Quem ainda compra gibi em sebo sabe. Poucas sensações são tão prazeirosas (e de um déjà vu desconcertante) quanto reencontrar aquela história que você leu há tempos e que estava perdida na gaveta mais empoeirada da memória. É quase como entrar em contato direto com aquele guri de 8 anos uma vez mais - e considerando que nunca enterrei por aí uma caixinha com meus mais valiosos pertences da época, é o mais próximo que posso chegar disso. Nostalgia pura, que seja, mas a epifania é garantida.
Tenho lá minha montanha de gibis desenterrados nos sebos ao longo dos últimos 13 anos, quanto voltei a ler quadrinhos. Uma maioria de formatinhos da Abril, guardada em caixas e esperando pacientemente para serem lidas ou relidas, mas que acabam sendo apenas limpas e colocadas de volta no lugar. Faz parte. Mas é o momento em que eu geralmente folheio essas edições e revejo algumas relíquias de valor mais sentimental do que qualquer outra coisa.
Muitas delas eu nem sabia que já tinha nos arquivos, como um divertido conto protagonizado pelo Coisa que saiu na revista Homem-Aranha #31 (janeiro de 1986). Memória recorrente desde sei lá quando e que eu nem lembrava onde tinha lido. Uma revista que me traz muitas lembranças marcantes sobre a minha percepção acerca dos quadrinhos, mas que me cativou primeiro com essa história.
"Naquela Noite" foi escrita e desenhada pelo genial Barry Windsor-Smith, um cara que sempre imaginei que não tivesse um pingo de senso de humor. Afinal, era o ogro responsável por clássicos macho-pra-caralho como Wolverine: Arma X e várias sagas do Conan. Mas não seria diferente, já que era uma típica "história de 1º de abril", com o Tocha Humana armando uma pegadinha-monstro pra cima do sobrinho favorito da Tia Petúnia. No dia errado.
A história foi publicada originalmente na revista Marvel Fanfare #15 (1982) - um título bacana de histórias escapistas, fica a recomendação. Talvez tenha sido a primeira vez que ouvi falar em um Super-Skrull (que legal!) e a participação especial do H.E.R.B.I.E. plantou várias dúvidas na minha cabecinha de telespectador assíduo dos Quatro Fantásticos. E eu ainda achava que tudo ali iria desembocar num quebra-pau generalizado.
Acho que caí na pegadinha do Tocha tanto quanto o Coisa.
E não é que só agora, quase 30 anos depois, fui ver a punchline do Windsor-Smith no epílogo da historinha?
Ah, aquele charuto...
"Naquela Noite" pra baixar.
Um feliz 31 de março!