sábado, 8 de maio de 2021

Cedo ou tarde vem


Genival Cassiano dos Santos
(1943 - 2021)

Se foi o gênio Cassiano. E consigo levando todo um ciclo da música brasileira, mais um punhado de certezas inconvenientes.

Quem conhece do riscado carregou silenciosamente por décadas o dilema "vai chegar o dia em que Cassiano vai partir e, com muita sorte, vai sair uma notinha de rodapé nos jornais". E, infelizmente, foi isso mesmo. Só que nos portais. A crônica de um absurdo há muito anunciado. Se o mundo fosse justo, o velho mestre paraibano teria a fama e a conta bancária do Roberto Carlos.

Ex-ajudante de pedreiro, Cassiano iniciou a carreira na música em 1964, tocando violão no grupo Bossa Trio. Mas logo ele trocou o samba jazz do conjunto pela influência do fervilhante soul e rhythm and blues americano no grupo vocal Os Diagonais. O amigo Tim Maia adorava. Tanto que Cassiano assinou quatro músicas do disco de estreia do Síndico, entre elas os diamantes "Eu Amo Você" e "Primavera (Vai Chuva)".

Com a excelente repercussão e a moral nas alturas, ele finalmente deu início à sua curta carreira discográfica solo com três clássicos atemporais: Imagem e Som (1971), Apresentamos Nosso Cassiano (1973) e Cuban Soul – 18 Kilates (1976). Álbuns essenciais em que Cassiano expande as possibilidades do soul, do funk, do r&b e do rock com toda a sofisticação e hermetismo que foram suas marcas registradas – e que, provavelmente, selaram sua carreira à margem do grande público. Afinal, para cada hit certeiro como "Cedo ou Tarde", "Coleção" e "A Lua e Eu", coexistiam releituras excêntricas (e brilhantes) de gênero como "Castiçal", "Cinzas" e "Onda". Sua inventividade era um dom implacável.

Com a palavra, Nelson Motta.


E foi isso. Ou quase.

Quinze anos depois, Cassiano passou por uma parca tentativa de revival com o disco Cedo ou Tarde (1991). Lotado de participações (Luiz Melodia, Djavan, Marisa Monte, Ed Motta, etc), o álbum funciona apenas como curiosidade e pelos breves lampejos em que o mago do soul vence a sonoridade pasteurizada e a direção musical equivocada da produção despejando todo o feeling e groove acumulados em anos de ostracismo. Uma master class para poucos.

Cassiano era um gigante, mas o velho dilema melancolicamente se cumpriu.

O lado bom? Onde quer que esteja, com certeza está desfrutando de uma companhia à altura. E sedenta por uma jam com o homem.

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