domingo, 11 de setembro de 2005

CAN I PLAY WITH MADNESS


Uma hora ia dar merda de qualquer jeito. A questão era só saber com quem - e eu não fiquei tão longe de acertar. Quando soube que o Iron Maiden iria figurar na line-up do Ozzfest, já fiquei com o pé atrás. Assim como tudo o que envolve o Madman Ozzy Osbourne, o evento também é administrado pela sra. sua esposa, a puta Sharon Osbourne (não estou a difamando gratuitamente não... ela mesma se qualificou assim em carta à imprensa - acho que as profissionais da área devem ter ficado ofendidas). E Bruce Dickinson, vocal do Maiden, sempre foi um notório falastrão. Resultado: o que era pra ser um encontro memorável de duas entidades maiores do rock, se tornou um episódio vexaminoso (leia aqui sobre o barraco). Mais um.


Bruce esculhambando a dinastia Ozz e a puta (foi ela que disse...) Sharon vomitando "Bruce Dickinson is a prick", logo após o show do Maiden - baixe pra assistir aos discursos

Curiosamente, na página do Ozzfest dedicada ao Maiden, todas as fotos que traziam Bruce desapareceram. Ridículo e infantil é pouco.

É verdade que Dickinson errou quando falou o que quis, em primeiro lugar. Mas, porra... não era isto mesmo que eu ou você, que aprendeu a admirar o trabalho do Madman desde o Sabbath, sempre quisemos dizer a ele? É um daqueles casos em que alguém está certo mesmo quando está errado. É triste vermos o cara que já foi o símbolo máximo (ainda que involuntário) da revolta contra os padrões estabelecidos, desse jeito, subjugado, amordaçado, sem qualquer resquício de alma ou vontade própria e, principalmente, assimilado pelo sistema que tanto ironizou.

Juntos, Ozzy e Sharon parecem aqueles casais constrangedores, daqueles que, não satisfeitos em pagar micos publicamente, também fazem questão de embaraçar todos os que estão perto deles. Alguém achou que registrar essas cenas e exibir na televisão seria uma boa idéia, e pronto... lá estava The Osbournes engordando as ações dos Madmen e atirando latrina abaixo a ferpa de credibilidade que Ozzy ainda tinha. Como o destino às vezes brinca sadicamente, Sharon era a pessoa errada na hora certa. Se não fosse ela, o Madman teria morrido em algum ponto entre 84 e 87. Talvez não tivesse sido uma má idéia, afinal ele já está morto em vida há anos.


É raro ver alguém com coragem para entrar na casa do(a) inimigo(a) e cuspir na cara dele(a), em frente aos seus súditos.

Thanks Dickinson!



ANGELS AT THE HOLY GHOST


O Angra nunca foi lá uma unanimidade dentro do gueto heavy, que também não é um exemplo de concordância por si só, e isto se deve justamente ao estilo que abraçou: o heavy melódico progressivo - com toques de música brasileira (pendendo entre o arrasta-pé cangaceiro e nuances líricas mais barrocas), o que deixa a coisa ainda mais segmentada. Renegado por rockers mais old school e headbangers que adoram ouvir Napalm Death pela manhã, o estilo traz na sacola todos aqueles elementos posers em questão: grandiloqüência operística, virtuosismo pirotécnico, preciosismo cênico, performances com precisão matemática e a indefectível fumacinha de gelo-seco. Mas não é que na prática funciona? Foi o que eu percebi ao ver a apresentação do Angra em Vitória. E olha que eu não sou exatamente um fã da banda.

Verdade seja dita. Fora os elementos extra-musicais, eles merecem todos os créditos. A banda faz o que faz acreditando no que faz. Você olha e, inspirado, acaba acreditando também (naquela hora, pelo menos). O grupo se esforça ao máximo pra valorizar o custo-benefício do ingresso. Pra quem não é profundo conhecedor do trabalho deles, como eu, a apresentação acaba adquirindo contornos de Espetáculo Musical bem-cuidado. Sem contar a satisfação de apreciar o trabalho de nego que sabe o que fazer com um instrumento em punho. Os integrantes do Angra estão entre os melhores instrumentistas desse planeta - e me refiro à Música no geral. Tudo bem que aí já é uma área de interesse geralmente relegada ao profissional da área, mas não deveria ser assim.


Assistir às atuações de Kiko Loureiro (guitarra), Rafael Bittencourt (guitarra), Felipe Andreoli (baixo), Aquiles Priester (bateria) e Edu Falaschi (vocal) te faz encher o peito de orgulho canarinho. Eu sei, é tudo naquele velho esqueminha do rock nacional turbinado com recursos de classe média alta, mas pelo menos eles souberam fazer um bom uso da mesada... O palco, coberto com uma lona estampada com a capa do álbum Rebirth, foi uma jogada esperta, escondendo a preparação e a colocação dos instrumentos - procedimentos burocráticos meio empacantes em shows de rock - embora também tenha anulado aquele impacto natural de quando vemos os integrantes saindo dos bastidores enfumaçados em direção às suas "armas de guerra".

O show começou com duas peças orquestrais grandiosas, Gate XIII e Deus Le Volt! (do último disco, Temple Of Shadows, que eu só não identifiquei na hora devido ao meu já avançado estado etílico). Na seqüência, a paulada Spread Your Fire me trouxe duas conclusões: 1 - O batera Aquiles Priester é realmente monstruoso; 2 - O som estava abafado, o que foi uma bolada nas costas da banda, que se apóia em riffs, solos elaboradíssimos e intervenções-chave da tecladeira (com os agudos lá embaixo... já viu). Isso foi realmente uma ironia do destino, visto que o Ginásio Álvares Cabral tem uma das melhores acústicas do país. E não é bairrismo não.


Essas placas do teto separam o som como se fossem canais de freqüência, fazendo com que cada instrumental se torne muito mais perceptível, diminuindo a propagação desordenada, a mistura das ondas e a distorção típica de amplificações extremamente altas (=shows de rock). Com uma configuração standard na mesa de som, fica parecendo um CD rolando ao vivo. Pena que não fizeram um bom uso dela. Mas isso não parece ter desanimado os presentes, que cantaram todas as músicas em uníssono. Parecia até uma procissão. E eu estava lá mais pra ouvir ao vivo o riff assassino de Carry On. E Nothing To Say também. E os mais de dez minutos de Carolina IV. Tá, e a baladinha chorosa Make Believe. Opa, esta eles não tocaram.

Aliás, sobre aqueles elementos extra-musicais os quais eu me referi... a obediência do público foi canina. Não é toda banda que deixa os fãs desse jeito não. A introduçãozinha falada de Rebirth ("recalling, retreating... returning, retreaving..."), p. ex., chegou dar arrepios, com todos juntos balbuciando as palavras. Não sei quanto a você, mas eu me sinto bem melhor vivendo em um mundo no qual os moleques estão curtindo Angra ao invés de nulidades pop-domingueiras. É só uma fase. Depois eles vão descobrir que bons mesmo são Black Sabbath, Motörhead e AC/DC. :)

Em tempo: perdi o show de abertura, que ficou a cargo da banda paulistana Thalion. E realmente não me importei muito, visto que a deliciosa vocalista Alexandra Liambos deixou o grupo em agosto. Por outro lado, ouvi dizer que eles levaram o semi-hit Nemo, do Nightwish, que leva vocalizações femininas. Acho que perdi alguma coisa interessante aí...



AOS VIVOS


Holy Live é um Ep ao vivo gravado em Paris e lançado em 1997. Era o auge da banda em sua fase com o vocalista André Matos. Deu aquela quizumba toda - mal-explicada pacas, mas que obviamente tem a ver com grana - e o cantor saiu fora (levando consigo o baixista e o baterista) pra montar o Shaman. Mas voltando ao assunto, Holy Live mostra por que o grupo estava se dando tão bem na União Européia e no Japão. O público lá venerava os caras.

Rebirth World Tour - Live In São Paulo, lançado em 2002, funcionou mais como uma iniciação para o Angra reformado - e em primeira instância, para o vocal Edu Falaschi. A sonoridade desta vez veio bem mais crua e visceral, ao contrário do polimento asséptico de Holy Live. E é também a principal diferença entre o lirismo angelical de Matos e a rispidez macha de Falaschi. O primeiro pode até superar em carisma, mas é o segundo que não mancha a imagem hetero do ouvinte.


Na trilha: álbum Tyranny Of Souls... do Dickinson. E hoje é 11/9, aniversário do atentado ao WTC... maldita raça humana.

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