sábado, 21 de abril de 2012

Migué Open Air


A essa altura há pouco o que ser dito sobre o malfadado Metal Open Air 2012, que está acontecendo (ou melhor, não está) este fim de semana em São Luís, Maranhão. Mesmo assim vou dar meus 50 centavos, por dois motivos: ouço rock todo santo dia, desde que me conheço por gente - heavy metal é o meu pastor e barulho não me faltará; ainda tenho a capacidade de me indignar. Sou um romântico incurável, infelizmente.

Projetado com ares de mega-festival, o evento teve uma line-up pesada poucas vezes vista em terra brazilis: ao lado de formações expressivas que iam de Fear Factory e Saxon até Blind Guardian e Venom, estavam também atrações de peso - Megadeth, que conseguiu tocar ontem, e Anthrax - e, claro, uma esmagadora maioria formada por bandas nacionais, como Hangar, Korzus, Andre Matos, Torture Squad, Stress e Ratos de Porão. Tudo parecia correr normalmente até a última semana, quando a coisa toda desandou de uma hora pra outra, como num passe de mágica - de magia negra, pra ser mais exato.

Notícias - uma chuva torrencial delas - davam conta de quebras de contrato dos produtores, especificamente em relação aos grupos nacionais (falta de cachê, transporte, etc), o que motivou uma série infinda de cancelamentos. Acompanhar os grupos dando baixa a cada meia hora foi tragicômico, admito. Mas além disso, ainda havia a situação precária do local dos shows, incluindo área de camping estabelecida num estábulo, 1 banheiro, stands de alimentação em péssimas condições, problemas com a firma contratada para dar segurança, com a liberação dos Bombeiros, com os patrocinadores e, o mais surreal, com a falta de equipamentos de som até o início do festival. Os detalhes são fartos e chocantes (e pode ser acompanhado no Whiplash), mas não mais do que decepcionantes.

Ao que parece, houve um racha entre as produtoras "responsáveis" pelo evento, a Negri Concerts, a CK Concerts e a Lamparina Produções. As poucas declarações oficiais refletem um cenário ainda mais caótico.

Apesar de tudo, neste momento o festival ainda acontece, apesar da quase ausência de seguranças, do desmonte de um dos palcos e da desistência de 30 das 47 bandas originalmente programadas (Anthrax incluso, com os membros do grupo abandonados no aeroporto). O evento, que vem sendo chamado de fiasco e que havia ganho repercussão nacional de ontem pra hoje, está ganhando contornos internacionais com os depoimentos em uníssono dos artistas estrangeiros que foram prejudicados.

É horrível? Ô. É muita merda (de cavalo) no ventilador em tão pouco tempo. O MOA não era só uma promessa de shows antológicos, mas também de um fluxo alternativo digno para o rock. Talvez o início de uma descentralização do eixo Rio-São Paulo. O que se viu (e se vê) foi justamente o oposto. Só não acho que nem o metal nem o Brasil inteiro entrarão pra história como os grandes prejudicados. O metal vai tirar isso de letra, assim como já tirou coisas muito piores. O Brasil também vai superar, apesar da mancha emporcalhada que ficou. Rio e São Paulo (e Porto Alegre e Belo Horizonte) continuarão recebendo sua cota de shows internacionais, conforme os cachês e os traslados estejam OK. Mas não duvido que novas garantias contratuais se tornem parte do menu daqui por diante.

O grande prejudicado - além, claro, dos abnegados que se deslocaram de outras partes do país até o Maranhão em busca de uma grande aventura rock'n'roll (ao invés de um programa de índio) - é mesmo o público rockeiro cujo CEP não é do Rio, nem de Sampa. Maranhenses, anotem o ano de 2012. Salvo um improvável esforço heróico de algum maluco sortudo e competente, levará anos até vocês se recuperarem desse baque e as guitarras voltarem a ressoar em alto e bom som novamente por aí.

E afirmo isso por experiência própria, de uma terra tornada maldita para grandes eventos de rock and roll, há quase dez anos atrás.




Atualização 22/04:

E o Metal Open Air está oficialmente cancelado. Finalmente o pesadelo acabou. Que os esfíncteres dos produtores sejam duramente castigados.

3 comentários:

Raid disse...

O festival tinha 3 dias, e cancelaram no terceiro. Cheiro de esterco, furtos e assaltos rolando a torto. E os produtores vão querer culpar "recuo de apoiadores".

Impressionante o que rolou nesse festival. Shows devem continuar pelo Nordeste, acabei de ler o Saxon dizendo que ano que vem vai tentar passar por lá.

Mas festival mesmo, acho que demora.

Do Vale. disse...

Cara, fracasso total... As produtoras jogam a culpa uma na outra e nada se resolve.
Na sexta, de quando o Exciter entrou até o Megadeth fechar o 1º dia, ainda tinha esperança de que ia rolar, mesmo com tantos cancelamentos. No sábado, só 4 bandas se apresentaram.
Me ponho no lugar de quem veio de outros Estados e nem sei o que pensar.
(Tu veio?)

doggma disse...

Graças a Lemmy, não. E pelo que li por aí, a galera que deu um show de civilidade lá, apesar da situação crítica.

O Korzus, em particular, fez muito bem. Apelou um pouco na parte do hino (hehe), mas fez muito bem. Apelou para os sentimentos corretos, caso contrário a coisa poderia ter ficado MUITO feia.

Detalhe que a tal Negri Concerts está fazendo a troca da pulseira do MOA/Senhor do Bonfim por passe livre no Bard's Night, com Blind Guardian e tal. Espero que nego não caia na lábia e troque essa prova que deve ser inclusa no processo indenizatório.