Nunca pensei que um dia o canastrão Kiefer
Sutherland fosse me arrancar lágrimas. Ainda mais em companhia de uma (ex-) ilustre desconhecida, de nome Mary Lynn Rajskub. Mais do que a aguardada conclusão de 24 Horas, a dramática cena em os personagens Jack Bauer e
Chloe O'Brian se despedem através da câmera de um drone foi uma perfeita metáfora à química dos dois atores ao longo da série. Nas palavras do
próprio Bauer, nem ele mesmo esperava que Chloe fosse
durar tanto e muito menos que criassem um elo tão forte ao ponto de se tornarem essenciais um pro outro.
Posso estar enganado, mas o que senti ali foi emoção genuína nos dois lados do
monitor: era Kiefer conversando com Mary Lynn, prestando o devido respeito e
admiração. E agradecendo por tudo o que passaram juntos.
O mesmo era facilmente aplicável ao ponto de vista do
telespectador. Logo que apareceu, achava que aquela geek retraída e obsessiva-compulsiva seria mais uma estatística na extensa lista negra da série tão logo surgisse a primeira encrenca. "Melhores já caíram", pensava eu. O que eu não esperava é que ela se tornaria melhor ainda.
O final da série, qualquer que fosse, tinha que ser com eles. Não podia ter sido melhor.
E a vida continua.
Nesses quatro anos, tive que aprender a conviver sem minhas 24 overdoses de café com adrenalina. A abstinência foi tensa. E dá-lhe Homeland aqui, Rubicon acolá e, saindo da seara EUA/terroristas, The Wire, Game of Thrones, The Walking Dead e alguns outros. Todos grandes paliativos, mas, ainda assim, paliativos. Não digo que 24 era melhor nem pior. Era, simplesmente, única. Como o tempo exerce um estranho efeito cicatrizador, acabei me esquecendo um pouco sobre o que sentia tanta falta.
Mas isso até eu ouvir mais uma vez o famoso reloginho em 24: Live Another Day. A sensação, não podia ser diferente, foi de arrepiar. Fora a certeza de que delivery igual ao dessa série, não existe. O formato é de uma Scania perdendo freio na ladeira: clímax do início ao fim, não existe construção; é puro e desembestado payoff em 24 capítulos - ou, no caso desta nova incursão, em 12, apenas.
É pouco, mas generoso se comparado ao eletrizante (e infelizmente
muito atual) longa
Redemption, de 2008. Quantas séries já puderam se dar ao luxo render tantos projetos alternativos? E mantendo o mesmo grau de relevância de quando estreou, há 13 anos?
O que, convenhamos, nem é tão difícil se considerar que a matéria-prima da série é a escrotidão da raça humana em variados aspectos... sendo, portanto,
infinita.
Bauer: o que for necessário.
24: Live Another Day tem esse título à 007 não é à toa: a trama se passa em Londres, quatro anos após a última temporada. Jack, adivinha, corre contra o tempo (e contra tudo e todos) para impedir um atentado ao presidente dos Estados Unidos - mr. James Heller, por sinal - que lá está para fechar um acordo decisivo com o governo inglês. Nesses três episódios até aqui parece que a série nunca acabou, a fórmula continua impecável. E pelo jeito, também não perderam a mão quando a questão é a crueldade com seus personagens. Basta ver o que aconteceu com Chloe nessa entressafra.
Algumas referências mais recentes dão as caras, como analogias descaradas ao Anonymous, Julian Assange e a proliferação dos drones norte-americanos ao redor do planeta. A bela Yvonne Strahovski (Chuck e Dexter) vem compondo uma promissora contraparte ao Jack, bem como a excelente Michelle Fairley (mais conhecida como
Catelyn Stark), assustadora, talvez querendo vingança por traições de vidas passadas em tempos imemoriais...
Do lado novelão, claro que o prato principal será o inevitável reencontro entre Bauer e Audrey (Kim Raver) e, naturalmente seu pai, o então presidente. Não há cola no mundo que possa juntar esses cacos. Mal posso esperar.