Genival Cassiano dos Santos
(1943 - 2021)
Se foi o gênio
Cassiano. E consigo levando todo um ciclo da música brasileira, mais um punhado de certezas inconvenientes.
Quem conhece do riscado carregou silenciosamente por décadas o dilema
"vai chegar o dia em que Cassiano vai partir e, com muita sorte, vai sair uma notinha de rodapé nos jornais". E, infelizmente, foi isso mesmo. Só que nos
portais. A crônica de um absurdo há muito anunciado. Se o mundo fosse justo, o velho mestre paraibano teria a fama e a conta bancária do Roberto Carlos.
Ex-ajudante de pedreiro, Cassiano iniciou a carreira na música em 1964, tocando violão no grupo
Bossa Trio. Mas logo ele trocou o samba jazz do conjunto pela influência do fervilhante soul e rhythm and blues americano no grupo vocal
Os Diagonais. O amigo Tim Maia adorava. Tanto que Cassiano assinou quatro músicas do disco de estreia do Síndico, entre elas os diamantes
"Eu Amo Você" e
"Primavera (Vai Chuva)".
Com a excelente repercussão e a moral nas alturas, ele finalmente deu início à sua curta carreira discográfica solo com três clássicos atemporais:
Imagem e Som (1971),
Apresentamos Nosso Cassiano (1973) e
Cuban Soul – 18 Kilates (1976). Álbuns essenciais em que Cassiano expande as possibilidades do soul, do funk, do r&b e do rock com toda a sofisticação e hermetismo que foram suas marcas registradas – e que, provavelmente, selaram sua carreira à margem do grande público. Afinal, para cada hit certeiro como
"Cedo ou Tarde",
"Coleção" e
"A Lua e Eu", coexistiam releituras excêntricas (e brilhantes) de gênero como
"Castiçal",
"Cinzas" e
"Onda". Sua inventividade era um dom implacável.
Com a palavra, Nelson Motta.
E foi isso. Ou quase.
Quinze anos depois, Cassiano passou por uma parca tentativa de revival com o disco
Cedo ou Tarde (1991). Lotado de participações (Luiz Melodia, Djavan, Marisa Monte, Ed Motta, etc), o álbum funciona apenas como curiosidade e pelos breves lampejos em que o mago do soul vence a sonoridade pasteurizada e a direção musical equivocada da produção despejando todo o feeling e groove acumulados em anos de ostracismo. Uma
master class para poucos.
Cassiano era um gigante, mas o velho dilema melancolicamente se cumpriu.
O lado bom? Onde quer que esteja, com certeza está desfrutando de uma companhia à altura. E sedenta por uma jam com o homem.