sábado, 23 de julho de 2016

O Espectro que não estava lá


Nem Batman v Superman em versão esticada, nem Rogue One com sombra e baforada do Vader, nem a postura sóbria de George Takei ante a desastrada homenagem no novo Sulu. A manchete que mais me chamou atenção nas últimas semanas - pelos motivos errados - foi repercutida discretamente: o personal cult Nicolas Winding Refn soltando em entrevista que havia recusado a direção de Spectre.

Nada demais, certo? Não para este vos escreve. A notícia bateu numa trauletada só.

"Refn dirigindo um filme do Espectro! Mas que ideia filhadaputamente do caralho!", refleti em meio a cotoveladas num busão lotado. E expandi: "quando eu pensava que a Warner não teria o menor espasmo de (boa) ousadia e inventividade em suas adaptações dos Arquivos DC, olha só que eles me aprontam!". E tome mais cotovelada.

Sei, sei. Não foi dos meus melhores momentos. Estava embriagado com a avassaladora 1ª impressão de uma mente há muito deteriorada pela cultura pop. Mais tarde, a autotrollada se desfez quando finalmente vi que o cineasta se referia a Spectre-o-último-filme-do-007. Meh.

Vão-se os enganos, ficam as divagações. Seria a melhor chance de subversão pop do estúdio em muito tempo. Jim Corrigan, o Espectro, é personagem da série C e dos bons. Tem a classe de seus chapas do country club místico, mas com uma frieza e crueldade que arrancaria do Frank Castle um sorriso à Buddy Revell.

Com baixos números envolvidos e o céu sendo o limite, tudo estaria favorável para uma abordagem mais experimental, mais transgressora, mais culhuda. Mais Refnada. Que, nunca custa lembrar, é o cão dinamarquês que criou a grotesqueria sanguinolenta do lindo Valhalla Rising.

Melhor ainda com sua filmografia recente, estilosa e aveludada, flertando com texturas do gênero terror, e, inerente ao meu caso ilusório em questão, com a décadence avec élégance dos thrillers criminais oitentistas.

E o que isso tem a ver? Ora, tem a ver com o fabuloso curta DC Showcase: The Spectre, de 2010. É Winding puro.


Refn não dirigiu Spectre, mas bem que podia dirigir um The Spectre. O cara tá facim, facim. Outro dia mesmo comentou que faria um filme da Batgirl.

Warner, atire logo o dinheiro aos pés do homem. Preciso urgente ver algo fora da caixinha.

7 comentários:

Dan Bickle disse...

Quem sabe agora com o Doutor Estranho do Scott Derrikson causando furor em San Diego,a Warner/Dc não tentem algo do tipo?
Por falar em Refn se não me engano anos atras na época de Drive ele mostrou interesse pela Mulher Maravilha também...
Sem duvida o cara parece querer trabalhar com os personagens da Dc.

doggma disse...

Fala, Bickle!

Com certeza ele iria subverter a coisa a tal ponto de hermetismo e exercício de estilo que os fanboys iriam surtar. Por isso a opção do Espectro cairia como uma luva. Existe (ou já existiu) fanboy do Espectro?

Sandro Cavallote disse...

Me lembrou que tenho que caçar The Neon Demon.

E eu concordo com o camarada aí de cima. O filme do Estranho vai abrir a porteira da esquisitice quadrinística e Hollywood vai mamar nessa teta até não poder mais.

Sabe o que cairia bem com o Refn? Deadman.

Marcelo Andrade disse...

Deadman, Spectre e quem sabe o Etrigan.....um bom roteiro e uma boa vontade nos daria muitas alegrias...

doggma disse...

Desafiador realmente seria tão promissor quanto. Pelo Refn ou então pelo Darren Aronofsky - ou talvez esse ficasse melhor ainda dirigindo um thriller psicólogico do Questão...

Marcelo, Etrigan seria um terreno perfeito pro del Toro de tempos atrás.

Mas que (os Novos) Deus(es) queira(m) que as porteiras da bizarrice sejam escancaradas. Torço por um pouco de vanguarda nesse filão!

Luwig Sá disse...

Ironicamente, a Warner já tem um layout/line-up místico fodástico para brincar no cinema. Estou falando da "Brigada dos Encapotados", de Neil Gaiman, em Livros da Magia, que não só abre um leque de possibilidades a partir do bê-á-bá feiticeiro, mas com o próprio mapeamento daquele imaginário no Universo DC.

Pena que o direcionamento da DC Films parece ir no sentido de produzir uma película da [malfadada] Liga Sombria dos Novos 52. E se Esquadrão Suicida tiver êxito, e tudo indica que terá, meu temor é que advenha daí uma onda de genéricos black ops a exemplo da Liga Elite, Renegados, Stormwatch, Thunderbolts, Vingadores Secretos, etc.

Agora, voltando ao Espectro de Refn, embora a hipótese seja digna do Sonhar Morfético, as chances disso ocorrer - tal como assumir qualquer outro rebento dos quadrinhos - são mais exequíveis na Immateria Prometheriana. Me lembra o "Batman Ano Um" - de Darren Aronofsky - que não estava lá.

Abraço.

doggma disse...

A Brigada dos Encapotados... Como é que pode algo tão promissor e ao mesmo tempo tão improvável de ir para as telonas no cenário atual? A Warner não conseguiu nem trabalhar 1 encapotado fora dos quadrinhos. E o mais adaptável deles, ainda por cima.

Sinceramente não consigo entender a Warner. Eles absolutamente desconhecem o que têm em mãos. Sou "marvete", mas sou do time dos que mais torcem pelo sucesso (criativo e comercial) da DC nas telonas, porque sei que o potencial cinematográfico da editora é vastamente superior ao da Marvel. Existem alegorias, questões e simbolismos ali que são universais e tão antigos quanto a humanidade. Um grande filme do UDC faria o melhor filme da Marvel parecer um rascunho.

Mas ainda tenho esperanças, baseadas no fim dos Novos 52 e na nova posição do Geoff Johns na editora.