sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Centro de Repouso Residencial Solar Qualité Arkham


Com a Edição Absoluta de Batman: Asilo Arkham, a Panini deu uma boa perspectiva do cenário atual do mercado de HQs. Por mais que a "nova tabela" dos gibizinhos venha causando estrago nos últimos anos, ainda é acachapante a naturalidade com que se lança algo com preço acima dos outrora virginais duzentos mangos. E sem direito a chazinho de "BLACKPANINI" *. É muito louco: omnibus e demais cases luxuosos estreando —e triunfando— no Brasil em meio a uma das piores crises econômicas de sua História.

Fico imaginando se um dia vamos rir disso, como rimos hoje, sei lá, das cores psicodélicas dos gibis da Bloch ou dos nomes abrasileirados que os personagens americanos ganhavam aqui. Provavelmente não.

Embora todo o segmento tenha encarecido de forma sem precedentes, é verdade que a variedade do material também deu um salto em direção aos padrões da matriz gringa. Ainda falta muito chão até chegar lá, mas já é interessante poder optar por um tomo bíblico compreendendo fases inteiras ou pelos práticos TPs coletando um arco por vez. Claro, a caça de preços tem papel de destaque nessa conta. E deveria ter mais, afinal vivemos na Era de Conan.

Na nova versão de Asilo Arkham, lançada lá fora em 2019, fica claro o quanto se paga pelo luxo. Nada muito diferente do direcionamento comercial da editora. A história em si é média-metragem de 96 páginas, plus guardas, plus expediente/créditos. Nos extras, bios, textões de Dave McKean, Karen Berger e Grant Morrison (será que traduziram?), estudos de personagens, tratamento inicial do roteiro, artes preliminares e galeria, totalizando mais de 120 páginas de mimos Deluxe.

Tudo dimensionado em big formatão 20.5 x 31 cm com capa alternativa e caixa-luva com as lindíssimas artes de McKean (oh, o pleonasmo). De fato, a edição passaria fácil por um artbook do ilustrador britânico.

O que a suntuosa e luxuriante edição da Panini não traz —e nem trouxe em suas desastrosas edições anteriores— é um dos maiores trunfos da versão da Abril: a fabulosa letrista Lilian Toshimi Mitsunaga.


Quando trabalhou na edição nacional de Asilo Arkham, em 1990, Mitsunaga tinha dez anos no ofício. Até ali já havia feito colaborações marcantes em quadrinhos da Martins Fontes, VHD Diffusion e da própria Abril, mas o espetacular letreiramento de Asilo Arkham foi seu grande momento na época —e, sem dúvida, um dos pontos altos de sua brilhante carreira.

Letreirar as fontes do mestre Gaspar Saladino não é para qualquer um(a). Com a perícia da velha escola, Mitsunaga emulou minuciosamente a tipografia de cada diálogo (balonado ou não), recordatório e inscrição criado por Saladino. Lembrando que, em Asilo Arkham, cada personagem tinha um estilo de letreiramento próprio, como uma forma de refletir o estado psicológico de cada um.

E tudo feito à mão, num irretocável exercício de estilo artesanal.



Lilian Mitsunaga, com sua voz de ASMR e fã do grande letrista John Costanza, dava ali mais um exemplo de evidente amor pelo trabalho sem saber que também daria um banho em todas as preguiçosas versões posteriores de Asilo, mesmo com a infinidade de programas e packs de fontes digitais à disposição hoje.

É verdade que a nova mega-edição traz o melhor trabalho de letreiramento da Panini para Asilo até aqui. Méritos do letrista Fábio Figueiredo, que deu todo o esforço, seriedade e profissionalismo que a incursão exigia. Realmente digno de nota, ainda que, claro, não se compare, até por motivos outros —por exemplo, a (blasfema) "remasterização" das letras originais de Saladino na versão gringa, seguida à risca pela edição nacional.

É a eterna briga da Forma vs. Conteúdo.

Por essas e outras, não me desfaço da minha velha edição por nada. O trabalho de Lilian Mitsunaga em Asilo Arkham segue incomparável. O nível é simplesmente outro. E não é pra menos. Até o Instagram dela é uma delícia letreirística.


* Atualização 24/11:


Sim, teve chazinho de "BLACKPANINI", sim. Fraquinho e requentado, é verdade, mas vamos ser justos.

14 comentários:

Marcelo Andrade disse...

Noite meu caro!
fico pensando ate onde vai a necessidade dessa turma puxar os ultimos cents em nosso bolsos e o que inventam p/ "anexar" ao que n foi colocado na epoca.
Eu ja qdo comprei a primeira versão revi diversas vezes; ora pela trama que aqchei sublime, ora pelos traços dos personagens onde todo o detalhe e um espetaculo a parte. Nisso somos bem parecidos...n abro mão doas primeiras versões a n ser que seja algo dentro do possivel ($$$) e que condiz c/ o que realemente representa no contexto da historia. Abraço e bom final de semana.

VAM! disse...

"... Por essas e outras, não me desfaço da minha velha edição por nada..."

Digo o mesmo, para comprar essa edição da Abril, tive que passar muito tempo por baixo da catraca do buzão.

Ela foi cara para os padrões da época, mas penso que nada comparada ao que presenciamos pela fresta da janela gradeado desse Asilo em que estamos todos confinados atualmente.

Dito isso, só não me despeço com abraço, por conta da camisa de força...

VAMalucão!

VAM! disse...

"... omnibus e demais cases luxuosos estreando —e triunfando...."

Essa preço não tem nada de 'Sensacional" ao contrário da glamorosa abacate...

Com ele consigo "rachar" com os colegas de cela, uma assinatura do Disney+ por 3 ANOS!!!

Como disse você "...É muito louco..."

Agora vou mesmo, tá na hora da ronda do Dr. Arkham...
VAMentecapto!

L disse...

Esse box do Conan até agora, foi a pior canalhice que a Panini fez com os leitores. Eu sou leitor de quadrinhos, não de Action Figures!!!!
Quanto ao Asilo Arkham, fico aliviado pelo fato de que, muitas outras histórias que acho bem melhores do que essa (o box do Conan é exceção) ainda não ganharam suas versões gourmetizadas, e ainda são vendidas a preços relativamente acessíveis.

L disse...

Mesmo com chazinho de blackpanini (rsrsrsrs) o negócio ainda anda muito complicado. Se tiver algum leitor que tenha cacife pra comprar esse tanto de lançamento a esses preços, peço perdão. Mas meu desejo é que poucos lançamentos .no ano que vem sejam bons, meu bolso não aguenta mais.

L disse...

"Centro de Repouso Residencial Solar Qualité Arkham"

"E sem direito a chazinho de "BLACKPANINI"."

Hehehehhehe, o melhor do texto são as ironias.

Luwig Sá disse...

A propósito, não se esqueça de atualizar futuramente esse post. Ansioso por seu unboxing dessa edição.

;)

Não me leve a mal, mas cê reclama, esperneia, faz biquinho, ironiza, mas tá sempre c/ um volume imperdível de$$e$ na estante. Acho que chegamos definitivamente num ponto que os quadrinhos no Brasil não são mais nem acessíveis à classe média; que agora tá mais preocupada se vai conseguir pagar por um fígado bovino ou dar um gostinho decente ao caldo de ossos pra janta.

Eu ainda consigo pegar os dois Lendas¹ os dois Sagas e Imortal Hulk, mas fechando esses, tô fora da Panini. Se ainda tem algo que penso em comprar são as coisas que não tenho do Brubaker na Mino, mas não a qualquer preço.

Abraço.

¹ Lendas dos Titãs 22 por 57 Imbrochávei$ é de brochar num nível de não levantar mais nem falso.

doggma disse...

Dia, Marcelo!

A necessidade dessa turma de puxar nossos últimos cents só começou... lá fora, há uma vasta gama de artigos quadrinhísticos gourmet (e você sabe que os leitores de quadrinhos são o público mais gourmet do planeta) prontinhos para serem importados a preço de plutônio. A Arte Marvel de Conan é só a pontinha do iceberg.

Ou, melhor metaforizando... só a cabecinha.

Abração. Excelente semana!

☕️ ☕️ ☕️

Fala VAM!nibus!

Pular roleta e guardar os trocos da merenda eram nossos pastores e nenhum formatinho nos faltou!

O preço de 1 encadernado Arkham da Abril (550 cruzeiros de capa cartão e papel LWC - de luxo pra época) equivalia aproximadamente ao de 3 SAM (180 crucru). Nada mal!

Abraços de média periculosidade!

☕️ ☕️ ☕️

E aí, L!

"Mas meu desejo é que poucos lançamentos .no ano que vem sejam bons, meu bolso não aguenta mais"

Rapaz, vez ou outra também me pego com estes pensamentos destrutivos, rs... O problema é que SEMPRE tem algo bom, algo clássico que há muito não é relançado, algo que nem é Marvel/DC (que, mesmo juntas, são um grão de areia no universo do quadrinhos em geral)... enfim.

Nem toda engenharia financeira do mundo pode dar conta desse volume de lançamentos. O jeito é abrir mão seletivamente, adiar aquisições, migrar pro digital (muitas vezes ilegal) e por aí vai.

Economia de guerra!

☕️ ☕️ ☕️

Luwig, acredita que já perdi um cashback de quase 300 mangos porque o sistema da Panini caiu no meio da validação? E não quiseram restituir o valor que nunca utilizei?

O que fiz? Suspirei fundo e...

...continuei comprando Lendas, Sagas, Imortal, ESC, Esquadrão Suicida véio, alguns hits do selo Vintage, Lanterna Verde, X-Hickman, Barks, Hellblazer...

Não tem muito o que fazer. Os caras têm o mando de campo. É jogar o melhor possível e depois pedir musiquinha no Fantástico.

Em outras palavras, quando fizer aquele unboxing do Arte de Conan, mando-lhe um cartão-feed com hot stamp dourado, lombada redonda, fitilho e bookplate assinado.

Amplexo!

Ps: paciência e cupons são armas poderosas. Use-as! Sempre tem no HQ Barata.

Pps: tô pegando todos os Brubaker/Philips na pré-venda, mas acho que vou parar de dar essa moral pra Mino. As edições da Comix (com desconto) estão chegando bem antes da própria loja deles.

Luwig Sá disse...

Quem me viu e quem me vê. Passei pela BF e não comprei um gibizinho sequer. Se fraquejei c/o Seu Bezzos, foi só em matéria de E-Books. Peguei os quatro últimos livros da série Fundação. Dizia p/ mim que só leria a trilogia clássica, mas sigo obcecado com o texto gostoso do Asimov. O terceiro foi a maior e melhor guerra psíquica que eu já li. Coisa foda.

doggma disse...

Confesso que fechei mais do que deveria ter fechado. Aproveitei e fiz a tríade Amazon-Mythos-Panini. Uma maioria de séries em andamento, faz parte.

Tive aquele tomo com a trilogia clássica da Hemus --

https://www.livronautas.com.br/images/livro/maior/869-livro-fundacao.jpg

Só não tinha maturidade suficiente para assimilar. Bom saber que a escrita do homem segue sagaz. Preciso ir atrás das obras e corrigir essa falha de caráter. Valeu pela dica!

Luwig Sá disse...

Por curiosidade, fui ver o ano dessa sua edição: 1975!!! Li pelas edições mais recentes da Aleph, um atrás do outro. Adoro as capas clássicas do Michael Whelan, com o Seldon, Mulo e Arcádia.

https://images-submarino.b2w.io/produtos/01/00/img7/01/00/item/1797965/0/1797965052SZ.jpg

Coisa finíssima¹.

¹ Não digo o mesmo da série da Apple. A pior adaptação que eu já assisti na minha vida, mas já era uma tragédia anunciada. Tinha o David Goyer nos créditos... O golpe tava ali.

doggma disse...

Isso aí mesmo. Herdei lá por 85-86, então era a edição mais recente.

Maravilhosas essas artes do Whelan, hm? Tem uma vibe meio Roger Dean acontecendo ali...

Putz, tem série de Fundação?! E pelo Goyer??

BWAHWAHWAHWAH!!

Scant disse...

tem mais alguma coisa publicada pela abril que vc acredite ser de elevado apuro técnico e insuperável por outras editoras?

doggma disse...

Tem várias, sim. O volume de publicações da Abril foi enorme.

Sempre lembro da mini Marvels com capas em acetato belíssimas, da adaptação esperta de Cinder e Ashe e da ESC em Cores #3, com as cores lisérgicas do Noriatsu Yoshikawa. E títulos como Justiceiro (War Journal) em formatão magazine e o mix perfeito da série Os Caçadores são coisas que nunca irão se repetir.

Isso, claro, sem considerar o atual festival de erros de revisão (como nas Lendas dos Titãs e na Saga da Encruzilhada recente), que era coisa rara na Abril.