domingo, 11 de fevereiro de 2007

STALLONE ROCKY


Em certo momento de Rocky Balboa (2006), um dos personagens, um comentarista esportivo, se empolga: "Nunca imaginei que um dia eu iria cobrir uma luta do Rocky!" Do lado de cá, eu dizia o mesmo em relação à ir ao cinema para assistir um filme da série (o ep. IV rolou num longínqüo 1985 e preferi não ver o desacreditado ep. V em 1990). Provavelmente, era este mesmo o recado que Sylvester Stallone - e seus diálogos são diretos como um gancho de direita, rá-rá - quis mandar: se você ainda não viu um Rocky movie devidamente acomodado em uma sala escura, com todos os acessórios refri-pipoquísticos, e com a geral indo ao delírio a cada punch desferido, esta é sua última chance. Sim, a série Rocky foi importantíssima a este ponto, sendo a catalisadora de papos de boteco por, no mínimo, umas três gerações.

Vejo cinéfilos xiitas - a-a-a-pleonasmo-tchimm - se contorcerem de desdém quando lembrados que Rocky, Um Lutador ganhou Oscar e o escambau. Que tirou Sly do gueto, alavancou uma franquia zilionária e foi um dos maiores símbolos do cinema pop. Que Bill Conti nunca foi tratado como um John Williams ou um Jerry Goldsmith, mas compôs um dos temas mais conhecidos da História. Que o boxe profissional ganhou uma legião de adeptos cujo primeiro contato com o esporte foram os catiripapos absurdos dos filmes. E que tudo isso tenha sido criado, medido e pesado pela balança ergométrica de Stallone.

Aquela estátua de bronze estava certa. Rocky Balboa é um ícone. Não tem erro. Além de personificar a figura do working class hero à perfeição, a saga do personagem é uma fábula perneta de superação às mazelas da vida e de amor ao esporte. E uma das maiores produtoras de clichês dramáticos e de ação dos anos mil novecentos e oitenta. Sim, a minha geração se rendeu diante do discurso populista e repleto de emoções baratas - sempre as mais eficientes - constantes em Rocky, a série. Porque Mick (saudoso Burgess Meredith) era uma figura paterna que emocionava pra valer, porque Clubber Lang era o sujeito mais execrável da face da Terra por desrespeitar Adrian daquele jeito ("ei mulher... quer conhecer um homem de verdade? Vamos pro meu apartamento"), porque o robô soviético Ivan Drago era assustador, porque eu também fiquei chocado com a morte de Apollo, o Doutrinador, porque Paulie foi um irresponsável por perder toda a fortuna do clã Balboa, porque Tommy Gunn foi um maldito ingrato por trair Rocky depois de tudo que ele fez, porque...

Bem, lá estava eu entrando na sala para assistir um Rocky. Era a minha última chance.


Na história, Mason 'The Line' Dixon (Antonio Tarver) é o atual campeão mundial dos peso-pesados. Frio, técnico e sem empatia com o público, Dixon atropela os adversários como um rolo compressor. Acusado de escolher apenas desafiantes de baixo nível e conferir uma pecha de impopularidade ao boxe, ele sente na pele que não basta ter o cinturão para ser um campeão. Esta é a metade da história a ser completada. A outra nos mostra Rocky, agora viúvo e dono de um simpático restaurante onde, além da saborosa comida italiana, ele serve histórias dos áureos tempos de ringue. Amargando a ausência de Adrian (num belo retrato do processo de luto), e atravessando uma crise de meia-idade pugilista, o Garanhão Italiano acaba surpreendido pela polêmica em torno de uma simulação computadorizada (ótimo CGI!) de um combate entre ele, no auge, e o campeão Dixon. E como todo grande lutador sempre tem uma última luta dentro de si...

Algumas subtramas são rabiscadas no decorrer do filme, sendo a de Rocky Jr. (Milo Ventimiglia, o Peter Petrelli, de Heroes) a mais relevante no contexto dramático. O cunhado e velho companheiro Paulie (Burt Young, um grande-graaaande ator, confiram em Transamérica) também está de volta, com o mesmo mal-humor e ranhetice.

Quem cresceu à base de reprises e eventuais locadas dos filmes da série, se prepare. Sly arquitetou um verdadeiro Balboa tour e vários elementos, citações e locações da série são (re)visitados ao longo da história. Até as tartarugas estão lá (e devem ser as mesmas atrizes). A maioria das referências foram calcadas no primeiro filme, mostrando que Stallone tem a exata noção do patrimônio que criou. Desde a lojinha de animais até o velho ginásio de Mick, passando pelos bares vagabundos e a paisagem industrial daquela Philadelphia decadente - a reverência à cidade que tanto significou para sua carreira rende alguns dos momentos mais poderosos do roteiro (é isso aí... o cara que um dia foi o Cobra escreveu palavras poderosas). Sly insere até um inequívoco bom humor para suavizar a melancolia deste semi-flashback (sai Eye Of The Tiger, entra Somebody Told Me, do The Killers). Sem contar a excelente sacada que teve ao resgatar um dos personagens do filme original. Chega a dar uma fisgada no cérebro.

E os elogios não páram por aí. Na contramão dos filmes anteriores, Sly acerta em cheio em não demonizar Dixon. Ao acompanhar sua busca pessoal dentro do esporte, ele humaniza o personagem e cria uma expectativa por superação e redenção equiparável à do próprio Rocky. É quando chega a aguardada luta entre gerações e você sabe que está lá no cinema assistindo um Rocky sem ter idéia do desfecho... que é de arrepiar.


Com sua longa experiência e o dom de rir de seus erros, Stallone faz de Rocky Balboa uma metáfora de sua própria trajetória, além de se despedir dignamente de seu melhor personagem. Rocky Balboa é filme-celebração. E também uma justa homenagem a todos os atores que abraçaram a série e, principalmente, aos fãs que jamais abandonaram o velho Olho de Tigre desde que ele se reergueu primeiro naquela batalha épica contra Apollo Creed.

Mick ficaria orgulhoso.



ROCKY - BALBOA

A trilha oficial é uma compilação daqueles hinos que todo mundo já conhece. Vai ser empolgante assim lá em Ibiza. Fora os standards clássicos do Bill Conti, tem o Survivor em dose dupla, o James Brown pasteurizado de Living In America, as bagaceiras oitentistas e divertidas pra chuchu de Robert Tepper e John Cafferty (habituée daquelas trilhas da Souza Cruz) & us mano do Three Six Mafia dando um rolê num Opalão tunado.

Só não deu pra entender a ausência de Take You Back, aquele do-woop cool do primeiro filme que rolou até no trailer.


Na trilha: Adriiiaaaaaannnn!! :P

9 comentários:

Sandro Cavallote disse...

Excelente texto, Doggster. Até fiquei com vontade de ver o filme no cinema...

Kalunga disse...

Salve Doggma!!!

Cara, tua resenha vai na parte onde toca nos corações que, como vc mesmo citou, irão aos cinemas para assistir a um filme-clebração. Eu vi o quarto episódio já no cinema, enquanto que os demais também foram no esquema "reprise-locação VHS". Mas aquilo tudo fez parte intensa de minha infância/adolescência e não nego que fiquei curioso p/ assistir ao filme, principalmente pelo apresentado na resenha.

Mas a tal da questão da versão 2006 de Rocky ser "filme-celebração" me incomoda ao mesmo tempo que me atrai. Na verdade, parece que esta era a única saída para se produzir mais um filme desta série com dignidade. Enfim, como mexe com minha memória afetiva, estou tentando a assistí-lo e correr o (bom) risco de sair com sentimentos nostálgicos. Mas também fico no resguardo de receber uma certa dose de sentimentalismo acerca deste "retorno/despedida".

*Gosto muito da terceira parte da série, quando o Rocky leva uma surra do B.A. (Esquadrão Classe A, lembra??? hehehehehe), baixa a crista e vai ao gueto treinar c/ o Apollo. Talvez o filme de 2006 se preste a mostrar que o romantismo e o carisma andam muito em falta atualmente nos esportes em geral. Mas tenho que ver, apsar de saber que não vai rolar Adriaaaannnnnnn!!!

*Porra, acho que foi no Rocky 5, que tem o James Brown cafonérrimo fazendo um número que é mico total, hahahahaha!!!

*E parece que o Rambo vai voltar! Que diabos vai dar nisso?? No primeiro episódio, era uma clara crítica ao tratamento que os norte-americanos deram aos ex-combatentes (e derrotados) do Vietnã. O segundo filme parecia inverter tudo. E o terceiro o Rambo lutou ao lado do Bin Laden! E agora? O Saddam já foi morto... o que será que o Rambo aprontará, que justiça ele fará com as próprias mãos? Os tempos são outros...

*Ah, os anos 80, hehehehehe... Havia aquela saudável competição entre Stallone e Schwarznegger. E pensar que proibiram de rolar Stallone Cobra p/ menores de idade por conta de um maluco que metralhou uma galera num cinema na Bahia. Porra, mas que década absurda foi aquela!

abração!!!

hazzamanazz disse...

O pessoal pode descer o malho que for, mas os dois primeiros filmes da série são muito bons, é CINEMA na mais pura acepção da palavra.
O primeiro filme ganhou o Oscar com todos os méritos, não é uma coisa risível e superficial.

Estão falando muito bem desse filme, dizendo que não é aquela coisa babaca e dicotômana dos filmes III, IV e V.
Desde a SET, até o Estadão (que é pentelho pacas nas suas críticas cinematograficas).
Eu estava pensando em ver e já que você também falou bem, então agora vou mesmo. :P :D

Já pensou? Você mostra esse comment para uma distribuidora de filmes e começa a cobrar jabá pelas resenhas.
UAHAHAHAHAHAHAHA...

[ ]'s

Anônimo disse...

Vamos ver se estreia aqui em Santa Cruz...
Triciana disse que nao quer ver isso... odeia o Rocky... rolou até uma briga e tive que explicar pra ela que o "olho do Tigre marcou uma geração..."..
quase tomei uma surra do meu pai.. qd fui querer passar correndo por cima do fusca que ele tinha na epoca... no intervalo do filme na Globo...
ahahahaha

Anônimo disse...

Belo post. Tenho que ir logo ao cinema ver isso.

Fabio, o James Brown aparece no Rocky IV, cantando Living in America antes da luta entre o Apollo e o Drago.

Se não me engano, foi o único Grammy (big deal!) que o Mr. Dynamite ganhou.

Alcofa disse...

putz Dogg, eu fui ver Rock no sabadão ... cara, a a emoção foi a mesma descrita por ti, com a unica diferença que eu assisti todos os filmes antes de ir ver este ae (um por dia, desde segunda). o primeiro e segundo filme é daqueles que emocinam mesmo. o jeitão dele, simples até dizer chega, e aquele lance de tentar ser bondoso mas dando uma escorregada aqui e acolá , é perfeito. o terceiro ainda é bom, mas o quarto é pura panfletagem descarada aos EUA, mas ainda assim emociona. o quinto filme é, bem, razoável. agora este ultimo, cara, a emoção foi a mesma dos dois primeiros. nem vou tecer comentários. para mim foi um dos melhores do ano, mesmo estando às vésperas do carnaval. A luta então, nem se fala. se vc viu The Contender, vai ver a influencia monstro que este "BBB" do boxe teve sobre a pelicula.

filmão

abração meu velho!

eu até pensei em fazer um post, mas vc roubou minhas palavras...

Kalunga disse...

putamerda, o Godfather of Soul ganhou seu único Grammy c/ aquele mico?!?

realmente os dois primeiros Rocky são emocionantes, ao passo que no III ainda há uma qualidade, enquanto que o VI, pelamordedeus, é uma patriotada ridícula mesmo. O boxer russo igual a um robô, louro, frio e sem sentimentos, putz...

e pensar que eu já subi num ringue de luta-livre no Álvares Cabral naquela época (até Ted Boy Marino veio para essa bagaça) e simulei o Rocky com meus primos (um monte de gente fez o mesmo) quando começou a tocar o tema do filme, após as apresentações "oficiais". Os anos 80 foram um troço muito esquisito, hehehehehehe...

Irmão Fabiano disse...

Grande Dogma!!

Novamente, puta resenha a sua!! Um dia consigo escrever igual você.
Porém nossa opiniões são um tanto quanto diferentes em relação ao filme.
Leia aqui (não é jabá), melhor que ficar redigindo toda ela. Abraço.
http://veiorosa.blogspot.com/2007/02/rocky-balboa-comentrio.html

Alcofa disse...

falae dogg véio de guerra !!

ó, não sei se vc já escutou, mas olha o novo do manowar ae

MANOWAR-Gods of Metal (2007)
Banda: MANOWAR
Álbum: Gods Of Metal (2007)
Ano: 2007
País: E.U.A
Gênero: Heavy Metal





Tamanho: 147 MB
Bitrate: 320 Kbps
Server: Uploaded
Senha: N/A
Uploader: Mazohell



01.Overture to the Hymn of the Immortal Warriors
02.The Ascension
03.King of Kings
04.Army of the Dead Part 1
05.Sleipnir
06.Loki God of Fire
07.Blood Brothers
08.Overture to Odin
09.The Blood of Odin
10.Sons of Odin
11.Glory Majesty Unity
12.Gods of War
13.Army of the Dead Part 2
14.Odin
15.Hymn of the Immortal Warriors
16.Die for Metal (Bonus Track)


http://uploaded.to/?id=w8u61o

com os mesmos temas de sempre ... hehehe

abração!

PS: aqui é o Alcofa e eu to tendo problemas com essa porra de blogger/google...