quinta-feira, 29 de maio de 2025

A vingança do colecionador

Lembra quando você, leitor velhusco, amargava fases de pindaíba e tinha que se sujeitar à sanha gananciosa dos donos de sebo se desfazendo de seus preciosos livros e gibis a preço de banana? Informo que você tem algo em comum com o Alan Moore. Regozijai-vos!





Metáfora ao establishment editorial, crítica ao mercantilismo desenfreado da arte, à desumanização do capitalismo neoliberal, etc...? Nah.

Só gosto de pensar que todos aqueles mãos de vaca aos quais vendi gibis (e discos) quase de graça um dia encontraram a sua Tomb of Torture #27...

Ps: vi na Eagle Magazine, edição de 12 de junho de 1982.

domingo, 25 de maio de 2025

Tenha uma boa jornada, Escritor


Peter Allen David
(1956 - 2025)

Não foi exatamente uma surpresa, mas receber a notícia foi como ser atropelado. A família, lógico, está arrasada. Certeza que gerações de admiradores mundo afora também. Estamos todos na mesma página. Se foi o Peter David.

O fato de ser um dos escritores mais produtivos e aclamados dos quadrinhos mainstream dos últimos 40 anos (se contar, pelo menos, de A Morte de Jean DeWolff pra cá) gerou um nível de adoração que já está repercutindo em incontáveis depoimentos e eulogias pela rede neste exato momento. Merecidíssimo. Em vida, o homem já era uma lenda.

A versatilidade de David era algo que beirava o incomparável. Seja na Marvel, na DC, em seus trabalhos icônicos no Incrível Hulk, Supergirl, X-Factor, Aquaman, Fantasma, Homem-Aranha, A Torre Negra, nas novelizações de filmes, os elogiados trabalhos no Universo Star Trek, Babylon 5 e vários outros – incluindo aí os gibizinhos infantis da A Pequena Sereia. Até onde li, sempre buscando exaltar a dramática, cômica, trágica, altruísta e falha condição humana em meio aos mais fantásticos e esdrúxulos cenários ficcionais.

Esse era o seu maior superpoder: o de sempre colocar a pessoa em primeiro lugar. Uma delícia de ler e uma inspiração para a vida.

Thank you for everything, Peter David!

Vai demorar para o sensorial voltar ao lugar.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Esculachando o sistema por dentro



Not Brand Echh #11, dezembro de 1968

Marie Severin era impagável.

Ainda funciona à perfeição, tanto pra Marvel e DC quanto para o quadrinista indie ralando para sobreviver nessa eterna guerra civil brasileira.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Homem e Super-Homem


Gosto da humanização e da visão sem restrições – é o Universo DC ali, transposto para a tela. Não gosto de estouradinhos e aparentemente teremos dois no filme, Lex Luthor e o próprio Superman.

Mesmo nas questões mais espinhudas, deveriam sempre se perguntar: o que Jesu... Christopher Reeve faria?

Por hora, sigo na torcida...


Na torcida para que esta velha manchete se converta em algo bem real e não apenas mais uma fake news.

Ps: a Engenheira bastante descaracterizada... então pra quê?
Pps: argh, detesto celulares!

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Fantasma 0800


De volta ao diário da selva: sábado último (3) rolou o Free Comic Book Day, tradicional evento que visa revitalizar o hábito da leitura (e o hábito da compra) através da distribuição de gibizinhos na faixa para a galera. Em sua maioria, são quadrinhos-promo produzidos especificamente para o dia, não aquela superedição de luxo com lombada redonda, corte trilateral, fitilho e hot stamp de ouro 18 quilates.

No Brasil, que surpresa, essa prática não pegou, embora contabilize alguns exemplares de brinde em meus alfarrábios. Lá fora, com a bolha há muito estourada, a coisa continua de vento em popa e mais necessária do que nunca. Todos os big players participam.

Como esperado, não há nada muito relevante acontecendo nessas obras em termos cronológicos. Intros, interlúdios e curtas fechados são o padrão, mas isso não significa limitação criativa. Neste sentido, The Phantom #0, da Mad Cave Studios, foi um dos mais divertidos que li na FCBD 2025.

O que não é difícil em se tratando do legendário Fantasma. Com capa-chamariz do indefectível Greg Smallwood e um absoluto respeito pelo legado, a edição foi deveras bem produzida. Tenho certeza que até o criador Lee Falk ficaria orgulhoso.

Segundo o roteirista Ray Fawkes (xará do Moore, um dos nomes mais importantes na trajetória do personagem), a pesquisa para este início foi um mergulho nas antigas tirinhas e histórias clássicas. A ideia era uma volta às raízes simplistas, aventureiras e descomplicadas, mas com um verniz atualizado. Uma estratégia que, provavelmente, explica a impressionante longevidade comercial do herói, que no ano que vem completará 90 escaldantes primaveras.

Ou seria mais alguma artimanha de autoperpetuação do Espírito-que-Anda?

O "novo" tratamento geracional, mais um, soa ainda mais adequado pela indie Mad Cave – qualquer semelhança com a Caverna da Caveira é bacana pra caralho. A editora fundada em 2014 é notória por seu trabalho em busca de novas caras, além do extenso catálogo de novos títulos. Mas também licencia medalhões como Flash Gordon e Defensores da Terra da mesma King Features Syndicate do Fantasma, além de contemporâneos consagrados como Dick Tracy. Um raro know-how do clássico e do novo, portanto.

Geralmente espero uns dias até que os títulos da FCBD estejam disponíveis nas melhores, hm, importadoras. Dessa vez, resolvi comprar o gibi online pelo módico preço de 0,00 dólares americanos (sem tarifa). É mais divertido. Colocaram até em pré-venda na Amazon!


Com 22 páginas, fora capas e calhau, este #0 é até encorpadinho. A arte é do talentoso Russell Mark Olson, aqui um meio-termo entre Goran Parlov e Bruce Timm. O roteiro poderia ter recorrido a qualquer um dos inimigos tradicionais, como o General Bababu, o Barão Grover ou até a Irmandade Singh, mas ao invés disso aposta no suspense, funcionando quase como um thriller da selva.

A história abre com o 21º Fantasma na Sala das Crônicas registrando mais uma noite de vigilantismo pelas selvas de Bangalla. Cruzamento perfeito para a narração em off acompanhar o herói na trilha de um grupo de poachers – que, na minha humilde e muito cristã opinião, merecem um inferno pior que o dos nazistas. O texto de Fawkes, no entanto, não se rende a obviedades e desenvolve o cenário de maneira classuda e instigante.

E inclusive confronta o Fantasma com os aspectos sociais daquela atividade ilegal, algo realmente inesperado. No final, após uma breve e espirituosa participação da (Srta.?) Diana Palmer, o roteirista ainda crava aquele cliffhanger maroto.

Os caras são bons. Tomara que a Mad Cave Studios dê o sinal verde para a continuidade do título.


O Espírito-que-Anda está andando em excelente companhia.

domingo, 4 de maio de 2025

Feio, forte e metal

A única IA que eu chamaria para tomar uma cerveja.


Esperei até os 49 do 2º tempo da pré-venda com desconto. A alteração da capa nesta reedição me travou (queria a anterior, por motivos de obsessão), mas no final das contas acabei preferindo a nova. É mais bacana mesmo.

Segundo o pessoal da Comix Zone, essa reimpressão é o pé na bunda do clássico de Tanino Liberatore e Stefano Tamburini na editora. Isso vai contra o conceito antigo e até meio romântico de quadrinhos adultos em edições caprichadas voltadas para o público que frequenta livrarias em vez de bancas e que por isso sempre estarão em estoque. A ideia era promissora quando se popularizou, lá pelo meio da década de 1990. E até funcionou por um tempo. Só duas pedrinhas no meio do caminho: bancas e livrarias nos estertores e a internet. Compre agora ou já era – como aconteceu comigo naquela 1ª edição. Ou pior.

Com a "modernidade", ficamos todos nivelados. Por baixo.