sexta-feira, 27 de julho de 2007

PAGE 4 TART


Essa foi rápida. Imagino que a Pixel Magazine #4 deva estabelecer alguns recordes de leitura dinâmica por aí. Até a disposição contribui pra isso, num eficiente mix de histórias breves com aquele padrão artístico que nunca dura o suficiente pra quem está curtindo. A começar com Promethea, que abre a revista de uma forma até estratégica.

Promethea é mais uma cria vencedora de Alan Moore, em parceria com J.H. Williams III. Colecionou vários prêmios na estante - Eisner incluso - e sua demora em estrear no Brasil pelos meios oficiais é só mais um indício do descaso vigente, et cetera e tal.

Não lembro direito onde li, mas já afirmaram que a personagem é uma versão alternativa da Mulher-Maravilha. Besteira. Pode haver a semelhança meramente estética, mas pára por aí.

O argumento vai fundo em temas como mitologia, fé, arte, períodos históricos e questões metafísicas, sempre com uma cadência típica de aventura pop - mas underground, no sentido que Love & Rockets é pop underground -, vide o papo despachadão entre Stacia e Sophie, logo no início. É a espontaneidade em quadrinhos. Contraste total com o intrincado background criado para a musa-heroína no prólogo. Um hoaxzão pra ninguém botar defeito.

Mais e melhores capítulos virão. Segundo a Pixel, Promethea é título fixo, o que é uma excelente notícia, mesmo com pesos-pesados na concorrência.



Ainda tentando tapar os buracos da cronologia de Hellblazer por aqui de maneira caótica. Ao menos a qualidade do material nivela por cima: A Natureza da Fera foi escrita pelo bonzão Paul Jenkis (Inumanos, The Sentry), desenhada pelo fodão Sean Phillips (Marvel Zombies) e, como reza o texto de abertura, é considerada pelo roteirista como sua melhor história para o mago boêmio John Constantine.

O que seria apenas uma episódio de entressafra, se mostra uma premissa muito instigante, com uma evolução belíssima. É quadrinho com punch literário na escola Neil Gaiman. Sensacional, ainda que aquelas parábolas tenham me lembrado o Paulo Coelho (!).

Esta edição também marca a primeira aparição de Tom, o pastor cigano, também conhecido como o - olha o spoiler - Deus Cristão Todo-Poderoso.



Planetary #16, que traz a história Hark, eu ainda não tinha lido. Desde já, uma das seqüências iniciais mais despirocantes que eu já vi, mesmo com o cinemão marcial chinês em baixa. De cara, mete um roundhouse kick naquela memorável cena à Herói/O Tigre e o Dragão/O Clã das Adagas Voadoras de Wolverine #26. E veio dois anos antes.

No subtítulo da tradicional intro, está escrito "um show de Cassaday". Justo, muito justo. Acho que foi o melhor trampo do homem. Com maestria ele conferiu profundidade, tensão e uma das porradarias mais empolgantes dos últimos anos, além, é claro, da beleza minimalista dos (econômicos) cenários. Cada quadrinho pede uma moldura. A "arte" aqui foi medida ao pé da letra.

O roteiro é sobre a origem da personagem Ana Hark, com Elijah Snow sempre fazendo as vezes do anão de Twin Peaks: sabe tudo, mas não explica nada. Fosse um filme, seria dirigido pelo Michael Haneke (Caché), com os créditos subindo sorrateiros no que ia parecer só a metade da projeção. Ainda assim, uma das histórias incompletas mais bacanas que já li.

Warren Ellis continua atirando cabeça de bode pro leitor roer.



Pra fechar, duas rapidinhas extraídas da maravilhosa Tomorrow Stories: Os Fatos da Vida!! e Pensar, ambas com roteiro de sir Moore. A primeira é um conto de uma piada só, protagonizado pelo guri Jack B. Quick. Humor rasteiro, mas hilário. A segunda vem com uma climéria meio noir e lembra muito o filme O Poder da Sedução, thriller putesco com Bill Pulmann e uma fatalíssima Linda Fiorentino manipulando todo mundo. A conclusão é idêntica. Moore tem crédito na casa, então deixa pra lá.

E cadê a seção de cartas? Pessoal estava levantando umas questões interessantes lá.


Fábulas - 1001 Noites vol. 1/3 com 52 páginas a 6,90. Meio caro, huh?

domingo, 22 de julho de 2007

NO NO NO NONONONONO


Todo mundo sabe como é o Michael Bay. O cara gosta de empunhar uma câmera como se fosse uma metralhadora. Bay não filma, ele fuzila. Planta as minas terrestres, joga as granadas, dispara os morteiros e grita "Ação!". O que vem a seguir são duas horinhas de firulagem pirotécnica, escoradas por edição vertiginosa, piadinhas infames, sexismo e aquela patriotada em câmera lenta de fazer corar as bochechas do Tio Sam. Estes são os termos de Bay, take it or leave it, e presença tão certa quanto um momento contemplativo num filme do Kurosawa.

Mas não vou ficar fazendo pose de intele-cu-tualzinho entendido em cinema iraniano e dizer que tais elementos não agradem vez ou outra. Afinal, cresci assistindo Rambo 2, Comando Para Matar e todos os Máquina Mortífera. Bay é apenas e tão somente um subproduto disso aí, com ênfase no 4 de julho. E, convenhamos, A Rocha e A Ilha foram bacanas em um nível quase sério de conversação - fora Con Air, dirigido na mesma tocada por Simon West, resultando no filme mais Michael Bay que Michael Bay não fez.
Temos o diretor, os equipamentos, temos a história. Transformers (idem, EUA e bota EUA nisso, 2007) era o case perfeito para um cineasta como Bay. Na adaptação haveria pouco o que contar e muito o que destruir. E Spielberg, puta velha que é, sabia disso. Nos anos 80, os personagens, baseados nos action toys da Hasbro, ganharam um background sob encomenda para o desenho animado e para os quadrinhos. Em um tom infanto-juvenil, a história versava sobre uma guerra civil num planeta artificial chamado Cybertron. De um lado, estavam os heróicos Autobots liderados por Optimus Prime com as cores da bandeira americana. De outro, os bad-guys Decepticons liderados pelo tirânico Megatron.

Eventualmente, a briga entre os dois clãs vem parar na Terra, onde os Autobots recebem a providencial ajuda de sidekicks humanos, como o jovem Spike e seu pai, "Sparkplug" Witwicky. Essa lasquinha de premissa era o máximo de complexidade que o universo dos personagens alcançava em seu primeiro momento. Para o filme, era a matéria-prima a ser trabalhada. Claro, depois houve até um desenvolvimento interessante, mais violento e grandiloqüente, ambientado num "futuro" (2005!) cujo clímax gerou um longa-metragem em 1986, excepcionalmente à frente dos padrões da época.


O velho Spike ganhou outra personalidade e outro nome. Agora ele é Sam (o ótimo Shia LaBeouf), e seu pai agora é apenas um coroa gente-boa e tapado (Kevin Dunn). Sam é tratado como um nerd em negação, tentando em vão driblar os valentões da escola pra chegar junto da estonteante Mikaela (Megan Fox) - justiça seja feita, o rapaz tem pressa nessa mudança de status e faz tudo isso da maneira mais corajosa, sarcástica e auto-confiante possível. A menina só não reconhece isso porque deve ser tão burra quanto bonita. Não demora muito e logo Sam e Mikaela se vêem às voltas com robozões de dez metros brigando por aí. A começar por Bumblebee, o simpático Fusquinha do desenho original, agora um Camaro.

Também temos um pequeno contingente militar no epicentro da ação. Liderados pelo Capitão Lennox (Josh Duhamel), alguns sobreviventes de uma base destroçada pelo Decepticon Blackout (um robocóptero) também passam o diabo ao serem atacados por Scorponok, outro Decepticon. E como não poderia deixar de ser em tempos de 24 Horas, temos o Secretário de Defesa norte-americano (Jon Voight) participando ativamente da aventura. Já o habitat preferencial do grande John Turturro é qualquer produção dos irmãos Coen, mas aqui ele faz um divertido MIB cuja organização mantém Megatron (vocais perfeitos de Hugo Weaving) congelado em segredo há anos.

Pelo roteiro, dá pra perceber que os três escritores contratados são broderzões de Michael Bay. Não só preservaram todas as características usuais dos combos cinematográficos do diretor, como chegaram ao ponto de citar até Armageddon numa das inúmeras piadinhas rasteiras do filme. Também se mostraram atualizadinhos com a cultura e-trash - o que tem de closes numa página do e-Bay e neguinho filmando pelo celular não é brincadeira. E não dá nem pra citar furos do roteiro aqui. Se isso já é carne-de-vaca em qualquer produção do gênero, em filme do Michael Bay é quase um regulamento estatutário. São muitos, de todos os tipos e tamanhos. Existem flutuações também. Vários personagens (como a gatíssima "nerd" Maggie) e situações (os robôs criados pelo Cubo AllSpark) são atirados ao limbo assim que deixam de importar para a narrativa. Mas admito que tenho esses vacilos como uma atração à parte. Isso que dá assistir filme B direto. A gente acaba ficando paternalista.

Só pra comentar sobre um errinho específico, em certo momento, Sam pergunta a Optimus Prime como eles aprenderam falar inglês e o bom Autobot responde dizendo "World Wide Web". Beleza, até aí tudo bem. Mas quando Megatron (que esteve preso no gelo por milhares de anos e vem sendo mantido congelado pelo governo há décadas) consegue se libertar, a primeira coisa que ele fala é "I am Megatron" e já sai praticamente cantando o hino americano por aí. Ou seja, até tentaram justificar o aprendizado do idioma, mas não se furtaram em desrespeitar as próprias soluções criativas. Deus, como eu adoro blockbusters.


A visão de Michael Bay é lisergia pura. Tem sua própria constituição de tempo e espaço. É algo viciante essa montagem de videoclip com cinema 180º - "viciante" no sentido de bad trip. Chega a dar um nó na cachola a distorção temporal que ele imprime na maioria das cenas. Tudo acontece rápido demais e em slow motion. É a mesma física usada em pesadelos. A edição estilhaçada faz com que os personagens cruzem os extremos do planeta no tempo de um comentário em off. Vou tentar descrever o momento em que o Secretário de Defesa vê um pelotão emboscado no deserto e manda o tradicional "tirem nossos rapazes de lá" - no "tirem...", uma cena mostra um porta-aviões e um grupo de pilotos correndo em direção aos caças; no "...nossos rapazes", os caças estão em pleno vôo; no "...de lá", os caças (mais um AWAC e um bombardeio) já estão no meio do deserto detonando o inimigo.

Assistir uma cena ou duas até que não traz danos significativos, mas duas horas e vinte minutos disso aí é pra fazer qualquer um sair andando do cinema com a sensação de gravidade zero. Estrago sensorial.

Do lado dos Decepticons foram escalados Starscream, Frenzy, Barricade (uma puta carreta de polícia com a inscrição "para punir e escravizar") e Bonecrusher, fora os já citados Megatron, Scorponok e Blackout. Dos Autobots, além de Optimus Prime e Bumblebee, comparecem Ironhide, Ratchet e Jazz. Todos os Transformers (graficamente irrepreensíveis) se provaram bem selecionados, mesmo que não faça muita diferença as peculiaridades de cada um em relação ao nível de destruição que eles causam - e a despeito de todas as possibilidades dos robôs terem sido exploradas ao máximo durante as lutas. A vantagem para os Decepticons é evidente, principalmente na superioridade de Megatron frente a Optimus. O que me surpreendeu e foi um tanto frustrante, visto que pouco antes o líder dos Autobots havia detonado um enorme Decepticon no braço, com a mesma habilidade de um Jason Bourne.

Já houveram grandes momentos no cinema com uma guerra acontecendo num centro urbano, mas nunca deste jeito. A batalha final é um exercício catártico e caótico, do jeito como só Michael Bay seria capaz. Porque ele não tem filtro. Em seu universo particular, não existe preocupação com enredo, diálogos e atuação. O limite de Bay é o limite do nonsense e não dá pra rivalizar com isso. O resultado é que, óbvia e inegavelmente, com todos os seus erros e até por causa deles, Transformers é o melhor blockbuster do ano.
Finalmente encontrei o substituto de Tropas Estelares pra quando eu quiser impressionar as visitas.


Na trilha: Money, Pink Floyd.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O FIM ESTÁ PRÓXIMO


...e o Ministry começa a desligar seus motores secundários, após 26 anos de funcionamento nonstop. Vazou ontem na rede The Last Sucker, último álbum de estúdio da banda (finalizando assim a trilogia/atentado à administração W. Bush iniciada em 2004 com House Of The Molé e seguida por Rio Grande Blood, de 2006).

O canto do cisne foi anunciado em maio do ano passado pelo alter-ego do grupo e anti-republicano de carteirinha, Al Jourgensen. Entre os motivos para o término das atividades, ele destacou a manutenção de seu novo selo, 13th Planet Records, a produção de bandas e, principalmente, evitar que o Ministry se torne uma caricatura ("and doing crappy Aerosmith and Rolling Stones albums 30 years later").

Geralmente, grupos com fim de atividade programado agendam a longo prazo certos packages estratégicos. O esquema continua o mesmo. Senão, vejamos: Rantology (2005) é a coletânea (ainda que subverta o formato) e Rio Grande Dub (2007) é o disco de remixes. Agora só falta o Live. O fato é que de Ministry mesmo só tem mais esse resto de ano. Concluindo a atual "MastubaTour", eles fecham o boteco ao vivo com a "SeeYouLaTour". Em 18 de setembro, eles lançam The Last Sucker. Depois disso já era.

O fim da banda deixa o mundo mais babaca, mal-humorado e politicamente correto. Com a saída do baixista e ex-parceiraço Paul Barker em 2003 (o único colaborador fixo), o Ministry termina sua existência da mesma forma como começou - pelas mãos de Al Jourgensen, como uma one-man-band. Triste ainda é constatar que a trilha dessa despedida é simplesmente um dos álbuns mais destruidores do ano. Jourgensen preparou um track-list violento, direto e, de certa forma, menos dispersivo e mais "musical" que os últimos discos. Ao todo são onze lajotadas na testa.


A faixa de abertura Let's Go, é thrash dos bons e chega derretendo os auto-falantes com um riff serra-elétrica e um solo psicótico de Mike Scaccia (ex-Rigor Mortis). Watch Yourself é um speed metalzão mixado com EBM old school. Lembra algo do The Land Of Rape And Honey, de 1988, produzido com tecnologia atual. A ritmada Life Is Good, é o Service Pack 2 do Sepultura fase Chaos AD. The Dick Song é escandalosamente pesada. Poderia facilmente constar no repertório do sujão 1,000 Homo DJ's, uma das filiais do Al. A faixa-título resgata a essência pós-punk na qual o grupo foi tão influente. No Glory e Death & Destruction são literalmente morte e destruição sem glória, com samplers de W. Bush ordenando a implosão do planeta. Roadhouse Blues é um inesperado cover do clássico do The Doors. Thrash industrial com harmônica. Caraaaaalho. Acrescentaram 850 toneladas de peso na música e juro que o blue ainda continua lá, intacto. Die In A Crash é um electro-punk embebido em new wave, coisa realmente alienígena no som da banda, mas executada em altíssima voltagem.

End Of Days partes I e II têm participação de Burton C. Bell, frontman do Fear Factory, e fecham o álbum em tom inequívoco de "tá chegando a hora". Especialmente a parte II, com riff melódico inspirado, coralzinho de crianças ao fundo e a sonzeira se esvaindo até a última pancada do drum machine. Isso aqui vai deixar saudade.

Rest in peace, Ministry.


...mas tenho lá as minhas reservas. Al Jourgensen é malandro pra caramba.


A propósito, pra efeito de comparação: Cold Life, o primeiro single do Ministry, de 81, e Let's Go, do disco novo.

It's evolution, baby.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

PIXEL NA COVA DOS LEÕES


Quem dera que Alan Moore fosse brasileiro e escrevesse textos sobre quadrinhos pra Folha ou pr'O Globo. Além de ser um pensador à altura, ele não tem papas na língua (ou no teclado) e com certeza não deixaria de analisar o renascimento comercial do selo Vertigo no Brasil.

Vamos fazer assim: a Pixel Media foi um assombro pela velocidade com que se fez acontecer e pelo tratamento desse material tão esculhambado por aqui - administrado através dos anos por pára-quedistas sem senso de cronologia e com preços ionosféricos. Ainda não dá pra afirmar que a Pixel é a Joana D'Arc do vertigueiro brazuca, mas o mix acachapante da sua publicação principal - aliado ao precinho supreendentemente justo - já é um milagre que a editora operou.

Baixando um pouco a embriaguez orgástica que a Pixel anda me proporcionando, é certo que alguns poucos vacilos têm de ser limados em nome da sincronia. Errinhos de digitação e uma tradução literal que deixa os textos meio truncados são pequenos detalhes a serem lapidados com o passar das edições, espero. Também não sei até onde é produtivo "tentar consertar" as besteiras que fizeram com a cronologia da Vertigo nos últimos anos. Os resuminhos são uma mão na roda e bem escritos, mas ainda não consigo visualizar onde querem chegar, p.ex, com Planetary começando no #13.

Outro fator que considero como médio grau de risco é a presença de André Forastieri, comparecendo como diretor editorial nos créditos (e voltando à velha forma com o belo texto comparando a Vertigo ao movimento punk na edição de estréia). Ora, o velho Forasta foi a alma, o sangue e o múque da Bizz no final dos anos 80/início dos 90. De fato, foi a melhor coisa daquela safra, mesmo quando não se concordava com ele. Depois disso, teve uma rápida passagem pela General (a revista mais legal das que não deram certo) e foi um dos responsáveis diretos pela Conrad, uma das maiores salgadeiras do mercado de HQs. É disto que tenho medo e que ameaça a quase putesca farra mensal dos 9,90 (já aprovados no meu disputado orçamento). Temo que num belo dia a Pixel Magazine apareça com capa dura na banquinha do Seu Zé.

Ao que expus as minhas fobias com cara de Morte a R$ 60 para o Fivo (que está vivo e rende trocas de e-mails que um dia hei de publicar aqui), o cabra me disse pra ter fé porque ele pode ter encontrado um bom formato de business agora. Deus te ouça, meu filho.

Pixel Magazine é mulher gostosa. E nesta terceira edição ela continua rebolando irresistível. Tem Fábulas, a maravilhosa cria de Bill Willingham, mostrando o background do Garoto Azul na história/conto O Último Castelo. Referências visuais ao Senhor dos Anéis e uma Branca de Neve à Brandy (de Liberty Meadows), usados com timing e criatividade, deixam a paisagem ainda mais instigante. Também temos mais um balaço de John Constantine, desta vez extraído de Hellblazer #142. História tão curta quanto visceral, um absurdo de vigor narrativo.

Depois de um copinho de whisky pra relaxar, vem Planetary com a missão de dar um olé nos neurônios do leitor. Retirada da edição #15 original, a história Canções da Criação é Alice no País do Espelho encontra Asdrúbal Trouxe o Trombone. Entendeu? Nem eu. A arte sempre agradável de John Cassaday é o fundo falso ideal para um Warren Ellis abarrotado de cafeína e guaraná em pó. A sensação é a mesma de acordar domingo de manhã no meio da invasão à Normandia, mas quer saber? É genial. Você tenta se encontrar na bagaça e quando acha que vai conseguir, Ellis, com um bom filho da puta, mete as travas da chuteira na cara da linearidade. Troço tão sinistro que rendeu até um texto de apoio moral.

Por fim, The Cobweb, trip psicodélica concebida pelo casal Alan Moore & Melinda Gebbie após várias pitadas de nargilé e cházinho de Santo Daime, desta vez até mais comportada.

Tudo nos conformes, agora só quero saber quando vem a próxima dose de Freqüência Global.


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Estava mesmo interessado em que pé andava o bom e véio Swamp Thing. Segundo o editorial, conferido dinamicamente antes da negociação, a abordagem pretende seguir o padrão de horror instituído na fase clássica de Alan Moore (ele já foi citado por aqui hoje?). Amor em Vão é uma mini em duas partes escrita por Joshua Dysart e rabiscada por Enrique Breccia, e até consegue reeditar em parte o climão sorumbático daquela época.

Em parte, porque o que Moore fez lá foi poesia dark, cordel de encruzilhada da Louisiana. Não dá pra superar. No entanto, Dysart (bróderzão de Mike Mignola, com quem anda colaborando em uma série de projetos) é dedicado e mergulha fundo na podridão que é o universo do Monstrão Pantanoso, resgatando até um inimigo velhusco do herói. O que não deixa de surpreender, vindo do mesmo cara que criou Faça 5 Pedidos, aquele mini-mangá da Avril Lavigne.

A arte de Breccia lembra um Sam Kieth menos farsesco, mas ainda assim despirocado. Desenhar demônios e deformações diversas é com ele mesmo. Seu Monstro do Pântano pouco lembra algo vagamente humano. A interação com as idéias doentias de Dysart resulta numa química insana, especialmente nas cenas mais escatológicas.

E o momento romântico da revista é Fome Animal puro. Yeah!


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Como bom admirador do Doutor Alec Holland, sempre tive curiosidade acerca do material mais antigo do personagem, ainda sob a batuta dos criadores Len Wein e Bernie Wrightson. Falta corrigida agora, com a revista Estréia apresenta O Monstro do Pântano #9, lançada em maio de 1980 pela Editora Brasil-América, a famosa EBAL.

Muito antes da reinvenção definitiva do personagem nos anos 80, o leque de possibilidades temáticas era tão abrangente e nonsense quanto todo o resto da DC durante a Era da Prata, mas o tom notadamente mais sisudo antecipava o que estava por vir.

Na tentativa de reverter sua condição grotesca (sendo que hoje ele é praticamente um Shrek de tão desencanado), o Monstro do Pântano se depara com um alienígena e sua nave avariada. Obviamente rola aquela treta entre as criaturas e as coisas se complicam quando uma operação militar chega ao local para investigar o OVNI - vale destacar uma nota engraçadinha dos editores nesta parte. O nome da história é pra lá de sintomático: O Visitante do Espaço.

Monstro do Pântano da 1ª fase é Roger Corman em quadrinhos.

Esta edição também trouxe, há muito, muito tempo atrás, a segunda parte da origem do herói Nuclear, na época batizado Labareda (e "Tempestade" na dublagem nacional do desenho Superamigos). A história chama-se Abram Alas para um Novo Herói! Parte II e foi republicada tempos depois pela Abril. É uma brasa, mora!


(links down)

Estréia apresenta O Monstro do Pântano #9
Mirror



Na trilha: alguma do Notorious B.I.G. No Dia Mundial do Rock.

terça-feira, 10 de julho de 2007

E O SURFISTA PRATEADO


Pois é. Quando o Moriarty, do AICN, afirmou que Tom Rothman (CEO da Fox Filmed Entertainment) já foi molestado por um gigante, ele não estava brincando. Só pode ser trauma. Depois do Sentinela quântico de X3, agora foi a vez do Galactus ser depenado em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (Fantastic Four: The Rise of the Silver Surfer, EUA, 2007).

Pelo bafafá que antecedeu a estréia, eu já vinha tentando me acostumar com um The Fog versão interplanetária, mas o que vi lá foi algo bem pior. De El Niño emaconhado, o personagem acabou revelando sua verdadeira face: um Tocha Humana com um balde na cabeça. Essa foi a reluzente e ofuscante solução da equipe criativa (bando de aspones filhos da puta). Parabéns aos roteiristas Mark Frost, John Turman e Don Payne, parabéns ao diretor Tim Story e, mais que todo mundo, congratulações medalhísticas ao Tom Rothman pela afirmação de que em filme seu "jamais haverá um robô gigante". Bem, oremos a Cybertron em agradecimento, já que Transformers caiu nas graças da DreamWorks. Urra.

Se bem me lembro, comentei da outra vez que o primeiro Quarteto Fantástico era puro exercício de escapismo e sorvetada na testa. Que Chris Tochevans consegue fazer em um diálogo o que Ryan Reynolds não conseguiu na filmografia inteira. Que Michael Coisa Chiklis, da incrivelmente fudenciante série The Shield, é a única razão daquele amontoado de pedra laranja funcionar em cena. Que Jessica Sue Alba não precisa atuar se estiver de colante (famoso método Elisha Cuthbert de interpretação). E imagino que até elogiei a disposição cênica do Senhor Ioantástico Gruffudd e sua semelhança física com o personagem, mas que ele (ou o script) não encontrou a essência original - no máximo, passa de raspão antes da próxima torta na cara.

O fato óbvio e ululante é que todos estes elementos tiveram seu replay aqui, o que remete à velha máxima da piada contada pela segunda vez. Rola até uma seqüência de dança elástica, recurso malandramente surrupiado da franquia do Aranha e que já demonstrava sinais de cansaço lá. Mais pastel impossível. Correndo por fora, as curvas da Alba - que já foram mais generosas - até conseguem ganhar terreno numa cena de nu-flamejante, mas a caracterização da pinup que um dia foi a Nancy Callahan estava bizarra (o que uma peruca e um par de lentes não conseguem estragar).

Sei que é inútil perguntar porque não usaram a versão Ultimate do Quarteto (adaptação pronta, bacana e pop) como base para os filmes. No entanto, pelo menos a Alba poderia ter sido laureada ali - o próprio desenhista Greg Land não se furta em usar fotos da atriz para compor sua versão teensuda da Sue Storm.

Às vezes bate uma vontade meio kamikaze de defender a participação de Julian Von McDoom, em nome da diversão canalha que ele proporciona via Nip/Tuck, mas tenho por mim que o estereótipo que o sujeito montou é tiração de sarro da grossa e não vou ser eu a estragar a piada. Deixa o homem trabalhar.

Se contextualmente QF e o SP é um vazio crônico anunciado (ninguém esperava um tratado metafísico como seqüência do primeiro filme), o mesmo não se pode dizer do acabamento. Mandaram bem nos efeitos aqui. Fantásticos, realmente. Quem achou que o Surfista Doug Jones Prateado ia ser um arremedo de T-1000 quebrou a prancha. Demonstraram a proporção exata da evolução da mesma técnica, absurda, 16 anos depois. Vê-lo detonando um pequeno exército com apenas um gesto é a transcrição exata dos quadrinhos. E duas intervenções... hm, "alienígenas" na mitologia do herói funcionam como gols de empate. Uma foi estabelecer que seus poderes vêm da prancha. Péssima. Outra foi conferir uma aparência estéril e obscurecida quando ele perde seus poderes (releitura esperta de um arco clássico do Quarteto), excelente sacada em cima de um ponto de partida equivocado. Lamento, mas é assim mesmo. Se nem Einstein conseguiu entender o caos...

Fã de Jack Kirby que sou, confesso: todas as cenas em que o Surfista aparece provocam um efeito de satisfação hiper-realista. Até para os que nutrem uma mera fantasia intimista recorrente. Se existe um herói que rescende tal empatia é o Surfer. Sua imagem é metáfora pura. Rasteira, mas pura. Nem precisa ler as revistas. Qualquer um gostaria de subir numa prancha e voar à velocidade da luz para o outro lado do universo, largando pra trás tudo o que não deu certo, toda essa gente chata e mesquinha, etc.

Queria comentar isto desde a primeira vez que vi A Força de um Amor (remake livre de Acossado, de Jean-Luc Godard). Foi Richard Gere quem me atentou para o fato de que até o Surfista, uma entidade impessoal e amoral, podia ser complexamente humano e altruísta, ainda que estas duas coisas soem paradoxais. Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado não vale nada, mas só por me fornecer um pretexto para esta lembrança já se justifica. Mais uma vez fizeram certo do jeito errado.


"I have seen the birth of planets and the death of worlds. I have seen galaxies crumble and new suns aborning. But in every star, in every sun, I see her face..."