E hoje saí de uma livraria com algo queimando na mochila. Pela 2ª vez...
Quando vi a nova edição do clássico Do Inferno dando sopa numa Saraiva, há um mês e pouco atrás, não pensei duas vezes. A edição da editora Veneta - um volumão com a obra completa, mapas e apêndices generosos - realmente impressiona e exige seu lugar de destaque (e de direito) na estante mais próxima. O que eu não imaginava era que se tratava da 1ª edição do lançamento, com erros de concordância e digitação.
Claro, isso não tira o brilho de um clássico em versão peso-pesado, mas certamente não é algo muito elogiável. Quando soube que a editora lançou novas edições re-revisadas, entrei em contato para proceder uma troca. Até me responderam, e muito obrigado por isso, mas a resposta foi um sonoro "não" britanicamente polido.
Por algum fenômeno glyco-fractal que só Alan Moore poderia explicar, hoje consegui trocar, na livraria, minha cópia por uma edição nova e corrigida. Justamente hoje, 28 de março, Dia do Revisor - isso só fui saber agora, desculpe revisores. Não apenas tenho muita estima pelo trabalho de vocês, como também preciso muito dele.
Errinhos bobos, mas que estão lá... estão lááá...
Beijos e abraços para a equipe da Saraiva local, que não encrencou com uma solicitação de troca (bastante) tardia. Tem quem não te queira, mas yo te quiero...
Aula de zumbiologia #3.864: Após sua reinvenção pelas mãos de George A. Romero, o mythos zumbi adquiriu uma capacidade nata para dialogar com variados gêneros da ficção. Desses, o drama é provavelmente o veículo mais efetivo. Talvez por evidenciar a condição finita do homem, talvez por fornecer um vasto cardápio de situações trágicas e dilemas existenciais. Um dos exemplos mais impactantes dessa conexão foi o excelente curta australiano Cargo, onde drama e zumbis se (con)fundem de maneira inexorável. Uma aula.
E também parece ter sido a matéria-prima para o vindouro filme Maggie, que estica a mesma premissa em uma hora e meia.
O trailer é bastante climático e introspectivo. E até corajoso, com grafismo próximo do zero e fazendo mais insinuações aos zumbis do que os explicitando.
Descontando o fato de ser O Novo Filme de Arnold Schwarzenegger, Maggie é uma autêntica produção independente de baixo orçamento - "baixo" em termos, já que custou estimados 8 milhões de doletas, dos quais uma lauta fatia deve ter ido pra conta do Terminator - e não parece negar a vocação. Os estreantes John Scott 3 (roteirista) e Henry Hobson (diretor), já podem contar as bençãos de seus pés direitos.
Quanto ao Schwarza em um papel denso e dramático, não é exatamente uma repaginada de carreira. Ele, que nunca foi ator e sim um astro, já ciscou nesse terreiro antes, em Fim dos Dias e Efeito Colateral. Mas nunca dessa forma tão imersa.
Isso pelo menos até ele empunhar um trabuco e sair fuzilando hordas putrefactas por aí.
Por essa ninguém esperava. Quando comentei sobre o então vindouro show do Ministry em São Paulo fiz questão de frisar que "essa será provavelmente a primeira e última apresentação do grupo por aqui". Baseado, lógico, no re-anunciado fim da banda e do fato de Al Jourgensen ser um notório pé na cova há pelo menos 20 anos. Pois o Tio Al resolveu surpreender e vai aportar suas máquinas do inferno mais uma vez no Brasil, dessa vez no Rock in Rio!- também esculachado por mim no referido post...
É oficial e já consta na line-up. Será uma apresentação conjunta com Burton C. Bell, frontman do Fear Factory e colaborador em alguns álbuns da entidade industrial-mor. No mesmo dia do Metallica, só que no palco Sunset, aquele menorzinho que o Rob Zombie se apresentou na edição anterior.
Ok, os tempos são outros e uma apresentação no palco principal poderia causar traumas irreversíveis em quem estará lá para ver o Mötley Crüe (!) ou nas mentes jovens e sensíveis que irão mais pelo aspecto McDonalds do evento.
Se eu fosse, seria pelo Ministry e pelo fantástico grupo francês Gojira. E pela possibilidade de ver um set mais clássico do Tio Al, com tudo que os fãs têm direito...
Afinal é um festival, lugar onde deveria ser proibido por lei tocar música nova.
Há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante... na verdade, num blog parceiro, há exatos 10 anos (!)... eu protestava pelo fato de Homem-Máquina, minissérie de Tom DeFalco, Herb Trimpe e, rufem os tambores, Barry Windsor-Smith, não ter sido relançada na então nascente onda de encadernados da Panini.
Aliás, "protestava" não... choramingava mesmo. E com orgulho.
A mini só havia sido publicada aqui pela editora Abril, em Heróis da TV (edições 102 a 105), criminosamente escondida, sem chamadinha de capa nem nada. Após 28 anos de espera, parece que alguma justiça será feita.
Não sou de sair comprando rumores extra-oficiais, mas o nível de acertos de certosinformantes justifica a empolgação.
E chegamos à Melissa Benoist como a nova Supergirl. Minha 1ª impressão, igual à de todo mundo. Bonitinha, mas... de uma certa inadequação. Não sei bem por que, mas soa algo paródico. Parece atriz de sitcom sem claque fazendo cosplay de Supergirl para algum episódio nerd. Fosse Alison Brie, Tina Fey ou Anna Chlumsky provavelmente eu teria a mesma sensação. Laura Vandervoort, com trajes mínimos e umbiguinho de fora, transmitia mais seriedade, mais intensidade no olhar.
Mas se a adaptação for alternativa e a proposta for uma Supergirl leve e jovial, de uma ingenuidade Pollyanna, à Mary Marvel... é exatamente isso que as imagens me transmitem. Golaço. Como casar isso com um bg sci-fi trágico e wagneriano são outros quinhentos...
Da atriz propriamente dita, não tenho do que reclamar. Em Whiplash: Em Busca da Perfeição, ela mostrou que manda bem no drama. E na 1ª temporada de Homeland mostrou que manda bem também em outros departamentos. Além do jeitinho de vizinha adorável que todo mundo gostaria de ter.
Nos quadrinhos, sempre que vejo a Supergirl, vejo uma oportunidade perdida. Com exceção dos formatinhos pré-Crise publicados pela EBAL e pela Abril, onde ela agia como uma irmã mais velha e superprotetora do Azulão e, claro, da nossa essencial Supergirl da Terra-2, o maior contato que tive com a personagem foi relativamente recente, na revista do Superman pré-Novos 52. O gibi da Panini funcionava como um point kryptoniano e as histórias da Supergirl vinham no mix como um brinde ruim.
Eu lia aqueles roteiros pavorosos e não conseguia parar de pensar no desperdício. Quer dizer, o sujeito tem nas mãos uma personagem com a origem e os poderes do Superman e nem 1/10 das amarras editoriais. O céu seria o limite. Nessas horas é que costumam surgir os novos Ellis, Millars e Morrisons. Mas a cada ideia tosca que aparecia, um fantasma doppelgänger do Alan Moore sussurrava no meu ouvido a velha máxima do "não existe personagem ruim".
Os recursos narrativos são infindos. Os mais batidos: sua adaptação à Terra - eterna enquanto for divertida - e o fato de ser um raro personagem (arram, descontando a população da cidade de Kandor e o contingente-jumbo da Zona Fantasma) que realmente viveu em Krypton e guarda memórias ainda vívidas dele. E o trauma de tê-lo perdido, junto com toda a sua vida lá.
Esse drama, pesadão aliás, rendeu bem em Smallville. Ora, se a Laura Vandinha, que não é nenhuma Bette Davis, soube aproveitar, então a Melissa tem obrigação de sambar em cima dessa premissa. Só resta mesmo saber o que disso tudo vai pra tela. Ou se nada.
Bônus de cima pra baixo:
*Helen Slater como a mãe adotiva é uma bela supresa pra quem babava por ela quando guri e não perdia as reprises de Supergirl e A Lenda de Billie Jean (presente!);
*Dean Cain, o Super-Hombre latino, fazendo o pai adotivo parece interessante e não mais - preferia se a Slater fizesse casal com a Teri Hatcher;
*Jimmy Olsen negão, sinto muito, defensores de cotas, mas não é assim que se faz. E afro-americanamente falando, é um tiro pela culatra;
*Série da Supergirl sem Superman é apenas um sintoma da imensa trapalhada que a Warner insiste em sustentar. A presença do produtor-executivo Greg Berlanti (de Arrow e The Flash) até facilitaria um crossover heróico em algum nível, mas como a Warner está produzindo a série para a CBS, melhor não contar com isso. Acho que só uma Crise nas Infinitas Salas de Reunião resolveria a bizarra lógica interna da Warner.
Rumo ao recorde de impressões preliminares de um mínimo de material? Tamo junto.
O novo trailer de Vingadores: Era de Ultron está sendo recebido com honras de chefe de estado nerdsfera afora. Não é pra menos. Joss Whedon está colhendo cada fruto plantado no divertido e eficiente Os Vingadores, de 2012. A ação e a interação entre arquétipos (e atores, e escolas) tão díspares foram estruturadas de maneira plenamente funcional e pop.
Assim como na prévia anterior, essa despeja competência e profissionalismo no quesito aventura. Teremos Hulk versus Hulkbuster, Mercúrio atropelando Cap em mach-5, mais uma pose "Avante Vingadores!" pra galeria, Ultron e muitos, mas muitos Ultrons. Daí uma sensação de déjà vu quase fulminante me acordou do transe: Whedon parece estar seguindo à risca a cartilha do bigger, faster & stronger das continuações hollywoodianas.
Sai Thor, entra o Homem de Ferro no UFGama, Mercúrio numa cena análoga ao do Mercúrio de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, explosões mil, Nick Fury engessado em sua nova função de mentor extra-oficial, Robert Downey Jr. perdendo o brilho e o tesão a olhos vistos e o que periga ser a framboesa desse bolo: o exército de Ultrons.
Provavelmente interligados numa consciência-colméia gerenciada pelo Ultron original e sujeitos à mesma fraqueza do exército Chitauri do 1º filme, requentada do exército alien-cyborg da bomba Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles - destrói-se a fonte e os demais caem como um castelo de cartas. Deus ex machina nas máquinas mais uma vez?
E falando em máquinas, porque o Visão está sendo tão preservado? Algum pé atrás?
Whedon já comentou sobre o trabalho absurdamente extenuante que teve para coordernar o circo todo. Tomara que não a um preço comprometedor...
Nessa sexta-feira, dia 6, São Paulo será palco de um teste nuclear: o Ministry vai tocar pela 1ª vez no Brasil. Al Jourgensen e sua quadrilha de cyborgs tarados irão desfilar a trilha sonora do fim do mundo no Audio, que por sinal está se saindo com uma semana no mínimo inspirada (The Sonics na quinta!). Pra deixar a coisa ainda mais instigante, essa será provavelmente a primeira e última apresentação do Ministry por aqui.
Não é de hoje que Jourgensen fala em pendurar os samples do Sgt. Hartman. Há alguns dias ele até anunciou um novo projeto. Com a morte do guitarrista Mike Scaccia e o estado geral do cara transparecendo a conta dos anos de excessos químicos, a coisa parece que vai mesmo por esse caminho. Mais uma vez. Então, a menos que você esteja empolgado com o Rock in Rio, não há dúvida de que esse será o evento musical do ano no país.
Imperdível...
...a não ser que se perca, como eu. Pois é. Fã de carteirinha desde que a banda foi apresentada pelo jornalista André Barcinski numa Bizz de tempos idos, vou deixar essa passar. Sem disposição pra morrer num valor triplicado (com sorte) de um ingresso já caro n'alguma excursão local salvadora e, até agora, inexistente. A recente aquisição de vários encadernados do Juiz Dredd no site da Mythos ajudou a remover qualquer esperança.
Eu não vou ao show, mas a minha filha foi e achou muito bom. Em termos de ação in loco, o Ministry é unanimidade até entre os críticos mais turrões. Em anos/décadas! de leitura de resenhas pro, alguns lugares-comuns parecem obrigatórios - som mais alto do que o humanamente suportável, clima de pesadelo apocalíptico e a capacidade de rearranjar e transformar até as músicas menos pungentes em Leviatãs sedentos por sangue. O show é um massacre físico e psicológico brutal, disputadíssimo lá fora e aclamado universalmente.
Pra quem vai, sugiro ir aquecendo os motores com os discos da trilogia anti-Bush (Houses of the Molé, Rio Grande Blood e The Last Sucker) e do último, From Beer to Eternity. As músicas desses álbuns compreendem uns 95% do atual setlist, segundo o, hã, Setlist. Os clássicos devem ficar mesmo no combinadão "N.W.O." - "Just One Fix" - "Thieves" - "So What".
Mas bem que eles podiam surpreender e montar um set mais old school. Sacumé, pra compensar a demora... Onde já se viu uma banda que tinha dois bateristas - fora a eletrônica - nunca ter pisado na terra das baterias, tambores, percussões e afins?
Duas dicas vêm do antológico registro ao vivo In Case You Didn't Feel Like Showing Up: "Burning Inside", numa versão ainda mais delirante e febril do que em estúdio, ganhando uns gritos de filme de horror que são de gelar a alma; e "Stigmata", um tornado sônico de 10 minutos com synths, guitarras massivas e uma batida que ao vivo deve até quebrar costelas.
Outra excelente pedida seria a inclusão da música "Scarecrow", uma aterradora bad trip Sabbáthica do álbum Psalm 69. Na versão ao vivo do EP Just Another Fix, a simples adição de uma harmônica a transporta sem escalas para a blueseira heavy de "When the Levee Breaks", do Led Zeppelin. Sensacional.
Por fim... quem sabe... a incendiária "Jesus Built My Hotrod". Esse country-metal-eletrônico maníaco psicopata é o verdadeiro Graal do Ministry, sendo negligenciado nos shows desde sempre, com Al repetindo a mesma ladainha: "Gibby Haynes é o único que consegue cantá-la".
Mas parece que ele fez um esforcinho em 2004, na tour do Houses of the Molé...
Enfim, um excelente show para todos que vão.
E me contem tudo logo depois, se o estrago sensorial permitir!