Com passos bem cuidadosos e estruturando uma projeção a longuíssimo prazo, segue adiante o processo de reinvenção do principal supergrupo da Marvel. Certamente eles não querem que a prata da casa reunida numa só equipe naufrague antes mesmo de gritar "I'm king of the world". Compreensível. Só o fato de estarem ali os mega-stars Homem-Aranha e Wolverine... "nada de queimar o filme desses dois", deve ter sido a ordem mais proferida pelo editor-in-chief Joe Quesada em seu belo escritório (que, imagino, deve ter um tapete daqueles que afundam até o joelho e um kit de mini-golfe bem no meio). Tanto o Capitão América quanto o Homem de Ferro têm um peso bem menor no merchandishing em geral, mas conferem o tom de propriedade e tradicionalismo necessários.
Luke Cage, ainda em test-drive, tem no currículo o fato de ser a personificação da cultura negra de rua (Blade, nos quadrinhos, definitivamente não deslanchou - o que é um paradoxo interessante, pois o mais difícil ele conseguiu). E já veio atualizado por uma mini no selo Max e pelas participações esporádicas nas histórias da Jessica Jones. O Cage atual não ouve Kool & The Gang, e sim Wu-Tang Clan e Tupac Shakur. Já a Mulher-Aranha, também reaproveitada, chega num momento de absoluto hype para as heroínas mais, assim digamos, voluptuosas (gostosas mesmo). O biotipo das pinups hoje está mais pra Druuna que pra Jean Grey, e eu bebo a isto.
Do lado das novidades, temos Robert Reynolds, mais conhecido como o complicadão Sentinela, e o misterioso Ronin (curiosamente, um ninja com nome de samurai sem mestre... há um conflito de interesses aí).
Espero que todos estejam acompanhando as edições nacionais de Vingadores - A Queda, pois tudo a partir daí se tornou literalmente imperdível. Ok, já estamos na edição #14 da revista The New Avengers e ainda não houve nenhum cataclisma de proporções globais, mas o clima enegrecido e conspiratório que permeia as histórias sugerem que uma mega-castanhada se avizinha no horizonte. Se é fogo de palha, ainda não dá pra saber, mas, vindo de Brian Michael Bendis, eu prefiro não arriscar, assim como não arrisco a enumerar quantas revistas da Marvel ele anda escrevendo. E, o mais incrível, sempre mantendo um respeito absoluto ao material com situações e diálogos muito acima da média (até mesmo naquele Aranha ultimate cara-de-mamão). Atual, criativo, bem-humorado, inteligente e com um puta timing, Bendis está insaciável. Aproveitem enquanto ele ainda está são, pois se continuar nesse ritmo ele vai pirar com certeza (e se virar um louco como Alan Moore, até que seria uma transição interessante).
Na última vez que comentei sobre os Vingadores, eles não conseguiram se livrar da ressaca escarlate de Disassembled e cada um seguiu seu rumo. Após uma violenta rebelião na Balsa (a prisão para supervilões), 42 prisioneiros superturbinados escapam e um novo grupo de heróis se forma ao acaso. Liderados pelo Capitão América (que acha que tudo é obra do destino... não o Dr. Doom... destino mesmo, de sina e tal), eles começam a agir de forma "auto-suficiente" - com capital inicial bancado pelo Stark, claro (afinal, os Vingadores também tem de ter seu Bruce Wayne).
Investigando os fatos que ocorreram na super-prisão, eles vão até a Terra Selvagem no encalço de Sauron (sem ser aquele do Senhor dos Anéis) e lá esbarram no invocado Wolverine. Juntos, eles se deparam com Yelena Belova, a nova Viúva Negra, cheia de tinta no cabelo, e uma operação esquisitíssima da SHIELD, envolvendo extração de vibranium para fabricação de armas ilegais. A Viúva Yelena e uma equipe de agentes tenta eliminar os nossos heróis, mas, além de fracassar, ela só consegue queimar o próprio filme - .
Bom, nunca gostei da Yelena mesmo, mas a #6 termina ao melhor estilo "eu voltarei".
Na edição seguinte, a primeira de um arco com quatro partes, os Novos Vingadores encaram uma missão quase impossível (puta frase clichê!): desatar os trocentos nós que envolvem o passado surreal do Sentinela. E quando eu digo "surreal" é porque a coisa sai dos trilhos mesmo. A vida do Sentinela parece um filme de David Lynch com roteiro de Spike Jonze e edição de Darren Aronofsky. Pra você ter uma idéia, Bendis recorre até à arriscadíssima metalinguagem, inserindo na história ninguém menos que Paul Jenkins , o criador do Sentinela (aliás, mais uma vez eu recomendo a leitura de The Sentry... ô hq pertubadora da muléstia).
Este é um terreno caro para a Marvel, afinal trata-se de um personagem-analogia ao mito do Herói (não simplesmente uma "versão do Superman", como andam dizendo por aí).
Não é à toa que nessas quatro edições rolaram participações especialíssimas de Alex Ross e Sal Buscema - sem contar que o titular da vez foi Steve McNiven, um dos meus artistas favoritos e o melhor 'desenhador' de Sue Richards do mundo. Já tava ficando cansado do David Finch e do seu jeito Image de ser.
Mas voltando ao assunto, após uma breve consulta aos Fodões da Marvel - - Tony Stark e os Novos Vingadores recebem sinal verde para futucar o vespeiro do Sentinela, obviamente com direito a um reforcinho básico - .
Após uma certa relutância - - o "Caso Sentinela" acaba sendo resolvido e todas as pontas soltas de sua existência são amarradas com eficiência ímpar - que, como se fosse um buraco negro de pura catarse, emulou The Sentry, Paul Jenkins e a Essência do Herói e os cuspiu de volta, em um único organismo, expurgado, pronto para (re)começar. Pedala Bendis!
Depois do estrondoso arco anterior, a edição #11 começa bem soturna. Marca justamente a introdução do personagem Ronin.
A parada é a seguinte: no rastro do foragido Keniuchio Harada (o vilão mutante Samurai de Prata), os Novos Vingadores tentam impedir que o meliante reassuma sua antiga posição no Japão, como senhor do Clã Yashida. Após uma negativa de cooperação por parte de Matt Murdock (mais uma), a equipe acaba recebendo o suporte de Ronin, por indicação do próprio Matt. Na verdade, a razão de ser desse arco é retomar a conspiração que Bendis vem desfiando, e que envolve a banda podre da SHIELD e agentes infiltrados da Hydra.
Por falar nisso, aqui David Finch retorna ao traço e faz da Madame Hydra quase a irmã gêmea da Aphrodite IX (personagem que ele criou e desenhou anos atrás), confira aqui.
Ao final, mais duas deixas para as próximas edições. Uma é a Jessica Drew revelando ter o (lindo) rabo preso com as forças "do lado de lá" e o mistério em torno da identidade do Ronin - que rende um comentário simplesmente impagável do Aranha. Sobre isto, uma constatação spoilerosa logo abaixo. Marque para ler (acho meio difícil alguém que esteja lendo não saber de quem se trata, mas...).
Ronin é Maya Lopez, copycat de artes marciais e outra ex-comida do Demolidor Matt Murdock. Não sei se ela vai continuar se chamando "Ronin", visto que é mais conhecida como Eco. Aliás, o uniforme que ela está usando lembra muito aquele mais recente do Pantera Negra. De qualquer modo, fiquei meio surpreso com a fisionomia européia/caucasiana da moça. Clique aqui pra comparar a concepção dela nas artes de David Mack e David Finch (se bem que é até covardia comparar o Finch com o Mack... são iguais só no primeiro nome mesmo).
Chega a última edição, a #14, e o chow começa já nos créditos. O homem, o mito, Frank Cho assume os desenhos! Sabe o que isto significa? Sabe o que isto significa?? Significa isto, isto, isto, isto e, por Deus, até isto aqui. Só o Cho-san tem moral pra fazer aquelas splash pages totalmente gratuitas com direito a assinatura no cantinho da página (Cho nº1... Cho nº2...). Apreciar a arte desse rapaz é tão relaxante, que até um puta errão de continuidade parece bobagem (no finalzinho da edição #13, Cap está de uniforme e Jessica Drew de jaqueta vermelha, mas no início da #14 eles... resumindo, foi assim, mas o Cho pode, ele tem regalias para o tanto que nos proporciona!).
Aaaah, tem a história também...
Cap coloca Jessica contra a parede, e ela explica sua situação de agente dupla por acidente. Aparentemente, a Hydra a coagiu a trabalhar como espiã infiltrada na SHIELD. Ela acabou revelando o esquema para Nick Fury, que recomendou que ela fizesse o serviço de mão dupla, assim ele poderia saber dos passos da Hydra. Mas ninguém poderia saber do trato, só os dois, caso contrário ambos ficariam expostos. O problema é que Fury encontra-se foragido da SHIELD (na verdade, ele foi traído lá dentro, numa puxada de tapete digna da UCT, da série 24 Hs). Agora, os heróis têm de desvendar a conspiração que está apodrecendo os alicerces da SHIELD, enquanto cedem de vez à pressão da opinião pública, que quer saber quem são esses "Novos Vingadores".
Ainda há muitas nuances a serem delineadas em The New Avengers. Wolverine não assumiu uma posição de membro fixo, apesar de ter participado de tudo até agora (rendendo uma divergência de opiniões muito bacana entre Cap e Stark). A presença do "Ronin" ainda é incerta. Cap, por sua vez, ainda não desistiu de recrutar o Demolidor. E o Sentinela está arriscando os primeiros passos, construindo um perfil. Lentamente, diga-se de passagem. Não deverá ser fácil se sobressair em meio a medalhões editoriais e líderes de bilheteria. Mas é Bendis quem está no manche. Nas mãos dele, cada edição de The New Avengers parece um evento.
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