Em 2008, os vampiros voltaram com tudo aos meios pop. É bem verdade que o filão dos sanguessugas esteve mais evidência devido ao hit Crepúsculo, mela-cueca teen com gosto de isopor e sem sangue nas veias, com o perdão do trocadilho. Mas quem soube procurar, viu que o fino mesmo foram o sueco Deixe Ela Entrar, um dos meus favoritos do ano passado, e a espirituosa série da HBO, True Blood.
True Blood é baseado na série de livros Sookie Stackhouse, que eu nunca li, e adaptado por Alan Ball, que eu já assisti. Ball é criador da fabulosa e "peculiar" série A Sete Palmos. Por essa prévia experiência, absolutamente anti-ortodoxa para os padrões televisivos, a proposta de uma série vampírica avançou imediatamente centenas de clics no terreno do insólito. Mas até o terceiro ou quarto episódio eu ignorava tudo isso e já tinha até esquecido a série na gaveta do Buffy & quetais. Erro fatal.
Quem me deu o chutão necessário foi o zombie renegado Fivo, que resumiu a premissa espetacularmente aos moldes botequísticos, como convém. Segue abaixo a pérola descritiva, com links que adicionei por pura diversão irracional.
"É uma cidadezinha do interior da Louisiana, com todo o sotaque carregado que vem junto. A Vampira (engraçado como o nome Rogue em português ficou Vampira e a atriz que fez a personagem foi cair logo num filme desses) é uma garota comum que tem o dom de ler mentes e é virgem, pois nunca conseguiu se relacionar com ninguém justamente pq lê suas mentes. Anos antes uma empresa japonesa desenvolveu um sangue sintético que substituiria o sangue humano, então os vampiros saíram do armário, deram as caras, tentam viver em harmonia com os humanos e criou-se um clima de X-Men quanto à intolerância, só que naquele microcosmo.
Bem... a menina trabalha num daqueles bares de estrada e tem que se esforçar para não ler as mentes alheias. Um dia um vampiro chega no bar e os dois passam a ter uma fúria foguenta mútua e enrustida sinistra. Em paralelo, uma mulher que costumava trepar com vampiros morre e o irmão da Vampira, vampirófobo, é suspeito. Depois uma filmagem local o inocenta, mas a outra mulézinha que ele pega tb é dada a trepar com vamps, pois dizem que eles têm uma libido absurda. Aliás, tem um mercado negro de sangue vampiro que faz a pessoa ficar com a mesma libido.
Alguns vampiros meio pervertidos se metem a fazer merda pela cidade.
Enfim... todas as regras de vampiros estão lá... estaca, sol, convidar para entrar, hipnose etc. Só não viram morcego. A Vampira está benzaça, com um ar inocente e ao mesmo tempo safada, como uma pinup mangá. O cara que faz um negão viado e a prima dele, que fala com o sotaque escroto, estão ótimos tb.(...)"
Isso aí.
Destacando sem patinar em spoilers: os cliffhangers são cruéis com o espectador e faziam a espera semanal se transformar em tortura chinesa; o clima de devassidão e putaria é constante, crescente e intumescido - a ex-Vampira Paquim, por exemplo, protagoniza uma cena de arrancar palmas conjuntas de Manara e Serpieri; a (r)evolução da personagem Tara, que passa de irritante à apaixonante, numa soberba perícia da atriz Rutina Wesley, fantástica; Lafayette (o negão viado), interpretado por Nelsan Ellis, um tremendo ladrão de cenas; tudo o que remete à segunda temporada é muito promissor, da misteriosa Maryann (Michelle Forbes) ao sugestivo culto do reverendo Steve Newlin (Michael McMillian); e por fim, a trilha.
A excelente abertura já mostra o alto nível da seleção com a sensacional "Bad Things", de Jace Everett. No decorrer da série, se ouve de AC/DC e Reverend Horton Heat até Wilco e Black Rebel Motorcycle Club. Cada episódio tem o nome de uma das canções de sua trilha e as faixas reservadas aos créditos finais são um show à parte, com temáticas relacionadas à cena derradeira. Nesse ponto, o "campeão das chamadas" é o personagem Sam, que motiva as trilhas de fechamento do quarto e nono episódios, com "That Smell", do Lynyrd Skynyrd, e "Walking the Dog", de Rufus Thomas, docemente sarcásticas nas respectivas situações.
Daí que fiz uma compilação das doze trilhas finais, com direito à capa surrupiada da (boa) hq. Muito country, southern, blues, bluegrass e rock'n'roll estradeiro pra ouvir matando uma garrafa de whisky. A única baixa é o melancólico instrumental do quinto episódio, de Nathan Barr (compositor oficial da série), que voou abaixo do radar do Google e foi prontamente substituído por outro som do mesmo capítulo.
Anexo não tão off-topic
Capa do novo Heaven & Hell:
Algo entre Labirinto do Fauno e os primeiros discos do Dio. Tranquilamente uma das capas mais profanas, agressivas e instigantes em muito, muito tempo.
Achei do caralho! Os velhinhos se reinventaram, mais uma vez.