público sendo demitido por justa causa. Um arrojo só. Foi bonito ver como os brasileiros ainda se importavam o suficiente após tanta porrada no bolso e na auto-estima. E deu resultado, com ou sem ação Illuminati por trás (epa!). Mas sem querer apagar o brilho patriótico daquele momento, a coisa toda funcionou mais para as primeiras páginas dos jornais e para as capas das revistas. Na prática, aqui no front da guerra civil brasileira, a coisa seguiria praticamente imutável até... bom, até hoje.

(sim, temos banda larga, sinal digital, smartphones, tevês de última geração por preços palatáveis... pena que não se pode dizer o mesmo de bobagens como segurança, saúde, educação, transportes, urbanização, etc ad infinitum e vai embora. De quebra, aquele nosso antigo funcionário voltou das trevas como se nada tivesse acontecido... e fazendo mais alianças que um joalheiro)

(claro que nada disso nos surpreendeu, calejados brasileiros velhos de guerra. Nós comemos PIBs de 0,6% no café da manhã. Com guaraná Dolly! E segue a vida)

Essa síntese rasteira do Brasil de 1992 - as melhores partes ficam pra versão director's cut de quem vivenciou aquilo - serve pra contextualizar o sucateado cenário do pop-rock brasileiro daquele período. A geração da década de 1980 ainda não havia encontrado seus sucessores. Aquele divisor de águas essencial em qualquer cena musical saudável não despontava no horizonte. No mainstream, as gravadoras apostavam todas as fichas no pagode, no breganejo e na novidade axé.

Até haviam alguns esforços heróicos de renovação criativa, como foi o selo Tinitus, do produtor Pena Schimdt, que apesar de algumas boas apostas (Virna Lisi, Yo-Ho Delic) não vingou ninguém no 1º escalão (excetuando, talvez, o ex-cantor da Banda Bel?). Enquanto o pop-rock agonizava, o metal, o punk, o eletrônico e o hip-hop seguiam isolados em seus guetos. O mar não estava pra peixe.

Foi ano de Hollywood Rock, com um cast não tão impressionante - especialmente em comparação com a incendiária edição seguinte. Lá fora o bicho pegava: Metallica excursionando com Guns 'N Roses, mais Body Count, Motörhead e Faith No More abrindo (Nirvana foi chamado, mas recusou); um Reading Festival muito bacana (e bem transmitido aqui pela TV Bandeirantes!); e um Lollapalooza mais bacana ainda.

E sim, também saíram vários discos legais. Muitos deles foram minha trilha sonora diária, rolando no walkman durante o trajeto do meu 1º emprego remunerado até a escola (era o 2º ano do 2º grau). A primeira vez que ouvi "N.W.O." e "Mouth for War" foi num ônibus abarrotado em pleno fim de expediente. Imagina o perigo de um mosh descontrolado ali...

Nos moldes da lista de 1991, segue abaixo uma relação desses álbuns que tanto me marcaram há vinte anos atrás e que ainda ouço regularmente, como se tivessem sido lançados na semana passada. Única ressalva: não inseri discos daquele ano que só descobri tempos depois e hoje teria como essenciais - portanto nada de The Chronic, In Search of Manny, Dry, Little Earthquakes, Check Your Head, T.V. Sky...



Psalm 69: The Way to Succeed and the Way to Suck Eggs (ou ΚΕΦΑΛΗΞΘ) é uma obra-prima da música pesada. O bonde Ministry e sua fusão perfeita de thrash metal, hardcore, eletrônico e industrial tomou o mundo de assalto e influenciou muita gente em várias esferas da música pop. Nunca foi igualado em equilíbrio, definição e intensidade, nem mesmo pelo próprio grupo. Ao lado de Reign in Blood, Psalm 69 segue como a trilha sonora oficial do fim do mundo.



Confesso que não recebi muito bem o sucesso dos cowboys from hell. Um novo nome forte no metal USA justo na hora em que nossos "garotos da selva" conquistavam o mundo? Mas acabei ouvindo a banda praticamente sem querer, no rádio. Fui fisgado na hora. Eram tempos difíceis e, desde a capa até o som, o Pantera nos fazia extravasar todo aquele sentimento de raiva e frustração diante de um futuro incerto. Vulgar Display of Power funciona até hoje.



No EP Broken, o Nine Inch Nails (codinome: Trent Reznor) pavimentou uma vicinal alternativa ao espectro sonoro inaugurado pelo Ministry. O mix partia de suas origens no cenário synthpop e das esquisitices do pós-punk e chapava forte em Bowie (da aclamada "fase Berlim" até Scary Monsters). Tudo absurdamente caótico, selvagem e visceral, com algumas das maiores perversões de sintetizadores e baterias eletrônicas já registradas. Um memorável passeio pelo inferno.



"O futuro do death metal". Ah, esses revisionismos editoriais... Não era nada disso, mas o Helmet projetou algumas saídas para o rock pesado e influenciou muita gente. É verdade que o grupo veio de uma seara de bandas post-hardcore do underground nova-iorquino, mas Meantime era um inédito passaporte pra fora do gueto. Tinha todo o barulho e a violência minimalista daquela turma ao mesmo tempo em que soava acessível na medida. Além disso, os caras tinham o diferencial de uma formação musical mais clássica, inserindo nuances de jazz ao contexto - vide "Give it", uma das músicas mais groovy e pesadas já compostas. Experimentalismo para iniciantes e bastante satisfatório para veteranos. Um discaço.



Era ponto pacífico que o Faith No More não iria parir um novo The Real Thing cheio de hits para as rádios. Não com o fugitivo do manicômio Mike Patton por lá. Mas também ninguém esperava por Angel Dust. O álbum era uma espécie de avant-garde demencial na forma de um metal progressivo com grooves bizarros e enlouquecidamente anticomercial, mas que não reprime a vocação natural do grupo para montar as estruturas básicas do pop (melodia, cadência, refrão, etc.). A ensolarada "A Small Victory", por exemplo, tocou bastante no rádio. Já "Malpractice" nem sonhando.

Foi um disco de difícil digestão, mas que, ouvindo hoje, soa quase totalmente decodificado. De razoável assimilação até para os moleques mais novos, o que creio ser o reflexo de 20 anos de uma profunda influência dentro do cenário do rock pesado. Nem sempre bem administrada, claro.



Apesar de ter curtido o debut, achava que o Alice in Chains não iria muito além daquele grunge hard rock qualquer coisa. Ledo engano. Dirt é um dos melhores álbuns daquela década, um refinamento do melhor aspecto do grupo em seu disco de estreia: temáticas depressivas e mórbidas embaladas por um som opressivo e claustrofóbico. A sensação é de estar preso debaixo de toneladas de escombros - ou fundido inexoravelmente ao chão, tal qual a garota da capa. Absorvendo de forma inteligente o legado do Black Sabbath, o AiC exibia uma versatilidade sonora invejável, sendo as estrelas do show o guitarrista e cantor de apoio Jerry Cantrell e o finado frontman Layney Staley. Viciante.



Fui um dos entusiastas do funk metal durante seu auge, do fim dos anos 1980 até o início dos 1990. Mas em 92, o estilo era notícia velha. Daí o pouco crédito que dei logo de cara ao debut do Rage Against the Machine e seu discurso politizado. Com o tempo, percebi que o som demandava audições mais atenciosas para uma assimilação decente. Culpa das bases que emulavam espertamente o DNA zeppeliniano e um guitarrista que era um dos mais inventivos a despontar no cenário pop em muito tempo.

Mais que um simples registro funk metal (ou rap-metal, etc), Rage Against the Machine, o álbum, passou com louvor no teste do tempo - como ainda atesta um dos finais de filme mais bacanas dos anos 90.



Com seu álbum de estreia homônimo, o Body Count jogou gasolina no incêndio dos distúrbios raciais de Los Angeles em 1992. Além das várias provocações espalhadas pelo disco, uma música em particular foi endereçada aos policiais de LA com a sutileza de um Tomahawk: "Cop Killer". O lobby caucasiano reagiu rápido: banida das rádios e das lojas, a faixa teve que ser cortada das prensagens seguintes, sendo apenas encontrada em compactos vendidos nos shows do grupo. Virou artigo de colecionador, mas na prática era só mais uma engrenagem do disco, que metralhava tudo e todos sem piedade. E sem esquecer da bandidagem e putaria características das rimas de Ice-T - ainda estou pra ver alguém compor algo mais sacana que "Evil Dick". Já o som, era uma maravilha de hardcore/thrash/rock 'n' roll barulhento, tosco e furioso. Divertido até hoje.

Tive esse disco em várias edições. Com exceção do K7 lançado na época, "Cop Killer" estava em todas, provavelmente solta sob condicional. Sinal dos tempos. E Rodney King, pivô daquilo tudo, morreu em junho último, com 47 anos. Sem revolução dessa vez.



O melhor show do Hollywood Rock '93, fácil. A discografia do L7 beira o impecável, sendo Bricks Are Heavy seu momento mais pop. A equação sonora era perfeita (Ramones + Motörhead + Joan Jett + Black Sabbath x Suzi Quatro), mas para domar o furioso punk metal de garagem dessas belas-feras foi preciso ninguém menos que o Midas grunge Butch Vig. O resultado não podia ser diferente: um álbum pesado, ganchudo, espirituoso, emputecido e acima de tudo divertido, vertendo uma velha máxima dos 80's para os 90's: "Riot grrrls just wanna have fun".

Eu amo essas garotas e queria ser o cachorro delas.



Dirty ainda é meu disco favorito do Sonic Youth. Sei, sei, Sister, Daydream Nation e Goo são os queridinhos da torcida, mas o páreo é duro. Novamente, culpa do então onipresente Butch Vig na produção e um senso mais palpável de acessibilidade envolvendo o noise obsessivo do grupo. Logicamente foi mais uma das tentativas das grandes gravadoras de encontrar um novo Nirvana. Não vingou simplesmente porque o Sonic já tinha uma personalidade muito bem definida e nem um pouco preocupada em agradar a todos. Mas rendeu um discaço.



Incesticide não era exatamente o disco que estava nos planos de Kurt Cobain para o Nirvana pós-Nevermind. Mas seu aval foi relativamente barato: o controle criativo do design gráfico do álbum, incluindo a pintura (dele mesmo) que ilustra a capa. Ainda bem, já que Incesticide - composto por lados B, demos, outtakes, covers e performances em rádios - foi a última chance dos admiradores do excelente Bleach de ouvir o Nirvana cáustico e cru dos primórdios.

Esse eu tive em fita cassete. Tempos depois, em CD. Atualmente voltou aos fones de ouvido em formato, digamos, "compacto".



Os anos 70 estavam sendo pilhados naquele início de década, mas o grupo californiano Kyuss abraçava uma vertente mais underground (e mais legal) que seus colegas de Seattle. Se era pra seguir os passos de Ozzy, Iommi & cia, então que fosse pra valer. E dá-lhe afinações subterrâneas fazendo a ponte entre a psicodelia e o groove dos power trios dos 60's e o heavy metal dos 70's. Blues for the Red Sun era apenas um bando de moleques se divertindo. E fazendo história.



Na época, comprei esse LP num sebo pouco depois do lançamento, por uma ninharia, junto com o New York. Deus abençoe a ignorância alheia. Lou Reed compôs Magic and Loss inspirado pelas mortes de dois amigos (Doc Pomus e Rotten Rita). É um álbum conceitual sobre a morte e o processo que leva a isso. É sobre resignação, arrependimentos, dor, solidão e... lâminas. Apesar de parecer muito deprê - e é - o disco tem um certo humor cruel, uma riqueza textual e uma beleza dramática únicas. Musicalmente, é rock de raiz interiorana, soturno e intimista ao extremo, pra ouvir em silêncio e de luzes apagadas. Esse merece a total atenção.

Foi o 1º disco em que não larguei o encarte até conseguir traduzir e interpretar tudo do início ao fim. Foi um parto, mas valeu a pena. Era eu e meu fiel dicionariozinho do cursinho de inglês contra o mundo...



O Screaming Trees já era um veterano quando estourou com a faixa "Nearly Lost You" na esteira da onda grunge. Ao ouvir o bolachão de Sweet Oblivion logo percebi que a musicalidade do grupo estava muito acima de seus colegas de cavanhaque e camisa de flanela. Mais ligado ao hard blueseiro e ao southern rock (Allman, Lynyrd) com boas doses de psicodelia e country do bom (Gram Parsons), os Trees eram músicos de verdade. Na bateria estava o grande Barrett Martin (QotSA, REM, Nando Reis), na guitarra e no baixo estavam os hermanos Gary Lee Conner e Van Conner e na voz curtida à bourbon e gin tônica, a entidade estradeira Mark Lanegan. Aí compadre, é calar a boca, abrir um JD e apertar o play...



Eu já desconfiava que a pecha de "melhor banda ao vivo do mundo" era viral de assessoria de imprensa. Mas na época ouvi muito o LP de Grave Dancers Union, do Soul Asylum (que comprei junto com o Sweet Oblivion... incrível como a gente lembra dessas coisas após tanto tempo). O disco sentiu um pouco os efeitos do tempo, mas ainda sinto o feeling verdadeiro registrado ali, que tem muito a ver com a evocativa e belíssima capa - retirada de uma fotografia do artista tcheco Jan Saudek - e a interpretação desavergonhadamente entregue de Dave Pirner.

Ainda me arrepio com o clipe de "Runaway Train". E mais ainda com seus diferentes resultados, felizmente em sua maioria positivos.



Difícil descrever a sensação que tive ao ouvir esse álbum pela 1ª vez. Em Images and Words, o Dream Theater promovia uma inesperada fusão de Metallica e Rush com arranjos soberbos e revelando uma técnica absurda ao lidar com o progressivo, o jazz e o AOR. E sem soar chato ou elitista, ainda que muito pretensioso (também, né!). Pra mim, é o ponto de perfeição do grupo e certamente o disco que definiu o prog metal.



Quando ouvi o White Zombie pela 1ª vez achei que se tratava de alguma incursão solo ou mesmo um projeto paralelo do James Hetfield. Isso graças ao timbre da voz do Rob Zombie, idêntico ao do colega da Bay Area. La Sexorcisto: Devil Music, Vol. 1 era um pandemônio sonoro: riffs à Slayer conduzindo um climão de horror B sugado diretamente da fonte de Cramps, Kiss e Black Sabbath com uma massa ectoplásmica de samples que iam de Faster, Pussycat! Kill! Kill! e Despertar dos Mortos à Plano 9 do Espaço Sideral e O Massacre da Serra Elétrica. Em suma, irresistível.



Burning in Water, Drowning in Flame é o primeiro e melhor álbum do Skrew. Metal industrial über-abrasivo, com um paredão de guitarras e drum machines que socam no peito até romper a caixa toráxica. A versão do clássico "Sympathy for the Devil" lembra um Slayer acordando de ressaca dentro da Matrix. Segundo consta, o disco teve co-engenharia de Al Jourgensen, além de contar com a participação do mesmo e do recém-falecido guitarrista Mike Scaccia, também do Ministry. Perfeitas más companias, como convém.



Cool World - por aqui, Mundo Proibido - só fui assistir tempos depois, quando já sabia quem era Ralph Bakshi. Mas a trilha sonora caiu em minhas mãos bem cedo, num daqueles saldões "pague 2, leve 3". Peguei só pra completar. E, sim, pela loira cartunizada da capa. Mas quando ouvi tive uma bela surpresa. Com exceção de David Bowie, Electronic, The Cult e talvez Brian Eno, o disco reunia nomes ainda pouco conhecidos no Brasil (Moby, The Future Sound of London, Pure), traçando um instigante cenário da música alternativa lá de fora. Por exemplo, foi aqui que tive acesso pela 1ª vez a algum material do My Life with the Thrill Kill Kult, que comparece em duas faixas.

Analisando em perspectiva, a seleção ainda hoje surpreende pela qualidade e ousadia. Mesmo os momentos puramente dançantes (Da Juice, Mindless) ou cabeções (Eno) são bacanas, além de terem contrapontos de peso. Que tal curtir o trance viajandão do Future Sound of London e logo após se deparar com o terremoto provocado pelo Ministry em "N.W.O."? Insano.



Sem contar a fase inicial insuperável, Mondo Bizarro talvez seja o meu álbum favorito do Ramones. O disco não trazia nenhum clássico per se, nem um hit do calibre de "Pet Sematary" - no máximo, "Strength to Endure", a balada "Poison Heart" e a porrada "Tomorrow She Goes Away" foram relativamente bem veiculadas. Mas era o Ramones se preocupando apenas em ser o Ramones. Punk rock 'n' roll alto, rápido e bagunceiro, com a guitarra do inesquecível Johnny soando como há tempos não soava e a voz do Joey idem.

A inspiração e o tesão haviam voltado. Boa parte do crédito é de Ed Stasium, produtor da maioria dos principais álbuns do quarteto e que não comparecia ali desde Too Tough to Die, de 1984. Ainda ouço no volume 10, com a mesma frequência de quando saiu.


Bonus tracks:



Somewhere Between Heaven and Hell, do Social Distortion, é o azarão da vez. Fiquei na dúvida se incluiria, já que nunca tive em formato oficial, pois era muito difícil - pra não dizer impossível - encontrá-lo por essas bandas. Tive foi uma fitinha Scotch gravada do LP importado de um amigo (pirataria à moda antiga), já bastante detonada pelo tempo e pelas execuções infindas. Não era pra menos. Difícil crer que uma combinação de country e hardcore seria tão acachapante. Não tem bola perdida aqui, todas as faixas são arrasadoras. All killer, no filler total.



RDP ao Vivo do Ratos de Porão não podia faltar, claro. Esporro altamente concentrado de Gordo & cia e um dos melhores discos ao vivo já registrados em terras tupinambás - mas vou te dizer... se tiver a chance de conferir o show do Ratos in loco não perca. É a versão Godzilla disso aqui.



Lançado lá fora no final de 91, Decade of Aggression até que não tardou em aportar em terra brazilis. Eu ainda nem conhecia todos os discos - só o Reign in Blood e o South of Heaven - mas quando a agulha começava a correr naqueles sulcos de vinil enxofrento a sensação de violência e malevolência (não confundir com malemolência) era indescritível.

Ou melhor... até era descritível, mas pra isso terei que apelar para um excerto um tanto quanto "empolgado" da revista Rock Brigade da época em que ainda era datilografada e mimeografada (sério):

“Os guitarristas do Slayer rasgam os seus dedos, destroçando as cordas do mais perfeito instrumento projetado pelo capeta. Power metal (sic!) elevado á última instância, tempestuoso e corrosivo, feito somente para headbangers. Roncando e vomitando fogo, como se um cometa explodisse dentro de um vulcão em erupção!”

(...)

“Misericórdia não existe! Não cabe na filosofia Heavy, por isso que Dave Lombardo pulveriza as moléculas do ar com suas patadas letais na mesma medida em que o terremoto provocado pelo baixo de Tom Araya invoca Satanás para a destruição! Não tem música melosa! A mais lenta faz qualquer um sair por aí chamando urubu de ‘Meu Loro’ e Jesus de Jenésio.”

Créditos da resenha headbanger-true-of-death: Berrah de Alencar (sério²).


Como vociferava o Gordo nos bons tempos do Garganta e Torcicolo...

SLAAAAAAAAAAAAYEEERRRRR!!!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Aos 47, num sábado à noite



Mike Scaccia
(1965 - 2012)

Essa veio do nada mesmo, aos últimos acordes de 2012. E em cima de um palco.

Um dos meus guitarristas preferidos de thrash metal (e country, hardcore, noise, industrial...). Top 5, fácil. Vai fazer falta.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

The Walking Glen


Então, de volta ao escritório... Glen Mazzara não será mais o showrunner de The Walking Dead. Como de praxe, nada foi muito explicado pelas partes por razões contratuais, apenas que foi uma "decisão mútua". Nos artigos que já se espalham pela rede tampouco são reveladas novas infos, mas as especulações novamente se voltam aos velhos desacordos orçamentários que assombram a série - uma das mais bem-sucedidas desse início de década. Segundo a AMC, Mazzara permanecerá até concluir a pós-produção dos episódios restantes dessa 3ª temporada.

Parece que foi ontem que eu perguntava se o produtor estaria à altura da tarefa, após a passagem meteórica de Frank Darabont pela série. Depois de uma temporada turbulenta, Mazzara andou acertando a mão com o time de diretores, roteiristas e também com o consultor e criador Robert Kirkman. A série ainda tem alguns problemas estruturais, mas é seu melhor momento desde o início da minitemporada de estreia. Como profissional de televisão, seu trabalho foi irrepreensível, o que é evidenciado pela impressionante audiência.

Essa foi merecedora de um 21 de dezembro de 2012 no calendário maia, com certeza. Mas e aí? Será que essa saída foi para o bem ou mal? Será que a trama ficará ainda mais zoada em relação à HQ (se é que isso é possível)? Quem será o próximo ex-showrunner de The Walking Dead? E quantas garrafas de cerveja eu matarei até o ano novo?

Dúvidas, dúvidas...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Always Look on the Bright Side of Life


Chegamos ao mid-season de The Walking Dead e até aqui a série segue firme numa agenda à parte dos quadrinhos. Alterações nas subtramas e nos perfis dos personagens, mortes inesperadas ou fora da ordem original são tão parte do cenário quanto o núcleo protagonista de sobreviventes. Ou os zumbis. Para os leitores da saga de Robert Kirkman é um deleite manter a postura de mestre do jogo ao mesmo tempo em que se surpreende (positivamente ou não) com as novidades que pipocam pelo monitor.

Mas mesmo com o grau de imprevisibilidade acima da média, o desvínculo nunca chega a ser total: na prática, é quase uma versão "Terra-2" da HQ, uma realidade alternativa onde a ordem dos fatores é diferente, mas os resultados quase sempre são os mesmos. Não tão impactantes, como já era previsto, mas invariavelmente tétricos. Neste sentido, a atual fase conduzida por Glen Mazzara foi categórica. O inferno são os outros. E nós também.

A première foi arrasadora, tanto em termos dramáticos quanto no broadcasting. Escrito pelo próprio Mazzara (que aqui mantém diligentemente o ótimo nível de seus roteiros para a série) e dirigido por Ernest Dickerson (do bom Sobrevivendo ao Jogo e do péssimo Bones, com Snoop Dogg), o episódio da volta foi eletrizante, recheado de gore e zombie-action generoso. E ainda reservou cenas surpreendentes, como a solução encontrada por Rick (Andrew Lincoln) para salvar Hershel (Scott Wilson) da infecção fatal - o que, na perspectiva dos leitores da HQ, representou uma interessante fusão de Hershel com Dale, finado na telessérie, mas ainda bem vivo na revista até aquele ponto. Se o amálgama continuar, dias ainda mais negros virão para o bom velhinho...

A única ressalva fica mesmo na ótima sequência de abertura com os protagonistas se esgueirando pela estrada em busca de abrigo. Ao mesmo tempo em que eu finalmente recebia da série o retrato da mais pura miséria humana há muito ansiado, me emputeci decepcionei deveras num momento que quase pôs tudo a perder: a cena em que Carl descobre uma lata fechada de comida para cães, cujo consumo é prontamente vetado por Rick em nome da dignidade.

Bola fora.

Já vimos um rato a caminho da grelha em Exterminador do Futuro e um saboroso ratoburguer em O Demolidor, mas nem é preciso ir tão longe. De cara, lembro de dois worst case scenarios onde um enlatado para caninos até caiu bem mediante as circunstâncias.

O primeiro é óbvio.


O segundo, precursor na iguaria, Digby - O Maior Cão do Mundo, figurinha fácil na Sessão da Tarde safra anos 80.


Diacho, até eu sinto vontade de dar umas garfadas nas latinhas de patê de frango do meu cachorro. Mas tenho medo de gostar, comer tudo e deixar o totó a ver navios!

Resumindo, o valor nutricional daquela lata só não era mais importante do que seu valor metafórico. Ao ser descartada foi negado aos personagens o rito de passagem para aceitação daquela nova e terrível realidade, acorrentando-os por mais algum tempo à ilusão de um american way of life ainda intacto.

De qualquer forma, duvido muito que Daryl deixou aquela latinha por lá dando sopa...

No capítulo seguinte, veio o tenso embate entre o grupo de Rick e os "residentes" da prisão. Mais lances imprevisíveis e violentos deram uma noção mais clara de que a telessérie seguia por uma marginal paralela à da revista. Particularmente esclarecedora foi a cena em que Rick impede o início de uma rebelião com uma singela facãozada na cabeça do detento Tomas - um hispânico agressivo e genérico, ocupando o lugar que no gibi era do enigmático e assustador nigga Dex. Curto e grosso, nosso herói aqui há muito já não se prende em dilemas éticos, embora o mesmo não se possa dizer dos morais.

O episódio foi revelador também quanto ao planejamento e à cadência do plot da prisão. Aquele crescendo sufocante de tensão que residia na HQ, intercalado com momentos de alívio cômico e/ou triviais, na TV virou um trem desgovernado indo direto para a 666ª estação do inferno. Os planos de limpeza, contenção e humanização do lugar, mais as ambições de Hershel em aplicar ali seus conhecimentos agrícolas foram sumariamente ignorados. Estratégia questionável, afinal, não deixou quase nenhuma esperança para ser cruelmente despedaçada mais adiante. Desde o início o lugar era só dor e amargura.

Por algum motivo, The Walking Dead live-action não faz joguinhos com os brios do espectador. Não lança mão de sutilezas, tampouco alimenta falsas expectativas. Talvez o formato não comporte isso, talvez algo simplesmente tenha se perdido na transição. Ou talvez fosse perverso demais.

O curioso é que esse arranque em ritmo grindcore não prossegue onde ele era mais aguardado: Woodbury, a comunidade liderada pelo infame Governador.


Apresentado bucolicamente no 3º episódio, o Governador e sua pacata cidadezinha recebem Andrea (Laurie Holden) e Michonne (Danai Gurira), recém-capturadas pelo redivivo Merle Dixon (Michael Rooker) - que, afinal, não era o Governador, veja só (embora ache difícil crer que Frank Darabont não tenha considerado isso seriamente em seu run). Aqui o Governador - ou Phillip! - é retratado como um líder zeloso por sua comunidade e pelo espírito de coletividade que cultiva ali. Chega a policiar suas atitudes e discursos em público para sempre passar uma mensagem positiva aos habitantes. Mesmo os eventos de vale-tudo-com-zumbis à noitinha são seguros e têm lá seu aspecto de entretenimento society.

O Governador tem uma bela foto com a esposa e a filha na sala de estar. Orador talentoso, tem até uma boa justificativa para a TV LZD ligada 24/7 em sua suíte particular. Também não é chegado em nenhuma estripulia sexual envolvendo crianças ou cadáveres ou os dois ao mesmo tempo.

Fosse eu o responsável pelo casting da série, minha 1ª, 2ª e 3ª opções para o papel do Governador seria John Hawkes, John Hawkes e John Hawkes. Se Inverno da Alma é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos, em grande parte é por causa "daquilo" que ele fez lá. Isso sem falar da oportuna semelhança física com o vilão. Contudo, o inglês David Morrissey desempenha seu trabalho com inegável competência. Só não é o mesmo personagem da HQ.

Seu Governador é um figurão classudo, austero, sedutor. Por meros detalhes, Phillip (may I?) não ganha a carteirinha oficial do bom samaritano. Um deles foi o massacre de um grupo de soldados (espertamente ligados ao gancho do helicóptero). Sem maiores aprofundamentos, foi o mais próximo que a série chegou de um dos pilares da sociedade pré-apocalipse. Uma pena. Seria interessante saber se ainda existem mais equipes militares operando isoladamente por aí ou mesmo algum resquício agonizante do antigo governo.

Na sequência veio "Killer Within", o episódio mais marcante dessa meia-temporada. Se por um lado certamente deixou os espectadores incautos com os nervos a mil, por outro fulminou os veteranos em TWD com uma série de sentimentos conflitantes. Foi um episódio poderoso, excepcionalmente visceral para uma série de TV. Sem precedentes mesmo. O problema é que a catalisadora da maior parte desses sentimentos foi a sra. Rick Grimes, Lori (Sarah Wayne Callies). Ao lado do Governador, ela era a personagem-chave para a pergunta que tanto nos atormentou até aqui: será tão punk quanto foi nos quadrinhos?

A reposta, logicamente, não.

Por mais brutal que tenha sido, foi apenas uma saída politicamente correta para um material muito mais extremo. Para efeito de perspectiva, nos quadrinhos Lori e sua bebê recém-nascida protagonizaram nada menos que o clímax do arco da prisão e do Governador. Quem leu a fatídica edição #48 nunca esquecerá aquela aterradora splash page, até porque já está irreversivelmente fundida ao córtex. E seus piores pesadelos terão a gloriosa arte-final do Charlie Adlard.

Em que pese também a precocidade daquilo em relação à cronologia da revista, sacrificando: 1) a construção em médio/longo prazo de uma atmosfera de apreensão relacionada à gravidez de altíssimo risco da personagem; e 2) a posterior desconstrução da esperança em um futuro melhor que ela e sua filhinha recém-nascida despertariam em Rick e no grupo. Nada feito.

Fica pra próxima.

Mas em meio às baixas e ao caos provocado por sabotagens e pela invasão de mortos-vivos, tivemos um bônus a ser comemorado efusivamente!



T-Dog (IronE Singleton) foi um dos presuntos mais escorregadios de toda a longa antologia do horror. Foi um valoroso oponente, mas finalmente se rendeu ao cartão de identificação amarrado no dedão de seu pé desde sua 1ª aparição. Pelo bom jogo que proporcionou, ganhou umas honrarias na saída: teve mais diálogos e motivações relevantes neste único capítulo do que em todas as temporadas juntas.

Mais ainda, se despediu como um herói, o ex-gangsta.


Na dúvida se seria "my friend" ou...

Lembranças ao Tupac!

Se a saideira de Lori foi bastante suavizada, coube a Carl (um Chandler Riggs imerso) dar um ponto final àquela via crucis, num momento genuinamente perturbador. O episódio termina com Rick em choque, perdendo seus últimos fusíveis que ainda prestavam.


Durante os dois capítulos seguintes, Michonne e Andrea divergem suas opiniões a respeito do Governador e seguem caminhos separados. Na prisão, enquanto o grupo está enterrando seus mortos e providenciando os cuidados para a filha ainda sem nome de Lori, Rick mergulha numa bad trip aparentemente sem volta. Por sorte, calhou de ter ali uma válvula de escape perfeita que ele jamais teria num mundo civilizado: uma prisão cavernosa com corredores lotados de mortos-vivos. Ele então perpetra um zumbicídio generalizado, quase liquefazendo Glenn (Steven Yeun) no processo. Em certa altura daquele cenário de horror triste e degradante acontece uma sequência em que não me contive nas gargalhadas: Rick entrando na sala da caldeira onde estava o corpo de Lori, seguindo uma trilha ensaguentada que termina num zumbi gorducho fazendo a siesta após uma lauta refeição! Cruel, eu sei. Sou desprezível.

Após uma rápida catarse em que pensei que Rick abriria o bucho do desmorto glutão e abraçaria aos prantos os restos semi-digeridos de sua consorte, se inicia o plot do telefone. Que eu, particularmente, considerei uma boa sacada de narrativa da HQ, servindo para ilustrar em breves quadrinhos o fuzuê psicológico a que Rick foi submetido desde que o Governador e a prisão passaram por sua vida. Mas também sei que não teve o mesmo apelo para vários leitores, cujos argumentos contrários são igualmente pertinentes. Seja como for, a subtrama foi comprimida entre um episódio e outro, limitada a uma ponte en passant que serviu para pontuar aquele acesso de fúria e trazer Rick de volta à Terra e ao posto de pai e líder do bando.

Com os demônios de Rick de volta à garrafa, a série finalmente começa a se alinhar (um pouco) com a trama original. Não por acaso é onde começa a ficar mais empolgante no sentido do dramático da coisa, com Glenn e Maggie (a linda Lauren Cohan) encontrando Merle enquanto este estava à caça de Michonne. O desfecho previsível (os pombinhos sendo subjulgados pelo caipira putardo) serviu para Michonne finalmente bater aos portões da prisão e encontrar Rick e seu grupo. Numa cena visualmente bacanuda, diga-se.

Coberta de sangue e vísceras apodrecidas, a katana-girl caminhou lentamente entre vários zumbis até o alambrado sob o olhar surpreso de Rick. Não teve o mesmo impacto que chegar lá com dois mortos-vivos acorrentados, sem os braços e sem os maxilares, mas foi uma entrada triunfal mesmo assim.


A reta final da meia-temporada foi centrada em Michonne voltando à Woodbury com Rick, Daryl (Norman Reedus) e o ex-detento (e ex-guarda-costas do Wayne Gretzky) Oscar. Eles, com o objetivo de resgatar Maggie e Glenn. Ela, querendo a cabeça do Governador-Phillip. Inexplicavelmente, Michonne não chega a mencionar que tanto Andrea quanto Merle estariam por lá também. Mais estranho ainda é sua atitude de voltar àquele lugar apenas pra se vingar do Governador, quando o normal seria ter simplesmente continuado sua fuga pra longe dali. Soou como maluquice da personagem ou uma tremenda forçada de barra do roteiro, mas a verdade é que representou mais um problema causado pela suavização do material dos quadrinhos.

No original, Michonne é presa, torturada e violentada por dias a fio pelo Governador. O ódio que a movia suplantava qualquer bom-senso e instinto de autopreservação. Sua motivação havia se transformado numa força da natureza. O mesmo não acontece com a Michonne da TV, onde está entregue a uma sede de vingança sem embasamento suficiente e no mínimo exagerada. E infelizmente, em descompasso com a impressionante personificação de Gurira, que eu juraria que não só leu a HQ como submergiu por lá e nunca mais voltou.

Em meio à ação, uma nova trama paralela tem início, com Tyreese (Chad Coleman, de The Wire), sua filha e mais três pessoas aportando na prisão. Finalmente, o Tyreese deu as caras! Um dos personagens mais marcantes da HQ não podia ficar de fora, mesmo que tarde demais para qualquer coisa que lembre sua trajetória no original. Resta torcer para que os planos reservados para ele tenham ao menos a metade daquela qualidade.

Na conclusão, um cliffhanger também problemático, com o Governador-Phillip, já caolho, tirando da cartola uma rinha entre os irmãos Daryl e Merle, a quem acusa de traição. Hã? A menos que isso sinalize um princípio de incêndio que culminará num Governador quase tão doidão quanto o dos quadrinhos, soa como um twist (mal-) encaixado às pressas.

The Walking Dead segue indomável para os leitores e, a julgar pelos ratings, cada vez mais atraente para o público médio. Merecido. Uma das melhores características dessa adaptação é não se importar em agradar ninguém. E isso também é marca registrada dos escritos de Robert Kirkman.

Afinal, nada melhor do que a espetacular cena de Glenn amarrado e lutando contra um zumbi como terapia para aquela atordoante edição #100...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mothra não mora mais aqui


Muito bem, saiu o primeiro trailer oficial de Pacific Rim, a nova brincadeira remunerada do grande Guillermo del Toro (agora me ocorreu que ele largou um filme com anões pra fazer um filme com gigantes). Estrondoso como esperado.


Vamos aos pré-julgamentos. Nota-se o cuidado em conferir uma sensação de peso/impacto/presença aos monstrões, que numa primeira impressão lembram o Kraken do remake de Fúria de Titãs - espero que não tão ineptos - e levam jeito que disparam rajadas atômicas até pelo nariz, na melhor tradição Gojírica (nada daquela asneira com carros explodindo no ar como fizeram no Godzilla americano). Os primos ocidentais do Gundam também parecem bacanas, com um esquema de pilotagem parecido com o do game Slave Zero.

Já os trechos de luta (vale-tudo com monstro gigante! Urruw!!) têm a dinâmica de um Gigantes de Aço made in Brobdingnag. O que é legal, mas bem limitante se ficar só nisso. Precisamos de mechas equipados com canhões de plasma, campos eletromagnéticos, retrofoguetes, supercombos, além de uns mini-nukes na faixa.

E falando em átomos, espero uma boa explicação para a preferência a robôs gigantes multizilionários à bem mais simples e efetiva opção nuclear. Posso pensar em uns dez motivos agora, no susto. Tomara que não me deixem no vácuo nessa.

No geral, o queixo não chegou a se deslocar, mas gostei bastante do que vi. E aproveitando o clima daikaijuesco, segue aí a versão ultraporrada do Helmet para o teminha do clássico Gigantor.


Ps: a Drew Barrymore é muito fofa.