quinta-feira, 22 de setembro de 2005

ARE YOU TALKIN' TO ME?


E lá se vão praticamente 15 anos desde o lançamento de Hard Boiled, mini-série em clima no future criada por Frank Miller e ilustrada por Geof Darrow. Só a menção desses dois nomes na mesma frase é motivo para estremecer o monitor do fanboy que está lendo. Recém-saído do circuito mainstream dos quadrinhos americanos, Miller resolveu apostar em um segmento menos visado, mais underground, via Dark Horse. E assim ele iniciou uma nova fase (que já acabou, por sinal), mais autoral e com um leque mais amplo de possibilidades. Sem protagonistas diretos, nem compromissos com a redenção de terceiros, ele começou a destrinchar o Sistema em atmosferas que, de tão opressivas, chegavam a ser palpáveis, e quase funcionando como um personagem ativo dentro das histórias. Vide as ótimas Liberdade e, mais tarde, Sin City. Mesmo a bem-humorada Big Guy & Rusty representa bem essa fase. É aí que entra Hard Boiled.

Lendo hoje, nota-se que a série destilava uma inequívoca ironia em relação aos governos, à cultura de massificação, ao poder da mídia, enfim... ao establishment. E o melhor de tudo: sem se prestar à qualquer panfletagem anarquista barata. Muito pelo contrário. Hard Boiled pode ser facilmente confundido com um combo hardcore movido à sexo, perversão e ultraviolência - e tudo sendo elevado à milésima potência, mesmo para os padrões atuais.


A história é uma espécie de Um Dia de Fúria high-tech e nos mostra a via-crúcis particular de Nixon, um pacato cobrador de impostos e pai de família, que está enfrentando uma senhora crise de identidade. Como pano de fundo, conspirações governamentais, sabotagem industrial e uma revolução artificial digna de Metrópolis e Eu, Robô em versões bloody disgusting. O clima geral lembra a Los Angeles de Blade Runner, só que muito mais caótica, claro. Aliás, a narrativa empregada em Hard Boiled exibe um fôlego cinematográfico que só vendo. Não existem aqueles recordatórios em off que Miller tanto gosta e vários ângulos são concebidos como se fossem gigantescos planos-seqüência de um filme.

Experiência é uma coisa valiosa. Está na cara que Miller já sabia o peso que a arte estilosa de Geof Darrow teria em Hard Boiled. Tanto é que a dinâmica principal se apóia na maior parte do tempo em perspectivas, noções de movimentação e ganchos de ação, em detrimento de textos verborrágicos. Neste caso, uma imagem realmente vale por mil palavras. Pode parecer redundância para conhecedores, mas Darrow dá um show aqui. Cada quadrinho dele é precioso, único, traz mais informações e detalhes que o catálogo inteiro da Image. São verdadeiros mosaicos com trocentas situações acontecendo ao mesmo tempo. E as splash-pages? Só Darrow tem moral para fazer uma seqüência matadora de treze splash-pages, uma atrás da outra (no diálogo entre dois robôs num ferro-velho). É um mestre.


Mesmo sem ser um clássico, Hard Boiled é tudo o que uma grande HQ deveria ser: sarcástica, espirituosa, ágil, repleta de adrenalina, inovadora e muito, mas muito divertida. Em meados de 2001, começaram a pipocar alguns boatos sobre uma possível adaptação cinematográfica. Eles davam conta de que Nicolas Cage ficaria com o papel principal e que David Fincher seria o diretor. Not bad. Nunca mais rolou nada a respeito, mas não custa sonhar...



JIMI HENDRIX - HENDRIX'S APT IN NEW YORK


Este já foi um dos registros piratas mais obscuros e disputados do deus da guitarra. Gravado em algum ponto de 1968, Hendrix viaja sozinho em seu apartamento com o gravador ligado. A fita ganhou forma de acetato, caiu no mundo e virou lenda. Mais do que um simples ensaio, o que se ouve aqui é a amostra da verdadeira essência de um gênio, desta vez despida de toda aquela catarse niilista. Em quase meia hora, Hendrix destila suas influências e desenvolve um diálogo intimista com as seis cordas.

Vale destacar o clima ambient que permeia toda a gravação. Detalhes como o ruído das páginas da partitura sendo viradas, os acordes que ele repete e que vão progressivamente evoluindo a cada nova tentativa e os curiosos improvisos vocais (que Ed Motta chama de embromation), atestando de uma vez por todas que Jimi Hendrix era sim um excelente intérprete. Durante a última música, a belíssima Gypsy Eyes, o telefone começa a tocar insistente ao fundo, mas Hendrix está tão imerso que nem liga e segue em frente, inabalável. Seja lá quem tenha sido, desiste após algumas chamadas e deixa a História seguir seu curso.

Confira aqui o set list e mais infos sobre este clássico não-oficial. E uma curiosidade: nos EUA esse disco foi lançado em 1995 pelo selo Bella Godiva Music, com o título Jimi by Himself - The Home Recordings, e veio junto com a edição especial de Voodoo Child: The Illustrated Legend of Jimi Hendrix, uma belíssima obra escrita por Martin I. Green e ilustrada por ninguém menos que Bill Sienkiewicz. Foda, né?



RÁPIDO & RASTEIRO


  • EVERGREY A Night To Remember * Live 2004  - Esse é obrigatório pra quem irá comparecer em algum dos oito shows da tour que a banda fará no Brasil, a partir de sexta-feira. Essa performance foi gravada no ano passado, no Stora (teatro tradicionalíssimo da Suécia), para um público de 800 privilegiados. Com uma alquimia que mistura heavy, thrash, gótico e gospel, a banda mostra o quão é perfeita e classuda ao vivo também. Destaques? Difícil, mas é bom ver que o vocalista e guitarrista Tom Englund mantém o mesmo alcance e feeling fenomenais on stage. O único vacilo foi terem deixado de fora as maravilhosas The Great Deceiver (do álbum Recreation Day) e In The Wake Of The Weary (do Inner Circle). De resto... melhor que isso, só o DVD.



  • MOTÖRHEAD Everything Louder Than Everyone Else - Show de 1998 gravado em Hamburg (Alemanha). Desnecessário dizer a pedrada demolidora que é isto aqui. Sir Lemmy Kilmister e o repertório do Motörhead são como vinho... ficam ainda melhores com o passar dos anos. E falando em repertório, este duplo ao vivo tem faixas desde o primeiro disco, de 1977, até o Snake Bite Love, de 1998. Eu já fui ao show da banda, então já posso morrer feliz e tranqüilo. É festa no volume máximo regada à álcool, rock'n'roll e groupies peitudas.



  • MOTÖRHEAD BBC Live & In-Session - Gravações extraídas de várias apresentações para a BBC, entre 1978 e 1986. Começa com a participação no clássico John Peel Show, em 1978, segue com uma performance no David Kid Jensen Show, em 1981, e fecha no Friday Rock Show Session, de 1986. Entre uma coisa e outra, tem o Motör tocando no Kerrang! Wooargh!, em maio de 1979. Classic rock'n'roll. Lemmy is God, man. E eu bebo a isto!



  • BRUCE DICKINSON Scream For Me Brazil - Bruce está em alta aqui no BZ... Mas o quê dizer de um cara que, além da carreira impecável no Iron Maiden, só fez discos solo (muito) acima da média? Além de tudo, Bruce ainda é dono de um timing demoníaco ao vivo. O repertório é perfeito: privilegia o sensacional Chemical Wedding (seu melhor álbum solo), pega as melhores do Accident Of Birth, mais duas de Balls To Picasso (incluindo o hit Tears Of The Dragon). Escoltado pela abençoada dupla Adrian Smith/Roy Z nas guitarras e pela cozinha matadora de Eddie Casillas (baixo) e Dave Ingraham (bateria), Bruce mostra que nasceu pra comandar multidões. E não poderia deixar de destacar a energia contagiante do público paulista - participação ativaça da galera. A crowd brazuca sempre foi a mais insana do mundo, sem dúvida alguma. Discaço de rock ao vivo. Até a capa - uma das mais horrorosas que eu já vi - acabou ganhando novos contornos com o tempo. Com certeza foi uma homenagem antecipada à sra. Madman... :D


  • ANTHRAX Music Of Mass Destruction - Já comentei sobre esta belezinha aqui antes, mas voltou a ser um hit pra mim após o show arrasador que eles fizeram por estas paragens. John Bush é um grande frontman (e gente-boa pra cacete!), as bases de Ian Scott continuam psicóticas, os solos de Rob Caggiano são de trincar os dentes, as linhas do baixo de Frank Bello ainda são referências no estilo e a bateria de Charlie Benante é o equivalente sonoro de uma avalanche. E o set list...? Got the Time, Caught in a Mosh, Antisocial, I Am the Law, Indians, Only, Bring the Noise, Fueled, Metal Thrashing Mad... nossa. O Anthrax é tão legal que até Alex Ross é fã. E como diria o bom e velho Dredd... "I Am the Law!"



  • RAINBOW On Stage - Esta aqui é a maior trilha sonora para performances air guitar já registrada na História (aê Chico!). O Rainbow talvez fosse mais um na imensa seara setentista, não fossem o baixista Jimmy Bain, o tecladista Tony Carey, o baterista Cozy Powell e .::Que se Faça a Luz::. o vocalista Ronnie James Dio e o guitarrista Ritchie Blackmore. Maravilha. O disco abre com a doce Dorothy (de O Mágico de Oz) dizendo "We must be over the rainbow", e aí começa a seqüência de clássicos atemporais do naipe de Kill The King, Startruck, Mistreated (do Deep Purple), Sixteen Century Greensleeves e lá vai lenhada. Nossa, e a hora em que o Dio grita "You're all the man", à plenos pulmões, no finalzinho de Man On The Silver Mountain? Meu Jesus. Existe alguma banda assim hoje em dia? Não mesmo...



  • THE JASON BONHAM BAND In the Name of My Father - Homenagem de Jason Bonham e banda ao seu pai, John "Bonzo" Bonham, baterista do Led Zeppelin (se você esteve em Marte nos últimos 30 anos) e o melhor baterista da História do Rock (se você esteve em Plutão). O subtítulo já resume tudo: "The Zepset". Basicamente são 10 clássicos zeppelinianos sendo levados ao vivo. Poderia ser uma bomba pretensiosa, mas não é não. A banda é ótima e dá o sangue nas músicas em belas execuções. O vocal Charles West tem aquele punch do Robert Plant do início (devidas as proporções!), o guitarrista Tony Catania manda muitíssimo bem e o baixista John Smithson é tão cool quanto o John Paul Jones original - e, à exemplo deste, também toca teclado! Grande show. Eu sempre ouço isto aqui, desde que foi lançado. Ah... o Jason é baterista, igual ao pai. E honra tranqüilo o legado da família. Elogio maior que esse, impossível.



  • Na trilha: Speed, do Atari Teenage Riot. E um empate estranho.

    domingo, 11 de setembro de 2005

    CAN I PLAY WITH MADNESS


    Uma hora ia dar merda de qualquer jeito. A questão era só saber com quem - e eu não fiquei tão longe de acertar. Quando soube que o Iron Maiden iria figurar na line-up do Ozzfest, já fiquei com o pé atrás. Assim como tudo o que envolve o Madman Ozzy Osbourne, o evento também é administrado pela sra. sua esposa, a puta Sharon Osbourne (não estou a difamando gratuitamente não... ela mesma se qualificou assim em carta à imprensa - acho que as profissionais da área devem ter ficado ofendidas). E Bruce Dickinson, vocal do Maiden, sempre foi um notório falastrão. Resultado: o que era pra ser um encontro memorável de duas entidades maiores do rock, se tornou um episódio vexaminoso (leia aqui sobre o barraco). Mais um.


    Bruce esculhambando a dinastia Ozz e a puta (foi ela que disse...) Sharon vomitando "Bruce Dickinson is a prick", logo após o show do Maiden - baixe pra assistir aos discursos

    Curiosamente, na página do Ozzfest dedicada ao Maiden, todas as fotos que traziam Bruce desapareceram. Ridículo e infantil é pouco.

    É verdade que Dickinson errou quando falou o que quis, em primeiro lugar. Mas, porra... não era isto mesmo que eu ou você, que aprendeu a admirar o trabalho do Madman desde o Sabbath, sempre quisemos dizer a ele? É um daqueles casos em que alguém está certo mesmo quando está errado. É triste vermos o cara que já foi o símbolo máximo (ainda que involuntário) da revolta contra os padrões estabelecidos, desse jeito, subjugado, amordaçado, sem qualquer resquício de alma ou vontade própria e, principalmente, assimilado pelo sistema que tanto ironizou.

    Juntos, Ozzy e Sharon parecem aqueles casais constrangedores, daqueles que, não satisfeitos em pagar micos publicamente, também fazem questão de embaraçar todos os que estão perto deles. Alguém achou que registrar essas cenas e exibir na televisão seria uma boa idéia, e pronto... lá estava The Osbournes engordando as ações dos Madmen e atirando latrina abaixo a ferpa de credibilidade que Ozzy ainda tinha. Como o destino às vezes brinca sadicamente, Sharon era a pessoa errada na hora certa. Se não fosse ela, o Madman teria morrido em algum ponto entre 84 e 87. Talvez não tivesse sido uma má idéia, afinal ele já está morto em vida há anos.


    É raro ver alguém com coragem para entrar na casa do(a) inimigo(a) e cuspir na cara dele(a), em frente aos seus súditos.

    Thanks Dickinson!



    ANGELS AT THE HOLY GHOST


    O Angra nunca foi lá uma unanimidade dentro do gueto heavy, que também não é um exemplo de concordância por si só, e isto se deve justamente ao estilo que abraçou: o heavy melódico progressivo - com toques de música brasileira (pendendo entre o arrasta-pé cangaceiro e nuances líricas mais barrocas), o que deixa a coisa ainda mais segmentada. Renegado por rockers mais old school e headbangers que adoram ouvir Napalm Death pela manhã, o estilo traz na sacola todos aqueles elementos posers em questão: grandiloqüência operística, virtuosismo pirotécnico, preciosismo cênico, performances com precisão matemática e a indefectível fumacinha de gelo-seco. Mas não é que na prática funciona? Foi o que eu percebi ao ver a apresentação do Angra em Vitória. E olha que eu não sou exatamente um fã da banda.

    Verdade seja dita. Fora os elementos extra-musicais, eles merecem todos os créditos. A banda faz o que faz acreditando no que faz. Você olha e, inspirado, acaba acreditando também (naquela hora, pelo menos). O grupo se esforça ao máximo pra valorizar o custo-benefício do ingresso. Pra quem não é profundo conhecedor do trabalho deles, como eu, a apresentação acaba adquirindo contornos de Espetáculo Musical bem-cuidado. Sem contar a satisfação de apreciar o trabalho de nego que sabe o que fazer com um instrumento em punho. Os integrantes do Angra estão entre os melhores instrumentistas desse planeta - e me refiro à Música no geral. Tudo bem que aí já é uma área de interesse geralmente relegada ao profissional da área, mas não deveria ser assim.


    Assistir às atuações de Kiko Loureiro (guitarra), Rafael Bittencourt (guitarra), Felipe Andreoli (baixo), Aquiles Priester (bateria) e Edu Falaschi (vocal) te faz encher o peito de orgulho canarinho. Eu sei, é tudo naquele velho esqueminha do rock nacional turbinado com recursos de classe média alta, mas pelo menos eles souberam fazer um bom uso da mesada... O palco, coberto com uma lona estampada com a capa do álbum Rebirth, foi uma jogada esperta, escondendo a preparação e a colocação dos instrumentos - procedimentos burocráticos meio empacantes em shows de rock - embora também tenha anulado aquele impacto natural de quando vemos os integrantes saindo dos bastidores enfumaçados em direção às suas "armas de guerra".

    O show começou com duas peças orquestrais grandiosas, Gate XIII e Deus Le Volt! (do último disco, Temple Of Shadows, que eu só não identifiquei na hora devido ao meu já avançado estado etílico). Na seqüência, a paulada Spread Your Fire me trouxe duas conclusões: 1 - O batera Aquiles Priester é realmente monstruoso; 2 - O som estava abafado, o que foi uma bolada nas costas da banda, que se apóia em riffs, solos elaboradíssimos e intervenções-chave da tecladeira (com os agudos lá embaixo... já viu). Isso foi realmente uma ironia do destino, visto que o Ginásio Álvares Cabral tem uma das melhores acústicas do país. E não é bairrismo não.


    Essas placas do teto separam o som como se fossem canais de freqüência, fazendo com que cada instrumental se torne muito mais perceptível, diminuindo a propagação desordenada, a mistura das ondas e a distorção típica de amplificações extremamente altas (=shows de rock). Com uma configuração standard na mesa de som, fica parecendo um CD rolando ao vivo. Pena que não fizeram um bom uso dela. Mas isso não parece ter desanimado os presentes, que cantaram todas as músicas em uníssono. Parecia até uma procissão. E eu estava lá mais pra ouvir ao vivo o riff assassino de Carry On. E Nothing To Say também. E os mais de dez minutos de Carolina IV. Tá, e a baladinha chorosa Make Believe. Opa, esta eles não tocaram.

    Aliás, sobre aqueles elementos extra-musicais os quais eu me referi... a obediência do público foi canina. Não é toda banda que deixa os fãs desse jeito não. A introduçãozinha falada de Rebirth ("recalling, retreating... returning, retreaving..."), p. ex., chegou dar arrepios, com todos juntos balbuciando as palavras. Não sei quanto a você, mas eu me sinto bem melhor vivendo em um mundo no qual os moleques estão curtindo Angra ao invés de nulidades pop-domingueiras. É só uma fase. Depois eles vão descobrir que bons mesmo são Black Sabbath, Motörhead e AC/DC. :)

    Em tempo: perdi o show de abertura, que ficou a cargo da banda paulistana Thalion. E realmente não me importei muito, visto que a deliciosa vocalista Alexandra Liambos deixou o grupo em agosto. Por outro lado, ouvi dizer que eles levaram o semi-hit Nemo, do Nightwish, que leva vocalizações femininas. Acho que perdi alguma coisa interessante aí...



    AOS VIVOS


    Holy Live é um Ep ao vivo gravado em Paris e lançado em 1997. Era o auge da banda em sua fase com o vocalista André Matos. Deu aquela quizumba toda - mal-explicada pacas, mas que obviamente tem a ver com grana - e o cantor saiu fora (levando consigo o baixista e o baterista) pra montar o Shaman. Mas voltando ao assunto, Holy Live mostra por que o grupo estava se dando tão bem na União Européia e no Japão. O público lá venerava os caras.

    Rebirth World Tour - Live In São Paulo, lançado em 2002, funcionou mais como uma iniciação para o Angra reformado - e em primeira instância, para o vocal Edu Falaschi. A sonoridade desta vez veio bem mais crua e visceral, ao contrário do polimento asséptico de Holy Live. E é também a principal diferença entre o lirismo angelical de Matos e a rispidez macha de Falaschi. O primeiro pode até superar em carisma, mas é o segundo que não mancha a imagem hetero do ouvinte.


    Na trilha: álbum Tyranny Of Souls... do Dickinson. E hoje é 11/9, aniversário do atentado ao WTC... maldita raça humana.

    sexta-feira, 2 de setembro de 2005

    ENQUANTO ISSO, NO COMIC ART COMMUNITY

    (sai clicando em cima)


    Arte conceitual de Kojima Ayami para Castlevania - Curse of Darkness

    Seven Soldiers Zatanna #4 Seven Soldiers Bulleteer #1
    Ainda sonho com um filme da Zatanna com a Jennifer Connelly no papel... e um chamariz interessante à direita... ou melhor, dois...

    Swamp Thing #21 O Deus do Trovão rende ótimas cenas!
    Meu ídolo Eric Powell (The Goon) desenhando o Monstro do Pântano? Eu quero ver isto! Ao lado, uma bela arte de Ariel Olivetti... será o novo Esad Ribic?



    THE FUTURE IS THE PAST BABY
    O miolo de alguns dos álbuns que estão aí ao lado


    THE CULT - LIVE MARQUEE LONDON MCMXCI
    (Beggar's Banquet/1999)


    Esse disco ao vivo é uma raridade na discografia do The Cult, o que é uma pena, pois é muito superior ao recente Live Cult. Gravado originalmente como um bootleg, Live Marquee London MCMXCI recebeu mais tarde uma encorpada técnica em estúdio. Nada muito radical (algumas entonações e regulagens de volume), o que lhe confere um clima de piratão bem produzido. E melhor, sem os famigerados overdubs. Está tudo lá como foi no show, inclusive com alguns ligeiros errinhos, o que deixa a coisa ainda mais autêntica (e rock 'n' roller).

    O show, de 27/11/1991, traz todas as músicas que importam do Cult, em versões vigorosas e cheias de entrega. Tem músicas da fase inicial pós-punk/gótica, como Spiritwalker, Horse Nation, Nirvana, Love, Brother Wolf Sister Moon, Rain, porradas hard-stoneanas-ac/dczísticas como Lil' Devil, Wild Flower, Full Tilt, Love Removal Machine, e hits certeiros como Revolution, She Sells Sanctuary e Fire Woman. Showzão.

    Ainda que freqüentemente associado à cena hard dos anos 80, o Cult se destacava fácil na multidão, seja pelas porradas do batera Michael Lee, pelas guitarradas do ótimo Billy Duffy ou pelos vocais quase olímpicos de Ian Astbury - que foi recrutado pela nova encarnação do The Doors.


    THE KILLERS - HOT FUSS [LIMITED EDITION]
    (Island/2005)


    Bem, já fazia mesmo algum tempo que as bandas mais recentes andavam metendo o dedo na torta de amora dos anos 80. The Killers não se fez de rogado e enfiou logo o mãozão inteiro. O resultado é um assalto àquele som redondo, dançante, encorpado, cheio daqueles tecladinhos chicletudos que foram explorados à exaustão desde o fim do Joy Division. Hot Fuss é a trilha sonora daqueles inferninhos dance'n'roll de antigamente. Quer saber? Irresistível. Não é cabeção como o Interpol, vacilante como o Blur, nem deprê como o Coldplay. Muito pelo contrário. A banda consegue reeditar aquele mesmo climão de alegria, escapismo e satisfação, como há muito tempo não se (ou)via.

    A seqüência de abertura é uma covardia pumperô. Logo de cara, Jenny Was a Friend of Mine já entrega ao que a banda veio, com aquele tecladinho synth-superbonder e os slaps do baixão em cima. Mr. Brightside é uma dance porrada que Andrew W.K. daria o braço direito pra ter composto. Smile Like You Mean It já é mais espaçosa, com o maldito teclado colando nos neurônios novamente e uma guitarra percussiva à The Edge. Já o megahit Somebody Told Me quebra todos os recordes de chicletitude estabelecidos pelo Gorillaz. Ainda bem que eu não ouço FM. Engraçado que dessa faixa em diante a banda emenda em uma sonzeira mais rebuscada, às vezes beirando o pós-punk à Gang Of Four, como All These Things I've Done, Andy You're a Star e Midnight Show. Mas também restam umas colas bem resistentes, como On Top (que lembra muito Trio) e a maresia à Madness de Glamourous Indie Rock 'nRoll.

    Essa versão "limitada" (em tempos de web... há!) traz duas faixas-bônus: The Ballad of Michael Valentine, que lembra muito a Plastic Ono Elephant's Memory Band de John Lennon, e a atiradinha Under The Gun.

    E honrando o espólio oitentista, The Killers também fez um cover para Why Don't You Find Out for Yourself, do Morrissey, que saiu em um single lançado na Inglaterra.

    Mais sugestões de covers para os Killers:

    After the Fire - Der Kommissar
    The Romantics - Talking in Your Sleep
    The Thompson Twins - Lies


    SAXON - THE EAGLE HAS LANDED PART II (LIVE)
    (CMC International/1996)


    Egresso da cena NWOBHM, o Saxon nunca teve aquela mesma carga lírica tradicionalista de contemporâneos como o Iron Maiden, Judas Priest ou Tygers Of Pan Tang. Apesar da inegável veia heavy, o grupo era dono de uma pegada muito mais chutada, mais rocker. E sempre foi assim, o que impede que a banda seja contextualizada em "fases". O Saxon faz rock'n'roll estradeiro da mesma forma que AC/DC e Motörhead: all time.

    Neste showzaço, desfilam todos os pontos altos dos então vinte e poucos anos da banda. Tem Dogs of War, Forever Free, Requiem, Princess of the Night, Light in the Sky, Refugee, Wheels of Steel, a levanta-estádio Crusader... na moral: este disco é um arraso do início ao fim. E não poderia deixar de destacar os vocais e a simpatia do frontman Biff Byford. Ele bota o público pra comer na sua mão e deixa transparecer o quanto a banda - que já esteve no Brasil um punhado de vezes - deve ser arrasadora ao vivo.


    THE MIST - THE HANGMAN TREE
    (Cogumelo Records/1992)


    Esse disco pertence à melhor safra do rock pesado brazuca e é um dos mais representativos daquela época. O ano era 1992 e o frisson causado pelo Rock In Rio 2 fazia coro com uma cena prolífica que incluía bandas como Sepultura, Korzus, Overdose, Sarcófago, Dorsal Atlântica, Witchhammer, Atommica, Holocausto, entre tantas outras - a maioria do cast quase heróico da Cogumelo Records. E, mais importante, sempre com uma alta qualidade, tanto de produça quanto de performance musical.

    Formado pelo ex-Chakal Vladimir Korg (vocal), Jairo Guedz (guitarra), Marcello Diaz (baixo/teclados) e Christiano Salles (bateria), o grupo mineiro The Mist estreou em 1989, com o cultuado Phantasmagoria. Nesse disco, a mistura de thrash, doom e gothic com vocais cavernosos (parecia um Lemmy Kilmister morto-vivo), já era bem eficiente, mas chegou quase à perfeição no segundo álbum, The Hangman Tree. Pauladas assustadoras como Scarecrow, Falling Into My Inner Abyss, Broken Toys, Leave Me Alone e Peter Pan Against the World, dividem espaço com momentos mais soturnos e introspectivos, como trechos da faixa de abertura, God of Black and White Images, e a faixa-título (fragmentada em duas partes). E tudo sendo mandado no clima de pesadelo mais tenebroso que se possa imaginar.


    VIPER - EVOLUTION
    (Eldorado/1992)


    Até 1994, achei que essa banda fosse a the next big thing do brazilian metal for export. Um acidente de percurso (mudança para pop rock com letras em português) tirou o Viper dos trilhos. O grupo perdeu o mercado externo e não conseguiu emplacar aqui dentro. Pena. Livre das amarras do heavy tradicional que praticava no começo (quando contava com o André Matos na formação), o Viper optou pelo básico e acertou em cheio. Evolution é um dos álbuns de rock mais divertidos já lançados por um grupo brasileiro.

    Power, speed, heavy, melodic, hard, enfim... quase todo o combo metálico comparece nesse disco energético e festeiro. Evolution é disco de festa por excelência. É rock de arena ganchudo e descarado. Tenta ouvir o arregaço Rebel Maniac sem berrar o refrão. Ou a faixa-título, com uma esperta jogada de tempo no andamento. Já a balada hard Dead Light te faz aumentar o som quase que inconscientemente. E as guitarras de The Shelter? Nossa senhora. E Still the Same? Não consigo imaginar um lugar melhor pra ouvir essa música do que numa Harley Davidson à mil por hora na estrada. É uma paulada atrás da outra. Quase no finalzinho você ainda pode torcer o nariz pra baladinha The Spreading Soul, mas duvido que consiga ficar incólume por muito tempo...

    Uma única reserva eu faço à versão speed metal para o clássico We Will Rock You, do Queen. Hino lento e pesado, esse tour-de-force da brodagem etílica ficou banal em alta velocidade. Mas é perdoável.


    dogg - gripado e enchendo o talo de café!